Pesca milagrosa: estudo bíblico

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Lc 5,1-11

Jesus provê uma Pesca Miraculosa (Lucas)
Tipos Natureza
Referências Lc 5.1–11
Agente Jesus
Paciente Pedro
Coisas envolvidas Barco de Simão Pedro, Peixe, Rede, rede de tresmalho
Evento Bíblico Jesus provê uma pesca miraculosa (Lucas)
Até o capítulo 4, Lucas havia apresentado Jesus sozinho, mostrando a sua fama se espalhando pela redondeza (4,14.37), ensinando nas sinagogas (4,15.31), e já teria ido à casa de Simão (4,38). Tudo isso servia de preparação para o chamado dos primeiros discípulos. Ao narrar a vocação dos primeiros discípulos após um período de ensinamentos e milagres, Lucas talvez quisesse dar mais credibilidade à sua resposta imediata ao chamado.
A presente perícope (5:1-11) tem quatro partes: a) Uma introdução narrativa (v. 1). b) O relato de uma pregação do barco (vv. 2-3). c) A narração da pesca milagrosa com a confissão de Pedro e seu chamado para serem "pescadores de homens" (5:4-10). d) Uma conclusão narrativa (v. 11).
JESUS ENSINA AS MULTIDÕES (5,1-3)
Enquanto as autoridades religiosas do seu tempo ocultavam o saber e o transformavam em poder para dominar o povo, Jesus dirige-se diretamente ao povo, ensinando gratuitamente a todos muito mais do que as autoridades conheciam. O povo está sedento da palavra de Deus. Jesus recorre a uma saída: subir numa barca, afastar-se um pouco da margem e assim poder ser ouvido por todos.
Os barcos estavam na margem do lago e os pescadores consertando as redes, fazendo uma alusão direta à origem humilde dos discípulos. Consoante São João Crisóstomo, tanta era a sua pobreza, que reparava suas redes, não podendo comprar novas. No contexto cultural mediterrâneo de honra e vergonha, isso significa que a origem humilde não condiciona a vocação. De fato, Lucas apresenta outro critério de estimativa: a livre escolha de Deus.
A barca era de Simão, que mais tarde se tornará o líder do povo que se reúne ao redor de Jesus. De certa forma essa escolha reforça o lugar de predileção e a posição privilegiada que Simão Pedro ocupa no Evangelho de Lucas. O Senhor usou o barco de Pedro como púlpito para ensinar a multidão. Quando rendemos nossas propriedades e possessões ao Salvador, é maravilhoso como ele as usa e nos recompensa também.
O lago de Genesaré ou o mar da Galiléia tem uma importância mais religiosa do que geográfica, pois é neste lago que Jesus manifestará o seu poder (8, 22-25 – tempestade acalmada). Para o antigo Israel, o mar era um símbolo das nações pagãs. O lago de Genesaré é uma pequena porção de água, cujos contornos são em forma de pêra. Suas dimensões são 21 quilômetros de comprimento por 12 de largura. Suas águas são limpas e frias e com abundância de peixes. É a cratera de um vulcão cheio de água com suas próprias fontes de água. O nome de Genesaret é derivado daquele que carrega a planície que se estende ao noroeste do lago. H. Colzelmann vê um significado teológico especial no lago. Assim como a montanha é o lugar preferido para a comunicação com o Pai, o lago oferece um palco para manifestações de poder.
Conforme São Beda, “o lago de Genesaré é o mesmo que o mar da Galiléia, ou o mar de Tiberíades. É chamado “mar da Galiléia”, por causa da província adjacente. “Mar de Tiberíades”, por causa da cidade próxima. “Lago de Genesaré”, porém, pela própria natureza do lago, que pensavam suscitar sobre si mesmo uma brisa, por causa das ondas que encrespavam suas águas. A palavra grega significa: “Que gera a brisa”. Suas águas não são calmas como costumam ser as águas dos lagos, mas são frequentemente agitadas pela brisa que sopra. É doce ao paladar e potável, mas na língua hebraica, toda reunião de águas, seja doce, seja salgada, recebe o nome de mar”.
UMA PESCARIA INESPERADA (5,4-7)
Depois de ensinar as multidões, Jesus pede que Simão avance lago adentro e lance as redes para a pesca. Simão põe uma dificuldade pois tentou pescar a noite inteira, tempo mais apropriado, mas não conseguiu nada. Jesus disse a Pedro exatamente onde encontrar abundância de peixes — depois de ele e os demais tentarem toda a noite, sem sucesso. O Senhor onisciente sabe onde os peixes estão. O serviço efetuado por nossa sabedoria e força é fútil. O segredo do sucesso do trabalho cristão é ser guiado por Jesus.
Mas em obediência à Palavra de Jesus, Simão lança as redes. Mesmo sendo um pescador experiente, Pedro aceitou o conselho de um carpinteiro (sob a tua palavra lançarei as redes) e, como resultado, as redes encheram. Isso mostra o valor da humildade, a capacidade de ensinar e a obediência implícita. O curioso é que, na hora considerada imprópria, conseguiram pegar tantos peixes, que as redes quase se rompiam! Tiveram de chamar os da outra barca (Tiago e João, filhos de Zebedeu) para que os ajudassem. E as duas barcas ficaram cheias, a ponto de quase afundarem! Foi onde as águas são mais fundas que as redes se encheram a ponto de romper. Portanto, devemos parar de ficar perto da praia e lançar-nos na maré alta, em plena submissão. A fé tem suas águas profundas, como sofrimento, tristeza e perda. São esses que enchem as redes em grande quantidade. As redes começaram a romper e os barcos a ir a pique (v. 6–7). O serviço dirigido por Cristo produz problemas — mas que problemas deliciosos! Fazem vibrar o coração de um verdadeiro pescador.
Essa pescaria é resultado do ensinamento de Jesus às multidões. Jesus ensinava a Palavra de Deus, isto é, a Boa notícia do Evangelho, e Pedro diz: “em atenção à tua palavra”. Ou seja, é a palavra do evangelho que fazer ter sucesso no empreendimento, mesmo que as circunstâncias pareçam contrárias: luz do dia, em vez da escuridão da noite – talvez uma alusão à clareza e veracidade com que a verdade do evangelho convence as pessoas. Conforme Teofilacto, “como o Senhor havia instruído da barca as multidões, não deixou sem recompensa o seu dono, beneficiando-lhe de duas formas: primeiro, deu-lhe grande quantidade de peixes, depois, fez-lhe Seu discípulo”.
Ainda nos ensina São João Crisóstomo, “considera a fé e a obediência dos apóstolos. Tendo necessidade da pesca que tinham em suas mãos, ao ouvirem a ordem do Senhor, não hesitaram, mas deixaram tudo e seguiram-No. Tal é a obediência que Cristo exige de nós, a qual não devemos negligenciar, ainda que pressionados por coisas muito necessárias.”
PESCADORES DE HOMENS (5,8-11)
Pedro já conhecia o poder de Jesus, que havia curado a sua sogra. Mas a pescaria misteriosa faz com que ele perceba em Jesus o mistério profundo da sua divindade e agora o chama de Senhor. É um convite velado à cada um de nós para reconhecer Jesus como seu Senhor. Este título foi aplicado ao imperador romano, e quantos cristãos morreram por não reconhecer o imperador como seu Senhor!
Com o sinal da pesca abundante, Jesus propõe a Simão o desafio do chamado (vocação). Simão viu neste sinal uma intervenção extraordinária e só lhe ocorre uma confissão: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!”. Deus não afasta de si o homem por sua condição de pecador. Enquanto Simão suplica ao Senhor que se afaste, Jesus se aproxima mais e o anima com as mesmas palavras que a Bíblia emprega para tranquilizar o homem quando descobriu a grandeza divina: “Não temas”. Simão Pedro e seus companheiros, apesar de sua condição, são convidados a confiar na Palavra e a ser multiplicadores dessa Palavra em cujo nome obterão pescarias abundantes, não já de peixes, mas de homens. Pedro toma de repente consciência de que está presenciando a palavra e a ação de Deus através de Jesus. Essa visão da glória do Senhor Jesus produziu em Pedro um fortíssimo senso da sua indignidade. Foi assim com Isaías (6:5); é assim com todos os que enxergam o Rei na sua beleza. Seu espanto é característico de quem teve uma experiência de Deus – o fascínio misturado com o medo. O mesmo acontece com os outros dois, Tiago e João.
Conforme Santo Agostinho: “Pedro, representando a Igreja, que está cheia de homens carnais, diz: Retira-te de mim, Senhor, pois eu sou um homem pecador. A Igreja, repleta de uma multidão de homens carnais e quase submersa por seus vícios, como que repele o reino dos espirituais, no qual a pessoa de Cristo se destaca. Com efeito, não é com a língua que os homens dizem aos bons servos de Deus que se afastem, mas pela voz dos costumes e dos atos persuadem-nos a se afastar, para não serem dirigidos pelos bons, e com tanto maior motivo quanto assim os honram. São Pedro os figurava, prostrando-se aos pés do Senhor, ao recordar a sua vida passada, dizendo: Retira-te de mim.
Foi enquanto Pedro estava no seu trabalho diário que Cristo o chamou para ser pescador de homens. Enquanto está esperando para receber orientação, faça o que vem à sua mão para fazer. Faça-o com toda a sua força. Faça-o de todo coração como para o Senhor. Como o leme guia o navio apenas quando em movimento, assim Deus guia os homens quando estão ativos.
Cristo dissuadiu Pedro de pescar peixes para pescar homens, ou mais literalmente, “alcançar homens vivos”. Qual o valor de todos os peixes no oceano em comparação com o privilégio incomparável de ver uma alma ganha por Cristo e para a eternidade? Pedro, Tiago e João arrastaram seus barcos sobre a praia e, deixando tudo, seguiam a Jesus num dos melhores dias de negócios da vida deles. E quanto dependia da sua decisão! Provavelmente nunca teríamos ouvido deles se tivessem escolhido ficar com os barcos.
Quem teve uma experiência do divino fica imediatamente compelido a uma adesão e compromisso. É o que vemos nas palavras de Jesus, dirigidas a Pedro, mas que incluem Tiago e João, e a todos nós também: “Não tenhas medo! De hoje em diante você será pescador de homens”. Pedro já era pescador, mas agora se tornou pescador de homens. O Senhor quer que façamos o nosso trabalho de modo diferente do que já fazemos. O discípulo de Jesus é chamado a “pescar” os homens para anunciar-lhes a palavra e ação que os leva à liberdade e à vida.
O seguimento de Jesus é radical, deve deixar tudo para dar uma nova direção à vida: colocar tudo a serviço do seguimento de Jesus, continuando a sua palavra e ação no grande mar do mundo e da história. “O Senhor fortalece os homens carnais em seu temor para que ninguém, tremendo por causa da consciência de suas culpas ou desencorajado diante da inocência dos demais, tema entrar no caminho da santidade.
RESUMINDO: A mensagem é: toda vocação vem de Deus e não se baseia em mérito pessoal. A uma vocação responde-se deixando tudo e seguindo aquele que chama. b) A presente narração dá importância à figura de Pedro. Ele é o porta-voz dos Doze e uma figura relevante na Igreja. c) Pedro é um personagem com o qual cada um de nós se identifica: convocado pela palavra de Jesus, responde ao chamado e muda de vida sob a influência da Palavra. d) Uma mensagem muito clara é encontrada em Lc 5,1: "... as pessoas se aglomeraram ao redor dele (pressionaram-no) para ouvir a Palavra de Deus." e) Exemplar para nós é a confiança de Pedro na palavra de Jesus: «À tua palavra lançarei as redes».
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
- Ivo Storniolo. Como ler o Evangelho de Lucas: os pobres controem a nova história. 11ª impressão. São Paulo: Paulus, 2017.
- Editora Ave-Maria, Bíblia Sagrada: Edição de Estudos, 12a Edição. (São Paulo: Editora Ave-Maria, 2020), 1630.
- William MacDonald, Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento, 2‍a edição. (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), 165–166.
- Michael Aubrey, Todos os Milagres na Bíblia, Listas Bíblicas e Teológicas Faithlife (Bellingham, WA: Faithlife, 2021), Lc 5.1–11.
- Santo Tomás de Aquino. Catena Aurea: exposição contínua sobre os evangelhos. Volume 3 – Evangelho de São Lucas. Campinas, São Paulo: Ecclesiae, 2020.
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