O Banquete de Cristo

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Jesus celebra a páscoa com seus discípulos e institui a Ceia.

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12E, no primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento,a quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal, os discípulos de Jesus lhe perguntaram:

— Onde quer que façamos os preparativos para que o senhor possa comer a Páscoa?

13Então Jesus enviou dois dos seus discípulos, dizendo-lhes:

— Vão até a cidade. Ali, um homem trazendo um cântaro de água sairá ao encontro de vocês. 14Sigam esse homem e digam ao dono da casa em que ele entrar que o Mestre pergunta: “Onde fica o meu aposento no qual comerei a Páscoa com os meus discípulos?” 15E ele lhes mostrará um espaçoso cenáculo2 mobiliado e pronto; ali façam os preparativos.

16Os discípulos saíram, foram à cidade e, achando tudo como Jesus lhes tinha dito, prepararam a Páscoa.

O traidor é indicado

Mt 26.20–25; Lc 22.21–23; Jo 13.21–30

17Ao cair da tarde, Jesus chegou com os doze. 18Quando estavam à mesa e comiam, Jesus disse:

— Em verdade lhes digo que um de vocês, o que come comigo, vai me trair.

19E eles começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um por um:

— Por acaso seria eu?

20Jesus respondeu:

— É um dos doze, o que comigo põe a mão no prato. 21Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito;b mas ai daquele por quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor seria para ele se nunca tivesse nascido!

A Ceia do Senhor

Mt 26.26–30; Lc 22.14–20; 1Co 11.23–25

22E, enquanto comiam, Jesus pegou um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo:

— Tomem; isto é o meu corpo.

23A seguir, Jesus pegou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos; e todos beberam dele. 24Então lhes disse:

— Isto é o meu sangue,c o sangue da aliança,d derramado em favor de muitos. 25Em verdade lhes digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até aquele dia em que beberei o vinho novo, no Reino de Deus.

26E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.

Introdução

Um almoço de família sempre é marcado por agitação, alegria, boas conversas ao redor da mesa e muita comida boa. Sempre quando queremos celebrar uma boa notícia, ou mesmo revelar uma, convidamos aqueles a quem amamos para se alegrarem conosco. Ser convidado para um banquete é algo muito bom! Os versículos que lemos nos contam a história do último banquete celebrado por Jesus antes de sua morte.
Depois de ter o seu corpo ungido com nardo puro por uma mulher na casa de Simão, o leproso, e ter sua morte tramada pelos escribas e sacerdotes, Cristo agora se prepara para celebrar um banquete muito importante com seus discípulos, um banquete que fora já planejado desde a eternidade pelo Senhor de todas as coisas: o banquete da páscoa.
Em nossos dias, a páscoa tem sido celebrada de diversas formas: com cantatas, cultos na alvorada, peças de teatro e almoços em família, onde muitos se abstêm de comer carne vermelha, partilhando do tradicional bacalhau com batatas. Entretanto, as celebrações de páscoa remontam a fatos acontecidos há anos, quando, por uma ordem divina, Moisés instruiu que cada família matasse um cordeiro e banhasse o seu sangue nos umbrais da porta. Isso tudo porque, Deus enviaria uma praga sobre toda a terra do Egito, matando os filhos primogênitos. O sangue sobre os umbrais das portas livraria os israelitas do anjo da morte. Ao mandar o anjo da morte, Deus livrou o seu povo da opressão de faraó, conduzindo-o à terra prometida. Para lembrar o povo desse dia, Deus instituiu que uma vez por ano, o povo sacrificasse um cordeiro e se juntasse em suas casas para comê-lo com pães asmos e ervas amargas, para não só recordar a saída do Egito mas para apontar para uma grande salvação que viria no futuro. Tendo isso em mente, Cristo se reúne para celebrar a Páscoa com seus discípulos.

I. O conhecimento de Jesus e o seu total governo sobre os eventos (vs. 12-21)

1. Jesus dá as instruções para o banquete da páscoa (12-16)

A Festa dos Pães Asmos e o banquete da páscoa -
O pão asmo (מַצָּה, matstsah) é um pão plano, redondo e de cozimento rápido feito de farinha e água, sem agente fermentador. Os israelitas comiam pães asmos como parte da refeição pascal e da Festa dos Pães Asmos de uma semana que se seguia (Êx 12:1–20; 13:6–7; 23:15; 34:18; Lv 23:5–8; Nm 28:16–25; Dt 16:1–8). Este festival anual, que começava com a Páscoa (no 14º dia de abibe, mais tarde chamado de Nisan), servia como um lembrete do resgate de Deus de seu povo de escravidão no Egito (Êx 12:17, 26–27; 13:3-16; Dt 16:3).
Em Êxodo 12, quando os israelitas ainda estavam no Egito, Deus deu as seguintes instruções para a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos:
Ao pôr-do-sol do dia 14 de abibe, os israelitas deveriam sacrificar o cordeiro da Páscoa e espalhar seu sangue nas ombreiras das portas de suas casas (Êx 12:1-7)
Os israelitas deviam assar o cordeiro, não fervê-lo, e comê-lo às pressas (Êx 12:8-11).
A festa da Páscoa era uma ordenança permanente (Êx 12:14).
Os israelitas deveriam remover o fermento de suas casas (Êxodo 12:15), comer pães asmos por sete dias e observar uma assembléia sagrada no primeiro dia e sétimo dias (Êx 12:15–16, 19–20). Qualquer pessoa que comesse fermento durante esse período deveria ser excluída da congregação de Israel (Êx 12:15, 19).
A Festa dos Pães Asmos era uma ordenança permanente (Êx 12:17).• Os pães asmos significavam que os israelitas deveriam deixar o Egito às pressas, sem tempo de esperar o pão crescer (Êx 12:39).
Nenhum estrangeiro ou ajudante contratado podia comer a refeição da Páscoa, mas um peregrino ou escravo circuncidado poderia comê-la (Êx 12:43–49).
Jesus dá instruções precisas sobre onde e como os discípulos deveriam preparar a páscoa para comerem juntos, de forma semelhante ao que aconteceu em sua entrada triunfal (v.13-15)
Ir até a cidade e encontrar um homem com um cântaro de água;
Seguir esse homem até a casa onde ele entrar;
Perguntar ao dono da casa onde seria o cômodo onde celebrariam a páscoa - Devido ao grande fluxo de pessoas em Jerusalém nessa época, era comum que se preparassem um quarto de hóspedes para abrigar os peregrinos;

2. Jesus revela aos discípulos que será traído por um deles (vs. 17-21)

Depois de terem preparado tudo, os discípulos se reúnem com Jesus para fazer a refeição da páscoa
A Páscoa é celebrada no 14º dia do primeiro mês Abib (mais tarde chamado de Nisan).
A observância é instituída dentro da estrutura narrativa da história do êxodo , onde Yahweh trouxe pragas com severidade cada vez maior contra o Egito para demonstrar seu poder e libertar os israelitas da escravidão (Êx 1–12).
A 10ª e última praga foi a morte de todos os primogênitos—humanos e animais — no Egito (Êx 11:4–6). Deus puniu o Egito , mas poupou os primogênitos de Israel, desde que os israelitas seguissem as instruções de Moisés corretamente.
Na noite da praga, os israelitas foram instruídos a permanecer em suas casas após imolar um cordeiro e colocar seu sangue na verga e nas ombreiras de suas casas (Êx 12:7, 21–22).
O sangue deveria ser um sinal que distinguia os israelitas e os separava das possíveis vítimas da praga (Êx 12:13, 23).
Como o povo deveria estar pronto para partir do Egito a qualquer momento, eles deveriam comer o cordeiro rapidamente, vestidos para viajar e com o cajado nas mãos (Êx 12:11).
Os israelitas seguiram as instruções de Moisés e, à meia-noite, Yahweh atacou os primogênitos do Egito (Êx 12: 28-29).
Faraó convocou Moisés e Arão no meio da noite e ordenou que pegassem todos os israelitas e partissem do Egito (Êx 12:31–32).
Os israelitas saíram apressadamente, pegando sua massa de pão antes de ser levedada (Êx 12:34), então, na jornada, eles tiveram que assar bolos sem fermento porque eles não tiveram tempo para preparar nenhuma outra provisão (Êx 12:39).
Os israelitas foram instruídos a observar a Páscoa no dia 14 do primeiro mês de cada ano para comemorar a noite em que Deus os libertou do Egito (Êx 12:14, 24–27).
Jesus revela que será traído por um de seus discípulos
Quando estamos lendo um dos Evangelhos, devemos considerar o que os outros três nos contam a respeito do mesmo episódio.
Jesus anuncia que alguém iria traí-lo;
As reações dos discípulos - autodesconfiança, hipocrisia e curiosidade;
A fala de Jesus com o um propósito específico:
Dar um aviso para Judas de que ele sabia de tudo;
Enfatizar a profundidade do sofrimento de Jesus (falar do ato de comer da mesma panela - intimidade);
Mostrar que Jesus controlava toda a situação;
Dar a oportunidade dos discípulos examinarem a si mesmos;
Cada aspecto dos sofrimentos de Cristo foi ordenado por Deus, mas isso não isentaria Judas de sua responsabilidade (v.21);

II. Jesus estabelece o sacramento da Ceia (vs. 22-26)

O que é a ceia do Senhor?

Ao dar ordens aos discípulos para imolarem um cordeiro, Jesus predisse a sua morte, re-significando o sentido da páscoa, sendo ele mesmo o cordeiro que seria imolado na cruz. Isso fica mais evidente, quando estabelece a ceia. Por que Cristo fez isso? Qual é o propósito?
Dentre as muitas dissertações que temos escritas por teólogos ao longo da história, destaco a de Herman Bavink, que assevera que a Ceia do Senhor é uma verdadeira refeição:

1. É uma refeição do Senhor -

“Entretanto, essa é uma refeição do Senhor (δεῖπνον κυριακόν, deipnon kuriakon). Jesus foi o inaugurador disso e, a esse respeito, também cumpriu a vontade de seu Pai, cuja realização era sua comida [Jo 4.34].”

2. Tem uma origem divina -

“A Ceia do Senhor, assim como o batismo, é e tem de ser de origem divina para ser um sacramento, pois somente Deus é o distribuidor da graça e somente ele pode ligar sua distribuição aos meios ordenados por ele.”

3. Está conectada ao tríplice ofício de Jesus como mediador -

“Jesus, especificamente, instituiu essa Ceia em sua capacidade de mediador.”
Profeta - “Nela, ele age como profeta que proclama e interpreta sua morte;
Sacerdote - “nela, ele age como sacerdote que deu a si mesmo na cruz em favor dos que lhe pertencem;
Rei - “nela, ele também age como rei que livremente torna disponível a graça assegurada e a dá aos seus discípulos para que a desfrutem sob os sinais de pão e vinho.”

4. Jesus é anfitrião e ministrante

“Além de ser o inaugurador da Ceia, ele também é seu anfitrião e ministrante. Ele mesmo toma o pão e o vinho, os abençoa e os distribui aos seus discípulos. Ele também não foi o anfitrião e o ministrante somente quando se assentou fisicamente à mesa com seus discípulos, mas também é e continua sendo o anfitrião e ministrante dela sempre e onde quer que sua refeição seja ministrada. Toda Ceia, ministrada segundo sua instituição, é uma Ceia do Senhor (δεῖπνον κυριακόν), pois Cristo é não apenas seu inaugurador como um exemplo, mas também seu inaugurador por preceito.”

5. É uma refeição em memória dele

“Ela é uma refeição em memória dele (1Co 11.24), para proclamar sua morte (1Co 11.26), como uma participação em seu corpo e sangue (1Co 10.16, 21; 11.27). Na Ceia do Senhor, Cristo se reúne com sua igreja e a igreja se reúne com Cristo, testificando, dessa forma, sua comunhão espiritual (cf. Ap 3.20).”

6. É evidenciada pela comida nela distribuída e desfrutada, a saber o pão e o vinho

“Os sinais de pão e vinho na Ceia do Senhor não foram mais arbitrária ou acidentalmente escolhidos do que a água no batismo. Nos sacrifícios do Antigo Testamento, carne e sangue tinham importância primária, pois apontavam tipicamente para o sacrifício de Cristo na cruz. Apesar disso, a Ceia do Senhor não é um sacrifício, mas um memorial do sacrifício feito na cruz, e expressa a comunhão dos crentes com esse sacrifício. Por essa razão, Cristo não escolheu carne e sangue, mas pão e vinho como comida e bebida na Ceia do Senhor para indicar, por meio disso, que ela não é um sacrifício, mas uma refeição – uma refeição com base na memória do sacrifício de Cristo e no exercício da comunhão com o Cristo crucificado. Para esse fim, os sinais de pão e vinho são eminentemente adequados.”

Por que Jesus a Estabeleceu?

1. Jesus estabeleceu a ceia como um sacramento para substituir a Páscoa;

Jesus estabeleceu a ceia como um sacramento para que lembrássemos de sua morte por meio do pão e do vinho (vs. 22-25)
Pão - seu corpo ferido na cruz e sofrimento
Sangue - derramado para propiciar a ira de Deus e nos perdoar dos pecados

2. Jesus estabeleceu a ceia como um sacramento para que lembrássemos da sua volta e do que ainda está por vir (vs. 22-25)

3. Jesus estabeleceu a ceia como um sacramento para ser celebrado dentro do contexto da comunhão dos irmãos, conjuntamente

Aplicações:

1. Deus conhece e dirige todos os eventos da história.
2. Não celebramos mais a Páscoa dos Judeus, mas a Páscoa do Cordeiro;
Ao celebrar a Páscoa com os discípulos antes de sua morte e ressurreição, Jesus dá um novo significado à Páscoa:
O cordeiro pascoal lembrava o livramento da servidão do Egito. O Cordeiro de Deus nos lembra do livramento da servidão do pecado;
O cordeiro pascoal lembrava que os primogênitos do povo de Deus foram poupados da morte. O Cordeiro de Deus nos lembra do elevado valor da morte do Primogênito de Deus que não foi poupado da morte, mas que a venceu!
O cordeiro pascoal lembrava o sangue que foi aspergido nos umbrais das portas das casas do povo de Deus para os protegerem do anjo da morte. O Cordeiro de Deus nos lembra o sangue de Cristo que foi aspergido em nosso coração, nos purificando dos nossos pecados e nos reconciliando com Deus;
O cordeiro pascoal lembrava o povo que todos os que comeram daquele cordeiro foram poupados da morte. O Cordeiro de Deus nos lembra que aqueles que comem do corpo de Cristo (simbolicamente o pão da ceia) recebem vida e graça para viver!
3. Participemos da ceia do Senhor com toda a seriedade e compromisso;
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