1Coríntios 4.1-5

Série expositiva em 1Coríntios  •  Sermon  •  Submitted
0 ratings
· 13 views

O apóstolo identifica a si mesmo e os demais ministros do evangelho, como exemplos a serem notados com relação ao dever de fidelidade que é esperado de cada crente na edificação da igreja de Deus.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
O apóstolo Paulo, a partir do capítulo 4, expande o argumento que introduzira no capítulo 3, mais especificamente no versículo de 6, quando começa a usar a si mesmo e Apolo como exemplo de união em prol da edificação da igreja. Esse exemplarismo tenciona demonstrar para aos membros em divisão daquela igreja, o procedimento esperado deles enquanto partes do corpo de Cristo.
Se os ministros de Cristo são apenas ferramentas no processo em que Deus cuida de sua igreja, tal como um lavrador usa ferramentas para cuidar de sua plantação (cf. v. 6 "...eu plantei, Apolo regou...), a índole a ser copiada não é aquela proposta pelos filósofos e sábios desse mundo (cf. 3.18-23), mas dos que para esse trabalho foram designados pelo próprio Senhor Jesus.
Paulo passa então a fazer uma defesa de seu ministério, bem como de todos os que para ele foram destacados, transparecendo não somente a legitimidade de sua atuação na igreja, mas também das intenções de seu coração para com a mesma; tema que abordou nos versículos de 10 à 17 do capítulo 3. Se ele e Apolo são exemplos a serem seguidos, não como representantes de partidarismos ou divisões, mas como obreiros idôneos da casa de Deus (e.g. gr. "οἰκονόμος" - "despenseiro"), e a igreja está motivada a olhá-los como inspiração, que o seja tendo em vista o serviço e a fidelidade à Cristo Jesus e ao seu desejo de ver a igreja unida e saudável.
Considerando isso, a ideia central do texto de 1Coríntios 4.1-5 é o exemplo de fidelidade a Cristo como diretriz do serviço à igreja.
Elucidação
Neste ponto de sua carta, a exortação do apóstolo, como introduzido, consiste em realizar uma defesa de seu apostolado e ministério, expondo a idoneidade de seu trabalho como instrumento edificador da igreja. O reflexo que tenciona projetar para o seu público parte do pressuposto de que reconhecendo seus verdadeiros lugares no corpo de Cristo, os membros da igreja se verão como blocos essenciais no edifício de Deus (cf. 3.9).
Entretanto, essa visão não pode ser superestimada, tal como estavam fazendo os coríntios, vendo-se como superiores uns aos outros, e para combater essa tendência, Paulo usa termos específicos para descrever o ofício que desempenha na igreja. No versículo 1 ele afirma: "[…] Importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus". Embora as expressões apontem para posições específicas que os líderes da igreja possuem no serviço ao povo de Deus, como aqueles que pastoreiam o rebanho de Cristo, a conotação não retrata excelência em suas funções, muito pelo contrário. Ao afirmar que os homens devem considerá-lo como ministro, o termo usado por Paulo é "ὑπηρέτης" (gr. trans.: hypêrétês) que designava tanto o remador das galés, isto é, o escravo que ficava nas partes inferiores das embarcações, bem como os assistentes de alguma autoridade, lhe prestando auxílio direto. Já a palavra usada para descrever o trabalho pastoral como despenseiro é "οἰκονόμος" (gr. trans.: óikonómos) e referia-se ao servo que cuidava da casa de seus senhores, administrando seus bens, como um secretário direto.
Unindo as duas expressões, percebemos que a intenção do apóstolo é submeter aos coríntios sua própria visão quanto ao serviço que desenvolve na igreja de Cristo. Ele não se hipervaloriza, pelo contrário, mantém-se no seu lugar de servidor, tendo já alegado inclusive que o único digno de glória e louvor é o próprio SENHOR que sustenta a igreja (cf. 1.31).
Contudo, embora tenha exposto aos membros da igreja sua autopercepção no exercício do ministério, Paulo enfatiza que tal perspectiva não depende do escrutínio da igreja. A exigência divina e o requisito máximo posto sobre aqueles designados à edificação do povo de Deus, não é a subserviência à própria igreja, como se dela partisse a aprovação ou reprovação em relação ao serviço, mas a fidelidade. O verbo "εὑρίσκω" sugere não uma busca qualquer, mas um exame criterioso, uma análise investigativa, e sua flexão para a voz passiva indica que Paulo seria o alvo desse exame. O agente desse verbo, embora oculto na oração, tendo em vista o contexto e a resposta que está direcionando aos coríntios, é o próprio Cristo, aquele que lhe supervisiona o trabalho. Aqui, Paulo traz à mente dos membros daquela igreja o argumento anterior, de que as intenções e obras de cada membro do povo de Deus, assim como ele, está sendo examinado minuciosamente pelo próprio SENHOR, a fim de que seja visto como um instrumento adequado ou próprio para o trabalho do cuidado e fortalecimento do rebanho de Cristo.
O que era exigido de Paulo não era que agradasse os coríntios, baseando a pregação e o trabalho apostólico em sabedoria humana, mas que fosse fiel ao Evangelho, exortando a igreja ser fiel à Cristo Jesus por meio do desejo de, mediante a orientação do Espírito concedida aos servos que lideravam o corpo de Cristo lhes entregando "os mistérios de Deus" (v.1), ver a comunhão e unidade dos irmãos se tornar uma realidade cada vez mais evidente naquela comunidade.
Em face disso, como ele afirma: "a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano" (v.3). Paulo desconsidera a importância do julgamento dos próprios membros da igreja, devido sua convicção de que tem cumprindo o critério anteriormente estabelecido (i.e. ser encontrado fiel). O aparente "desdém" do apóstolo quanto ao julgamento corintiano em relação ao seu trabalho, não deve ser visto como um sentimento arrogante - algo que não faria sentido, numa que é contra isso que ele vem falando ao longo de sua carta até este ponto -, e sim, como uma convocação a que aqueles irmãos copiassem seu exemplo. Complementando essa argumentação ele afirma ainda que "nada me argui a consciência", ou, noutras palavras, "em nada sou acusado por minha consciência", isto porque ele agiu com temor a Cristo e amor a sua igreja.
É essa mentalidade que o autor deseja imprimir entre os crentes de Corinto, a fim de que vejam a emergência da comunhão e unidade da igreja, algo que estão maculando tornando-se réus de um julgamento que os condenava. Se os crentes naquela igreja fossem submetidos ao mesmo exame que o apóstolo, não poderiam fazer a mesma afirmação que ele proferiu, pois suas consciências os acusariam (se já não estavam) de serem infiéis para com Cristo, por fazerem ruir a unidade do povo de Deus.
O caráter defensivo de Paulo não compreende apenas o uso de si mesmo como exemplo, mas sua réplica à igreja consiste também de uma demonstração de que agindo fielmente, ele e seus companheiros apóstolos e auxiliares, embora estivessem sob o exame divino (cf. v. 4 "Quem me julga é o Senhor") não o estavam em relação à igreja. Por serem fiéis em seu trabalho, Paulo e os cooperadores da igreja - nesse caso, aqueles que desempenhavam um função além de membros (e.g. presbíteros) -, não estavam interessados em se seriam julgados (termo que se repete três vezes neste parágrafo) pelos coríntios, pois não submetiam a mensagem do Evangelho ao critério filosófico que aqueles irmãos estavam elencando como vitais ou de grande importância. O aferidor de fidelidade a Cristo é o Evangelho, o qual pregavam e ensinavam.
Concluindo sua exortação, Paulo alude que o tempo do julgamento haverá de chegar, e este juízo a que se refere, também traz a mente do seu público o evento citado anteriormente como "O Dia" (cf. 3.13), em que todos receberão da parte de Deus o louvor cabido tendo em vista "os desígnios dos corações" (v. 5).
Transição
O apelo apostólico direcionado no texto, evidencia um importante princípio que deve ser contemplado pela igreja: a comunhão e unidade da igreja impõe sobre os participantes do corpo de Cristo não somente uma obrigação que objetiva sua saúde, crescimento e desenvolvimento, mas também fidelidade para com o Senhor.
Paulo usa a si mesmo e a todos os que foram designados ao ministério como exemplos do cumprimento desse requisito, como dito, esperando que cada crente veja a importância de seguirem o mesmo curso. Do contrário, estarão em grande falta para com o Senhor, que manifestará o pensamento do coração de cada um no dia final.
Sintetizando esse princípio, deparamo-nos com a seguinte aplicação remetida pelo autor/divino humano:
Aplicação
É exigido de cada crente (em maior intensidade dos ministros do evangelho) o compromisso de integridade de consciência em relação ao SENHOR por meio do desejo contínuo e serviço incessante na edificação da igreja.
Simon Kistemaker sintetiza o princípio exposto por Paulo neste texto, com a seguinte expressão: "A mordomia requer uma dedicação que exclua todo interesse próprio e inclua lealdade sacrificial" (KISTEMAKER, 2014, p. 166). No versículo 1, Paulo aponta para como o exercício do ministério apostólico requer de cada obreiro fidelidade incondicional ao chamado, sendo examinado detalhadamente a fim de que "seja encontrado fiel" (v.2). A nobreza do chamado não consiste em possuir uma posição de honra ou excelência no Reino de Deus, mas de, mediante o serviço como assistente do Rei (cf. v.1 gr. "ὑπηρέτης"+ "οἰκονόμος"), edificar o corpo de Cristo com a verdade do Evangelho e a doação de si mesmo a esse trabalho.
Naturalmente, Paulo não está dirigindo sua carta apenas aos líderes da igreja, mas sim aos irmãos, e um dos argumento centrais dele, é de que, por causa de sua fidelidade, não está submisso ao julgamento corintiano, que buscava adereços para a pregação, como a filosofia e sabedoria dos homens. O julgamento precipitado daquela (v. 5)igreja os fazia considerar como importante, o que não era sequer requerido dos pastores da igreja.
Essa ótica denuncia a fraqueza presente no coração não apenas dos membros da igreja de Corinto no primeiro século, mas muitas vezes também a nossa. Como dito, quando deixamos de nos colocar como servos de Cristo, estamos não apenas deixando de contribuir com o avanço e crescimento da igreja, mas também desobedecemos nosso Senhor, sendo também infiéis para com nosso chamado.
Se almejamos o bem da igreja, não temos como agir de outra maneira, senão nos colocarmos a disposição do Senhor, para, fielmente sermos edificadores uns dos outros. Se assim procedermos, saibamos que, quando vier o Senhor, "[…] cada um receberá o seu louvor da parte de Deus" (v.5).
Conclusão
1Coríntios 4.1-5, nos demonstra o caminho para o crescimento da igreja: a fidelidade, que é requerida não somente dos ministros do evangelho, mas de todo aqueles que estão concentrados em ver a igreja de Deus crescendo na verdade e na unidade que vem de Cristo.
Related Media
See more
Related Sermons
See more