A oração pode muito em seus efeitos
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Introdução
Introdução
Desde os primórdios da Igreja, um dos meios da graça mais negligenciados por ela, se não o mais negligenciado, é a oração, tanto pública, quanto particular. Trata-se de uma negligência sutil e silenciosa, mas que esconde males desastrosos.
Muitas são as vezes que negligenciamos a leitura e meditação da Palavra de Deus; negligenciamos a comuhão com os irmãos; negligenciamos também a adoração a Deus; porém, somos direcionados a esses meios da graça em algum grau, seja nos cultos, seja em reuniões com os irmãos, ou mesmo em nossos devocionais diários. Entretanto, a negligência da oração é sutil e, muitas vezes, silenciosa e imperceptível para nós e para os irmãos. É muito fácil, nos colocarmos em posição de oração nos cultos e deixarmos nossas mentes vagarem nos mais profundos abismos de nossos desejos mundanos; é muito fácil trocarmos nossos momentos de oração por alguns simples minutos de sono; é muito fácil nutrirmos a incredulidade de nossos corações e desvalorizarmos, deixarmos de lado aquilo que deveria ser um dos bens mais preciosos de todo cristão.
Além da negligência quantitativa, a Igreja sempre foi afligida pelos ataques de Santanás através da negligência qualitativa de nossa comunhão direcionada a Deus. Vivemos dias, em que, talvez mais do que nunca, a oração de muitas econtra-se embebida pela “concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. A oração é tão vital para o cristão quanto a respiração, entretanto, muitos têm respirado apenas os ares impuros de seus desejos.
Paulo compreendia a vital importância da oração, de modo que reserva a conclusão de suas exortações aos colossenses, antes de suas saudações finais, a um chamado a uma vida de oração e aos frutos gerados por ela.
Contexto geral
Contexto geral
A igreja de Colossos não foi fundada pelo apóstolo Paulo, autor da carta. O apóstolo pregou durante 3 anos em Éfeso e o evangelho pregado por ele se difundiu rapidamente por toda a região e com o apoio de vário cooperadores. Um deles, Epafras, natural de Colossos, foi, provavelmente, o fundador da Igreja de Colossos, de modo que Paulo, não conhecia a maioria daqueles irmãos (Col 2.1).
A carta foi escrita quando Paulo, que estava preso em Roma devido à pregação do Evangelho e acusações de ser um revolucionário contra o imperador Nero, recebe a visita de Epafras que o informa sobre a condição espiritual promissora daquela igreja, porém, também, dos ataques que vinham recebendo.
Dentre as principais heresias que ameaçavam a igreja de Colossos, se desenvolvia uma espécie de fusão entre o legalismo judaico e a filosofia pagã conhecida por gnosticismo. O principal ensinamento dessa heresia se fundamentava no fato de a matéria ser essencialmente má e de que era impossível, para o homem, manter algum nível de comunhão com Deus, infinito em Santidade. Rejeitavam, assim, a encarnação de Cristo e pregavam que para o homem ter algum acesso a Deus, precisariam alcançar a plenitude do conhecimento dos mistérios gnósticos e de intercessores que possuíssem um maior grau de santidade, o que gerava uma espécie de culto a anjos como intercessores.
Contexto imediato
Contexto imediato
Em combate a essa heresia, Paulo escreve, em sua prisão, a carta aos colossenses. Paulo inicia sua carta, nos capítulos 1 e 2 de sua epístola, dando graças a Deus pela fidelidade e crescimento da igreja de Colossos e expondo uma série de doutrinas, fundamentadas na superioridade e excelência de Cristo e de Sua obra salvífica, qua já havia os reconciliado com Deus, antes seus “estranhos e inimigos no entendimento” por suas obras malignas. Cientes disso, Paulo os exorta, no capítulo 2, a rejeitarem qualquer ensimanto fundamentado em tradições humanas ou misticismos religiosos, que até podem possuir aparência de superioridade espiritual, porém não possuem valor algum na luta cotra o pecado. Cristo é suficiente e eles deveriam se edificar em Seu Evangelho e na doutrina dos Apóstolos.
Nos capítulos 3 e 4, Paulo inicia então uma série de exortações e ordenanças práticas, fundamentadas nas doutrinas que expusera até então. Aqueles irmãos deveriam, primordialmente buscar e pensar, constantemente, na coisas do alto, onde Cristo encontra-se assentado à destra de Deus.
Toda a sua mentalidade e interesses deveriam estar voltados para Cristo, não para as coisas e conhecimentos terrenos; o resultado disso é o processo de santificação em suas vidas: a natureza terrena, escravizada pelo pecado (Col 3.5), substituída pela nova natureza, refeita à imagem de Cristo (Col 3.10). Além disso, Paulo declara que esse processo individual de santificação, deveria ser testificado em todas as esferas da sociedade, desde as relações fundamentais da família, entre marido, esposa e filhos, até mesmo às relações trabalhistas (entre senhores e servos). Em suma, toda a mentalidade do Reino de Cristo em que eles deveriam buscar e pensar a todo instante, deveria refletir em suas vidas pessoais e em seus relacionamentos na sociedade.
É, então que Paulo inicia a conclusão e suas aplicações práticas em nosso texto base.
Divisão do texto
Divisão do texto
Colossenses 4.2 - A oração que nutre a maturidade
Colossenses 4.3-4 - A oração que abre portas
Colossenses 4.5-6 - A oração que resulta em sabedoria
A oração que nutre a maturidade (Col 4.2)
A oração que nutre a maturidade (Col 4.2)
Nosso texto inicia com uma ordem clara de Paulo aos colossenses: “Perseverai na oração”. A conclusão de Paulo, depois de todas as exortações práticas que trouxera aos colossenses é persevere na oração, não ouça os ensinamentos gnósticos que dizem que a comunhão entre o homem e Deus é impossível, Cristo trouxe essa comunhão a todo homem que se reveste dEle. Por isso, se deleitem continuamente nesse privilégio de se relacionar com Deus e manter comunhão com Ele.
Porém, Paulo os exorta a não orarem de qualquer forma. Deveriam vigiar com ações de graças. Algumas traduções, como a NVI, tratam o v.2 como três ordens distintas (“Dediquem-se à oração”, “estejam alertas” e “sejam agradecidos”), porém, uma tradução mais próxima do original traz uma ordem e um modo, como é o caso da tradução ARA. Dessa forma, o que Paulo está ordenando aqui é:
“Persevarai na oração, vigiando nela com ações de graças” [Colossenses 4.2].
Eles deveriam estar continuamente deleitando-se na oração, na comunhão com Deus, mas não como filhos mimados que dirigem-se ao pai com seus pedidos soberbos e ingratos por aquilo que Deus não fez em suas vidas, mas em total gratidão por aquilo que Deus já fez em sua vida. E o que Deus fez? Paulo já dedicou os capítulos 1 e 2 de Colossenses a essa resposta, mas para resumir brevemente o objeto de gratidão que eles deveriam ter em mente constantemente, podemos lembrar dos versículos 13 e 14 do capítulo 2:
Colossenses 2.13–14 (RA)
E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz;
Podemos lembrar ainda do milagre de nosso Senhor Jesus, descrito no evangelho de Lucas 17.11-19, que nos ajuda a entender a ordenança de Paulo:
Lucas 17.11–19 (RA)
De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.
Esse leproso foi curado, teve sua vida devolvida. Cristo tirou o sinal de morte que estava sobre ele. Ele voltou, adorando a Deus, e se prostrou diante de Cristo, agradecendo-o. A palavra usada para “agradecendo-o” é a mesma utilizada por Paulo para “ações de graças”, “eucharistia”, que denota o ato de expressar, demonstrar profunda gratidão a alguém.
Parafraseando Paulo, à luz desse evento:
Vocês estavam marcados pela lepra do pecado; não eram nada além de mortos, cuja a única ação que tinham era o doloroso prazer de coçar e remoer as feridas de sua lepra, exalando a podridão de suas imundícias e morte. Cristo lhes deu vida, purificando-os da lepra do pecado, cancelando toda a dívida de pecado que tinham para com Deus e os separava dEle. Agora, tenham a mesma atitude daquele único leproso! Glorifiquem a Deus em suas vidas e em seus relacionamentos pessoais! Voltem a Ele e prostrem-se em oração para agradecer-lhe por tamanho milagre que Ele executou em nossas vidas! Aquele leproso recebeu o maior milagre que poderia desejar e demonstrou gratidão; vocês também já receberam o maior milagre que poderiam desejar, a vida eterna, agora agradeçam!
É mantendo essa gratidão vívida em nossas vidas que estaremos sempre alertas para perseverar na oração e a orarmos, não por motivos soberbos e pecaminosos, mas orarmos com o senso de profunda gratidão a Deus. Isso não quer dizer que não possamos colocar diante de Deus nossos anseios e dores, pelo contrário, devemos fazê-lo, mas com senso de gratidão para que, caso Deus responda negativamente, não nos tornemos ingratos (lembremos do espinho na carne de Paulo).
Paulo não poderia iniciar sua conclusão de melhor forma. Uma vida de oração em completa gratidão ao que Cristo já fez em nossas vidas é um dos maiores meios de nutrirmos a mentalidade do Reino de Cristo, a busca pelas coisas do alto. E é com essa forma de nutrir a mentalidade do Reino em mente que Paulo continua no versículo 3.
A oração que abre portas (Col 4.3-4)
A oração que abre portas (Col 4.3-4)
Paulo, então, continua apresentando o segundo modo como deveriam perseverar na oração. Apesar de muitas traduções trazerem o verbo “suplicar” como um imperativo de Paulo, ele denota mais um modo do que uma ordem, da mesma forma que o verbo “vigiar” do versículo 2. O segundo modo de continuarem perseverando na oração, era lembrando daqueles que haviam levado o Evangelho de Cristo até eles e do ministério que havia sido incumbido a eles por Deus.
Paulo aqui estava preso. O mais óbvio, talvez para mentalidade terrena, seria ele pedir que aqueles irmãos orassem suplicando para que a porta de sua prisão fosse aberta, por sua liberdade. Entretanto, nutria em si a mentalidade do Reino, e pede para que aqueles irmãos lembrem do ministério dele e de seus cooperadores, para que, da mesma forma que levaram o mistério de Cristo até eles, para que portas fossem abertas, oportunidades surgissem para que eles viessem a proclamar para outros o mistério de Cristo, a sua obra redentora na história do homem, que era proclamada desde os eventos no Éden (Gn 3.15).
Paulo sabe que a oração abre portas para o evangelho de Cristo porque sabe que isso é a vontade de Deus, que o Seu Reino se expanda, que a Sua Palavra alcance mais e mais pessoas. Devemos lembrar aqui de três pontos:
Daqueles que possuem o ministério formal de levar a palavra, entendendo que devem ser sempre objeto de nossas orações, para que Deus os abençoe em seu ministério e que cada vez mais abra portas para a pregação da palavra;
Lembrar daqueles que padecem perseguição devido à pregação do Evangelho de Cristo, para que, mesmo em meio à perseguição, não se desanimem, nem desencorajem da pregação e que cada vez mais Deus abra portas para a pregação, mesmo que muitas vezes aos seus algozes;
Lembrarmos do ministério pessoal de pregação da palavra que todos os cristãos possuem, orando por nós e por todos os nossos irmãos, para que Deus dê sabedoria a cada um para pregarem Sua Palavra diligentemente.
A oração que resulta em sabedoria (Col 4.5-6)
A oração que resulta em sabedoria (Col 4.5-6)
É nessa perspectiva que Paulo traz a segunda ordem de sua conclusão. “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora”. Essa sabedoria também não vem de nenhum conhecimento terreno, mas é dom de Deus:
Tiago 1.5 (NVI)
Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida.
Em que implica essa sabedoria que deveriam ter para com os de fora? É exatamente saber aproveitar todas as oportunidades, todas as portas que Deus abre para a pregação da Palavra. É saber aproveitar, em liberdade, as oportunidades que Paulo, aprisionado, clama para que Deus abra em seu ministério. Da mesma forma que essas portas se abrem através da oração em súplica a Deus, a sabedoria para atravessar com a Palavra de Deus através delas também vem de Deus.
Quando perseveramos na oração, vigiando em total gratidão pelo que Cristo já executara em nossas vidas e suplicamos pela pregação da palavra através daqueles que, mesmo em dificuldades, anseiam pela pregação, devemos sentir a necessidade de levar aos “que são de fora” aquilo que é objeto de nossa gratidão e nos sentir constrangidos a clamar por sabedoria a Deus para que possamos saber aproveitar todas as oportunidades que Ele nos concede de pregar, em liberdade, a Sua Palavra.
Se a forma de proceder com sabedoria para com os de fora é aproveitando bem as oportunidades, isso nos leva à segunda pergunta: de que forma aproveitamos bem as oportunidades que nos são abertas por Deus? A resposta a essa pergunta é exatamente o versículo 6 de nosso texto, em Paulo declara as duas formas para isso:
A nossa palavra deve ser sempre agradável: a palavra que levamos aos de fora deve ser sempre preenchida da graça (“charis”) que recebemos da parte de Cristo. Devemos sempre buscar levar palavras verdadeiras e edificantes, para que outros também recebam a graça que um dia recebemos.
A nossa palavra deve ser sempre temperada com sal: nossa palavra não deve ser nem insípida, nem muito salgada, mas temperada na quantidade certa com sal. Ela deve ser oportuna aos momentos, pessoas e contextos das oportunidades que nos são abertas por Deus, para que assim sejam edificantes.
Conclusão e aplicações
Conclusão e aplicações
Irmãos, muitos têm vivido uma vida de apatia e mornidão espiritual:
Não buscam, nem pensam nas coisas do alto;
Não demonstram em suas vidas e seus relacionamentos a mentalidade do Reino de Cristo;
Não lembram de seu papel na pregação do evangelho e na expansão do Reino;
Não demonstram interesse e desejo pela salvação de outras pessoas.
Hoje, chamo cada um de vocês avaliarem se econtram-se nessa situação. Se sim, pode ser que você tenha vivido uma vida de negligência à oração, seja em quantidade, seja em qualidade. Primeiramente, volte-se para Cristo, lembre-se da obra maravilhosa que Ele já executou em sua vida e da Esperança e Herança que entregou a você; prostre-se diante dEle em oração agradecendo-lhe porque um dia você estava morto e Ele te deu Vida e Vida Eterna! Coloque diante de Deus todos os seus anseios, mas seja sempre grato pelo que Ele já fez!
Lembrem-se daqueles que são nossos irmãos e padecem perseguições por causa do Evangelho de Cristo; ore para que Deus os mantenha fiéis à pregação da Palavra e que os conceda oportunidades e sabedoria para continuarem pregando os mistérios de Cristo.
Lembrem-se daqueles que se dedicam à pregação formal da Palavra, daqueles que servem o alimento espiritual enviado por Deus. Eles precisam das orações de cada um. Orem para que Deus os mantenha fiéis e firmes na Palavra.
Clamem, constantemente, a Deus para terem sabedoria nos relacionamentos com os não cristãos, sabendo aproveitar todas as oportunidades concedidas para a pregação da palavra de Deus, carregada de graça e oportuna para edificação daqueles que a ouvem.
Motivos para orar não nos faltam, o que nos falta é uma vida de perseverança na oração. Lembremos, uma vida de negligência à oração é uma vida desnutrida da mentalidade do Reino de Cristo e uma vida de ingratidão para com Deus. Como dito por R. C. Sproul: “Alguém pode orar e não ser um cristão, mas alguém não pode ser um cristão e não orar”.