Deserção - (ou O Risco da Deserção).
Notes
Transcript
Mt.26.31-35
Mt.26.31-35
Introdução
Este texto me faz lembrar de 1Co.10.12, além de ser uma peça que mostra um Pedro orgulhoso de si mesmo, quando diz: “todos podem te negar, mas EU não o negarei”.
Nosso enfraquecimento espiritual e nossa soberba por entendermos fortes pode nos levar à queda, à deserção de Jesus, como foi o caso de Pedro. O que nos alegra o coração é que o caído pode se levantar quando se reconhece quem é e como se está. Jesus nos ama em quaisquer circunstâncias.
Desenvolvimento
O caminho de Jesus para a morte tornava-se, naquela noite, uma tribulação muito grande para os discípulos. Contudo, superada a escuridão daquela noite, o Ressuscitado tornará a reuni-los, pois haviam se dispersado. – Lembrando Zacarias (Zc.13.7), Jesus anuncia a seus discípulos que eles todos duvidarão dele nessa noite e que ele, desta maneira, lhes seria motivo para caírem. Como ovelhas que subitamente são privadas do pastor, assim eles seriam dispersos “por medo e terror”.
Pedro replica: Mesmo que todos caiam por causa de ti, eu jamais cairei. São palavras que combinam integralmente com o jeito de Pedro: cheio de amor pelo Mestre, mas sem o menor autoconhecimento. Por isso, ele persiste na sua contradição, apesar das afirmações exatas de Jesus sobre o cantar do galo. Provocando o prenúncio de Jesus, Pedro tornou seu problema bem pior, porque, apesar de ter sido prevenido por Jesus, continuou no seu pecado.
O Evangelho de Marcos trabalha mais os detalhes e diz com maior exatidão: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes” [Mc.14.30]. A primeira negação aconteceu por volta das três horas. O fato de acontecerem dois gritos distintos do galo, dos quais o primeiro já devia ser uma advertência para Pedro, realça ainda muito mais a magnitude do seu erro. (O galo canta uma vez… e que decisão temos tomado? Temos esperado as outras duas vezes?”
Conclusão
Quantas vezes O Espírito Santo nos adverte sobre os pecados que cometemos - uma vez… duas vezes… três vezes… e não prestamos atenção, e não alteramos nossa rota, e não nos arrependemos. Com certeza cairemos no mesmo abismo de Pedro negando a Cristo. Pv.29.1.
Precisamos atentar para os avisos do Espírito Santo. E se formos vitimados, como foram Pedro e Judas o traidor, que estejamos abertos para o choro de arrependimento e nunca para o sentimento de remorso que levou Judas a se enforcar.
Mesmo caídos, se olharmos para Jesus encontraremos saída. “O nosso socorro vem do Senhor que criou os céus e a terra” (Sl.121.1-2).
(Subsídios para posterior reelaboração deste sermão)
Embora “então” seja uma vez mais um tanto indefinido, a interpretação mais natural é que o que aqui se relata ocorreu no caminho entre o aposento da Ceia para o Getsêmani. Devia ser bem tarde da noite – 23 horas, talvez? – quando Jesus e os onze homens que estavam com ele tomaram seu caminho para o jardim. Isso imprime sentido à expressão “nesta mesma noite”. Em “todos vocês me serão infiéis”, o sentido básico do verbo que se usa é, como sempre, “ser pego em armadilha” ou “enredar-se”. Em relação a Jesus e em razão de sua própria debilidade, esses homens seriam seduzidos a pecar, nesse caso específico provavelmente se refira a “ser infiéis” a seu Mestre. Tal coisa ocorreria a todos eles, diz Jesus.
Há três significativos “todos” nessa história. Tomados em conjunto e compreendidos em sua profundidade e em relação à atitude de Jesus para com esses homens, eles revelam a debilidade humana em contraste com a fortaleza divina. Note bem:
“Todos vocês se farão infiéis a mim” (v. 31)
Todos protestam que tal jamais acontecerá (v. 35)
“Todos eles o deixaram e fugiram” (v. 56).
Não obstante, todos esses onze eram homens salvos, considerados assim pelo Senhor em sua imensurável bondade e amor salvífico (26.29; cf. Jo 17.6,14,16). Nenhum deles pereceu (Jo 17.11).
Nesse momentâneo deslize dos discípulos – o fracasso em demonstrar sua lealdade nessa noite – Jesus vê o cumprimento da profecia de Zacarias 13.7. A aplicação da profecia a Jesus e a seus discípulos não oferece grandes dificuldades. É verdade que no contexto da profecia de Zacarias não se menciona quem fere o pastor. Simplesmente é passada uma ordem, a saber, a de ferir o pastor. Por outro lado, todo o contexto se refere reiteradamente a Jeová como quem age. É ele quem “volverá, meterá, fundirá, provará, dirá”. Em consequência, Jesus estava inteiramente justificado ao dizer: “porque está escrito: [eu] ferirei o pastor”. Ao interpretar isso à luz da profecia e do Novo Testamento, podemos dizer que foi o próprio Jeová quem “pôs sobre” o Mediador “todas as nossas iniquidades” (Is 53.6). Foi ele quem o “feriu”, o “quebrantou”, o “sujeitou a padecimentos” e “fez sua vida uma expiação pelo pecado”. Cf. Atos 8.32–35. Foi Deus o Pai quem “não poupou a seu próprio Filho” (Rm 8.32).
Como se indicou (ver o v. 56), as ovelhas foram dispersas. Fugiram – iriam fugir – em todas as direções. A beleza em tudo isso não é só que Jesus os amava de todos os modos, mas também essa mesma predição serviria ao propósito de reunir novamente as ovelhas dispersas, uma vez que ponderassem sobre o fato de que seu Mestre amoravelmente os advertira sobre o que sucederia.
Jesus prossegue, 32. Mas depois que eu tiver ressuscitado, irei adiante de vocês para a Galileia. Outra revelação de amor é esta, porque aqui, mesmo antes que esses onze homens se dispersassem, já recebem a certeza de que voltarão a reunir-se. Numa linguagem clara e sem figuras, Jesus lhes fala novamente de sua ressurreição dentre os mortos. Assegura-lhes que, uma vez ressuscitado, irá adiante deles para a Galileia, a mesma região onde estavam seus lares e – o que é ainda mais significativo – onde seu Senhor originalmente os chamara para si. Imediatamente depois da ressurreição de Cristo um mensageiro celestial irá lembrar os discípulos dessa promessa (28.7), e por ordem dele também as mulheres farão o mesmo, com a instrução de que eles devem ir para a Galileia e encontrar-se ali com o Senhor (28.10). Foi deveras na Galileia que o Senhor ressuscitado se reuniu com esses onze homens (28.16), com sete deles (Jo 21.1–23) e com mais de quinhentos de seus seguidores (1Co 15.6).
Pedro então pondera sobre a predição de Cristo registrada no versículo 31: 33. Pedro, porém, respondeu-lhe: Mesmo que todos se tornem infiéis a ti, eu jamais serei infiel.
No momento em que Pedro disse isso ele tinha intenções de fazer exatamente o que as palavras queriam dizer. Não se deve questionar seu desejo de ser e de permanecer leal a Jesus, venha o que vier. Entretanto, a própria linguagem que ele usa prova que cometeu no mínimo três erros estreitamente relacionados. Ele revelou uma tríplice fraqueza. Primeiro, ele tratou a palavra de Jesus, previamente expressa (ver v. 31), com incredulidade. “Todos vocês se farão infiéis a mim”, dissera o Mestre. “Não é verdade”, foi a essência da resposta de Pedro, embora não tenha usado precisamente estes termos. Em segundo lugar, porém, ele também se fez culpado de desdém: com respeito a seus condiscípulos revelou uma atitude de injustificada superioridade. No original o pronome “eu”, “Mesmo que todos […] eu jamais”, é muito enfático, não só porque é expresso separadamente – e não só como parte de uma forma verbal –, mas também porque encabeça a frase final da oração condicional. Portanto, o apóstolo estava delineando mentalmente uma comparação. É como se ele quisesse dizer: “Mateus, o ex-publicano, talvez poderia chegar a esse nível moral tão abjeto de abandonar o Mestre na hora de sua aflição. Meus ex-companheiros de pescaria, Tiago e João, também é concebível que caiam nessa armadilha. De fato, eu creio que meu próprio irmão, André, seria capaz de agir assim […] mas eu não”. Na realidade ele nem mesmo diz “não”, e, sim, “jamais”, o que é mais forte. Mas a base para essa incredulidade e desdém era uma perigosíssima distensão ou intumescência. Coloquialmente falamos de “cabeça inchada”. Pedro nutria uma soberba opinião sobre sua pessoa. Era culpado de ser presunçoso, de ser arrogante.
Ele deveria conhecer-se melhor. Como uma criança, ele deveria ter recebido instrução no que agora conhecemos como Antigo Testamento. Não obstante, não tirara devido proveito da lição que deixaram as histórias de outros soberbos, tais como Golias (1Sm 17.44,51), Ben-Adade (1Rs 20.11,21), Senaqueribe (2Cr 32.14,19,21), Amã (Et 5.11,12; 7.10) e Nabucodonosor (Dn 4.30–33); nem aplicara a si próprio o inspirado conselho que se encontra em preciosas passagens tais como Pv.16.18; 26.12 . Pior ainda, ignorara a constante ênfase de Cristo sobre a necessidade de humildade (ver com. sobre 18.1–6) e sua predição, que além do mais era uma advertência, de que todos se fariam infiéis a ele.
Em resposta, Jesus agora torna ainda mais cortante a predição de um pouco antes: 34. Jesus lhe disse: Eu solenemente te declaro: nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. Em comparação com o versículo 31, notamos que essa predição a. é introduzida de um modo mais solene e impressionante: “Eu solenemente lhe digo” – ver com. sobre 5.18 – e b. é muito mais específica, sendo dirigida só a uma pessoa, a Pedro; e porque indica de forma ainda mais precisa quando se cumprirá, a saber: “antes que o galo cante”, isto é, antes da aurora; e ao desvendar a natureza da deslealdade em que esse discípulo vai cair, isto é: “me negará três vezes”. O canto do galo servia como indicação da hora. Marcos 13.35 mostra que marcava a terceira das quatro “vigílias”. Estas eram: do crepúsculo, 18–21; meia-noite, 21–24; cantar do galo, 0h-3; e matutino, 3–6. À luz de Marcos 14.30 é evidente que a referência é à segunda parte do período, de 0h-3. Contudo, a menção do cantar do galo se refere não só ao tempo, mas também ao canto do galo propriamente dito.
Aqui vemos Jesus como o grande Profeta. Ainda que Pedro não conhecesse seu próprio coração, Jesus não só o conhecia, mas também o revelou. Note-se o caráter detalhado de seu conhecimento: três vezes. Vemos Jesus também como o grande Sofredor. Como o que previa deve tê-lo entristecido! Finalmente, vemo-lo como o grande Salvador. A referência ao cantar do galo faz dupla tarefa: a. Indica o caráter superficial da jactância de Pedro. Dentro de poucas horas, sim, ainda antes do amanhecer, Pedro negará publicamente a seu Mestre! Não obstante, b. este mesmo galo e seu canto são um meio para levar Pedro ao arrependimento, porque a referência que Cristo fez a isso ficou profundamente impresso em sua mente, de modo que no momento apropriado essa lembrança escondida repentinamente puxará a corda que fará soar a campainha da consciência de Pedro. Ver Mateus 26.74; Marcos 14.72; Lucas 22.60; João 18.27.
Entretanto, o discípulo a quem o Senhor dirigira essa predição específica persiste em sua confissão de uma lealdade inquebrantável: 35. Pedro lhe disse: Mesmo que eu tenha de morrer contigo, certamente não te negarei. Seu espírito de soberba se avoluma cada vez mais. Ele fala com ênfase cada vez mais forte – note “certamente não” – e ainda com mais veemência (Mc 14.31). Se necessário fosse, ele estaria disposto até mesmo a morrer com (Mt 26.35; Mc 14.31; Lc 22.33) e por (Jo 13.37) Jesus! Semelhantemente falaram também todos os [outros] discípulos. Eles também se deixaram levar pela poderosa soberba de Pedro. Provavelmente sentiram que não poderiam prometer menos que Pedro, seu líder. Com respeito a este “todos” (os outros), ver acima, sobre o versículo 31.
Era como se Jesus permitisse a Pedro ter a última palavra, porquanto o Mestre não volta a responder esse discípulo equivocado. Não obstante, também no presente caso, Jesus prova que ele é o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último. Já não tinha orado por Simão (Lc 22.31,32)? E na conclusão da triste história, não iria responder a Pedro através de um terno, significativo, maravilhoso olhar (Lc 22.61), que seria seguido de uma visita privativa depois de sua ressurreição (Lc 24.34; 1Co 15.5) e de uma inesquecível restauração pública (Jo 21.15–17)?1
1 Hendriksen, W. (2010). Mateus. (V. G. Martins, Trad.) (2a edição em português, Vol. 2, p. 494–499). Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.