As motivações do homem proporcionam uma visão da sua realidade espiritual
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Mateus 5.8 - Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Essa bem-aventurança aborda a essência da vida cristã. Esse é o alvo final da vida: ver a Deus. é uma das maiores declarações que podem ser encontradas em todas as páginas das Santas Escrituras. Qualquer indivíduo que ao menos perceba parte do significado dessas palavras: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5:8), só poderá aproximar-se delas com profundo sentimento de admiração e de completa inadequação pessoal
Dr. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, ed. Tiago J. Santos Filho, trans. João Bentes, Segunda Edição. (São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2017), 140.
Dr. Martyn Lloyd Jones médico da familia real, aos 27 anos foi chamado por Deus, deixou sua profissão para viver na vocação. foi o pastor que mais influêncio a igreja evangelica no mundo inteiro no século passado.
Aos 80 anos de idade acometido de um cancer, depois de lutar contra a infermidade ele estava extremanete debilitado, mas havia um brilho no seu rosto e uma certeza da sua salvação na véspera da sua partida ele reunio toda a sua família, seus filhos, seus netos e disse: Não ore mais pela minha cura, não me detenham da gloria e partiu para o senhor.
Martyn Lloyd Jones diz que “ver a Deus” é o alvo final de todo empreendimento, o propósito mesmo da religião.
John MacArthur destaca que os puros de coração não são aqueles que observam a limpeza no exterior. Não são aqueles que participam das cerimônias. Não são aqueles que possuem a religião da realização humana.
Por que essa bem-aventurança aparece justamente aqui?
As três primeiras bem-aventuranças versavam sobre a nossa necessidade espiritual, sobre a nossa consciência dessa necessidade – humildade de espírito, choro lamentoso em face de nossa pecaminosidade, mansidão em resultado de uma real compreensão da natureza do próprio “eu” e seu grande egocentrismo, aquele horrendo defeito que nos tem arruinado a vida toda. Essas três primeiras bem-aventuranças enfatizam a vital importância da profunda consciência de nossa necessidade. Mas, em seguida, aparece a grande declaração sobre a satisfação dessa necessidade, a provisão divina para a mesma: “Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão fartos”. Tendo percebido a grande necessidade, então sentimos fome e sede, e, após isso, Deus aproxima-se com a Sua admirável resposta, mediante a qual ficamos satisfeitos, plenamente satisfeitos. Desse ponto em diante passamos a considerar os resultados dessa satisfação, o resultado de termos ficado satisfeitos. Tornamo-nos então misericordiosos, limpos de coração e pacificadores. E, finalmente, aparece o resultado final de tudo isso, ou seja, “perseguidos por causa da justiça”.
Nas três primeiras bem-aventuranças, por assim dizer, estávamos escalando um dos lados de uma montanha. Chegamos ao cume na quarta bem-aventurança, e depois, nas demais bem-aventuranças, começamos a descer pelo outro lado da montanha.
“Bem-aventurados os limpos de coração.” É nisso que consiste o cristianismo, e essa é justamente a sua grande mensagem. Talvez a melhor maneira de considerarmos este versículo seja, uma vez mais, tomando os seus vários vocábulos para examiná-los um por um. Assim para tentar explicar para os irmão nosso sermão será dividido em 3 pontos, mais precisamente em 3 perguntas.
Quem são os puros de coração?
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
À primeira vista, Jesus parece pensar em pessoas cujo coração é moralmente limpo. Sem dúvida, Suas palavras têm a profecia de Ezequiel como pano de fundo: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.25–26).
Porém, tal pureza, da qual o Antigo Testamento fala, não diz respeito somente a uma questão de limpeza (apesar de envolvê-la), mas, também, a uma questão de compromisso do nosso coração e da nossa vontade para com o Senhor.
Por trás dessas palavras se encontra o Salmo 24.4–6. Aqueles que podem permanecer na presença santa de Deus têm “mãos e coração limpos”. Eles não elevaram sua alma aos ídolos. (Note a mesma ênfase nas palavras de Ezequiel). A impureza em questão aqui é a impureza da condescendência e do comodismo. O coração impuro não é simplesmente impuro; ele é irresoluto e dividido. É característico do homem de “ânimo dobre” descrito por Tiago (Tg 1.8, 4.8); este é um homem, portanto, inconstante em todos os seus caminhos.
William Barclay fala sobre dois sentidos da palavra grega kátharos, que significa “limpo, puro, sem mescla, não adulterado”.
Primeiro, o sentido comum. A palavra grega kátharos tem vários significados:
1) Era usada para designar a roupa suja que foi lavada.
2) Era usada para designar o trigo que tinha sido separado da sua palha. Com o mesmo significado, era usada em relação a um exército do qual se tinham eliminado os soldados descontentes ou medrosos.
3) Era usada para descrever o vinho ou leite que não havia sido adulterado mediante adição de água; algo sem mescla.
4) Era usada em relação ao ouro puro sem escória.John MacArthur diz que o termo kátharos significa sem mistura, sem fusão, sem adulteração, peneirado ou sem resíduos.
Segundo, o sentido bíblico. O termo “puro” significa destituído de hipocrisia. Uma devoção não-dividida. O salmista diz: Dispõe-me o coração para só temer o teu nome (Sl 86.11). A nossa grande dificuldade é nosso coração dúplice. Uma parte do nosso ser quer conhecer, adorar e agradar a Deus, mas outra porção quer algo diferente.
O coração limpo é o coração que não está dividido. Significa, também, destituído de contaminação. É um coração sem mácula, puro, íntegro. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).
O filósofo e teólogo dinamarquês Søren Kierkegaard expressou bem, o que Jesus quis dizer: Pureza de Coração é Desejar Uma só Coisa [Purity of heart is to will one thing]. Ser puro de coração é ser intransigentemente dedicado a Cristo! Esta é a maneira verdadeira de ver (ou de ‘conhecer’) a Deus.
A pureza de coração é também enaltecida no Salmos 73.1 . Semelhantemente, em 1Tm 1.5, puro é sinônimo de sincero. E examinem-se também 2Tm 2.22 e 1Pe 1.22 . Tudo isso poderia conduzir-nos facilmente à conclusão de que as pessoas que são designadas como bem-aventuradas na sexta beatitude são, sem nenhuma outra qualidade, os indivíduos sinceros, os homens que pensam, falam e agem sem hipocrisia.
Salmo 73.1 (RA)
Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo.
Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente,
Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.
Jesus pronuncia sua bênção sobre as pessoas cuja manifestação exterior está em harmonia com a sua disposição interior.Não obstante, um estudo do contexto em cada uma das referências precedentes torna claro que é mister acrescentar-se algo. A sinceridade ou integridade não é suficiente em e por si mesma. Um homem pode estar sinceramente certo, como também pode estar sinceramente errado. Sem dúvida que os profetas de Baal eram realmente sinceros quando desde a manhã até ao meio-dia saltavam sobre o altar, retalhando-se com facas e clamando sem cessar: “Ouve-nos, ó Baal!” (1Rs 18.26–28). Porém, eram sinceros na direção errada. Assim também, numa passagem que é citada com frequência na explicação da sexta beatitude (Gn 20.6), o próprio Jeová testifica que Abimeleque, na integridade de seu coração, defraudara Abraão, levando Sara. Não obstante, o Senhor não aprovou o que o rei fizera e o ameaçou de morte caso não devolvesse Sara ao seu legítimo marido (v. 7). De forma semelhante, os “puros de coração” do Sl 73.1 são aqueles que com toda sinceridade são guiados “pelo conselho de Deus” (v. 24). A fé não fingida de 1Tm 1.5 adere à “sã doutrina” (v. 10). E as pessoas a quem Pedro faz referência (1Pe 1.22) são aquelas que purificam suas almas “na obediência à verdade.
1Samuel 16.7 (RA)
Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.
O homem vê o exterior a religiosidade, as vidas para o culto de forma forçada e sem alegria. Porém o Senhor, o coração” (1Sm 16.7 ). Quanto mais a mente estiver voltada às coisas espirituais, maior comunhão terá o homem com Deus.
Estudos no Sermão do Monte (Capítulo X: Bem-Aventurados os Limpos de Coração (5:8))
Que se deve entender por esse vocábulo “coração”?
A Palavra de Deus é categórica em afirmar que o coração é a fonte de todas as nossas dificuldades. Jesus esclareceu: Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mt 15.19).
O profeta Jeremias diz que o coração é mais enganoso do que todas as coisas e desesperadamente corrupto (Jr 17.9).
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, diz que os nossos problemas são gerados fora de nós. Mas Jesus diz que os nossos problemas são gerados dentro do nosso coração.
Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
Em outras palavras, o Evangelho não somente revela-nos que todos esses problemas partem do coração, mas também que assim acontece porque o coração do ser humano, em resultado da queda, em resultado do pecado, conforme afiançam as Escrituras, é desesperadamente corrupto, enganoso e maligno. Vale dizer, as dificuldades de um homem encontram-se no próprio âmago do seu ser, em face do quê o mero desenvolvimento dos seus poderes intelectuais não pode solucionar os seus problemas. Sempre nos deveríamos conscientizar que a mera educação não leva um homem a tornar-se bom; um indivíduo pode ser altamente educado, e, no entanto, ser uma pessoa desesperadamente iníqua. O problema está no âmago do ser, pelo que os meros esquemas de aprimoramento intelectual não nos podem endireitar. Esses esforços sozinhos nem são capazes de melhorar o nosso meio ambiente. A nossa trágica cegueira, que não compreende isso, é responsável pelo lamentável estado do mundo atual. A dificuldade acha-se no coração, e o coração é desesperadamente corrupto e enganador. Esse é o grande problema.
O coração é tido como o centro da personalidade. Isso não quer dizer meramente que ele é somente a sede dos afetos e das emoções. Nas Escrituras, “coração” inclui mente, emoção e vontade. Refere-se ao homem na sua totalidade. Jesus está afirmando que a pureza deve penetrar em todos os corredores da nossa vida: nossos pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade. A Bíblia diz: Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23).
Provérbios 17.20 (RA)
O perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal.
O senhor está nos direcionando sobre o perverso, falso e imoral, onde todos os sntimentos estão guardados no coração.
A nossa grande dificuldade é nosso coração dúplice. Uma parte do nosso ser quer conhecer, adorar e agradar a Deus, mas outra porção quer algo diferente. O apóstolo Paulo diz: Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros (Rm 7.22,23). O coração limpo é o coração que não está dividido. Significa, também, destituído de contaminação. É um coração sem mácula, puro, íntegro. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).
Salmo 86.11 (RA)
Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome.
Ora, o coração limpo é o coração que não está dividido, tendo sido essa a razão pela qual o salmista, tendo compreendido a sua dificuldade, orou ao Senhor para que lhe dispusesse o coração “para só temer o teu nome”. É como se ele houvesse dito: “Faze meu coração tornar-se singelo; tira dele as duplicidades, as pregas e as dobras que lhe ofuscam a visão, e deixa-o puro, sincero, inteiramente isento de qualquer hipocrisia”.
Qual é a recompensa de ter um coração puro? … porque verão a Deus.
James Hastings fala sobre três tipos de visão: a visão física, mental e espiritual.
A primeira visão é a física. Por meio dela, distinguimos objetos materiais e contemplamos o mundo físico à nossa volta.
A segunda visão é a mental. Essa é a visão dos cientistas e poetas. Essa faculdade ajuda os homens a descobrirem as leis da ciência e a fazerem analogias e conexões com as mais variadas ideias.
A terceira visão é a espiritual. Esta capacita os homens de fé e os puros de coração a verem o invisível. Deus é invisível, mas os puros de coração verão a Deus.
A gloriosa recompensa dos puros de coração é que eles verão a Deus. O verbo grego está no futuro contínuo. Em outras palavras, eles verão continuamente a Deus”. Eles verão a Deus nesta vida e na vida por vir. Agora, vemos a Deus pela fé. Agora, nós o vemos nas obras da criação, da providência e da redenção. Mas, então, nós o veremos face a face. Agora, vemos como por espelho, mas, então, veremos já sem véu. Então, conheceremos como também somos conhecidos. A visão de Deus na vida por vir é o céu dos céus. Embora venhamos a nos deleitar na incontável assembleia dos santos, embora nossa união aos coros angelicais venha a ser uma grande glória, a maior de todas as glórias de todas as recompensas será a visão que teremos de Deus. Essa é a promessa mais consoladora. Jó encontrou refúgio para a sua dor quando disse: Eu sei que o meu redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão (Jó 19.25–27).Aqueles que não têm o coração puro não verão a Deus, pois a Bíblia diz que sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Porém, os limpos de coração verão a Deus. Mais do que tesouros, mais do que glórias humanas, nossa maior recompensa é Deus. Ele é melhor do que todas as suas dádivas. Ele é a nossa herança, a nossa recompensa. Teremos a Deus, veremos a Deus, por toda a eternidade! Oh, que glória isso será!
A santificação, um coração limpo, uma condição singela nas disposições. Não obstante, homens e mulheres costumam reduzir tudo isso à ínfima questão de decência, de moralidade ou de curiosidade intelectual pelas doutrinas da fé cristã. Na verdade, porém, está envolvida nisso a pessoa inteira, e nada menos que isso. “… Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (I João 1:5). Na dimensão espiritual, ninguém pode misturar a luz com as trevas, ninguém pode misturar o branco com o preto, ninguém pode misturar Cristo com Belial. Não há qualquer conexão entre esses pares de conceitos. É óbvio, pois, que somente aqueles que se parecem com Cristo poderão ver a Deus e estar em Sua presença. Eis a razão pela qual precisamos ser limpos de coração, antes que possamos ver a Deus.
Tudo quanto você e eu podemos fazer é tomar consciência da negridão de nossos próprios corações, conforme eles são por natureza; ao assim fazermos, outrossim, que nos unamos a Davi, em sua oração: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável” (Salmos 51:10).
O fato que eu sei que, em última análise, não posso limpar meu próprio coração, em nenhum sentido, não significa que eu tenha o direito de arrastar-me pelas sarjetas da vida, esperando que Deus me purifique. Antes, cumpre-me fazer tudo quanto estiver ao meu alcance, e ainda assim entender que isso não basta, pois só o Senhor pode realizar tal feito, em última análise. Ou escutemos novamente àquilo que Paulo disse: “… porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. Não obstante isso, adiciona o apóstolo: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena” (Colossenses 3:5). Sufoque, portanto, as suas más tendências, liberte-se delas, desvencilhe-se de tudo quanto possa interpor-se entre você e o alvo que você está mirando. É preciso “fazer morrer” cada uma dessas inclinações. E diz Paulo novamente, na epístola aos Romanos: “… se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Romanos 8:13).
Dessa maneira, poderíamos sintetizar essa bem-aventurança como segue: “Bem-aventurado é o homem cujas motivações são sempre íntegras e sem mescla de mal algum, porque esse é o homem que verá a Deus”.