Sola fide e as implicações para nós hoje
Introdução
A prática das Indulgências (João Teztzell)
Em 1517, um dominicano itinerante chamado John Tetzel começou a vender indulgências nas proximidades de Wittenberg, oferecendo o perdão de pecados. Esta prática absurda fora inaugurada durante as cruzadas com o fim de arrecadar dinheiro para a igreja. Os cidadãos podiam comprar da igreja uma carta que supostamente livrava do purgatório um ente querido que havia morrido. Roma se beneficiou imensamente dessa impostura. Neste caso, essas rendas visavam ajudar o papa Leão X a pagar as despesas da nova basílica de São Pedro, em Roma. A famosa oferta de Tetzel era: “Assim que a moeda soa no fundo do cofre, a alma voa do purgatório.”21
Afixar tais teses à porta da igreja era uma prática comum nos debates da erudição da época. Lutero esperava provocar uma discussão serena entre o corpo docente, não uma revolução popular. Mas uma cópia caiu nas mãos de um tipógrafo, o qual viu que as noventa e cinco teses impressas seriam “espalhadas pelas asas dos anjos” por toda a Alemanha e Europa em poucas semanas.23 Lutero se tornou um herói de um dia para o outro. Com isso, essencialmente, a Reforma nasceu.
Domínio do papado
Afirmo que um concílio algumas vezes tem errado e algumas vezes pode errar. Um concílio não tem autoridade de estabelecer novos artigos de fé. Um concílio não pode tornar direito divino aquilo que por natureza não é direito divino. Os concílios por vezes contradizem uns aos outros. […] Um leigo simples, armado com a Escritura, deve ser crido acima de um papa ou concílio. […] Nem a Igreja nem o papa pode estabelecer artigos de fé. Estes devem emanar da Escritura. Por amor da Escritura, devemos rejeitar papa e concílio.27
A Dieta de Worms: Lutero teve a oportunidade de se retratar
A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela clara razão (pois não confio simplesmente no papa ou em concílios, posto ser bem notório que com frequência eles têm errado e se contraditado), estou obrigado pelas Escrituras que tenho citado, e minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Não posso e nem quero retratar-me de nada, posto não ser seguro nem certo ir contra a consciência. Não posso agir de outro modo; eis-me aqui; que Deus me ajude! Amém.32
Historicamente a importância de Rm 1.16-17 para a vida e história do reformador
O tempo da conversão de Lutero é matéria de discussão.25 Há quem pense que isso ocorreu mais ou menos em 1508, mas o próprio Lutero escreveu que aconteceu em 1519, dois anos depois que divulgou suas noventa e cinco teses.26 Mais importante é a realidade de sua conversão. Ele veio a compreender que a salvação era uma dádiva para o culpado, e não um galardão para o justo. O homem não é salvo por suas boas obras pessoais, e sim por confiar na obra consumada de Cristo. Assim, a justificação somente pela fé veio a ser o dogma central da Reforma.