Mateus 21.12-17
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 91 viewsO autor demonstra, como forma de antagonia e oposição ao Reino, o aspecto hipócrita da natureza humana, que profana e viola aquilo que o SENHOR entregou ao seu povo como demosntrativo de sua graça redentiva, e adverte seu público quanto ao resultado obstrutivo disso, em termos da compreensão salvadora de Jesus Cristo como o Senhor.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após a narrativa da entrada de Cristo em Jerusalém, Mateus anexa à continuação de seu escrito, outros dois momentos que reforçam tanto a compreensão em relação à identidade messiânica de Cristo - corroborada por meio das citações e cumprimentos proféticos do Antigo Testamento -, quanto ressaltam a oposição que o Messias está enfrentando com relação à publicação do Reino dos céus; tema desta sexta seção de seu texto.
Mateus constrói a narrativa a fim de demonstrar, num primeiro momento, que o antagonismo à obra redentora não advém apenas da rebeldia dos escribas e fariseus (cf. 19.1-12), ou do amor às riquezas (cf. 19.16-30). À luz do quadro degenerativo e degradante do uso que muitos, naquele momento, estavam fazendo do templo, o autor destaca a hipocrisia e falsidade com que o próprio povo tratava o SENHOR, usando sua casa como comércio, o que representava um profundo descompromisso com o significado da comunhão com Deus.
Jungida à essa narrativa, a cena progride para o momento em que, ao ter curado cegos e coxos, o Senhor é interpelado pelos fariseus e escribas quanto a se não se incomodava de ser chamado pelas crianças no templo de "Filho de Davi". Claramente, a pergunta é dirigida ao Senhor tendo em vista a dificuldade que aqueles homens tinham de reconhecer o Senhor como o Messias.
A cegueira dos fariseus e a hipocrisia dos comerciantes dentro do templo, asseveram o caráter didático do registro evangélico de Mateus: a resistência farisaica e a natureza humana se avessam ao estabelecimento do Reino, tanto quanto todos os tópicos até o momento demonstrados pelo autor (cf. Mt 19), e notando essa ênfase, a presente seção concentra-se em expor: a falsidade e superficialidade religiosa como forma de oposição ao Messias.
Elucidação
Tendo em vista a época da Páscoa, diversas pessoas migravam de várias regiões nos entornos de Israel para Jerusalém, a fim de oferecer sacrifícios ao Senhor, tal como determina a Lei (Dt 16.1-8). Dado o grande esforço de transportar um animal de longínquas regiões para Jerusalém, algumas pessoas vendiam animais nos entornos do templo, facilitando a observação desse rito ordenado.
Entretanto, ao ter chegado na cidade nesse período, o que o Senhor Jesus encontrou não foi pessoas interessadas em oferecer sacrifícios ao SENHOR em obediência à lei pascal, mas, profanando o templo, concentravam-se no lucro, tanto devido ao preço exacerbado dos animais por parte dos vendedores, que acabava impedindo que os mais pobres pudessem oferecer, quanto pela frieza com que praticavam aquele rito, desapegando-se completamente do sentido proposto pelo Criador ao estabelecê-lo, qual seja: que o povo se lembra-se da redenção executada em seu favor, livrando-os das cargas da servidão no Egito, como salienta em nota, a Bíblia King James Atualizada:
"Os judeus haviam ofendido ao SENHOR, permitindo que seus corações fossem corrompidos pela ganância, dominados pelo pecado, e faltos de amor sincero para com Deus e com seu próximo. [...] As ofertas, taxas e compras de animais para sacrifícios no templo só podiam ser pagas com moeda hebraica, pois as demais moedas eram cunhadas com a imagem de divindades pagãs ou do imperador. [...] Esse serviço de trocas de moedas, compra e venda de animais, e produtos para os sacrifícios, deveria ser realizado com dignidade, no "grande átrio exterior dos gentios". Todavia os cambistas estavam explorando os romeiros que vinham de muitos longe e com dinheiro para ofertar e sacrificar no templo. Além disso, a venda de animais cultualmente aceitáveis transformara-se apenas em lucrativo comércio, tanto que a área antes reservada já não comportava os estandes de vendas e haviam invadido até o recinto sagrado" (BÍBLIA KING JAMES ATUALIZADA, 2012, p. 1801).
A hipocrisia do sentimento religioso do povo é comparada por Cristo ao mesmo sentimento que assediou o coração de Israel no passado, quando, confiando nos ritos externos da lei cerimonial, julgavam que estavam salvos ou que usufruiriam do favor do SENHOR. Relembrando esse momento histórico do povo de Deus, Cristo cita os textos de Isaías 56.7 e Jeremias 7.11, evocando um contraste que denuncia o coração fingido e superficial do povo no templo:
Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para o servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. Assim diz o Senhor Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos.
Eis que vós confiais em palavras falsas, que para nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações! Será esta casa que se chama pelo meu nome um covil de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o Senhor.
Unindo a perspectiva dos dois textos, a síntese feita por Cristo em sua citação composta, clarifica a condição distante do povo em relação à verdadeira comunhão com Deus. A casa do SENHOR que deveria servir como farol de luz que apregoa a salvação para todos os povos, através do devido uso em obediência e amor genuínos a Deus, estava sendo usurpada pelo interesse escuso de homens vis, que estavam ali apenas para lucrar e fingir serem dedicados ao Deus de Israel.
Mateus usa a passagem para alertar seu público quanto ao exercício à hipocrisia e falsa piedade como formas de resistência e oposição ao Reino dos céus. Aqueles que fingem adorar ao SENHOR, não estando verdadeiramente comprometidos com o Reino e com Cristo, não estão apenas numa posição nula em termos da salvação, isto é, não são apenas não-salvos ou coisa do gênero, são inimigos do Reino, pois profanam o nome do SENHOR com tamanha falsidade.
Entretanto, a antagonia a que o autor deseja referir-se, é complementada pelo episódio em que homens que já foram descritos no texto como sendo hipócritas (cf. Mt 6.2, 5, 16; 9.13; 15.7) agora se avessam ao Senhor, tendo ouvido crianças o reconhecer com o "Filho de Davi". A união dessas duas narrativas, expõe uma exemplificação de ação e resultado: o exercício hipócrita dos cambistas e vendedores no templo, resultava num distanciamento do SENHOR, o que por sua vez, os impedia de contemplar aquilo que era óbvio até mesmo à crianças.
Ao ser interrogado pelos fariseus e escribas, estes esperavam que Cristo reconhecesse o exagero dos infantes em chamá-lo de rei davídico. Entretanto, o Senhor, citando o texto do Salmo 8.2, confirma a perspectiva dos meninos, demonstrando a inaptidão daqueles homens para lerem e compreenderem as Escrituras (cf. "nunca lestes…?" v.16).
O salmo é um cântico de Davi em que a majestade do SENHOR é reconhecida por ele (cf. Sl 8.1), sobretudo, ao usar de misericórdia para com seu povo, tendo comparado o povo de Israel à pequeninos e crianças de peito, que lograram êxito em receber do SENHOR a vitória sobre os inimigos. O mesmo comparativo é transportado por Cristo para a ocasião em que de fato meninos o vêem como o Messias e Salvador de seu povo, enquanto que seus adversários (i.e. os escribas e fariseus) são vencidos pela revelação da grandeza e misericórdia do SENHOR por meio de seu bendito Filho, e a prova disso é que cegos e coxos são curados por Jesus.
Transição
A evidente advertência feita por Mateus ao seu público, como já declarado, exorta a igreja de Cristo a perceber a gravidade e intensidade da natureza pecaminosa presente no homem de se colocar contra o Reino de Deus. Mesmo o exercício religioso ordenado pelo SENHOR, pode ser usado não apenas como forma de ofendê-lo, mas também como um ato rebelião contra ele.
O coração vazio dos cambistas e a inveja dos fariseus são a representação de dois lados de uma mesma moeda, ou dois aspectos de um pecado que começa com a hipocrisia (o interior não condiz com o exterior), e acaba sendo externado pela obstrução da visão que se tem de Jesus Cristo.
Esse princípio direcionado pelo autor divino/humano ao povo de Deus, pode ser sintetizado a partir da seguinte aplicação:
Aplicação
A hipocrisia e falsidade de uma religião vazia, ofende ao SENHOR tanto quanto declara inimizade contra ele.
Cristo é muito direto em sua fala: a casa de Deus, que deveria comportar fiéis ao SENHOR em pleno exercício de devoção e comunhão com o Criador, estava sendo instrumentalizada por homens que buscavam apenas seus interesses, pouco se importando com aquilo que deveria ser visto como sagrado.
Infelizmente, é possível que hoje estejamos agindo da mesma maneira, tratando como profano o sagrado, agindo como os cambistas no templo, quando, ao invés de nos dedicarmos verdadeiramente ao SENHOR, preocupamo-nos aparentar religiosidade e piedade, sendo que no nosso interior não há qualquer resquício de verdadeira devoção.
Orar, ler as Escrituras, ir ao culto público e todas as outras atividades espirituais, podem ser reduzidas à mera hipocrisia farisaica, se não estiverem sendo exercidas pela compreensão de que como filhos de Deus, essas obras nos são próprias, e portanto, formas de retribuir em gratidão, louvor e obediência a graça do SENHOR em nossa redenção.
O resultado não poderia ser outro: se não estamos genuinamente comprometidos em louvar ao SENHOR com nossa vida, e passamos a nos comportar como cambistas e fariseus, aos poucos, o próprio Cristo tornar-se-á um estranho para nós, ao ponto de não vermos o que é óbvio: que ele é o Filho de Davi; nosso rei e redentor e fundamento da nossa salvação e digno de todo louvor, e se Cristo nos é desconhecido, não somos filhos e sim inimigos seu e do Reino.
Mateus adverte-nos de que de maneira fingida, estejamos nos entregando à um comportamento hipócrita que se rebela contra o SENHOR. Examinemos nosso coração, a fim de que não transformemos nossos corpos que são templo do Espírito, num covil de hipocrisia!
Conclusão
O texto do Evangelho de Mateus 21.12-17 nos mostra a antagonia que há entre a natureza humana e Deus, quando aquela, por vezes, insiste em manter-se em rebelião contra o SENHOR, agindo de maneira hipócrita e superficial com aquilo que nos foi entregue a fim de que explicitemos a grande e poderosa salvação que Cristo realizou em nosso favor.
Que possamos nos dedicar verdadeiramente ao Deus que, de crianças (i.e. pequeninos e incapazes) tira o perfeito louvor de sua glória.