A Cruz de Cristo - capítulo 5 (satisfação pelo pecado)

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Satisfação pelo pecado

Romanos 5. 5-11

Romanos: O Evangelho Segundo Paulo O Derramamento do Amor de Deus (5.5–8)

Três fatos devem ser destacados com respeito ao amor de Deus:

Em primeiro lugar, o amor de Deus é copioso (5.5). O amor de Deus revelado a nós é algo profuso, caudaloso e abundante. Não nos é dado por medida, mas copiosamente derramado em nós. Sob a vívida metáfora de uma chuvarada que cai sobre uma terra seca, o que o Espírito Santo faz é proporcionar-nos a consciência profunda e revigorante de que Deus nos ama.

Esse sublime amor de Deus por nós, pecadores, não foi despertado pela cruz de Cristo; ao contrário, foi o amor de Deus por nós que produziu a cruz.

A cruz não é a causa do amor de Deus, mas seu resultado.

Esse amor não é retido em Deus, mas derramado sobre nós. Paulo menciona aqui uma espécie de inundação do amor de Deus.

Somos banhados pelo próprio ser de Deus, uma vez que Deus é amor.

Em segundo lugar, o amor de Deus é imerecido (5.6,8,10).

A causa do amor de Deus não está no objeto amado, mas nele mesmo. Cristo não morreu por alguém que merecia o amor de Deus.

Ao contrário, Paulo diz que éramos fracos (5.6), ímpios (5.6), pecadores (5.8) e inimigos (5.10). Numa linguagem crescente, o apóstolo elenca quatro predicados sombrios da deplorável condição humana.

Embora fôssemos merecedores do juízo divino, ele graciosamente derramou em nosso coração seu imenso amor.

Deus não poderia achar nos fracos, ímpios, pecadores e inimigos algo que atraísse seu amor.

O caráter incomum e singular do amor de Deus se revela no fato de que ele foi exercido a favor daqueles cuja condição natural era absolutamente repugnante diante da sua santidade.

Deus amou infinitamente os objetos da sua ira.

Geoffrey Wilson tem razão quando afirma que um homem realmente pode estar preparado a fazer o maior dos sacrifícios por alguém que ele julga ser digno disso, mas Deus entregou seu Filho para a morte na cruz por aqueles que ele sabia serem completamente vis e indignos.

Franz Leenhardt complementa dizendo que o amor não se justifica mercê do valor do objeto amado. Deus ama sem justificativa para amar.

Em terceiro lugar, o amor de Deus é provado (5.6–8).

A manifestação do amor de Deus se dá por meio de um evento histórico – a cruz.

A prova mais eloquente do amor de Deus é a cruz de Cristo.

William Greathouse destaca que em nenhum lugar existe uma revelação de amor como a que encontramos na cruz.

Pela cruz temos uma abertura ao coração de Deus e vemos que se trata de um amor que se dá e se sacrifica.508

Cristo morreu no momento determinado por Deus e de acordo com seu eterno propósito (Jo 8.20; 12.27; 17.1; Gl 4.4; Hb 9.26).509

Segundo Adolf Pohl, não aconteceu na cruz um heroísmo na potência máxima, mas humilhação extrema, um contrassenso escandaloso (Fp 2.8).

Irrompeu o amor jamais decifrável por nós pecadores.

Por este motivo John Stott ao escrever o capítulo 5 fala sobre "satisfação" e "substituição"

Satisfação no sentido de justificar o ato de Deus ...

Perguntam, podemos crer que Deus precisava de alguma espécie de "satisfação" a fim de se preparar para perdoar, e que Jesus Cristo a providenciou levando, como nosso substituto, o castigo que nós, pecadores, merecíamos?

Sir Alister Hardy, expressou sua indignação ao perguntar se o próprio Jesus, se vivesse hoje, seria cristão. "Duvido muito", respondeu Sir Alister.

"Sinto-me seguro de que ele não teria pregado um Deus que seria apaziguado pelo cruel sacrifício de um corpo torturado ...

Mas o modo pelo qual diferentes teólogos desenvolveram o conceito da satisfação depende da sua compreensão dos obstáculos ao perdão, os quais primeiro necessitam ser removidos.

Que exigências estão sendo feitas, as quais se constituem obstáculos até que sejam cumpridas?

E quem as está fazendo? É o diabo? Ou é a lei, ou a honra ou a justiça de Deus, ou "a ordem moral"?

Satisfazendo ao diabo

A noção de que foi o diabo que tornou a cruz necessária era geral na igreja primitiva

Negamos que o diabo tenha sobre nós quaisquer direitos que Deus seja obrigado a satisfazer. Conseqüentemente, toda noção da morte de Cristo que a relacione a uma necessária transação com o diabo, ou com o seu engano, está fora de cogitação.

Outra maneira de explicar a necessidade moral da "satisfação" divina na cruz tem sido exaltar a lei. Pecado é "transgressão da lei" (1 João 3:4), desrespeito e desobediência à lei de Deus.

A lei, porém, não pode ser quebrada sem a punição do infrator. Os pecadores, portanto, incorrem na penalidade da sua transgressão.

Não podem simplesmente sair ilesos. A lei deve ser sustentada, sua dignidade defendida e suas justas penalidades pagas. A lei, assim, é "satisfeita".

Como R. W. Dale disse, a conexão de Deus com a lei não "é uma relação de sujeição, mas de identidade. . .

Em Deus a lei é viva; ela reina no seu trono, brande o seu cetro,.é coroada com a sua glória".10 Pois a lei é a expressão do seu próprio ser moral, e o seu ser moral é sempre autocoerente.

Nathaniel Dimock capta muito bem essa verdade nas seguintes palavras; Não pode haver nada. . . nas exigências da lei, na sua severidade, e na sua condenação, na sua morte, e na sua maldição, que não seja um reflexo (parcial) das perfeições de Deus. Tudo o que for devido à lei é devido a ela por ser a lei de Deus, e, portanto, é devido ao próprio Deus.

Satisfazendo à honra e à justiça de Deus

Anselmo define o pecado como "não dar a Deus o que lhe é devido", a saber, a submissão de toda a nossa vontade a ele. Pecar, portanto, é "tomar de Deus o que é dele", o que significa roubar dele e, assim, desonrá-lo.

Emil Brunner que, no seu famoso livro O Mediador, fez a afirmativa mais notável da inviolabilidade da ordem moral.

Pecado é mais que um "ataque à honra de Deus", escreveu ele; é um assalto a ordem moral do mundo, a qual é uma expressão da vontade moral de Deus.

O pecado acarretou uma "quebra na ordem do mundo", uma desordem tão profunda que é necessária uma reparação ou restituição, isto é, a "expiação".

Deus satisfazendo-se a si mesmo

A Escritura tem vários modos de chamar a atenção para a autocoerência divina, e em especial de acentuar que quando Deus é obrigado a julgar os pecadores, ele o faz porque deve, se deseja permanecer verdadeiro a si mesmo.

O santo amor de Deus

Que tem isso a ver com a expiação? Apenas que o modo pelo qual Deus escolhe perdoar os pecadores e reconciliá-los consigo mesmo deve, acima de tudo, ser totalmente coerente com seu próprio caráter.

Não é somente que ele deve subverter e desarmar o diabo a fim de resgatar os seus cativos.

Nem é somente que ele deve satisfazer à sua lei, sua honra, sua justiça ou a ordem moral: é que deve satisfazer a si mesmo.

Essas outras formulações corretamente insistem em que pelo menos uma expressão divina deve ser satisfeita, sua lei ou honra ou justiça moral ou ordem;

o mérito dessa formulação que vai mais além é que acentua a satisfação do próprio Deus em todos os aspectos do seu ser, incluindo-se sua justiça e seu amor.

Paulo já havia provado que, na cruz, Deus revelou sua plena justiça (3.25,26); agora, ele afirma que, na cruz, Deus revelou seu abundante amor (5.8).

O amor de Deus não é apenas um sentimento, é uma ação.

O amor não consiste apenas em palavras; é uma dádiva.

O amor não é uma dádiva qualquer, mas uma dádiva de si mesmo.

Deus deu seu Filho. Ele deu tudo, deu a si mesmo.

Deus não amou aqueles que nutriam amor por ele, mas aqueles que lhe viraram as costas.

Deus amou aqueles que eram inimigos.

De acordo com John Stott, a intensidade do amor é medida, em parte, pelo preço que custou a dádiva ao seu doador,

e, em parte, por quanto o beneficiário é digno ou não dessa doação.

Quanto mais custa o presente ao doador, e quanto menos o receptor o merece, tanto maior demonstra ser esse mesmo amor.

Medido por esses padrões, o amor de Deus é singular, pois, ao enviar seu Filho para morrer pelos pecadores, ele estava dando tudo, até a si mesmo, àqueles que dele nada mereciam, exceto juízo.

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