Sermão Mt 5.1-12
Cumpre-nos observar, pois, que desde o começo precisam ser formuladas certas perguntas a respeito do famoso Sermão do Monte e seu papel na vida, maneira de pensar e atitudes dos crentes.
D. M. Lloyd-Jones
qual é o nosso ponto de vista a respeito desse sermão?
Que significa para nós o Sermão do Monte?
Onde o mesmo participa da nossa vida diária, e qual é seu papel em nosso modo de pensar e em nossas atitudes?
Qual é a nossa relação para com esse extraordinário sermão, o qual ocupa tão proeminente posição nesses três capítulos do Evangelho segundo Mateus?
A quem se destina esse Sermão do Monte? A quem ele é aplicável?
Realmente, qual é o seu propósito? E qual é a sua relevância?
ninguém pode viver por si mesmo o Sermão do Monte, sem ajuda do alto.
O ponto de vista seguinte que desejo mencionar é aquele que poderíamos intitular de “ponto de vista dispensacional” do Sermão do Monte. Provavelmente muitos de vocês conhecem bem essa ideia. É posição que tem sido popularizada em certas “Bíblias”. (Nunca apreciei esses adjetivos, pois só existe uma Bíblia; infelizmente, porém, nossa tendência é falar sobre “a Bíblia deste ou daquele”.) Determinados ensinos se têm popularizado por esse intermédio, ensinando um ponto de vista dispensacional do Sermão do Monte e dizendo que ele não tem a mínima ligação com os crentes modernos. Dizem os tais que nosso Senhor começou a pregar sobre o reino de Deus, e que a pregação do Sermão do Monte tinha vinculações com a inauguração desse reino. Infelizmente, prosseguem eles, os judeus não creram na doutrina ensinada por Jesus. Isso posto, nosso Senhor viu-se incapacitado de estabelecer o reino, e, assim, quase como uma espécie de reflexão tardia, resolveu morrer na cruz; e mais tarde, ainda como outra reflexão tardia, idealizou a Igreja e toda a era da Igreja, um período que haveria de continuar até certo ponto na história. Mas então o Senhor retomará, a fim de inaugurar o reino, e será reintroduzido o Sermão do Monte. Esse é o ensino deles; assevera, virtualmente, que o Sermão do Monte nada tem a ver conosco. Destinar-se-ia à “era do reino”. Destinar-se-ia ao povo para quem Cristo estava pregando; e entrará novamente em vigor durante o milênio. Destarte, o Sermão do Monte seria a lei daquela época e do reino dos céus, nada tendo a ver, em absoluto, com os cristãos que viverem nesse intervalo.
Como é evidente, para nós essa opinião obriga-nos a pensar com seriedade, porquanto ou está com a razão ou não o está. De acordo com ela, eu não preciso ler o Sermão do Monte; não preciso preocupar-me com os seus preceitos; não preciso sentir-me condenado por não estar pondo em prática certas instruções; pois nada disso teria qualquer relevância para mim. Parece-me que a réplica a toda essa posição poderia ser expressa como segue.
Todos concordam que Mateus estava escrevendo o seu Evangelho para os judeus, de uma maneira muito especial. Esse era o seu desejo fixo. Daí se deriva toda a sua ênfase sobre o reino dos céus. Porém, o que Mateus estava resolvido a salientar? Por certo era isto. Os judeus faziam falsa e materialista ideia do reino. Pensavam que o Messias haveria de vir para conferir-lhes a emancipação política. Estavam aguardando alguém que os libertasse da servidão e do jugo impostos pelo Império Romano. Os judeus sempre conceberam o reino como algo externo, mecânico, militarista e materialista.
porque o grande propósito desse sermão é o de oferecer uma exposição do reino como uma realidade essencialmente espiritual. O reino é, antes de tudo, algo que está “dentro em vós”. Trata-se daquilo que governa e controla o coração, a mente e as atitudes do indivíduo.
no Sermão do Monte não nos é recomendado: “Vivei deste modo e vos tornareis cristãos”. Pelo contrário, somos ali ensinados: “Visto que sois cristãos, vivei deste modo”. É desse modo que os cristãos deveriam viver; assim é que se espera que eles vivam.
Sermão do Monte, façamos a nós mesmos esta pergunta: Por que deveríamos estudá-lo? Por que deveríamos tentar viver de conformidade com o mesmo?
Sermão do Monte em aspecto geral e aspectos particulares. A porção geral do sermão ocupa o trecho de Mateus 5:3–16. Ali encontram-se determinadas declarações gerais no que concerne ao crente. O restante do sermão ocupa-se com os aspectos particulares da vida e da conduta do crente. Primeiramente, pois, vem o tema geral; em seguida, há alguma ilustração particular do tema.
Em seguida, conforme penso, os versículos onze e doze mostram- nos o caráter do crente segundo é comprovado pela reação do mundo diante dele
o caráter do crente é descrito em termos positivos e em termos negativos. Em primeiro lugar, vemos o tipo de homem que ele é, e então nos é informado que, devido àquilo que o crente é, certas coisas haverão de suceder em sua vida
Há uma descrição geral da retidão do crente. Em seguida, somos informados acerca do relacionamento entre o crente e questões como o homicídio, o adultério e o divórcio; em seguida, aprende-se como o crente deveria falar, e depois disso lê-se sobre sua posição relativa à questão inteira da retaliação e da autodefesa, bem como qual deva ser a atitude do crente para com o próximo.