Mateus 21.18-46

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor desenvolve o caráter amplo da salvação executado pelo SENHOR, através da rebeldia e falsidade de seu próprio povo, levando à cabo seus planos redentores.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Dando sequência a narrativa em que registra a chegada do Reino, nesta sexta seção de seu escrito, Mateus, expandindo a compreensão introduzida pelo registro da purificação do templo, continua abordando a hipocrisia do povo (sobretudo dos fariseus, escribas, sacerdotes e demais autoridades religiosas) em aversão a publicação do Reino e do cumprimento dos tempos através do Messias (i.e. Jesus Cristo).
O autor elabora uma estrutura que novamente se vale do artifício imagético, a fim de retratar a condição do povo em relação ao SENHOR, analisando também o princípio em que essa rejeição destaca o caráter universal da salvação, numa que, opondo-se Israel ao Messias, aqueles a quem ele não se dirigiu primeiramente o recebem como tal. Os blocos temáticos giram em torno do episódio da figueira sem frutos (vs.18-22), que é usada como referência ao que ocorre nos outros três momentos que encerram esse ponto da perícope, sendo ainda complementado com uma parábola que explica essa dinâmica do Reino dos céus (cf. 22.1-14).
Temos então, a seguinte estrutura: 1) Uma introdução temática - A figueira sem frutos e sua maldição (vs. 18-22); 2) O embate de Jesus com os anciãos de Israel (vs. 23-27); 3) As parábolas explicativas (vs. 28-46). Cada uma dessas cenas ou subseções, como dito, deve ser considerada a partir da introdução em que a figueira sem frutos representa o povo, que aparenta devoção ao SENHOR mas rejeitam o evangelho do Reino pregado e executado por Cristo. Assim, em consonância ao que fora referendado anteriormente (na seção dos versículos de 12 ao 17), a presente perícope sintetiza como ideia central a esterilidade da hipocrisia e seu uso na expansão da mensagem salvadora.
Elucidação
1. Introdução temática - A figueira sem frutos e sua maldição (vs. 18-22).
A figueira estéril (vs.18-22) é um relato que aparece em dois dos quatro evangelhos (i.e. Marcos e Mateus), portando algumas diferenças entre si. Em Marcos, o detalhe com relação ao tempo dos figos ainda não ter chegado (v.13), não aparece no registro de Mateus, porém, a despeito desse detalhe, ambos os evangelistas usam esse episódio como relato introdutório à uma sequência de cenas que recebem significado da maldição que Cristo lança sobre a planta.
A expectativa do Mestre com relação aos frutos e a decepcionante ausência deles, demonstra a própria esterilidade do povo com relação à mensagem do Reino. Os frutos (e.g. arrependimento e fé) que deveriam ser encontrados entre aqueles que estavam diante do Messias , não são vistos por Jesus, da mesma forma como ele não vê os frutos da figueira, e como tem sugerido Mateus, essa é uma das razões para que aqueles homens não creiam no Senhor e na salvação por ele executada.
Por outro lado, Mateus, distinguindo sua narrativa da de Marcos, complementa a maldição da figueira com um diálogo entre Jesus e os discípulos, em que estes, ao se maravilharem com sinal efetuado, recebem a promessa de, se crerem, fazerem a mesma coisa (i.e. tornar infrutífera uma figueira) ou outras ainda maiores. Essa promessa, jungida a lógica seguida pelo evangelista, faz com que os discípulos estejam numa situação de contraste com os fariseus e outros anciãos de Israel: àqueles foi concedido frutos, desenvolvidos mediante a fé que tinham no Salvador, o que não ocorre com os questionadores do Senhor, tal como a narrativa passa a observar, a partir do versículo 23.
2. O embate de Jesus com os anciãos de Israel (vs. 23-27).
A conversação gira em torno de um questionamento: "Com que autoridade fazes (Cristo) estas coisas?" (v.23). Tal como têm ocorrido desde os primeiros contatos entre Jesus e os que fazem parte dos partidos religiosos de Israel, estes sempre procuram oportunidade de confrontar a mensagem do Reino pregada pelo Senhor, por descordarem diametralmente dele buscando inclusive silenciá-lo, como referido no próprio texto (cf. "conquanto buscassem prendê-lo..." (v.46)).
A estratégia daqueles homens era agora questionar ou por em xeque, a origem do poder e autoridade de Jesus, ou saber quem ou o quê referendava seu ensinamento e os sinais que realizava, a fim de desmerecê-lo ou apanhá-lo nalguma incoerência. De contra partida, Cristo responde o questionamento com outro, que tenciona revelar exatamente a falta de fé e e esterilidade de seus inquisidores, deixando o autor implícita a imagem da figueira estéril como referência, através da qual seus leitores podem compreender o que ocorre nessa cena.
A réplica de Jesus possui o mesmo teor de questionamento, porém é construída de maneira subjetiva: "Donde era o batismo de João, do céu ou dos homens?". A pergunta do Senhor Jesus também visa estabelecer a autoridade com que João, o batista, realizava o batismo para arrependimento (cf. 3.11), sem porém, deixar isso claro, prendendo seus interlocutores num armadilha, isto é, as únicas opções de repostas possíveis exporiam o coração dos fariseus e suas intenções em relação a Cristo e o Reino, e isso fica claro a partir do próprio raciocínio dos questionadores narrado pelo redator:
E discorriam entre si: Se dissermos: do céu, ele nos dirá: Então, por que não acreditastes nele? E, se dissermos: dos homens, é para temer o povo, porque todos consideram João como profeta (v.25-26).
Vendo-se numa encruzilhada que os colocava ou contra o povo ou contra si mesmos (tendo em vista que não creram em João e sua mensagem), os interlocutores de Cristo rendem-se, afirmando que não sabiam de onde procedia o batismo de João, ao que, mediante tal resposta, Jesus também nega-se a responder-lhes com que autoridade ele realizava os sinais, deixando-os em sua própria ignorância. Porém, nesse ponto, é perceptível a intencionalidade do narrador na construção das cenas. Novamente, tomando como princípio o episódio da figueira sem frutos, a ausência de resposta dos fariseus e sacerdotes (cf. v.45) faz paralelo à esterilidade da planta. Aqueles homens não puderam responder a Cristo não apenas por causa da hipocrisia e rebelião que direcionavam a Jesus e ao Reino, mas por que não produziram os frutos de fé e arrependimento para chegaram ao conhecimento que lhes garantiria acesso à salvação.
O temor do povo (cf. v.45-46) é ressaltado ao final para que se intensifique ainda mais o fato de que não creram em João, o batista, e consequentemente não criam em Cristo, o que os torna "árvores sem fruto". Esse último princípio passa então a ser explicado por Cristo, através da proposição de duas parábolas: a parábola dos dois filhos (vs. 28-32) e dos lavradores maus (vs. 33-46).
3. As parábolas explicativas (vs. 28-46).
Após ter exposto a condição dos inquisidores, duas parábolas são propostas, encarregadas de publicar e intensificar a constatação de esterilidade dos fariseus e sacerdotes. A primeira parábola retrata a relação de dois filhos com uma pai que lhe deu as mesmas ordens. Um dos filhos, caracterizado num primeiro momento como presto em ouvir seu progenitor, não cumpre o mandado. O outro, após ter inicialmente recusado aquiescer à vontade do pai, arrependido, o faz. A comparação é estabelecida por Cristo, após o mesmo ter peguntado aos homens: "qual dos dois fez a vontade do pai?' (v. 31), e ouvido como resposta que o segundo filho agiu de tal forma, propõe a paridade.
É dito então que o primeiro filho na parábola corresponde àqueles fariseus, escribas e sacerdotes, que tendo ouvido a vontade do Pai por meio de João, o batista, não acreditaram nele, mesmo João tendo vindo "no caminho da justiça", isto é, com evidências claras de que era o predecessor do Messias, sinal que seria suficiente para provocar a expectativa de que o Reino estava próximo, o que por sua vez proporcionava entendimento suficiente para que Cristo fosse visto como o salvador prometido. Por outro lado, o segundo filho, inicialmente desinclinado à obediência, mas que termina por fazer o ordenado, figura publicanos e meretrizes, que ouvem a vontade do Pai e o obedecem, metonímia usada por Jesus para referenciar todos os que eram desprezados pelos fariseus e sacerdotes, vistos por estes como indignos do Reino.
Entretanto, mediante a proposição da segunda parábola, a denúncia feita por Cristo não alude apenas ao estado de resistência cega dos anciãos de Israel contra ele, mas também aponta para a dinâmica da salvação.
Há uma estreita conexão feita por Cristo entre sua parábola e a parábola proposta pelo SENHOR ao profeta Isaías, registrada em Isaías 5.1-2. A ligação ocorre através da caracterização da analogia: tanto em Isaías quanto em Mateus, um homem planta uma vinha e constrói estruturas no campo: cerca as terras, e edifica uma torre. Por outro lado, o detalhe divergente entre as parábolas, é o arrendamento da terra à lavradores (cf. Mt 21.33).
Para surpresa do dono da vinha, ao invés de uvas boas, a colheita revela que a vinha deu uvas bravas. Após isso a parábola é interpretada pelo SENHOR, que diz claramente que a vinha era "a casa de Israel" (cf. Is 5.7). Notadamente, o ponto que se deseja chegar com a parábola de Isaías é que a casa de Israel, de quem o SENHOR esperava frutos de arrependimento e obediência, voltou-se contra ele, apresentado na verdade rebeldia e desobediência, atraindo sobre si o juízo do SENHOR.
Em Mateus, o foco central não consiste em expor o pecado da casa de Israel, mas os trabalhadores da vinha, que representam os líderes religiosos, é que protagonizam as ações. Os mesmos rebelam-se contra o dono da vinha, buscando tomar-lhe a propriedade, maltratando e assassinando todos os servos enviados com o fim de reclamarem a parte da colheita que cabia ao proprietário, matando até mesmo seu próprio filho.
A obstinação de Israel e a crueldade dos fariseus, encontram-se representadas no estado das uvas e na atitude dos lavradores em ambas as parábolas: os frutos ruins (i.e. uvas bravas) estão para a dureza de coração de Israel, tanto quanto a violência dos lavradores está para os fariseus, escribas e sacerdotes. O elemento principiológico/parabolar em questão é a dureza do coração dos que voltam-se contra o SENHOR, não tendo arrependido-se de suas transgressões, mesmo tendo o Pai providenciado que servos (i.e. os profetas) fossem enviados a fim de demovê-los de sua rebeldia. Em vista dessa última consideração, a parábola de Mateus é interpretada, denunciando o pecado dos que questionaram a Cristo.
Quando perguntados quanto ao que faria o senhor da vinha aos lavradores maus, tendo em vista que estes mataram seu filho, os fariseus respondem:
Mateus 21.41 RA
Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.
Diante dessa resposta, o Senhor completa sua fala, aludindo a outro texto do Antigo Testamento: o Salmo 118.22-23, que declara a situação dos anciãos de Israel, e de como, por causa de sua hipocrisia e incredulidade, veriam a salvação ser oferecida "a um outro povo" (v.43), por terem aqueles homens rejeitado a Pedra Angular, isto é, a salvação do Senhor, tal como referenda o salmo. Nesse momento, as parábolas de Isaías e Mateus coadunam-se num mesmo princípio: tal como dito a Israel, o Senhor desolaria a vinha, por ter ela produzido frutos maus, como de igual forma os anciãos de Israel não produziram fé e arrependimento - assim como a figueira (cf. Mt 21.18-22) não produzira frutos -, e por conta disso, a salvação transporia os muros de Israel, chegando a todos os que se arrependessem e cressem, enquanto que, por sua rejeição à Pedra Angular (i.e. Cristo Jesus), os hipócritas e rebeldes seriam por ela esmagados, recebendo o devido juízo (cf. v. 44).
Transição
O registro evangélico de Mateus 21.18-46 evidencia mais do que aquela oposição ao Messias que Mateus vem trabalhando nesta sexta seção de seu escrito. O autor também demonstra qual utilidade essa resistência tem em relação aos propósitos salvadores determinados pelo Deus Triuno, com vistas à expansão de seu Reino.
Embora tenha sido revelado em Israel, o plano da redenção desde os primeiros momentos da revelação, sempre evidenciou o alcance global da graça salvadora. Para isso, aprouve ao SENHOR usar a própria condição humana caída e pecaminosa a fim de que o evangelho resplandecesse nos cantos mais longínquos do mundo, abarcando pessoas de todo povo, língua, tribo e nação, das mais variadas condições sócio-culturais.
A rebeldia de Israel fez com que o SENHOR se voltasse às outras nações, e isso na forma de um julgamento: por não ter produzido frutos, a figueira foi amaldiçoada a permanecer sem frutos; por sua rebeldia e falsidade, Israel haveria de contemplar o SENHOR chamar filhos para si de todo os quatro cantos da terra, até que seu povo produzissem o arrependimento e fé no Messias, lhes dando acesso ao Reino de Deus.
Diante desses princípios, o presente texto aponta dois princípios a serem observados pela igreja do SENHOR, que também foram direcionados ao público de Mateus no primeiro século. Quais sejam:
Aplicações
1. A grandeza, soberania e sabedoria do SENHOR são manifestas ao percebermos que, usando ele a pecaminosa hipocrisia e rebeldia humana, estendeu sua salvação à todos os povos.
A última parábola do Senhor, manifesta a dinâmica do plano redentivo: o Deus Triuno valeu-se da rebeldia de seu povo, a fim de fazer com que outros fossem atraídos àquele amor demonstrado à Israel, quando foi liberto da escravidão do Egito, o que representou ao longo da história do povo de Deus, a libertação do poder do pecado.
Embora isso pareça confuso, pois parece-nos um tanto estranho que Deus use a soberba e intransigência de um povo em receber seu Filho como Messias a fim de que a glória de sua graça resplandecesse, vemos aqui o favor do SENHOR para conosco, pois nós somos como o filho rebelde da parábola, que apesar de termos num primeiro momento andado em desobediência e pecado, fomos trazidos ao caminho do amor, e agora fazendo parte do Reino dos céus, realizamos a vontade do Pai em nossas vidas.
Israel foi a vinha plantada por Deus, que em determinado momento deu uvas bravas. Foi também a figueira sem frutos, como demonstrado pelos fariseus e anciãos do povo, que não se arrependeram ou produziram fé no Salvador. Nós somos a expansão da vinha, aqueles que desde a eternidade foram destinados à receber a Pedra Angular rejeitada pelos construtores.
O convite à salvação continua sendo feito aos eleitos, inclusive aos de Israel. Porém, mesmo sabendo que a salvação vem dos judeus (Jo 4.22), ela vai além dos muros da nação judaica, abraçando filhos de Deus em todos os cantos do mundo, como foi conosco, fazendo com que produzamos os frutos da graça.
2. A salvação torna cada crente uma árvore frutífera, e os frutos devem ser evidentes, caso contrário, precisaremos reavaliar o modo como temos servido ao Senhor; andando em obediência e fé.
J. C. Ryle, reproduz a advertência contra a esterilidade nos seguintes termos:
Meditações no Evangelho de Mateus Expulsão dos Vendilhões do Templo; A Figueira Infrutífera (Leia Mateus 21.12–22)

uma pessoa que se diz cristã, mas não produz fruto algum, não estaria em um perigo terrível, podendo tornar-se uma figueira seca? Não há que se duvidar disso. Enquanto se contenta com a mera folhagem da religião (com um nome de quem vive, ao mesmo tempo que está morto, e tendo apenas a forma de piedade sem poder), a alma da pessoa está em grande perigo. Enquanto se satisfizer em ir à igreja e participar da Ceia do Senhor, e ser chamado de “cristão”; enquanto seu coração não tiver sido transformado e não houver abandonado seus pecados, está diariamente provocando Deus a cortar a árvore irremediavelmente. Fruto, fruto — o fruto do Espírito é a única prova segura de que estamos unidos a Jesus Cristo, salvos e a caminho do céu. Que esse pensamento lance raízes profundas em nossos corações e jamais seja esquecido!

Os anciãos de Israel, mesmo como todo clamor de piedade externa que faziam questão de demonstrar, por não se arrependerem de sua hipocrisia e crerem no Salvador, ouviram o pronunciamento de uma duríssima sentença: “por não haver fruto em vós, me voltarei para outro povo!”.
Se, embora vindo à igreja, e aparentemente, vivermos como quem tem fé, sem na verdade a ter, agindo de maneira ímpia e não condizente com o testemunho do Reino que de nós é requerido diante do mundo, ouviremos a mesma sentença. Lembremo-nos que a produção de frutos, segundo a Bíblia, é tanto uma prerrogativa do Espírito Santo, quando uma responsabilidade nossa. Achar que uma coisa anula a oura, vivendo como incrédulos rebeldes, somente atestará nossa não filiação ao Reino dos céus.
Conclusão
O texto de Mateus 21.18-46 descortina para nós o grande plano do SENHOR: o pecado nunca foi atrapalho no projeto divino de glorificar seu nome na salvação de seu povo; na verdade, foi o meio usado para expandir sua glória à outros povos, através de Jesus Cristo, o Messias.
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