O pecado imperdoável

A Identidade do Rei  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Um dos grandes desafios da pregação expositiva de um livro inteiro da bíblia é se ver obrigado a pregar textos que humanamente eu seria tentado a pular. Mas, a bíblia como Palavra de Deus, entendemos que a pregação expositiva deve ser a dieta principal da igreja, isso reflete diretamente na saúde da igreja. Graças a Deus por isso, dessa forma, a própria Palavra determina o que a igreja precisa ouvir e não o meu coração pecador. Caso contrário eu seria tentado a caçar na bíblia algo que eu gostaria de falar para igreja e que talvez não fosse necessariamente o que Deus quer falar com a igreja.
O texto de hoje é bem difícil porque há dois mil anos se discute exatamente sobre o que exatamente Jesus chama de pecado imperdoável. É muita pretensão afirmar exatamente o que é esse pecado, mas o texto lança luz e sim podemos compreender na sua essência dentre algumas correntes diferentes sobre o significado de blasfemar contra o Espírito Santo.
Marcos 3.20–30 NAA
20 Então Jesus foi para casa. E outra vez se ajuntou uma multidão, de tal modo que nem podiam comer. 21 E, quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para prendê-lo, porque diziam: — Está fora de si. 22 Os escribas, que tinham vindo de Jerusalém, diziam: — Ele está possuído de Belzebu. Ele expulsa os demônios pelo poder do maioral dos demônios. 23 Então, convocando-os, Jesus lhes disse, por meio de parábolas: — Como pode Satanás expulsar Satanás? 24 Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir. 25 Se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. 26 Se Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode subsistir; é o seu fim. 27 Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então saqueará a casa dele. 28 Em verdade lhes digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. 29 Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, visto que é réu de pecado eterno. 30 Jesus disse isto porque diziam: “Está possuído de um espírito imundo.”
Neste momento do ministério de Jesus, o primeiro impacto público do Seu ministério já tinha passado, que era o maravilhamento de tudo que Ele estava fazendo. Agora, começa a fase de que as pessoas criam a necessidade de cada um criar a sua própria teoria a respeito de Jesus. Tudo na vida é assim, todo mundo quer ter uma explicação positiva ou negativa sobre algo relevante. Interessante porque a verdade está muito ligada ao coração, logo as pessoas acreditam no que elas querem, acreditam naquilo que elas amam ou simplesmente se opõem por algo que elas odeiam. Nem sempre verdade e mentira são acolhidas pelos homens de forma racional, porque o nosso processo de aprendizagem não envolve só o raciocínio, mas também os afetos.
Todo comportamento exagerado de aprovação ou oposição não está ligado somente a racionalidade, eu arrisco dizer que está principalemnte ligado aos afetos. Era sobre isso que Jesus se referia em Mateus 12.34 quando ao chamar pessoas de raça de víboras, afirma que a boca fala do que o coração está cheio (para os dias atuais, a timeline, os stories representam bem essa verdade).
Por que estou falando isso? Porque a postura e os argumentos de cada um desses grupos representavam uma realidade do coração de cada um deles. Isso explica aprovação e adoração pela mesma pessoa e pelos mesmos motivos. No caso da oposição ela vinha de todos os lados, da religião e da irreligião, de tradicionais e progressistas do seu tempo, conservadores e liberais. Sabe por que? Porque Jesus irrita a todos que estão seguros da sua própria justiça. E tenha certeza de uma coisa, justiça própria existe tanto na esquerda quanto na direita. Isso acontece quando tentamos aliviar nossa conciência nos sentindo os guardiões da moral abandonada ou os revolucionários da libertação dos oprimidos. Se você tem buscado aliviar sua conciência desta forma, tenha certeza de uma coisa, quando menos esperar você também estará conspirando para matar a Jesus. E como isso pode ocorrer? A partir da idéia de quem Cristo é para nós, eneste texto identificamos algumas possibilidades:

Um louco

A multidão estava maravilhada, Jesus atraía multidões a ponto de não conseguir mais realizar coisas simples como comer. O impacto de Jesus sobre a vida das pessoas era enorme, seja pelo ensino, libertação ou cura. A rotina dos discípulos, dauqeles que caminhavam com Jesus também se transformou radicalmente. E neste caso vemos pessoas do círculo mais próximo de Jesus, embora o texto não afirme quais membros exatos da sua família (o texto sugere pessoas próximas - seria ariscado incluir ou excluir), mas o fato é que pessoas atribuiram insanidade a Cristo.
Quando tentamos determinar a razão pela qual os amigos/parentes de Jesus o consideraram insano, o contexto indica que foi especialmente o desejo de Cristo, de se mover de uma aglomeração de pessoas para a outra, ensinando, curando, expulsando demônios, e tendo, agora, sua presença entre uma multidão tão grande que ele e seus discípulos não tinham nem tempo para comer, que levou ao comentário “ele está fora de si”. Foi – pelo menos parece ter sido – o que parecia aos seus amigos como falta de descanso, de recreação e de repouso que ocasionou a exclamação. Acrescente a isso o fato de que, sempre que Jesus abria os olhos dos cegos, curava os surdos e os enfermos, e libertava os possuídos, seu coração estava nisso. Ele era compassivo como nenhum ser humano jamais foi, nem antes nem depois dele. “Em todas as aflições deles, ele foi afligido” (Is 63.9). Nele, se cumpriu a profecia: “Certamente, ele suportou as nossas aflições e levou sobre si nossas dores” (Is 53.4). Não é possível que tudo isso tenha feito seus amigos pensarem: Ele está se sobrecarregando demais, e dizerem: “Ele está mentalmente perturbado e está sendo consumido por um fervor religioso”? Considerando que esse julgamento, por mais bem-intencionado, era falso e injusto, isso não é compreensível? Se mesmo os apóstolos, que se beneficiaram de uma companhia constante de Jesus, ficavam muitas vezes confusos, podemos muito bem imaginar que aqueles amigos de Jesus, que olhavam tudo de longe, podem ter interpretado seu comportamento, tão estranho pelos padrões humanos, como o de uma pessoa que perdeu a razão.
Em dias posteriores, os seguidores de Cristo também foram acusados de loucura (At 26.24). Francisco de Assis, o homem que tinha a vida e os mandamentos de Jesus sempre à vista, foi chamado de “o filho louco de Bernadone”. Quando Martinho Lutero defendeu a supremacia da Palavra de Deus sobre as tradições de homens, ele foi tido, mesmo por alguns de seus primeiros simpatizantes, como um tolo possuído pelo demônio.
As vezes acontece conosco ao testemunharmos a Cristo somos tidos como loucos, e quando isso ocorre essa loucura mesmo que inconcientemente é atribuída não a nós, mas ao Cristo que servimos. Mas, os amigos/parentes, podem atribuir boas intenções, os inimigos não. Por isso, os inimigos de Jesus atribuiram outra coisa:

Um endemoniado

Diante de tudo que Jesus estava fazendo só existima três possibilidades para os adversários:
Reconhecer que o que Jesus fazia e falava era de Deus, mas não estavam dispostos a admitir isso porque EL não andava de acordo com as suas tradições.
Considerar Jesus um charlatão, porém essa tese não se sustentava porque os milagres eram inquestionáveis.
A terceira e última opção era considerá-lo um endemoniado. Dizer que o poder de Jesus vinha do Diabo. E a forma de se opor a isso, não era simplesmente achar isso, mas espalhar essa notícia. Mas, Jesus contrapõe essa fake news com os argumentos que lemos:
Primeiro, como pode satanás expulsar satanás? Afinal de contas, uma das coisas que ele mais fazia e atraia multidões era a libertação de pessoas que Ele promovia. Se fosse isso que estivesse ocorrendo, o reino de Satanás estaria abalado, porque toda casa dividida não subsiste. Em segundo lugar Jesus fala sobre o que Ele já fez com Satanás, Ele o amarrou, que implica em uma ação limitada do Diabo (Um cão acorrentado - tendência aos extremos sobre batalha espiritual).
Logo em seguida Jesus entra no tema controverso deste texto, a blasfêmia contra o Espirito Santo.
O Pecado Imperdoável
Primeiro Jesus exalta a imensa misericórdia de Deus. Ele perdoa a todos os pecados. O sangue de Cristo nos purifica de todo pecado. Se confessarmos nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados. Deus perdoa os pecados que cometemos contra ele e contra o próximo. Adolf Pohl diz que o monte mais alto da maldade é sobrepujado pelo cume da graça de Deus. Geralmente as pessoas perdem essa promessa e preocupam-se apenas com a advertência que se segue. Mas precisamos estar convencidos de que, quando há confissão e arrependimento, nenhum pecado está além da possibilidade do perdão de Deus. John Charles Ryle diz que essa doutrina do livre e completo perdão é a coroa e a glória do evangelho.
Mas Jesus faz um segundo alerta. Que há um pecado que não tem perdão nem neste mundo nem no vindouro, é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Por esse pecado, uma alma pode perecer eternamente no inferno. Esse pecado não é simplesmente uma palavra ou ação, mas uma atitude. Não é apenas rejeitar a Jesus, mas rejeitar o poder que está atrás dele. O que constitui o pecado imperdoável? Jesus encarna o perdão de Deus. Logo, quem persiste em resistir e desprezar a oferta do perdão de Deus em Jesus é excluído do perdão. Essa rejeição deliberada de Jesus é a única limitação ao ilimitado perdão de Deus.
Os pecados mais horrendos podem ser perdoados. Manassés era feiticeiro e assassino e arrependeu-se. Nabucodonosor era um déspota sanguinário e arrependeu-se. Davi adulterou e matou, mas foi perdoado. Saulo perseguiu a igreja de Deus e foi convertido. Maria Madalena era prostituta e possessa, mas Jesus a transformou. Mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não tem perdão. Quem pratica esse pecado atravessa a linha divisória da oportunidade e torna-se réu de pecado eterno.
Por que a blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoada? Porque aqueles que a cometem dizem que Jesus é ministro de Satanás, que a fonte de seu poder não é o Espírito Santo, mas Belzebu. É imperdoável porque rejeitam o Espírito Santo e a Cristo, dizendo que o Salvador é ministro de Satanás. É imperdoável porque é um pecado consciente, intencional e deliberado de atribuir a obra de Cristo pelo poder do Espírito Santo a Satanás. Esse pecado indica uma irreversível dureza de coração.
A blasfêmia contra o Espírito Santo não é um pecado de ignorância. Não é por falta de luz. Para que uma pessoa seja perdoada, precisa estar arrependida. O perdão precisa ser desejado. Os escribas, entretanto, mesmo sob a evidência incontroversa das obras de Cristo, negam e invertem essa obra. Eles não sentiam nenhuma tristeza pelo seu pecado. William Hendriksen diz que eles substituíram a penitência pela insensibilidade, e a confissão pela intriga. Portanto, devido à sua insensibilidade criminosa e completamente indesculpável, eles estavam condenando a si mesmos.

Concluindo, destaco três implicações:

Primeira, evitar o julgamento. Billy Graham diz que devemos tocar neste assunto com muito cuidado. Devemos ter cautela em nossas afirmações sobre aqueles que cruzaram essa linha divisória da paciência de Deus. Devemos deixar essa decisão com Deus. Somente Deus sabe se e quando alguém ultrapassa essa linha do pecado para a morte.
Segunda, evitar o desespero. Muitos crentes ficam angustiados e preocupados de terem cometido esse pecado imperdoável. Ninguém pode sentir tristeza pelo pecado sem a obra do Espírito Santo. Quem comete esse pecado, jamais sente tristeza por ele. O terrível medo de pensar ter cometido o pecado imperdoável é por si só, evidência de que tal pessoa não o cometeu. Há esperança para você que se sente assim.
Terceira, evitar a leviandade. Precisamos estar certos que aqueles que zombam de Deus e da sua graça podem cruzar essa linha invisível e perecerem para sempre.
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