Mateus 22.1-14

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor conclui as parábolas explicativas de reposta que Cristo direciona a seus interlocutores, demonstrando a dinâmica do plano redentivo que garante o ingresso dos gentios à salvação anunciada pelos profetas e apóstolos: convite que, embora seja externamente universal, é eficaz para chamar ao Reino apenas os eleitos.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Em consonância à temática anterior, no qual tratou da resistência que os líderes e anciãos de Israel nutriam contra Cristo e o Reino, baseados em sua hipocrisia e arrogância, reação que demonstrou a esterilidade espiritual, isto é, ausência de fé e arrependimento, tal como a a figueira sem frutos, Mateus, expande essa consideração, a partir do relato de uma terceira parábola proposta por Cristo aos seus inquisidores (cf. 21.23).
A terceira parábola amplia e reforça a ideia de que, embora o Pai tenha enviado seus servos (i.e. os profetas) à casa de Israel, sobretudo àqueles responsáveis por guiar o povo ao caminho da fé e entendimento quanto chegada do Reino, para trazê-los à si, os mesmos rejeitaram o convite, e diante disso, o convite à salvação passou a ser direcionado à todos, embora apenas alguns estejam prontos para de fato adentrar ás bodas, como é retratado pelo convidado sem vestes nupciais.
Diante dessa perspectiva, a ideia a ser compartilhada pelo evangelista através do texto, consiste da demonstração da universalidade e restrição do convite ao Reino.
Elucidação
Semelhantemente às outras parábolas do Reino, que declaram verdades acerca não somente do Messias, mas também de todo o plano redentivo para a publicação do Reino dos céus, Cristo inicia a presente parábola com a cláusula explicativa: "o reino do céus é semelhante a...". Tendo em vista a repetição desse termo ao longo do evangelho, como já dito, e de acordo com as parábolas anteriores (cf. vs. 28-46) em que o Senhor demonstrou a amplitude do convite ao Reino à outros, para além das fronteiras judaicas, esta próxima parábola corrobora aquela compreensão.
A encenação parabolar retrata as bodas do casamento de um grande rei, dadas em homenagem ao matrimônio de seu filho (cf. v.2). Nessa ocasião, servos são enviados para estenderem o chamado do rei aos convidados, porém estes recusaram-se a atender o convite. Levando em consideração a narrativa de Lucas 14.15-24 que retrata a mesma parábola, as razões das recusas dos convidados são seus negócios particulares, além de outras demandas. Conforme o texto:
Lucas 14.18–20 RA
Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir.
Mateus por outro lado, transcreve esse tônica da parábola por meio de uma síntese, remetendo o dado de que os convidados "não se importaram e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio" (v.5). Essa indiferença, ressalta o coração endurecido do povo de Israel que, embora tenha visto os sinais do Reino e a convocação à salvação através do Messias, pouco se importaram em vir até Cristo. Todavia, um acréscimo é feito por Mateus: segundo o texto, um outro grupo de convidados, não somente recusou o convite do rei, como também matou os servos mensageiros, numa demonstração de oposição. Essa referência distinta inserida nesta seção do escrito, deixa evidente a proposta autoral desta sexta seção de seu evangelho, em que os anciãos de Israel estão exibindo mais intensamente sua antagonia a Cristo e o Reino dos céus, conforme se aproxima o momento em que o SENHOR executará o seu sacrifício.
Se compararmos as três parábolas (i.e. dos dois filhos; dos lavradores maus e das bodas do casamento) é possível perceber um elemento comum: na proposição da parábola dos dois filhos, já interpretando-a, Cristo afirma que os anciãos de Israel, comparados ao primeiro filho que não havia cumprido a ordem do pai, deverão contemplar outros os precederem no Reino, inclusive aqueles que eles consideravam indignos (e.g. publicanos e meretrizes).
Esse aspecto "punitivo" ou de julgamento, é ampliado na parábola seguinte. Os lavradores maus, que mataram os servos e o filho do senhor da vinha, enviados a fim de requerer dos lavradores a parte dos frutos que cabia ao dono das terras, foram duramente punidos, "perecendo horrivelmente" - segundo a interpretação dos próprios anciãos (cf. 41) -, também testemunhando a vinha ser entregue a outros lavradores "que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos" (v. 41).
A compreensão extraída é que os líderes de Israel devido sua hipocrisia e esterilidade, deveriam receber como paga, a contemplação da extensão da salvação à todos (não somente judeus) quantos crescem em Cristo, tendo atendido o convite ao Reino. Na parábola das bodas, o mesmo teor de juízo se repete: "o rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade" (v.7), e nesse momento, a nova ordem dada pelo rei é que seus servos saiam "para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes" (v.9).
Nesse ponto, e tendo em vista todos esses dados, os elementos figurados na parábola já podem ser identificados: o Rei representa Deus o Pai, e as bodas, o momento em que o Filho, isto é, o próprio Jesus Cristo, é unido ao povo de Deus no eterno casamento da redenção. Os primeiros convidados são os judeus que, segundo já afirmado, fizeram pouco caso do anúncio da salvação, atendo-se às suas vidas e negócios pessoais (e.g. os vendedores no templo (cf. 21.12-13); os assassinos são os líderes de Israel, que além de rejeitarem o convite ao Reino, perseguiram e mataram os profetas que lhes chamavam ao arrependimento, especialmente no caso de João, o batista (cf. 21.32). Por fim, a ira do Rei contra os assassinos de seu filho, alude ao julgamento divino dos anciãos hipócritas de Israel, ao terem, por incredulidade e rebeldia, matado a Cristo - embora isso tenha feito parte do plano divino desde sempre -, e agora também verão a salvação ser ofertada pelos agentes do Reino "a quantos encontrarem".
Entretanto, um elemento final é adicionado por Mateus à parábola, não registrado por Lucas: dentre todos os convidados achados e trazidos às bodas, um não estava devidamente trajado:
Mateus 22.11–12 RA
Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu.
Segundo a cultura da época, não estar devidamente trajado para uma ocasião como as bodas de um casamento, configurava uma ofensa ao anfitrião (KENNER, 2017, p.111). Nesse caso, a presença de um convidado sem vestes nupciais, complementa a parábola apresentando o caráter do convite à salvação: embora o anúncio seja universal; dirigido à todos (cf. v.10 "maus e bons"), somente alguns serão de fato contemplados com a permanência na presença afável e receptiva do Pai e de Jesus Cristo, seu filho.
Transição
Mateus apresenta ao seu público um ponto não visto nas parábolas anteriores, mas que desvela a dinâmica do chamado ao Reino realizado por todos aqueles que receberam a Cristo: embora Deus tenha direcionado a salvação à todos os povos, retirando a sensação de exclusividade alimentada no coração dos líderes de Israel, isso não indica que todas as pessoas a quem chegar o convite virão à fé e ao Reino. Também há rebeldes além das fronteiras de Israel; muitos gentios também demonstrarão a mesma impropriedade e esterilidade de frutos que os fariseus, escribas e principais sacerdotes tinham, e se voltarão contra o Messias - representado por seus agentes - e receberão o fim declarado pelo Rei contra o convidado sem vestes nupciais: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas: ali haverá choro e ranger de dentes" (v. 13), e o final do texto confirma essa compreensão: "Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos" (v.14).
A parábola das bodas proposta por Cristo, conclui sua réplica aos anciãos de Israel iniciada em 21.23, em que demonstra uma parte do plano redentivo, explicando - tanto Cristo como Mateus - como a salvação pode ser desfrutada por gentios: a graça eletiva determinou que todos os povos fossem abençoados (cf. Gn 12.3) com homens e mulheres chamados ao Reino, porém, a convocação desses eleitos deverá ser feita mediante um anúncio e convite público, que é externamente ouvido por todos (eleitos e não-eleitos), o que não implica na salvação irrestrita de todos quantos o ouvem, mas apenas dos que, mediante o poder do Espírito, foram trajados com as vestes nupciais, isto é, que foram de antemão preparados para encontrar-se com o Rei e seu Filho, com quem estarão para toda a eternidade.
Mediante a observação dessas conclusões, o princípio direcionado pelo autor divino/humano à sua igreja consiste na proposição da seguinte aplicação:
Aplicação
O fato de Israel ter resistido ao convite divino ao Reino, tendo sido isso estabelecido pelo próprio Deus a fim de estender publicamente tal chamado à todos os povos e nações, demonstra a universalidade da convocação, mas não sugere universalidade da salvação: todos ouvem o evangelho, mas somente os eleitos a ele respondem.
Quando Israel resistiu de maneira egoísta e hipócrita o chamado ao Reino que estava sendo feito pelo Messias, agiu como lhe era próprio, segundo a natureza pecaminosa de seus corações, que fora usada pelo Criador para que a palavra dita a Abraão fosse cumprida: (cf. Gn 12.3: "em ti serão benditas todas as famílias da terra").
Contudo, a parábola das bodas acentua a truculência da natureza pecaminosa, que além de rejeitar Cristo, se opõe frontalmente ao Reino, exibindo também a dinâmica do convite à salvação: os primeiros convidados (Israel) rejeitaram o chamado à festa redentiva, mas o SENHOR fez com que outros (nós) fôssemos então convocados.
A convocação do evangelho não encontra barreiras étnicas, sociais ou culturais: sem acepção, o mundo inteiro ouvirá os servos de Deus ecoarem a vontade do Rei de que estejam consigo eternamente, numa infindável festa de casamento, em que foram unidos ao seu Filho bendito, Jesus Cristo. Porém, apenas alguns de fato ouvirão, crerão e virão até o Messias, sendo trajados com as vestes de justiça que o próprio Deus lhes concede, estando prontos para entrar nas bodas, o que não acontecerá com aqueles que não foram soberanamente eleitos.
Assim funciona a graça salvadora: muitos são chamados, mas pouco foram os escolhidos. A glória de Deus se há manifestado dia após dia, no mundo todo, por meio da mensagem amorosa que convida o homem ao arrependimento, e nós, pela misericórdia divina, temos recebido essa mensagem, crido nela, e a, estamos nos dirigindo à festa preparada para nós pelo próprio Rei.
Conclusão
Mateus 22.1-14 nos ensina quão amplo é o convite do evangelho, e também quão restrito é sua efetividade, pois apenas à um número restrito de pecadores, foi dado vestir-se com as vestes nupciais que os fazem estar com propriedade diante do Rei, usufruindo das bodas da redenção.
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