Mateus 22.15-22
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 8 viewsO autor expõe a artimanha mundana contra o Senhor Jesus e seu Reino, demonstrando a operação dos mesmo ardis contra os agentes do Reino, exortand-os à confiança em Deus o Pai, e em seu Filho, o único e verdadeiro imperador do mundo, a quem é devido a honra e o serviço.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Dando sequência a partir da parábola (i.e. a parábola das bodas) que retrata de outra forma, a dinâmica do Reino dos céus em relação ao convite do evangelho que é direcionando a todos os homens, preparando adequadamente, porém, apenas os eleitos para o receberem, tendo em vista que "muitos são chamados, mas poucos são escolhidos" (v.14), Mateus torna a narrar a antagonia sofrida por Cristo nas mãos dos líderes hipócritas de Israel, que buscam oportunidade de suprimir o testemunho do Reino e da Salvação.
A caracterização dos personagens e a pergunta direcionada pelos opositores ao Senhor, denunciam a natureza vil de seus corações que, por meio de bajulações e engôdos, procuram tornar Cristo alvo de retaliação tanto por parte do povo, quanto, nesse caso, pelo governo de Herodes e, consequentemente, de Roma, ao sugerir que Jesus era contrário ao pagamento do imposto obrigatório a César.
A intenção do evangelista é exibir ao seus ouvintes/leitores, as maneiras através das quais a natureza corrompida do coração humano se avessa ao Reino de Deus, neste caso, sonegando a Deus o devido reconhecimento de que a ele deve ser dirigidos adoração e serviço, e isso por meio dos ardis de uma conspiração.
Frente a isso, a ideia central do texto de Mateus 22.15-22 consiste na exposição da trama dos ímpios contra o Reino dos céus - pt 1.
Elucidação
Como introduzido, os fariseus, após terem ouvido as quatro parábolas anteriores que os caracterizaram como filhos desobedientes que não atenderam a voz do Pai, sendo postos em segundo plano em detrimento dos que, embora num primeiro momento foram rebeldes, obedeceram o comando do Pai (cf. 21.28-32); e como lavradores maus que resistiram em entregar ao senhor da vinha os frutos devidos, e por isso foram exterminados, tendo as terras sido entregues a outros lavradores (cf. 21.33-46), o que representa a expansão do convite ao Reino aos gentios; ou ainda, como convidados inadequados às bodas do Filho do Rei, por não se trajarem à rigor da ocasião, o que indicou a exclusividade e restrição do convite ao Reino (cf. 22.1-14), essa facção religiosa protagoniza na cena em questão um novo ataque ao Messias, o que novamente alude a continuidade da temática da resistência encarada pelo Salvador contra seu Reino e sua obra redentiva.
Agora, a partir do verso 15, um conluio é montado, e os fariseus "consultam entre si como o surpreenderiam em alguma palavra". Esse comentário revela ao ouvinte/leitor que toda a trama está sendo arquitetada secretamente, embora sirva também para ressaltar a onisciência de Jesus em "conhecer-lhes a malícia" (v.18), o que enfatiza que a pergunta a seguir possui na verdade um caráter capcioso ou maligno.
A parceria com os herodianos (v.16), nesse caso, serve como outra pista de que a pergunta estava sendo feita com o intuito de prejudicar o Senhor, pois, esse grupo específico, dentre os tantos que compunham as fações judaicas, era partidário do governo de Herodes Antipa, atual regente de Israel, posto sob o comando do césar romano Tibérius, afilhado do primeiro imperador Otávio Augusto. Frente a essa conjuntura contextual, um questionamento quanto a se "é lícito pagar tributo a César ou não?" (v.17), é no mínimo suspeito, tendo em vista o interesse político dos herodianos. Logo, a pergunta em si mesma é uma armadilha, e qualquer que fosse a resposta, poderia significar opor-se ao governo atual, ou ao povo, cuja grande parcela desejava ver-se livre do jugo romano.
Embora já tenha ficado claro, à luz de outras passagens, que os fariseus e demais líderes de Israel desejam dispor-se contra o Senhor Jesus, Mateus estrutura as próximas narrativas (vs. 15 ao 45), a fim de aproximar o contexto da crucificação do Messias (como visto a partir da repetição do anúncio em 20.17-19), que também ocorre por meio da maquinação de um traição orquestrada pelos anciãos de Israel juntamente com um dos discípulos: Judas Iscariotes.
O ardil dos líderes de Israel serve como demonstração da contrariedade do coração dos homens em relação a publicação da mensagem evangélica e chegada do Reino de Deus. Com isso em visita, a correlação entre a cena narrada e o contexto do público-alvo do texto é inevitável, tendo em vista que diversos cristãos estão sendo perseguidos em Roma (para onde o evangelho foi primeiramente direcionado); vítimas de diversas mancomunações por parte do estado romano e outros inimigos da fé, que agora se levantavam para perseguir os discípulos de Cristo. O que acontecera ao próprio Senhor, estava sendo experimentado por seus agentes, e isso deveria ser tanto um motivo de cautela, quanto de conforto, pois indicava também um pertencimento verdadeiro ao Reino dos céus, como fora anunciado pelo próprio mestre no início de seu ministério:
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
O modo como Mateus retrata a pergunta feita pelos fariseus, depõe sobre a malignidade e intenções escusas dos anciãos de Israel. Sugerir alguma licitude na sonegação do imposto a Roma, seria referendar uma revolta contra o atual governante. Entretanto, o questionamento não expunha apenas a rebeldia dos líderes de Israel contra o Senhor, mas também sua recusa em aceitá-lo como o Messias.
Para responder, ou pelo menos replicar, a inquirição, Cristo usa uma moeda cunhada com o rosto e símbolo do imperador romano citado, Tiberius. Na moeda, além do rosto do imperador ao qual os fariseus e herodianos fazem referência, havia uma inscrição que afirmava: "Tiberius César, filho do divino Augusto" (cf. [[A Silver Denarius >> https://ref.ly/logosres/fsbinfographics?art=asilverdenarius]]). Cristo usa tanto o rosto quanto a inscrição para denunciar a distância dos fariseus e herodianos do serviço devido ao SENHOR que tanto afirmavam realizar.
Por estarem tão preocupados em encurralar Cristo, os fariseus, como salientado, expuseram sua desconformidade com o Pai, mais preocupados em estabelecer relações com aqueles que aproximavam-se do governo romano, que por sua vez arrogava para si divindade, não reconhecendo que o verdadeiro Filho de Deus estavam diante deles, tendo essa relação o único intuito de minar a obra redentiva.
A resposta do SENHOR é categórica, e denunciando a má fé dos fariseus e herodianos, asserta: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" (v. 21), ou noutras palavras, se estão tão preocupados com o exercício do dever, cumpram todo o dever requerido do homem, inclusive o da fidelidade ao SENHOR, reconhecendo-o como único Deus, e seu Filho como o Salvador de seu povo. Como complementa Hendriksen:
Não dá a Deus o que lhe é devido aquele que conspira para destruir seu amado Filho! Isso, porém, era exatamente o que esses espiões e seus mestres tentavam fazer (HENDRIKSEN, 2010, p. 364-365).
Transição
O texto de Mateus 22.15-22 tanto adverte quanto esclarece a igreja de Deus, que no coração dos ímpios há uma constante maquinação, através da qual buscam se colocar contra o Reino de Deus.
No fundamento dessa rebelião está o incrédulo desejo de negar a Deus aquilo que lhe pertence por direito, e que fora estabelecido como fim principal e supremo do homem: “glorificar a Deus, e alegrar-se nele para sempre” (BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, 2014, p.225).
A síntese da verdade direcionada pelo autor divino/humano, consiste na proposição da seguinte verdade:
Aplicação
Os homens, em sua cegueira e miséria espiritual, maquinam formas de rebelar-se contra o SENHOR, agindo como escravos da malícia e maldade que reinam em seus corações.
O salmo 2 declara e expõe aquilo que Mateus e os demais evangelistas registraram em seus textos, abordando a mesma condição caída e subversiva dos homens contra o SENHOR:
Por que se enfurecem os gentios
e os povos imaginam coisas vãs?
Os reis da terra se levantam,
e os príncipes conspiram
contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo:
Rompamos os seus laços
e sacudamos de nós as suas algemas.
O povo de Deus sempre foi alertado quanto a real intenção que assombra o coração dos ímpios; uma sempre presente tentativa de, por meios explícitos ou velados, subverter os princípios do Reino de Deus. Essa dinâmica sombria é evidente em nosso tempo, quando o mal é louvado como o bem, e o bem, avalizado na Lei de Deus, é tratado como o mal.
Desde o mais simples dos homens, até os governantes e reis atuais, grande parte, assim como os fariseus, estão à espreita, buscando formas de apanhar Cristo em alguma palavra. Naturalmente, tal como no passado, não podem fazê-lo em relação ao próprio Senhor, e por isso a atenção dos ímpios se volta contra a igreja, aquela que representa o Reino de Deus, e consequentemente, a derrota dos inimigos da fé.
Cabe a igreja estar vigilante e alerta contra a malignidade de um mundo caído e rebelde, sempre ponta a dar testemunho de sua fé no único e verdadeiro Deus, e seu Filho, o Redentor.
Por outro lado, o texto bíblico não nos assusta ou transmite a sensação de que estamos à mercê dessa conspiração iníqua que se agiganta diante de nós. Cristo foi entregue aos principais sacerdotes e anciãos de Israel “pelo desígnio e presciência de Deus” (Atos 2.23), e com a igreja não será diferente. Se tivermos que ser vítima do ardil dos rebeldes, isso não fugirá do controle do Criador, que inevitavelmente, triunfará no final, garantindo para nós a vitória na publicação de seu Reino Eterno, que diferente do governos dos homens, jamais passará.
Conclusão
O texto de Mateus 22.15-22 exibe a rebelião sempre presente no coração dos ímpios, que reúnem para publicar sua rebelião fadada ao fracasso, diante da sabedoria e soberania do SENHOR, que estabelece seu Reino, pois “ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.... [e] na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá” (Sl 2.4-5).