Vivendo das glórias do passado: Igreja em Sardes (Ap 3.1-6)
Introdução ao tema
A cidade
Ele não esperava que Ciro o seguisse, portanto não mobilizou seus soldados. Quando os exércitos persas chegaram a Sardes, Creso simplesmente se trancou na fortaleza, certo de que ninguém conseguiria escalar os paredões quase verticiais do promontório. Mas quando um dos seus soldados deixou cair seu capacete de um dos muros e foi pegá-lo, ele inadvertidamente mostrou que o paredão podia ser escalado. À noite, os soldados persas escalaram os paredões, não encontraram nenhuma resistência e tomaram a cidade.3 Por causa do descuido de um soldado e o fato de não ter os paredões vigiados, Creso perdeu a guerra.
Descrição do remetente
A grande questão
A igreja como um todo conhecia Sardes como uma congregação que tinha a fama de ser viva. Supomos que a riqueza e influência financeiras tenham contribuído para criar essa aparência externa de uma espiritualidade vigorosa. A aparência externa talvez engane os crentes que conhecem a igreja superficialmente, mas Jesus examina a condição interior da igreja e constata uma ausência da fé vibrante, que resultou na morte espiritual. Quase toda a igreja havia capitulado diante do mundo da religião pagã e do judaísmo e, ao invés de ser uma influência sobre aquela cultura, ela fora influenciada por ela.
O evangelho que os cristãos locais proclamavam e aplicavam era fraco demais para ofender os judeus. Além disso, os templos pagãos dedicados a Cibele, Zeus Lídio, Héracles e Dionísio exerciam grande influência sobre a religião do povo. Portanto, o evangelho que os habitantes de Sardes ouviram dos cristãos não representava nenhuma ameaça a suas religiões pagãs.
Entre as sete igrejas, a de Sardes era a que apresentava menos fervor espiritual. Sua adaptação ao ambiente religioso evitou que a igreja fosse perseguida, pois quase ninguém a percebia. Seu estilo de vida inofensivo garantia uma paz religiosa, mas resultou na morte espiritual aos olhos de Deus. Com a exceção de alguns poucos membros fiéis, que mantinham a chama do evangelho acesa, a igreja estava morrendo aos poucos, como um fogo que não é reabastecido. No entanto, entre as cinzas ainda se encontravam algumas brasas ardentes.
Ao ouvi-lo, os habitantes de Sardes se lembrariam imediatamente de sua história. O texto grego enfatiza o presente contínuo para indicar que a igreja precisa sempre ser vigilante em relação a perigos internos e externos: falsos mestres dentro da igreja e doutrinas falsas vindas de fora (compare com At 20.29–31; veja também Mt 24.24). A ordem de Jesus referente à vigilância revela que ainda resta alguma vida na congregação, apesar de ele a ter descrito como morta.
A ênfase nessa frase está no verbo fortalecer, de modo que tanto os agentes como as atividades que ainda restam em Sardes são reforçadas. As obras da fé e do amor praticadas por alguns membros devotos correm o risco de morrer.
Ele não deseja quantidade, mas qualidade. Ou seja, ele quer que o que seja feito seja feito com fé e amor por Deus e pelo próximo. Ele quer que o crente esteja repleto do Espírito Santo e expresse isso por meio de obras de gratidão. A palavra íntegras transmite a impressão de algo perfeito (veja Mt 5.48).
O verbo lembrar parece apontar não para o passado recente de alguns anos, mas para um passado remoto de mais de uma geração. Se o evangelho foi levado a Sardes em meados dos anos 50 e João escreveu o Apocalipse nos meados dos anos 90, quarenta anos teriam se passado. Além disso, o grego apresenta o verbo receber no perfeito, indicando assim que um tempo considerável havia se passado.
A primeira geração de cristãos havia colocado sua fé em ação, mas a segunda geração apenas descansava sobre o que havia sido feito no passado. Por isso, Jesus os instrui a se lembrarem do que seus pais haviam feito, pois a primeira geração havia recebido a mensagem da salvação, dado ouvidos a ela e seguido suas instruções em obediência (veja 2.5)
Entre as cinzas do fogo ainda há algumas brasas ardentes que, com o sopro do vento, podem reacender o fogo. O texto grego diz “uns poucos nomes” e transmite a ideia de que o Senhor conhece seus seguidores fiéis individualmente pelo nome e e que se alegra com o amor deles por ele.
O pequeno número de servos fiéis não contaminaram suas vestes, o que significa que eles não haviam sido influenciados pela cultura secular dos seus dias. A palavra vestes é um símbolo para a conduta espiritual e o estilo de vida moral deles (Jd 23). Eles não foram manchados pelos pecados do adultério e da idolatria; eles não minaram a mensagem do evangelho; e eles se recusaram a fazer concessões. Eram fiéis à sua palavra, dada no batismo, de seguir a Jesus. Mesmo que esses poucos fiéis fossem considerados estranhos e alheios à sua cultura, eles caminhavam firmes nos passos dos apóstolos e de outros cristãos que haviam trazido e proclamado o evangelho da salvação.
Esses poucos fiéis são dignos. Ou seja, aos olhos de Jesus, eles são declarados dignos, não por causa dos seus próprios méritos, mas por causa dos méritos dele. Suas próprias boas obras nada mais são do que trapos da imundícia (Is 64.6). Mas por ouvirem obedientemente a voz de Jesus e seguirem seus passos (veja Ap 14.4), eles são declarados dignos por causa da expiação de Jesus
Ela os assegura de que estão absolutamente salvos e seguros. Seus nomes foram escritos no livro da vida e nunca serão apagados. Em outra passagem, Deus diz a seu povo: “Nas palmas das minhas mãos te gravei” (Is 49.16). Ele está inseparavelmente ligado a eles, pois são a menina dos seus olhos (Dt 32.10; Sl 17.8; Zc 2.8). João revela que os nomes registrados nesse livro da vida foram inscritos desde a fundação do mundo (17.8).
As pessoas que confessam o nome de Jesus, mas cujo estilo de vida não confirma sua confissão nunca teriam seus nomes registrados no “livro da vida”. Jesus lhes diz que nunca os conheceu e ordena que saiam de sua presença (Mt 7.21–23).