Sem título Sermão (33)
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CÂNTICOS DE PREPARAÇÃO (OU CÂNTICOS DO ADVENTO): O Cântico de Maria Lc 1:46-56
INTRODUÇÃO É tão comum que nos afastemos das coisas espirituais e que voltemos a nossa atenção apenas àquilo que nossos olhos podem enxergar. Durante o período de Natal, preparamos as nossas casas para receber familiares e amigos, isso é ótimo. Mas, precisamos preparar as nossas mentes e corações para uma celebração mais especial. O Advento é uma preparação espiritual para a celebração da vida a partir do dia em que “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e habitou entre nós” (Jo 1:14). Um momento para meditar em tudo o que Cristo significa para as nossas vidas. Não se trata apenas de uma data, mas de um relacionamento profundo e eterno. COMPREENSÃO DO TEXTO Maria, já grávida por obra do Espírito Santo, vai até a casa da sua prima Isabel, onde permaneceria por cerca de três meses. Isabel era uma mulher mais velha e, também, achava-se grávida. Esta gravidez de Isabel tem grande importância na história do Messias e falaremos sobre ela nas próximas pregações. O que nos interessa hoje é que esta gravidez foi anunciada a Maria como um sinal da veracidade da profecia que o anjo lhe trazia (Lc 1:36). O Cântico de Maria ou Magnificat (Esse nome é atribuído por causa da tradução latina da Bíblia que diz Magnificat anima mea Dominum). Foi entoado logo após o encontro entre as duas primas e marcado pela agitação do bebê de Ana em seu ventre que é logo entendida como uma saudação de alegria àquele que vinha no ventre de Maria (Lc 1:44). O Cântico mostra que a jovem Maria tinha consciência de que algo maravilhoso estava para acontecer por meio daquela criança que acolhia em seu corpo. Ela sabia que Deus, na sua infinita misericórdia, estava fazendo os preparativos para mudar definitivamente o curso da história de toda a humanidade. O menino que crescia em sua barriga foi anunciado por um anjo como o Filho do Altíssimo a quem o próprio Deus entregaria o trono de Davi (Lc 1:26-38). Esse dia já havia sido profetizado há séculos. Isaías anunciou que a virgem ficaria grávida e daria à luz um filho, e o chamaria Emanuel (Is 7:14); anunciou também que o governo estaria sobre os Seus ombros (Is 9:6) e que Ele viria para trazer alegria a todos os que choram (Is 61:1-3). A importância do que estava para acontecer nas próximas três décadas era maior do que se pode descrever. O próprio Deus encarnaria para viver no meio de nós (Jo 1:14) e abrir os caminhos da eternidade para todos os que nEle cressem (Jo 1:12; 3:16). A partir dali o mundo jamais seria o mesmo, em nenhum sentido. Os efeitos do pecado sobre o mundo seriam anulados pela fé (Rm 6:23; Ef 2:8-9; Hb 7:15) e isso afetaria toda a Criação (Rm 8:19ss; Cl 3). O discernimento espiritual de Maria nos ensina muito sobre a preparação que precisamos fazer para que Cristo habite em nós e para que, por meio dEle, vivamos eternamente.
1. A VINDA DE CRISTO É UMA BÊNÇÃO PESSOAL (vs. 46-49) N. T.: No paralelismo grego, alma e espírito, nessa expressão significam exatamente a mesma coisa. Maria reconhece o nascimento de Jesus como uma bênção individual. Primeiramente, com o regozijo que ele traz às nossas vidas, ela afirma que sua alma “engrandece ao Senhor” e na sequência afirma que “se alegra em Deus”. Louvor e alegria se misturam como uma grande bênção. Jesus digno de todo o louvor, é também aquele que nos dá a alegria a glória de Deus. Segundamente, Maria reconhece a bênção da salvação que estava vindo sobre ela, tanto no sentido da libertação pessoal, quanto da herança eterna da alegria expressa em Deus e vivida por meio de Cristo. Em terceiro lugar, Maria expressa a grandeza de Deus como uma bênção para si. Pois, mesmo sendo santo (acima de todas as coisas) se importa com pessoas simples e humildes como nós. Aplicação → Entender a vinda de Jesus como uma bênção pessoal é crer que Ele é o único e suficiente Salvador (Rm 10:9-10) e que Ele é capaz de em toda e qualquer situação transformar o nosso pranto em alegria (Jo 16:20). Importante ressaltar que a salvação aqui é vista de maneira abrangente. Nos versos 48 e 49, Maria entende que de todas as dores e humilhações da pobreza e da simplicidade serão suplantados pelo fato de Deus ser o seu Salvador. Ainda que continue passando por tribulações durante a vida terrena, ela tinha consciência de que se de fato participamos dos sofrimentos de Cristo também participaremos da sua glória (C.f. Rm 8:17). Maria concluiu essa estrofe do seu cântico reconhecendo a santidade de Deus. Ao afirmar “santo é o seu nome”. Maria, assim como encontramos em Isaías 6:1- 5, exalta o Senhor, reconhecendo que Ele está acima de toda a criação e, também, acima de todas as fraquezas. Talvez, imbuída de educação religiosa suficiente para compreender que a santidade de Deus é uma bênção que alcança a todos. Essa frase abre o caminho para a segunda estrofe.
2. A VINDA DE CRISTO É UM ATO DE MISERICÓRDIA (vs. 50) Outra profunda questão que aparece no Cântico de Maria é o fato de que a vinda de Cristo é uma ato de misericórdia sobre um mundo pecador que se estende para todo o sempre. Em Gn 8:21, aprendemos que o coração do homem é “inteiramente inclinado para o mal desde a infância”. Mas, nesse mesmo texto, que se passa logo depois do dilúvio, Deus afirma “nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz dessa vez”. A misericórdia de Deus se manifesta ao longo de toda a Bíblia e, também, ao longo de toda a história da humanidade. Mas, nenhum ato de misericórdia foi tão forte e expressivo quanto o nascimento, vida e morte de Jesus Cristo. Paulo nos ensina que “Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Rm 5:8). Isto é, Cristo morreu por pessoas que amavam o pecado. O caráter perpétuo desse sacrifício misericordioso também é descrito por Paulo, quando ele afirma que “já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Maria demonstra, nesse cântico, que tinha perfeita consciência de que não merecemos a salvação que Deus nos proporcionaria por meio do seu filho. Esse seria um ato de profunda misericórdia. Deus não pensou em salvar pessoas boas, mas decidiu misericordiosamente enviar o seu filho para alcançar uma humanidade pecadora. O próprio Jesus afirmou: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” (Mc 2:17). Aplicação → A misericórdia é o ato de Deus de nos livrar do castigo que merecemos. Por isso, antes de tal livramento, chamado salvação, somos justificados, ou seja, Cristo nos imputa a sua justiça, livrando-nos dos efeitos de todas as justas acusações que existem contra nós, para que possamos gozar da vida eterna.
3. A VINDA DE CRISTO É UM ATO DE JUSTIÇA (vs. 51-53) Maria canta sobre os poderosos feitos de Deus e traz ênfase sobre a justiça que o Senhor traz àquelas pessoas mais excluídas da sociedade. No entanto, a que se atentar para o importante início dessa estrofe: “dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração”. A justiça de Deus começa pelo trato do coração e não pelo domínio social e político. Em Provérbio 16:18 o Senhor já nos prevenia: “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda”. Os versos subsequentes do Magnificat se referem aos múltiplos efeitos da soberba nas ações humanas: • Governantes soberbos caem; • Ricos soberbos são despedidos de mãos vazias. Por outro lado, o coração humilde. Também em Provérbios 15:33, aprendemos: “O temor do Senhor ensina a sabedoria, e a humildade antecede a honra”. Seguramente, Maria tinha consciência desse contraste: o espírito altivo precede a queda e o coração humilde precede a honra. Ela lança essa lógica contrastante nessa parte do cântico. Mostrando que as forças mais valorizadas pelos seres humanos (política e riqueza) se não estiverem livres das impurezas de um coração soberbo não têm capacidade de se manter. Deus nada tem contra a política, nem contra a riqueza em si, mas se afasta daqueles que põem os corações em lugares enganosos. Sobre esses o Salmista fala assim: “Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes cair na ruína” (Sl 73:18). Aplicação → O Senhor ensina “acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv 4: 23). O Magnificat nos encaminha para um cuidado profundo com as nossas atitudes orgulhosas e soberbas. E nos faz pensar em Jesus como uma necessidade diária para nos livrar da queda prenunciada para todos aqueles que seguem com o coração duro.
4. A VINDA DE CRISTO É UM CUMPRIMENTO PACTUAL E FAMILIAR (vs. 54-55) Por fim, Maria termina o seu cântico evocando o pacto que Deus fez com Abraão e seus descendentes. Enfatiza-se que o pacto é “para sempre”. Nas palavras do próprio Senhor: “estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes”. Maria celebra a alegria desse pacto que se cumpre na pessoa de Jesus Cristo, visto que é nEle que todos os creem se tornam filhos de Deus (Jo 1:12). Segundo Hendriksen, “a manifestação da misericórdia de Deus é o cumprimento da promessa pactual de Deus feita aos pais, promessa essa de valor supremo, ainda hoje, aos crentes e sua descendência”. Em Gl 3:9, Paulo nos ensina que “os que são da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé” e no verso 29 “se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. Aplicação → As bênçãos do pacto abraâmico são derramadas por meio das famílias (Gn 12:3). Deus pede que guardemos essa aliança ensinando-a aos nosso filhos (Gn 17:9). Não mais como o pacto da circuncisão, mas como o pacto da fé que nos justifica e salva (Ef 2:8-9) e que agrada a Deus (Hb 11:6).
CONCLUSÃO O Magnificat é um cântico que nos faz refletir sobre os impactos e significados da vinda do Senhor Jesus a esse mundo. Que prepara a nossa consciência para relembrar os propósitos da ação de Deus ao enviar o Seu Filho Amado. A jovem Maria perdeu todos os seus medos e inseguranças por meio da fé e reflete todas as convicções de sua vida nesse lindo cântico. O Natal é um momento importante para que possamos refletir acerca de quem Ele é para nós e para que possamos buscá-Lo com os corações contritos.