Mateus 22.23-33
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 8 viewsO autor expande o quadro conceitual em que demonstra a rebelião dos ímpios contra o Reino, agora declarando a ignorância e incompreensão como fontes dessa antagonia.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Continuando a exposição da antítese ao Reino investida pelos anciãos de Israel, Mateus narra outra tentativa por parte daqueles homens de apanharem Cristo nalgum erro ou equívoco, que proporcionasse uma acusação suficiente para incriminá-lo.
Desta feita, o grupo responsável pelo questionamento é o dos saduceus, "que dizem não haver ressurreição" (v.23). Tal como antes, o comentário autoral e identificação feitos pelo autor, informam o leitor quanto a natureza do questionamento. Assim como a união dos herodianos aos fariseus denunciava a artimanha daqueles homens contra Cristo, ao lançarem dúvida quanto a licitude do pagamento de impostos ao imperador, da mesma forma agora, tendo os saduceus questionado o Messias acerca da ressurreição, é exibida a intencionalidade maligna dos tais, que visam apenas prejudicar o Senhor Jesus diante do povo e das autoridades (religiosas ou civis).
A resposta de Cristo, tal como direcionada aos fariseus antes, também salienta o enorme abismo espiritual em que se encontravam seus inquiridores, pois como salientado pelo próprio Senhor, até mesmo Abraão, Isaque e Jacó, os patriarcas de quem os líderes de Israel se orgulhavam de ser descendentes e filhos, criam na ressurreição, ao ponto de a aguardar com fé (cf. Hb 11.13-19,21, 39-40). De contra partida, mortos em sua ignorância quanto a Escritura, os saduceus não contemplavam a grandeza do poder de Deus que promete fazer seu povo vencedor sobre a própria morte, nem que essa ressurreição proporcionaria a entrada numa nova realidade cosmológica a ser experienciada pela igreja.
Assim, complementando e ampliando o quadro no qual é denunciada a rebeldia e oposição dos líderes de Israel contra o Reino de Deus e o Messias, o tema central do texto de Mateus 22.23-33 é a exposição da trama dos ímpios contra o Reino dos céus - pt 2.
Elucidação
A aproximação dos saduceus à Cristo, amplia a oposição para além dos fariseus. Conforme o próprio Senhor vem ressaltando, é mister que ele seja entregue "aos principais sacerdotes e escribas" (cf. 20.18), figuras que resumem todos os partidos religiosos de Israel como uma das fontes de oposição que o Messias deverá enfrentar em seu trajeto de publicação do Reino dos céus.
Evocando a figura de Moisés, o conluio contra Cristo mostra-se por meio de outra tentativa de achar nele alguma falta em relação à Lei, o que o poria contra o povo, que por usa vez o consideraria como fraude, tendo em vista qualquer desacordo com o a legislação divina. O novo questionamento é direcionado com base numa situação que, sendo hipotética ou factual, exige uma resposta que tenha amparo legal. Entretanto, a perspectiva dos saduceus está empobrecida por um entendimento distante do princípio ensinado pelas Escrituras.
O argumento dos saduceus tem por base a lei do levirato, conforme registrada no Pentateuco, mais especificamente em Deuteronômio 25.5-6:
Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem filhos, então, a mulher do que morreu não se casará com outro estranho, fora da família; seu cunhado a tomará, e a receberá por mulher, e exercerá para com ela a obrigação de cunhado. O primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o nome deste não se apague em Israel.
Diante desse princípio da Lei, os saduceus, como já dito, inquirem Cristo de acordo com uma situação em que sete irmãos desposam a mesma mulher, tendo o antecessor morrido sem deixar descendência, e por fim, a própria mulher vem a morrer. Com isso, a pergunta dos saduceus é: "na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa?” (v.28). Como dito, essa pergunta não é legítima, pois não parte de uma dúvida real (tendo em vista que aqueles homens nem mesmo criam na ressurreição), e sim, das intenções avessas dos saduceus, em verem se de alguma forma Cristo haverá de deturpar a Lei para responder a “dúvida”.
Não obstante, como é salientado pelo próprio Jesus, aqueles homens desconhecem o plano redentivo e a revelação das intenções do SENHOR para com seu povo, além de ignorarem seu poder. Se levarmos em consideração a narrativa paralela de Lucas 20.27-40 perceberemos que a constatação de Cristo centraliza o problema de entendimento dos saduceus, e denuncia a falha em sua pergunta, ao não entenderem o fim último da Lei do Levirato. Conforme consta no texto de Lei supracitado, o propósito do levirato é que o nome do irmão falecido e que não deixou descendência "não se apague em Israel" (Dt 25.6b). A morte interrompeu a existência do suposto primeiro marido, e para que seu nome fosse sempre lembrado e sua fé na ressurreição fosse devidamente representada, o primeiro filho de seu irmão com sua antiga mulher, levaria seu nome.
Porém, a ressurreição porá um fim a esse problema, e o casamento - pelo menos com essa finalidade - não terá mais uso, tendo em vista que todos os filhos de Deus, na ressurreição, "não podem mais morrer" (Lc 20.36), não havendo, portanto, qualquer necessidade de que se unam novamente em matrimônio com o fim de estabelecer descendência.
Essa perspectiva é confirmada pelo complemento que o próprio Senhor Jesus concede, fazendo seus inquiridores lembrarem-se de como o SENHOR se apresentou a Moisés no Sinai do meio da sarça:
E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou:
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó?
Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos.
A resposta do Senhor aponta que a ressurreição dos mortos era algo claro aos três patriarcas, ao ponto de o próprio Deus ter se apresentado a Moisés através de uma confirmação da fé daqueles, e exibindo o princípio doutrinário da ressurreição ao povo, o qual também está presente na Lei do Levirato, que os saduceus desconheciam e ignoravam.
Transição
O conluio dos saduceus a partir dessa seção do registro de Mateus, exibe uma progressão do princípio de oposição ao Reino, tendo em vista a narrativa anterior. Nos versículos 15 à 22, foi apresentado a grande trama dos ímpios contra o Messias, e de como essa conspiração reflete todo o estado de miséria no qual o homem caiu. Agora, no texto de 23 à 33, essa percepção é ampliada ao ponto de proporcionar a visão quanto a no que consiste essa rebelião: numa não compreensão das Escrituras (a Lei) e na ignorância dos ímpios quanto ao poder de Deus.
Os saduceus, ao não crerem na ressurreição, se aproximando de Cristo com essa falha em sua percepção quanto a Deus e seu plano redentivo, são usados por Mateus como exemplos do comportamento mundano que oprime a igreja de Cristo, fazendo seu público-alvo entender o porquê de estarem padecendo perseguições e lutas por causa do evangelho. Os ímpios militam contra a igreja, porque não entendem como Deus em sua sabedoria decretiva - por meio da qual estabeleceu o mundo e a história como trilhos que levam à glória de seu nome sobre toda a criação - planejou todas as coisas para revelar por meio delas a sua Lei e vontade, que inclui o bem-estar de todos aqueles que foram alvos de seu amor e convite ao Reino dos céus.
O resultado dessa ignorância é a rebelião sem escrúpulos que armam contra o povo de Deus, usando inclusive a pontos que não compreendem dos próprios mandamentos divinos contra a igreja, a fim de, de alguma forma, apanhar o povo de Deus nalguma falha principiológica que exibiria fragilidade em sua fé.
Deus é SENHOR de vivos e não de mortos, e essa compreensão clarificada pelo autor divino/humano do texto, reforça um princípio a ser compreendido pela igreja de Cristo hoje, qual seja:
Aplicação
A fonte da rebelião dos ímpios contra Deus, além da condição miserável de sua natureza, agora caída, é sua ignorância quanto aos preceitos do SENHOR e seu poder.
No mundo dos homens, um axioma encarcera suas mentes à uma constante que, segundo a pobreza de seus entendimentos, é inviolável: mortos não podem reviver. O perdão de pecados que a igreja recebe, fere as mentes dos mundanos, pois esse perdão concede vida àqueles que antes estavam mortos. Porém, essa vida que agora possuímos, não se compara a plenitude que receberemos quando ressuscitarmos segundo o poder de Deus, e ressurreição é uma impossibilidade física e lógica. Contudo, quando a mente falha em entender o funcionamento das coisas, as Escrituras nos satisfazem com a promessa do Criador de fazer o nome de seu Filho grande por meio de nossa redenção, mas para obter fé a fim de crer nessa promessa, é necessário uma intervenção divina.
Os saduceus representam todos aqueles que não tiveram suas mentes ainda agraciadas com essa fé, para que compreendam a Lei de Deus e seu poder. Achando que a vida se resume ao presente estado, eles não conseguiam enxergar a grandeza da vitória de Deus sobre a morte através do Messias, que estava diante de seus olhos. É dessa forma que funciona a mente dos ímpios; inapta para compreender os mistérios do Reino, se contorce em sua miséria, buscando ver em nossa crença alguma falha que justifique seu próprio modo de vida inútil.
Qual de nós nunca ouviu uma pergunta completamente estapafúrdia vinda de um ímpio, que claramente denunciava sua completa descompreensão quanto ao Texto Bíblico? Não deveríamos nos surpreender, sempre que um descrente demonstra seu “erro em não conhecer as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29), e também não é nenhuma novidade que usem esse “não-entendimento” da Lei para acusar e perseguir a igreja, alegando que nossa fé é incoerente, ultrapassada e etc.
O SENHOR, nosso Deus, é o Deus de vivos, e somente aqueles que pela fé em Jesus Cristo foram vivificados para admirar seu poder rendendo-se à sua vontade revelada, podem confiar na promessa de que nem mesmo a morte porá fim aos servos do Altíssimo, que terão seus corpos mortais transformados em corpos imortais, os quais receberão a graça de viverem diante de Deus para sempre.
Conclusão
Diferentemente dos ímpios, que se rebelam contra o Reino, Abraão, Isaque e Jacó, pela fé que tinham no poder de Deus e nas promessas do SENHOR, mantém-se vivos, ao aguardarem em seus túmulos que retornem à vida, graças a Deus em seu Cristo, o que acontecerá com todos nós, os que entendemos as Escrituras e cremos no poder daquele que é Senhor sobre a morte: Jesus Cristo.