RESGATANDO O SIGNIFICADO VALORATIVO E A INTENCIONALIDADE DOS ATOS DA VIDA CRISTÃ
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RESGATANDO O SIGNIFICADO VALORATIVO E A INTENCIONALIDADE DOS ATOS DA VIDA CRISTÃ
INTRODUÇÃO
Quanto é “5+5”?
Para a grande maioria de nós, adultos, esta é uma operação matemática das mais simples.
Agora pense em uma criança de 5 anos. Se eu formular a mesma pergunta a minha filha, Sophie, ela não me dará a resposta automática. Talvez ela imagine 5 pirulitos em uma mão e cinco pirulitos na outra. Ela contará os dedos das mãos até 10 e me responderá.
Qual a diferençaentre nossa resposta e a resposta de uma criança?
A diferença está na automação do pensamento. Respondemos no automático.
Lembro que quando eu era criança, minha mãe me trouxe de presente alguns lápis. Havia um em especial. Era um lápis “grafite” de madeira, com uma borrachinha branca na extremidade.
Aquele não era só um lápis “de pintar”. Tinha em seu corpo a tabuada e eu precisava gravar toda manhã algumas operações. No começo, contava nos dedos. Depois, fui internalizando e memorizando. Hoje, a grande maioria de nós sabe a tabuada... Ao menos em tese... kk
A verdade é que quando vamos amadurecendo em algum assunto, nossa mente vai jogando as coisas para o modo automático. A tabuada; as notas e acordes musicais mais básicos em um instrumento musical; as marchas de um carro manual.
Aos poucos, vamos deixando de lado o deslumbre das descobertas e vamos entrando no “modo automático”. Vamos perdendo o encantamento do “mundo de Sophia” e as coisas vão se tornando óbvias e rotineiras.
Agora pense comigo:
Por queguardamos o dia do Senhor?
Por que oramos?
Por que jejuamos?
Por que nos detemos a ler a Bíblia?
Por que entregamos os nossos dízimos e ofertas?
Por que adoramos?
Por que frequentamos a congregação?
Assim, como a tabuada, será que estas respostas foram apenas automatizadas na nossa consciência cristã? Ou será que guardamos o mesmo deslumbree a mesma alegria de quando Senhor nos chamou eficazmente?
Nossa exposição hoje é exatamente sobre a necessidade de RESGATARMOS O SIGNIFICADO VALORATIVO E A INTENCIONALIDADE (PROPÓSITO, SIGNIFICADO, VALOR E SENTIDO DEVOCIONAL) DOS ATOS DA VIDA CRISTÃ.
A nossa resposta ao evangelho de Cristo não pode ser um exercício mecânico, puramente religioso, formal e automático. Precisamos ser intencionais e intensos, resgatando em nossa prática cristã o valor, isto é, o significado de nossas práticas.
A mensagem, então, desenrola-se em três pontos.
Primeiro, apresentaremos os personagens e o contexto geral desta parábola.
Segundo, falaremos sobre o orgulho religioso do fariseu e sobre como ele substituiu o conteúdo e o real significado dos atos judaicos de adoração pelo formalismo religioso orgulhoso e egoísta.
Terceiro, falaremos sobre a humildade e a intencionalidade do publicano, que saiu justificado pela graça, mediante a fé.
PONTO 1 - APRESENTAÇÃO DE PERSONAGENS E O CONTRASTE BÍBLICO
“E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:”
Lucas 18:9 ARC
1. Observando o texto, temos um relatório inicial de Lucas sobre o destinatário desta parábola exclusivamente lucana:
a) Destacar que era uma característica literáriade Lucas fazer avaliações e resumos que expressam o seu ponto de vista. Lucas é um historiador que se “intromete” nos relatos, resumindo o que está acontecendo. Ex. “A igreja crescia e se fortalecia; crescia em graça e conhecimento” (Atos 2).
b) O tema geral da parábola diz respeito a orgulho e autoconfiança. Lucas antecipa que a parábola tratará sobre temas como soberba e humildade.
c) Lucas também antecipa que o orgulho e a soberba têm reflexos sobre o próprio indivíduo e sobre os outros.
https://bible.com/bible/212/luk.18.9.ARC
“Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano.”
Lucas 18:10 ARC
https://bible.com/bible/212/luk.18.10.ARC
1. Na parábola, Jesus utiliza antítesecomo figura de linguagem. Ele quer realçar o contraste entre o comportamento humilde e o orgulho religioso.
2. “ORAR” - A parábola anterior, sobre o juiz iníquo, Jesus destacara a necessidade de oração insistente e perseverante. Agora, Jesus continua falando sobre oração, mas o realce não está na quantidade e sim na intencionalidade e fervor.
APLICAÇÃO: Jesus não queria apenas que orássemos em quantidade. Queria que fôssemos intencionais. A parábola do Juiz iníquo e a parábola do fariseu e do publicano são complementares – não excludentes. Não basta orar muito ou por muito tempo, fazendo da oração um mero compromisso sem fervor. Por outro lado, não devo orar pouco, em raros momentos de fervor espiritual.
3. Observação: a parábola não retrata todos os fariseus. Jesus conta a história sobre “alguns” que confiavam em si mesmos. Dentre os fariseus havia homens piedosos, como Zacarias, esposo de Isabel e pai de João Batista e como Simeão, que esperava a consolação de Israel. Os fariseus foram usados por Deus para a preservação da Escritura. Não se pode generalizar.
APLICAÇÃO: às vezes classificamos as pessoas e as apartamos do nosso convívio com base em concepções preconcebidas. Precisamos ter o cuidado de, apontando os fariseus, nos tornarmos o próprio fariseu. Deus tenha misericórdia de nós e nos perdoe.
4. A verdade, porém, é que muitos fariseusforam os principais perseguidores do evangelho. Nos evangelhos, os fariseus foram os principais oponentes, pois a mensagem de Jesus enfatizava a liberdade Nele; em Atos, os saduceus, em razão da questão relacionada à ressurreição de Cristo.
5. Publicano – eram vistos como traidores da pátria; tinham fama de praticar extorsão e violência, sendo muitos homicidas. Muitos viviam em devassidão moral, incluída a perversão sexual. Segundo a tradição oral farisaica, não eram dignos de perdão (FONTE: CHAMPLIN). Realçar este ponto no tópico sobre a oração que faz.
6. “Subiram ao templo”: destacar que a necessidade de congregação é bíblica e advém da própria pregação de Cristo. ---Contra o desigrejamento.
7. A parábola que Jesus iria contar, portanto, ao contrapor dois extremos, iria chocar profundamente os ouvintes.
APLICAÇÃO: O evangelho genuíno confrontarealidades. Não é uma massagem no ego ou uma mensagem de auto-ajuda. Jesus morreu por pregar. Estêvão morreu pregando. Os apóstolos foram mortos em razão da loucura da pregação. Por que a Igreja moderna quer elogios e afagos da sociedade?
PONTO 2 - O ORGULHO RELIGIOSO DO FARISEU E A SUBSTITUIÇÃO DO CONTEÚDO PELA FORMA
TEXTO-BASE: “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo.”
Lucas 18:11-12 ARC
https://bible.com/bible/212/luk.18.11-12.ARC
1. Observar que todos os comportamentos do fariseu são religiosamente corretos e aplicáveis a nós cristãos. Ele frequentava a congregação; orava; jejuava e entregava dízimo. Entretanto, o fariseu, por causa do orgulho, perdeu a intencionalidade. Fazia as coisas no automático de sua religiosidade, sem verdadeira adoração.
2. Sua oração era um auto-elogio que não chegava como adoração a Deus. Não me refiro ao fato de orar em pé, porque isto era tradição judaica. Todavia, ele procurava os lugares mais à frente para se destacar diante dos homens. Não orava a Deus, mas fazia um elogio a si mesmo.
3. Ia ao templo não para conectar-se com Deus, mas para aparecer diante dos homens. Sua mensagem não tinha como foco a glória de Deus, mas sua própria glória e vaidade. Paulo falar sobre a pregação vaidosa, em Filipenses 1.
4. Jejuava. Fez questão de dizer que fazia mais do que a lei de Moisés exigia, pois esta exigia um jejum anual como propiciação.
5. Entregava dízimos – os fariseus eram conhecidos por entregar dízimos do anis, endro e hortelã. Este fariseu fazia mais se excedia no cumprimento da lei, mas perdeu intencionalidade.
"Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês devem praticar estas coisas, sem omitir aquelas.
Guias cegos! Vocês coam um mosquito e engolem um camelo.
Mateus 23:23,24
6. O religioso fariseu, sob o pretexto de adorar o único Deus, construiu um ídolo. Não era de pedra ou de barro. O ídolo tinha a forma de homem e era o próprio fariseu. O ídolo era regado pelo orgulho religioso.
APLICAÇÕES: EVITANDO OS EXTREMOS
1. PRIMEIRO EXTREMO: ATOS SEM INTENCIONALIDADE. O fariseu perdeu a intencionalidade quanto aos atos da vida judaica. Não podemos perder a intencionalidade dos autos da vida cristã. Este é o primeiro extreme incorreto: esvaziar-se em formas e perder o conteúdo. Aplicar aos diversos atos da pergunta inicial.
2. SEGUNDO EXTREMO: INTENCIONALIDADE SEM ATOS (ANTINOMIANISMO). Jesus não quis expressar que os mandamentos deixaram de existir. Este é o outro oposto. Achar que o que basta é o conteúdo e o “coração”, esquecendo-se da obediência e do cumprimento dos mandamentos. O fariseu criou um sistema religioso com base em obediência. Mas obediência sem intencionalidade não agrada a Deus. Israel louvava com os lábios, mas o coração estava longe de Deus, pelo que Deus rejeitou aquela adoração hipócrita, considerando-os como sepulcros caiados. Orar, entregar dízimo, congregar, jejuar, louvor são mandamentos e meios de graça. São mandamentos bíblicos. Não nos acrescentam mérito, mas são meios de graça que aguçam a nossa consciência de homens e mulheres espirituais. Devem ser exercidos com intencionalidade e propósito de adoração.
7. A causa da perda de intencionalidade: orgulho
a) Cegou o mandato espiritual – o “eu” e “Deus”.
b) Cegou o mandato social – o próximo.
PONTO 3 - A HUMILDADE DO PUBLICANO E A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
TEXTO-BASE: “O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”
Lucas 18:13 ARC
1. Batia no peito – expressão culturalmente relacionada ao luto. Este era um coração contrito e arrependido. Não se trata de simples remorso, mas de metanoia. Desejo sincero de dar meia-volta e retornar a Deus, praticado “frutos de arrependimento”, mencionados por João Batista. O publicano era intencional. Sua oração estava carregada de valor e propósito de glorificação.
APLICAÇÃO: ser intencional nos atos da vida cristã; salvação envolve frutos de arrependimento como consequência da justificação e regeneração pela graça.
2. Sequer olhava os céus – expressão de humildade diante da santidade de Deus. O publicano sabia que “as nuvens são o pó dos Seus pés”.
APLICAÇÃO: o cristianismo autêntico nos leva à humildade. Somos pecadores diante de um Deus santo. A ira de Deus é real, mas em Cristo podemos escapar. O cristianismo que diz que somos apenas especiais e que somos o centro de Deus é tudo menos cristianismo. É humanismo em pele de cordeiro.
3. Estava de longe – sentimento de que não tinha méritos para estar à frente. Sentimento de impotência diante dos próprios pecados. Dependência inteira na graça.
4. Conteúdo da oração – “tem misericórdia”. Segundo o fariseu, Deus não poderia ter misericórdia. A única chance não era apelar para os sistemas religiosos, mas para Deus.
APLICAÇÃO: Há esperança para os que esperam na graça de Deus.
5. Misericórdia – Ele usa a palavra misericórdia. A graça dá o que não mereço. A misericórdia me livra do que mereço. Ele tinha consciência do que merecia, mas apelou para a propiciação.
“Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.”
Lucas 18:14 ARC
https://bible.com/bible/212/luk.18.14.ARC
https://bible.com/bible/212/luk.18.13.ARC
1. O objetivo da parábola não é ser um tratado teológico sobre justificação pela fé. Este não é o objetivo do relato de Lucas e o tratado ficaria para Paulo, nas Cartas, especialmente Romanos e Efésios. Todavia, vemos aqui uma aplicação básica sobre a doutrina da justificação pela fé. O publicano foi justificado pela graça; o fariseu não foi justificado, porque não creu em Deus, mas em si mesmo e em seu método.
APLICAÇÃO: Deus não unge métodos religiosos. Ninguém merecia ser salvo. Deus salva inteiramente pela graça.
APLICAÇÃO FINAL
A nossa resposta ao evangelho não deve ser a resposta a uma tabuada.
Precisamos contar nos dedos. Precisamos resgatar a intencionalidade (propósito, significado, sentido devocional) dos atos da vida cristã.
Que o Espírito Santo nos ajude a ser intencionais. Que toquemos os instrumentospara servir de espetáculo aos homens, mas de louvor a Deus. Que preguemoscom fervor, não para nos vangloriar de quantas almas “trouxemos” para o reino (como se o mérito da regeneração não fosse do Espírito de Deus...). Que oremosintencionalmente, não apenas em quantidade, mas em qualidade. Que os nossos dízimossejam a expressão patrimonial da nossa adoração.
Que o Espírito nos tire do “modo-automático”, pois este não é o cristianismo, mas um sistema religioso meritocrático que não tem justificação de Deus.
Que sejamos intencionais nos atos da vida cristã.