Viva fora do Saleiro

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Sermão do Monte - Aplicações práticas

Mateus 5.13 “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.”
Chegamos agora a uma nova seção do Sermão do Monte. Nos versículos três a doze, nosso Senhor vinha delineando o caráter do crente. Mas aqui, no versículo treze, Ele vai adiante e começa a aplicar as descrições que apresentara. Tendo considerado o que o crente é, passamos agora a considerar de que maneira o crente deveria manifestar a sua nova natureza.
Ou, se você assim o preferir, tendo tomado conhecimento do que somos, agora devemos começar a considerar aquilo que devemos ser.
Neste ponto, encontramos precisamente essa ideia. Somos humildes de espírito, somos misericordiosos, mansos, temos fome e sede de justiça a fim de que, em certo sentido, possamos ser “o sal da terra”. Portanto, temos passado da contemplação do caráter do crente para a consideração da função e do propósito do crente no mundo, dentro da mente e do propósito de Deus. Em outras palavras, nos versículos que seguem imediatamente somos mui claramente informados a respeito da relação entre o crente e o mundo em geral.
Jesus se vale de duas figuras extraídas do dia a dia daquele tempo para ilustrar o que significa ser cristão em uma sociedade pagã, sendo uma delas objeto do nosso estudo hoje. os cristãos são como o sal.
O Sermão do Monte (O Sal da Terra)O que Jesus quis dizer quando afirmou que os cristãos são sal? Perceba que Ele disse: “Vocês são o sal da terra”. O modo do verbo é indicativo (uma declaração ou um fato), não imperativo (uma ordem a fim de que algo seja feito). Jesus não está instando Seus discípulos que se tornem algo que não são, mas está dizendo o que os cristãos já são enquanto cidadãos do reino. Infere-se, portanto, que, sendo uma nova criatura, gerada por Deus, o cristão deve ser essa nova pessoa e agir de acordo com sua nova natureza.
Jesus está falando no contexto da perseguição que Seus discípulos sofrem. Como o sal, os cristãos podem parecer pequenos e insignificantes, impotentes numa sociedade sedenta por poder.
No entanto, eles têm a habilidade de influenciar cada um de seus segmentos e de permeá-la por completo. O sal é barato, seu valor é mínimo. Mas o mesmo sal tem propriedades excepcionais que, de longe, ultrapassam seu “valor”. Assim também são os membros do reino de Deus. Como com o sal, haverá tempos quando suas verdadeiras utilidades se tornarão claramente evidentes.
O mundo aparentemente piedoso dos escribas e fariseus é confrontado pela vida de aparencia. Os cidadãos do reino, não importa quão desprezados sejam e quão insignificantes pareçam ser, tão somente eles, não os escribas e fariseus, são o sal da terra e a luz do mundo.
O cristão cuja vida manifesta as características do “bem-aventurado” causará impacto sobre a sociedade, esta que, se deixada a si mesma, apodrecerá, putrefará. Sem a influência do Evangelho, a sociedade sofrerá de decadência moral e ficará pútrida, imprópria para o consumo de cidadãos comuns.
Outros dois usos bíblicos para o sal pegam este mesmo princípio e o aprofundam um pouco mais. Ezequiel 16.4 faz alusão à prática judaica de esfregar sal em bebês recém-nascidos. Muito provavelmente, essa prática não dizia respeito à pureza cerimonial, mas à higiene. Já era do conhecimento geral que doenças e mesmo a morte poderiam sobrevir, se a higiene fosse ignorada.Supondo ser esta mesma prática que nosso Senhor tinha em mente, Sua ilustração seria aplicada da seguinte maneira: empenhe-se por ser sal no meio em que você se encontra, em cada oportunidade, o quanto antes. Esteja disposto a pagar o preço que for necessário em termos de reação contra o mundo. É importante, se nossas vidas devem causar impacto moral nas demais pessoas, que vivamos como cristãos entre elas e deixemos explícita nossa posição, desde o começo
Este mesmo princípio toma proporções ainda mais profundas quando ilustrado em Juízes 9.45. Tendo Abimeleque derrotado a cidade de Siquém, ele “a assolou e a semeou com sal”. O uso do sal era simbólico e, talvez, também um movimento efetivo, que tornaria o solo infértil para o futuro.Isso é exatamente o que o cristão faz quando se posiciona por Deus no meio em que vive; ele faz com que esta sociedade, seus amigos na escola, seus companheiros na universidade, seus colegas de trabalho, ou aqueles com quem pratica esportes sejam um solo menos frutífero para outras influências pagãs. Certamente, agir deste modo por si só não fará com que a sociedade nasça de novo, mas ao menos dificultará que hábitos, atitudes e palavras pecaminosos sejam norma entre seus amigos, colegas e companheiros
Enquanto cristãos, podemos facilmente ficar desesperados por conta de nossa fragilidade e insignificância, seja como indivíduos, seja enquanto número na sociedade. Porém, jamais devemos ceder à mentira de Satanás de que seremos eficazes só se estivermos em grande número e demonstrando poder externo. A ilustração que Jesus dá sobre o sal é um lembrete encorajador de que algo aparentemente barato e insignificante pode e consegue influenciar o ambiente em que se encontra desproporcionalmente às nossas expectativas.
Por vezes isso ocorre em abrangência nacional. É dito, com certa razão, que a única coisa que salvou a Inglaterra de uma revolução tão horrível e sangrenta quanto a revolução Francesa foi o avivamento evangélico que sobreveio da pregação e do ensino de homens como John Wesley e George Whitefield, durante o século dezoito.
Tasker está coberto de razão ao dizer que a mais evidente característica geral do sal é que ele é essencialmente diferente do meio em que é posto. Seu poder está precisamente nessa diferença. Como o sal da terra, a igreja possui várias funções importantíssimas, as quais passamos a descrever a seguir.
Em primeiro lugar, o sal é antisséptico e inibe a decomposição (5.13).
Quando Jesus proferiu esse discurso, não havia refrigeração. A única maneira de preservar os alimentos da decomposição era o uso do sal. O sal impede a putrefação dos alimentos, preservando-os da corrupção.
R. C. Sproul é enfático: “Uma das tarefas da igreja é impedir que o mundo se autodestrua”.
Tasker: “os discípulos são chamados a ser um purificador moral em um mundo em que os padrões morais são baixos, instáveis ou mesmo inexistentes”.
Não somos chamados a ser o mel do mundo, mas o sal da terra. O sal precisa ser esfregado na carne e, quando isso acontece, ele arde, mas seu resultado é preservador.
É digno de nota que a igreja não é sal no saleiro, mas sal da terra. O sal precisa entrar em contato com aquilo que deve ser salgado para exercer o seu papel. A igreja não influencia o mundo isolando-se dele, mas entrando em contato com ele, sendo diferente dele, penetrando nele com sua saneadora influência.
Muitas pessoas, ao se tornarem crentes, isolam-se das outras pessoas, trancam-se numa estufa, numa redoma de vidro, numa bolha espiritual, e se tornam sal no saleiro e depois sal insípido. Elas não se apresentam, não se inserem, não influenciam, não salgam. Tornam-se antissociais e antiespirituais.
John Stott é muito oportuno ao escrever: O sal cristão não tem nada de ficar aconchegado em elegantes e pequenas despensas eclesiásticas; nosso papel é o de sermos “esfregados” na comunidade secular, como o sal é esfregado na carne, para impedir que apodreça.
Ser sal é uma vocação importante. Entretanto, quem quiser cumpri-la precisa saber do sacrifício que está ligado a ela. Pois, quando o sal quer cumprir sua tarefa, precisa dissolver-se. O serviço do sal sempre acontece pela entrega de si próprio.
E, quando a sociedade apodrece, nós, os cristãos, temos a tendência de levantar as mãos para o céu, piedosamente horrorizados, reprovando o mundo não cristão; mas não deveríamos, antes, reprovar-nos a nós mesmos?
Ninguém pode acusar a carne fresca de deteriorar-se. Ela não pode fazer nada. O ponto importante é: onde está o sal?
Em segundo lugar, o sal é condimento e dá sabor (5.13).
Uma comida insossa é intragável. O sal tem o papel de dar sabor aos alimentos. Torna o alimento apetitoso, agradável ao paladar. O mundo está cansado de seu próprio pecado. O pecado cansa. O pecado adoece. O pecado escraviza. A presença da igreja no mundo, refletindo nele a glória de Deus, revela às pessoas uma qualidade de vida superlativa. Mostra ao mundo que a vida com Deus é deleitosa. Demonstra ao mundo que só na presença de Deus tem plenitude de alegria e delícias perpetuamente.
É importante ressaltar, outrossim, que, se a comida sem sal é intragável, uma comida com excesso de sal também é insuportável.
O próprio Jesus tinha este “sabor”. Sua presença por si só animava o povo. Obviamente, não havia conciliação com aqueles que não o seguiam, mas até mesmo eles reconheciam haver características na vida de Jesus que não poderiam ser explicadas em termos naturais.
O sabor que Jesus transmitia não era nem de longe esse gosto pobre, barato, fraco e, na maioria das vezes, de um “prazer” ou “carisma” egocêntricos, coisas que normalmente encontramos mascaradas de cristianismo, hoje em dia. A atratividade de Jesus não chamava a atenção para Si mesmo; não precisava, porque era genuína. Você não precisa chamar atenção para as qualidades que são verdadeiras; elas falam por si próprias.
Cl 4.6 “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um.”
Ele explica o que quer dizer com isso em uma passagem paralela (em Efésios 4.29): “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.
É interessante notar que é neste contexto que Paulo nos insta a não entristecermos o Espírito Santo. Por que neste contexto? Porque nossas palavras são uma das melhores formas de avaliar a condição em que nosso espírito se encontra.
Ef 4.29 “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.”
E assim como podem causar muito dano, nossas palavras também podem ser veículo de grande bênção: sendo apropriadas, elas têm a capacidade de auxiliar e fortalecer (Ef 4.29); elas podem trazer ânimo aos de espírito abatido, podem dar novas perspectivas a toda uma vida. Além disso, elas são o meio pelo qual Cristo se faz conhecido — perceba, porém, que tudo isso se dá não somente por aquilo que falamos, mas também pelo modo como falamos.
A igreja não foi chamada para condenar o mundo, mas para demonstrar ao mundo o amor de Deus e chamar as pessoas do mundo ao arrependimento e à fé salvadora.
Em terceiro lugar, o sal provoca sede (5.13).
O sal tem a capacidade de provocar sede. Vivemos num mundo caído, onde as pessoas não têm sede pelas coisas espirituais nem apetência pelo pão do céu.
A presença da igreja no mundo provoca esse interesse pelas coisas de Deus.
A igreja como sal se insere, se infiltra e, assim, provoca nas pessoas o desejo de conhecer Deus. Sem a presença da igreja, o mundo se tornaria um ambiente insuportável onde viver.
A igreja é o grande freio moral do mundo.
Não somos chamados para cruzar os braços e reclamar sobre como as coisas estão piorando, mas para preservar aquilo que vale a pena ser preservado no mundo ao nosso redor.
Martyn Lloyd-Jones diz que a glória do evangelho é que, quando a igreja é absolutamente diferente do mundo, ela invariavelmente o atrai. É então que o mundo se sente inclinado a ouvir a sua mensagem
O sal do mar Morto era misturado com outros minerais, muitos dos quais contaminavam a pureza do elemento e absorviam sua salinidade.
Jesus está dizendo ao seu povo que ele é o sal da terra e que, portanto, não deve permitir que a salinidade seja retirada. O sal não deve ser destruído por minerais contaminantes.
Se não somos o sal da terra, é provavelmente porque permitimos que o mundo nos contamine.
Caso sua vida não seja diferente da vida de seus amigos seculares, você precisa reavaliar se é realmente um cristão ou se o cristianismo que pensava ter dentro de si foi removido e presta apenas para ser pisado pelos homens
Certa pessoa expôs esse ponto da seguinte forma: Jesus nos disse para sermos pescadores de homens, não mergulhadores do serviço secreto! Devemos viver na superfície deste mundo, dando testemunho a homens e mulheres; não fomos feitos para ficar fora de vista, espiando debaixo da água. Se nós, em nossas vidas, não apresentamos a “isca” moral que nos diferencia do mundo, logo não mais somos o sal da terra.
João 17.15 “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.”
Este é exatamente o argumento de Jesus na oração em João 17. Ele não ora para que sejamos tirados deste mundo (fosse assim, como poderíamos testemunhar dele?).
Mas, no lugar disso, Jesus ora pedindo que, ainda aqui, sejamos mantidos santos, para que quando formos enviados ao mundo, mostremos-lhe Cristo.
Como vamos fazer isso? Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.14, 17).
Parte da “palavra” que Jesus deu aos discípulos é o ensino do Sermão do Monte. Este ensino tem o poder de nos transformar em sal para o mundo e de nos manter habilitados e fiéis no serviço que prestamos a Jesus.
Havendo entregue nossa vida ao poder impactante de toda a Escritura, cuja mensagem é a mensagem de um Cristo completo, de um Cristo em Sua integralidade, por conseguinte toda a nossa vida passará a irradiar o poder e a graça que esta mensagem tem para salvar.
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