Breves comentários sobre o livro de Jó
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Prólogo
Prólogo
Tema: Teodiceia e justificação
Título: Breves comentários sobre o livro de Jó
Introdução:
Introdução:
No filme “Deus não está morto” somos apresentados a Jeffrey Radisson, um professor de filosofia que odeia Deus. Ao longo da trama, nos é informado de que, quando criança, Jeffrey perdera seu pai e vivia somente com a mãe até que essa também veio a falecer por câncer. Seu ódio estava no fato de que suas orações a Deus não impediram a morte da querida mãe.
Temos essa marcante cena final em que o professor é atropelado e, apesar de ter se declarado ateu o filme inteiro, arrepende-se e cita Isaías 55.8-9 textualmente enquanto jaz na pista ao lado de um pastor.
Você já odiou Deus? Ou já conheceu alguém que odeia Deus? Haveria alguém em sã consciência que enfrentaria Deus, declarando guerra? Obviamente, mesmo que alguém assim o fizesse, não significaria que o próprio Deus estivesse disposto a assim fazer. Porém, proponho que imaginemos uma situação hipotética de inimizade mútua e ativa entre você e Deus.
Você poderia atingir Deus? Bastaria com lançar um míssel aos céus? Num último movimento destruíriamos as igrejas, porém há de se convir de que isso ainda não é ferir literalmente ao próprio Deus.
Como seriam os ataques divinos? Deus permitiria que você tivesse filhos? Ou ainda que acumulasse bens e propriedade? Poderia lançar um raio e destruir parte daquele carro novo. Quando saíssemos para os afazeres, uma horda de anjos viria para pisotear e demolir sua casa. Deus poderia envenenar seu corpo a ponte de te adoecer contraindo um câncer.
Enfim, a lista talvez seja enorme, porém qualquer que seja o movimento, encontramo-nos em extrema desvantagem e, portanto, afrontar Deus não parece ser uma escolha sábio. Jó sentia estar vivendo exatamente isso, porém, em seu caso, quem decidira pela inimizade era Deus!
Desenvolvimento
Desenvolvimento
O livro de Jó é um desses livros mal conhecidos. Repete-se muito sobre a paciência de Jó, porém pouco se compreende dos infortúnios da personagem. Foca-se nos dois primeiros capítulos narrativos do livro, os quais de fato contextualizam toda a conversa entre Jó, Elifaz, Bildade e Zofar, mas ao custo de todas as páginas restantes.
Os principais textos narrativos são os dois primeiros capítulos e os últimos dez versículos do livro. Eles representam 4,2% de todo o escrito. Certamente não parece ser esse o cerne do livro de Jó.
De que, pois, se trata o livro? É um debate acalorado entre um sofredor servo de Deus e seus três amigos que, inesperadamente, parecem se voltar contra Jó. Enquanto os três lhe lançam acusões, aquele se defende, lançando argumentos contra Deus.
Os dois primeiros capítulos são fundamentais para revelar perante o leitor os acontecimentos celestiais que desembocam em consequências terrenais. É por causa da conversa entre Satanás e Deus que sabemos que a origem do sofrimento de Jó não se encontra nele mesmo.
Havia um homem na terra de Uz cujo nome era Jó. Este homem era íntegro e reto, temia a Deus e se desviava do mal.
Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele tem, para ver se ele não blasfema contra ti na tua face.
Então o Senhor disse a Satanás:
— Você pode fazer com ele o que quiser; mas poupe-lhe a vida.
Essa informação é crucial e desconhecida para os todos os envolvidos na história. O final do capítulo dois narra a chegada dos três amigos de Jó que tinham como objetivo consolá-lo. Porém, ao não reconhecê-lo e se darem conta de que seu estado era pior do que esperavam, passam sete dias sentados com ele.
Entretanto, diante do primeiro lamento de Jó (ao amaldiçoar sua própria existência), as palavras ditas pelos companheiros não são de consolo. Pelo contrário, passam a acusá-lo de pecado.
Pense bem: será que algum
inocente já chegou a perecer?
E onde os retos foram destruídos?
Segundo eu tenho visto,
os que lavram a iniquidade
e semeiam o mal,
isso mesmo eles colhem.
Do mesmo modo, um a um, seus amigos repetem a mesma posição do primeiro. Passando a praticamente atormentar o moribundo em sua própria angústia. Bildade chega ao ponto de afirmar que os filhos de Jó receberam o que mereciam:
Se os seus filhos pecaram contra ele,
também ele os entregou ao poder
da transgressão que cometeram.
Para eles, a o sofrimento carrega consigo o pecado. Talvez se possa explicar com a ajuda de Deuteronômio 28, no qual Moisés expõe ao povo duas alternativas com resultados diferentes. A obediência levaria às bençãos; já a desobediência ao sofrimento. Essa mentalidade, contando que correta no pacto com a nação de Israel, evidentemente não se traduz para cada história individual e específica. Porém, é com esse pano de fundo que Zofar insiste na ideia de que Jó está sendo condescedente com algum pecado, motivo pelo qual está sofrendo tamanhos infortúnios.
se lançar para longe
a iniquidade de suas mãos
e não permitir que a injustiça
habite na sua tenda,
então você levantará o seu rosto
sem mácula,
estará seguro e não temerá.
Não bastasse insinuar o pecado de Jó, Elifaz se sente pressionado a nomear supostas falhas de seu amigo, afim de manter sua própria teodiceia, isso é, a imagem que tem da justiça de Deus.
Não é fato que é grande
a sua maldade,
e incalculável a sua iniquidade?
Porque sem motivo você exigiu
penhores do seu irmão
e despojou das roupas
os que estavam seminus.
Você não deu água ao cansado
e ao faminto você se recusou a dar pão.
A terra pertencia ao homem poderoso,
e só os privilegiados moravam nela.
Você despediu as viúvas de mãos vazias,
e os braços dos órfãos foram quebrados.
Por isso, você está cercado de laços,
e repentino pavor toma conta de você.
Está submerso por trevas,
que impedem você de enxergar,
e pelas águas transbordantes
que o cobrem.”
Imagem quão doloroso não deve ter sido escutar de bocas amigas palavras tão grosseiras. Aqueles que deveriam ter se condoído junto a ele, pois conheciam seu proceder antes da catástrofe.
Ah, não ignoremos o momento pelo qual Jó atravessava. A insensibilidade em qualquer outro momento teria sido melhor enfrentada, mas durante a tragédia é praticamente insuportável. Experimente criticar alguém durante uma crise no casamento ou ainda recriminar o desleixo logo após uma demissão.
Na verdade, Jó narra as atribulações em primeira mão, somando-se aos primeiros capítulos. Enquanto no início se descreve a perda dos filhos e propriedade, no capítulo 19 Jó descreve as consequências sociais.
“Deus levou os meus irmãos
para longe de mim,
e os que me conhecem,
como estranhos, se afastaram de mim.
Os meus parentes me abandonaram,
e os meus conhecidos
se esqueceram de mim.
Os que se abrigam na minha casa
e as minhas servas me consideram
como um estranho;
vim a ser um estrangeiro aos olhos deles.
Chamo o meu servo,
e ele não me responde;
tenho de suplicar-lhe, eu mesmo.
O meu hálito é intolerável
à minha mulher,
e pelo mau cheiro sou repugnante
aos meus irmãos.
Até as crianças me desprezam,
e, quando tento me levantar,
zombam de mim.
Todos os meus amigos íntimos
me detestam,
e até os que eu amava
se voltaram contra mim.
Porém, afinal o que tanto incomodou os visitantes? Por que amigos ousaram dar as costas num momento como esse? Para responder isso, temos que escavar as próprias palavras de Jó.
“Interpela-me, e eu responderei;
ou deixa-me falar, e tu responderás.
Quantas culpas e pecados tenho eu?
Mostra-me a minha transgressão e o meu pecado.”
Mas ele sabe o meu caminho;
se ele me provasse,
eu sairia como o ouro.
Bem sabes que eu não sou culpado;
todavia, não há ninguém que possa
me livrar da tua mão.”
Agora, pois, tenham a bondade
de olhar para mim
e vejam que não estou mentindo
na cara de vocês.
Por favor, mudem de parecer,
e que não haja injustiça;
mudem de parecer,
e a justiça da minha causa triunfará.
O último capítulo do debate de Jó com os amigos é Jó 31. Nele, o servo de Deus exclama “se” seguido de alguma maldade, pois era seu desejo de que caso se encontrasse alguma dessas falhas em si, sofresse o merecido castigo.
O livro termina com o próprio Deus aparecendo e falando desde um redemoinho. Curiosamente, o Soberano não esclarece as cenas dos primeiros capítulos, tampouco parece responder diretamente as perguntas de Jó. Concentra-se principalemente em mostrar a grandiosidade dEle e a pequenez de Jó. Isso parece ser o suficiente para que Jó reconheça sua ignorância.
Porém, após uma confissão de Jó e seus arrependimento, Deus faz com que os acusadores de Jó tenham que depender de sua vítima. Só alcançariam o perdão pela intercessão de Jó. Por duas vezes se diz que Jó disse o que era reto e Elifaz, Bildade e Zofar não.
“Na verdade, esgotaste as minhas forças;
tu, ó Deus, destruíste toda a minha família.
Jó 11.4–6 (NAA)
Pois você diz: ‘A minha doutrina é pura,
e sou limpo aos olhos de Deus.’
Mas quem dera que Deus falasse
e abrisse os seus lábios contra você,
e lhe revelasse os segredos da sabedoria,
pois a verdadeira sabedoria é multiforme!
Saiba, portanto, que Deus permite
que seja esquecida
parte da sua iniquidade.”
Jó 9.2 (NAA)
“Na verdade, sei que assim é;
porque, como pode o mortal
ser justo diante de Deus?