CONFIANÇA EM MEIO ÀS FRAUDES
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Introdução
Introdução
No encerramento do capítulo 4, Tiago tratou da incerteza da vida, do quanto somos insensatos quando fazemos planos sem consultar o Senhor, ou sem dizer "Se o Senhor quiser". Estas palavras de Tiago deveriam colocar humildade em nossos corações e a certeza de que nada podemos sem o auxílio do Senhor. Agora, no início de um novo capítulo, Tiago se volta para um problema aparentemente prático que afetava a vida das pessoas que receberam a carta.
O problema envolvia donos de terra, ricos, e seus trabalhadores, pessoas que estavam sendo enganadas por seus patrões. E mais, mostra-nos também como agir diante da fraude escancarada diante de nossos olhos, quando não há justiça sendo feita na terra.
1 Escutem, agora, ricos! Chorem e lamentem, por causa das desgraças que virão sobre vocês.
2 As suas riquezas apodreceram, e as suas roupas foram comidas pelas traças.
3 O seu ouro e a sua prata estão enferrujados, e essa ferrugem será testemunha contra vocês e há de devorar, como fogo, o corpo de vocês. Nestes tempos do fim, vocês ajuntaram tesouros.
4 Eis que o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês e que foi retido com fraude está clamando; e o clamor dos que fizeram a colheita chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.
5 Vocês têm tido uma vida de luxo e de prazeres sobre a terra; têm engordado em dia de matança.
6 Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.
7 Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sejam também vocês pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima.
9 Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que vocês não sejam julgados. Eis que o juiz está às portas.
10 Irmãos, tomem como exemplo de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.
11 Eis que consideramos felizes os que foram perseverantes. Vocês ouviram a respeito da paciência de Jó e sabem como o Senhor fez com que tudo acabasse bem; porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão.
Podemos dividir o texto, portanto, em 4 partes: 1. Ser bem sucedido financeiramente não é necessariamente sinal da bênção de Deus, 2. O motivo pelo qual começamos a perder coisas nesta vida, 3. Paciência para aguardar o juízo de Deus, 4. O porquê de que tudo acabará bem.
1. Ser bem sucedido não significa ser aprovado por Deus
1. Ser bem sucedido não significa ser aprovado por Deus
1 Escutem, agora, ricos! Chorem e lamentem, por causa das desgraças que virão sobre vocês.
A Bíblia não fala em nenhum lugar contra a riqueza em si, afirmando que ela é uma maldição ou sinal de condenação ou maldade. Pelo contrário, muitas vezes, a riqueza está associada à bênção de Deus.
22 A bênção do Senhor enriquece, e ele não acrescenta nenhum desgosto a ela.
Porém, é possível que alguém seja rico não pela bênção de Deus, mas pela opressão ao seu semelhante. Sobre estas pessoas sobre quem Tiago está escrevendo, não está certo se são pessoas da própria igreja ou pessoas que conviviam com eles, ou mesmo os judeus que estavam sofrendo debaixo do poder dos romanos, como sugere Doddridge e Jonathan Edwards.
Para estes últimos, é possível que estes ricos sejam os próprios judeus sofrendo calamidades em seus últimos anos em Jerusalém e na terra prometida. O próprio Flávio Josefo fala de muitos homens ricos na judeus que sofreram demais debaixo dos romanos durante o tempo da guerra dos judeus no certo a Jerusalém.
Todavia, em se tratando de pessoas próximas a Tiago e daqueles que o liam (é mais provável que seja isso, especialmente pelo o que o restante do texto afirma), Tiago parece ter tomado consciência de pessoas haviam feito os cristãos sofrerem. Estes cristãos haviam sofrido por causa de fraude e injustiça nas mãos de seus patrões, agora ricos. E a palavra de Tiago é para os ricos que, provavelmente, tomariam conhecimento destas palavras escritas.
1 Escutem, agora, ricos! Chorem e lamentem, por causa das desgraças que virão sobre vocês.
Estes deveriam chorar e lamentar porque desgraças viriam sobre eles. E isso por causa da forma como estavam vivendo. O texto deixa claro que Deus é juiz e que Ele possui um julgamento que virá sobre a humanidade e não deixará ninguém impune. Ele continua com as seguintes palavras.
2. O motivo pelo qual começamos a perder coisas nesta vida
2. O motivo pelo qual começamos a perder coisas nesta vida
2 As suas riquezas apodreceram, e as suas roupas foram comidas pelas traças.
3 O seu ouro e a sua prata estão enferrujados, e essa ferrugem será testemunha contra vocês e há de devorar, como fogo, o corpo de vocês. Nestes tempos do fim, vocês ajuntaram tesouros.
As consequências já se viam em suas roupas e fortunas. Tudo estava sendo devorado pelas traças, corroído pela ferrugem, destruído pelo Senhor. Isso nos mostra como nenhum tesouro sobre a terra está seguro, como tudo que se ajunta pode ser perdido, como tudo que se obtém pode ser levado, roubado, ou destruído. Jesus já havia alertado seus discípulos sobre um lugar mais seguro para se ajuntar tesouros:
20 mas ajuntem tesouros no céu, onde as traças e a ferrugem não corroem, e onde ladrões não escavam, nem roubam.
Voltando ao verso 3:
3 O seu ouro e a sua prata estão enferrujados, e essa ferrugem será testemunha contra vocês e há de devorar, como fogo, o corpo de vocês. Nestes tempos do fim, vocês ajuntaram tesouros.
Tudo está sendo destruído. A ferrugem é o símbolo da corrosão, da destruição, da perdição. E aquilo que destruirá suas posses também os destruirá. Quando Tiago diz sobre os "tempos do fim", ele também reconhecia - como o apóstolo Paulo - que já vivia nos tempos do fim. João também o cria.
18 Filhinhos, esta é a última hora. E, como vocês ouviram que o anticristo vem, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso sabemos que é a última hora.
O juízo de Deus é sempre mencionado vindo em forma de fogo, em forma daquilo que trará destruição.
14 Portanto, o Senhor, o Deus dos Exércitos, me disse: “Visto que eles proferiram tais palavras, eis que transformarei em fogo as minhas palavras na sua boca e farei deste povo a lenha; e o fogo os consumirá.
47 E, se um dos seus olhos leva você a tropeçar, arranque-o; pois é melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só do que, tendo os dois, ser lançado no inferno,
48 onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
Portanto, vemos que ser bem-sucedido não significa ser aplaudido por Deus.
O verso 4 dá início ao motivo pelo qual o sofrimento viria.
4 Eis que o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês e que foi retido com fraude está clamando; e o clamor dos que fizeram a colheita chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.
A fraude, enfim, é apresentada como a razão pela qual o juízo de Deus virá. Os patrões, homens agora ricos, estavam fraudando e enganando seus empregados. E estes empregados sabiam da fraude, do engano, e, sentindo-se impotentes, clamaram a Deus. Por isso, o Senhor diz neste verso que o "clamor dos que fizeram a colheita" chegou aos seus ouvidos.
Deus nunca deixa de ouvir as orações de seu povo. Deus sabe quando a injustiça acontece na terra. Deus, assim como o seu povo, reconhece as fraudes que homens poderosos imprimem sobre os que nada podem fazer. E, enquanto estes homens se regozijam como se nada os alcançará, o Senhor diz que sabe de tudo o que está acontecendo.
5 Vocês têm tido uma vida de luxo e de prazeres sobre a terra; têm engordado em dia de matança.
Deus vê o quanto estes homens ditos poderosos vivem em luxo e prazer. Porém, o Senhor diz que eles só vivem para engordar para o dia em que a matança acontecerá. Como animais, gado, ovelha, e outros, engordam para o dia do corte (da matança), estes ricos injustos, homens fraudulentos, estão totalmente inconscientes para o que os aguarda no final dos tempos.
O que está para acontecer é aquilo que foi mencionado por Isaías:
6 A espada do Senhor está cheia de sangue, engrossada da gordura e do sangue de cordeiros e de bodes, da gordura dos rins de carneiros. Porque o Senhor fará um sacrifício em Bozra e grande matança na terra de Edom.
O dia da matança, ou do sacrifício do Senhor, é anunciado a muito tempo também pelos profetas quanto pelos apóstolos do Novo Testamento. Foi este sentimento que o profeta Jeremias mencionou:
3 Mas tu, ó Senhor, me conheces; tu me vês e provas o que o meu coração sente em relação a ti. Arranca-os como ovelhas destinadas ao matadouro e separa-os para o dia da matança.
No verso 6, Tiago diz:
6 Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.
Aqui, muitos dizem que Tiago não somente mencione os pobres oprimidos por estes homens fraudulentos, mas talvez esteja falando do próprio Senhor Jesus Cristo, o Justo, que também foi condenado e morto, sacrificado, sem que oferecesse qualquer resistência, exatamente como este texto diz.
3. Paciência para aguardar o juízo de Deus
3. Paciência para aguardar o juízo de Deus
Agora, Tiago dá início à terceira parte desta porção de instrução, com o objetivo de trazer confiança ao coração das pessoas que se sentiam desencorajadas, para que fossem pacientes aguardando o que o Senhor faria diante de tanta injustiça.
7 Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
A ordem e conselho é para que sejam pacientes. Toda injustiça terá um fim. Toda maldade e fraude cometidas por homens maus serão julgadas um dia pelo Justo Juíz, por aquele cujos olhos estão atentos ao sofrimento do seu povo e, até mesmo, o sofrimento daqueles que não são dele, mas sofrem nas mãos destes homens.
Tiago confirma com os demais apóstolos a vinda do Senhor, a certeza de que Cristo voltará. Isso também deve trazer esperança e confiança ao coração dos que sofrem e são oprimidos. A volta de Cristo é a certeza de juízo e vingança contra os fraudulentos e opressores.
A exemplo do lavrador que pacientemente espera pelo fruto da terra, o povo oprimido deve esperar pelo juízo do céu. A comparação feita é com a chuva. Assim como o homem do campo planta e aguarda pela chuva do céu, o povo de Deus também deve aguardar o que virá da parte do Senhor sobre aqueles que têm feito mal. O Senhor não ignorará, muito menos se esquecerá de todo o mal praticado, e todo pecado não confessado. O justo juíz agirá conforme sua Lei e justiça, para a sua própria glória e para o bem e alegria de seu povo.
Creio que dois textos que devem estar no coração do povo de Deus são estes:
12 Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação e perseverem na oração.
30 Pois conhecemos aquele que disse: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei.” E outra vez: “O Senhor julgará o seu povo.”
Ele continua:
8 Sejam também vocês pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima.
Mais uma vez, Tiago os convida à paciência. E, agora, adiciona a força. O povo oprimido que passa pela fraude e pela injustiça dele ser um povo forte. Caso contrário, o desespero, a desesperança, destruirão suas vidas os levando a loucuras ou à própria morte. Devemos fortalecer nossos corações no Senhor, crendo que a vinda do nosso Senhor está bastante próxima.
9 Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que vocês não sejam julgados. Eis que o juiz está às portas.
Aqui vai uma exortação diante do desejo natural no coração de todos de se rebelarem e reclamarem. O povo de Deus deve olhar para toda fraude e maldade e nunca murmurar, mas sempre apresentar diante de Deus suas queixas, tomando cuidado para não serem como as pessoas sem Cristo, que não possuem nenhuma esperança no céu, e que diante das fraudes e injustiça, tudo o que fazem é viver para reclamar.
O povo de Deus deve agir de modo único, forte, esperançoso, e certo de que nenhuma fraude ou injustiça ficará sem punição. Nenhuma, em tempo nenhum. E por que eles devem ter esta certeza? Porque o "juiz está às portas", e quando este "entrar" na sala do julgamento, ninguém escapará às suas palavras e decretos.
O caminho, diante do sofrimento, não é ficar se queixando do outro. Isto, segundo Tiago, trará julgamento de Deus sobre nós também. Mais uma vez, Tiago lembra: "o juiz está às portas". Tenham paciência!
10 Irmãos, tomem como exemplo de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.
Tiago se lembra destes homens com o objetivo de introduzir seu último ponto neste assunto:
4. O porquê de que tudo acabará bem.
4. O porquê de que tudo acabará bem.
11 Eis que consideramos felizes os que foram perseverantes. Vocês ouviram a respeito da paciência de Jó e sabem como o Senhor fez com que tudo acabasse bem; porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão.
Eles deveriam se lembrar do sofrimento e paciência dos profetas e de todos que falaram em nome do Senhor. E, aqui no verso 11, ele menciona Jó, cuja paciência pela justiça de Deus fez com que ele viesse a desfrutar de recompensas ainda em vida.
Tiago diz que as pessoas realmente felizes, e que serão mais fortes enquanto passam pelos sofrimentos que as fraudes e injustiças apresentam, são aqueles que são perseverantes. Ser perseverante significa não esmorecer, não abandonar a fé ou a esperança em todas estas verdades apresentadas por Tiago até aqui. Eles deveriam perseverar na fé, na crença, na certeza de que Deus virá e executará justiça sobre o mal. Isso traria força e, até mesmo, doses de alegria e felicidade aos seus corações sofridos por causa da maldade dos homens.
Deus fará com que tudo acabe bem para conosco também, assim como tudo acabou bem com Jó. E qual é a razão de que tudo acabará bem? Qual o porquê de que tudo terminará bem? Tiago diz: "porque o Senhor é cheio de misericórdia e compaixão."
Conclusão
Conclusão
E quanto a nós? Será que acreditamos também que o Senhor está no controle de todas as coisas? Nós que também vivemos tempos de fraude, injustiças e maldades que reinam sobre nós? Será que esta mesma força e felicidade podem sustentar nossos corações como Tiago diz aqui em sua epístola?
É claro que sim. Não há dúvida de que o que o Senhor prometeu a eles serve também a nós, de que aquilo que o Senhor daria a eles ele dará também a nós, e de que a justiça que o Senhor disse que executaria sobre os homens maus daqueles dias ele também executará sobre os homens maus dos nossos dias.
Tudo o que devemos fazer é dar ouvidos ao que Sua Santa Palavra diz sobre Seu cuidado, sobre a certeza de Sua volta, e vivermos todos os dias como se fosse hoje. E nunca deixar de levar a ele em oração tudo o que nos entristece, tudo o que nos rasga o coração, toda a maldade que é feita contra nós ou contra o povo de forma em geral.
O Senhor vê dos céus e não deixará passar em branco o mal, assim como recompensará seu povo com a coroa da justiça, com a glória eterna, com o perdão e salvação, com a glorificação e exaltação naquele último dia, diante dos olhos daqueles que os oprimiram e fizeram todo mal contra eles. A glória do Senhor os envolverá e será a sua própria glória. Deus não deixará de responder nenhuma das orações feitas por seu povo.
Em breve Ele virá. Que possamos aguardá-lo de todo o nosso coração.