1Coríntios 7.1-9

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O apóstolo sintetiza o ideal da santidade a partir do uso correto dos dons concedidos por Cristo ao seu povo, especificamente o casamento e o celibato, também para a proteção e luta contra o pecado da impureza sexual.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Avançando em suas exortações, que até este ponto giraram em torno da necessidade identificada pelo apóstolo Paulo, de que a igreja de Corinto fosse corrigida em alguns aspectos de sua vida, principalmente com relação à comunhão (caps. 1 à 4), e a ética e moralidade cristãs que deveriam desenvolver (caps. 5 e 6), a partir do capítulo 7 o autor começa a responder as diversas dúvidas que a igreja possuía e lhe foram comunicadas pelos da casa de Cloe (cf. 1.11).
O presente capítulo destina-se a elucidação de questões relativas ao casamento, tomando como perspectiva fundante a noção de que os crentes devem viver de acordo com que o fora administrado pelo próprio Deus, conforme ele repete nos versículos 7, 17, 20, 24 e 25, isto é, tanto o casamento como o celibato devem ser vistos como dons concedidos por Deus, a serem usados adequadamente pelos cristãos, tendo em vista conformarem-se a vontade do SENHOR, lutando inclusive contra impureza (v.2), tendo em vista que, como demonstrado no capítulo anterior, tal pecado profanava o corpo dos eleitos, que fora transformado em "santuário do Espírito Santo" (cf 6.19).
O texto foi estruturado a fim de abarcar três tópicos específicos: em primeiro lugar, nos versículos de 1 à 9, o autor desenvolve o princípio que norteia a relação sexual no matrimônio, e como este redunda na proteção dos casados contra Satanás e o pecado (v.5). Nos versículos 10 à 16, o autor observa que o divórcio seria uma contrariedade à vontade do Senhor (e.g. "Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor..." cf. v. 10) exceto quando, estando o crente unido a um descrente, este deseja apartar-se (cf. v. 15 "Deus vos tem chamado à paz"). Entretanto, ligado a esse segundo tópico, um adendo é feito nos versículos 17 à 24, a fim de que, mediante a possibilidade de divórcio entre um crente e um descrente por vontade do segundo, o argumento não seja visto como que encorajando o crente à separação; pelo contrário, "cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado" (v.24).
Nos versículos de 25 ao 40 Paulo trata dos solteiros, aconselhando-os pessoalmente a manterem-se nessa condição, tendo em vista se concentrarem em servir ao SENHOR (cf. v.32 "Quem não é casado cuida das coisas do Senhor"), levando em consideração inclusive as dificuldades e angústias nesse mundo, tendo em vista que "o tempo se abrevia" (v.29). Esse trecho, por sua vez, divide-se em três subpontos: dos versículo 25 ao 31, o celibato é recomendado, embora não ordenado (v. 25), devido as tribulações da vida, como já dito; nos versículos 32 ao 35, ressalta-se a solteirice como oportunidade de melhor serviço ao SENHOR; por fim, uma ressalva é feita, nos versículos 36 ao 40, concordando com os primeiros parágrafos, em que é dito que aquele que deseja casar-se não peca.
Na presente análise, nos concentraremos na primeira seção do texto (vs. 1 ao 9), em que observamos uma estrutura na qual dois argumentos se complementam a fim de construir a resposta à igreja: dos versículo de 1 a 6, o apóstolo trata da relação sexual como compromisso conjugal e meio de proteção contra a impureza, do qual o casado não pode abster-se, seguido por uma recomendação (vs. 7-9) direcionada aos viúvos e demais solteiros, também tendo em vista à santificação.
Observando todas essas informações e tendo em vista a percepção de que 1 Coríntios 7 enfatiza as respostas do apóstolo Paulo quanto ao casamento (pt1), a síntese dos versículos de 1 a 9 consiste no princípio do usufruto da relação sexual no matrimônio como dom de Deus na santificação de seu povo.
Elucidação
Como salientado, o trecho em análise consiste de uma partição da argumentação em duas exortações (aos casados e aos solteiros), tendo em vista a relação sexual dentro do ambiente do casamento como proteção contra a imoralidade. Passaremos à consideração dessas exortações.
1. A relação sexual como ferramenta indispensável na proteção contra a impureza (vs.1-6).
Como introduzido, a expressão inicial "Quanto ao que me escrevestes" (v.1), enfatiza o caráter responsivo das palavras a seguir. Tendo em vista isso, o apóstolo incorpora uma linguagem ainda mais didática no presente texto-levando em conta o esforço elucidativo que empreendeu até este ponto da carta - a fim de que os princípios propostos sejam melhor absorvidos pela igreja. É importante levar em consideração a própria introdução da carta, em que, ao ter enfatizado a santificação da igreja (cf. 1.2 "aos santificados... chamados para ser santos"), tal tema sempre retorne à baila da prédica apostólica. Isso indica a constante intenção do autor em que aquela comunidade desenvolva-se na santificação nas mais diversas áreas de suas vidas, inclusive naquelas que serão citadas pelo mesmo no corpo da carta a partir daqui.
A pedagogia exortativa aparece no presente texto na forma de eufemismos e até omissões de termos que fazem referência a relação sexual, tencionando por meio disso demonstrar a importância de que o assunto não seja tratado levianamente, fazendo uma distinção entre o modo cristão na lida com tal tópico e o procedimento pagão, que ignora completamente a santidade e a vontade do Senhor na concessão de seus dons, no caso, o casamento ou o celibato.
Outro fator a ser destacado é o cuidado apostólico de que suas recomendações sejam entendidas a partir do sentimento que exprime em que os crentes dediquem-se ao serviço cristão da melhor e mais eficiente maneira possível, e uma dessas formas seria, segundo o autor, através do celibato, como ele declara no verso 1: "[...] é bom que o homem não toque (fig. ling. eufemismo) em mulher". Tal como será abordado posteriormente, isso não é uma norma divina, pois se assim fosse, haveria contradição entre o princípio normativo do casamento, ao qual o próprio apóstolo faz referência no capítulo anterior, declarando que a união física entre homem e mulher foi uma obra divina (cf. 6.16 ref. Gn 2.24: "Porque, como se diz, serão os dois uma só carne"), e o conceito de celibato, que agora adjetiva como "bom".
O que é pretendido por Paulo neste primeiro verso, é que os crente sejam conduzidos ao princípio do serviço integral ao Senhor Jesus - algo que vem trabalhando desde o princípio da carta -, que poderia ser potencializado se cada cristão se dedicasse a Deus exclusivamente. Entretanto, o apóstolo também entende que, na luta contra a impureza sexual, o casamento é uma arma poderosa, tendo sido anexado ao ambiente conjugal também essa funcionalidade. Assim um imperativo é direcionado no versículo 2: "[...] Por causa da impureza (gr. "πορνεία"), cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido".
Tanto a ideia de incompatibilidade entre a impureza e o crente (tema da seção anterior (cf. 6.12-20)), quanto o uso repetido do termo genitivo "ἑαυτοῦ) (trd. gr. "próprio", "si mesmo") ressaltam o caráter exclusivo da relação conjugal em contraste com a proposta mundana com a qual os crentes em corinto lidavam constantemente. É ordenado que, tendo em vista lutarem contra a promiscuidade sexual encorajada naquela cidade, os crentes casem-se e desfrutem da relação sexual dentro do ambiente monogâmico do casamento.
Novamente, retornando ao locus evangélico da carta, a gana de Paulo é fazer com que os crentes corintos percebam que o conceito de santidade deve ser expandido à todas as áreas da vida. Como salvo e santos, tendo sido chamados à essa condição através da obra de Cristo Jesus da parte de Deus, o Pai, o dever de viverem como povo separado ao SENHOR, perpassa por absolutamente todas as áreas da vida, incluindo a relação conjugal santa que devem ter, que os protegerá da tentação de ceder à prostituição e impureza.
Em face disso, nos versículos 3 ao 6, o apóstolo expõe o tipo de sentimento que auxiliará a igreja nesse processo de proteção contra a impureza: enxergar a relação sexual no casamento como dever. Paulo estabelece uma dinâmica de "débito" entre marido e mulher, a fim de que os cônjuges percebam sua primordial importância na caminhada espiritual do outro, tendo em vista resistirem ao pecado:
1Coríntios 7.3–4 ARA
O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.
Naturalmente, o sexo no casamento não é "objetificado", isto é, Paulo não mecaniza a relação sexual, ao ponto de fazer com que esta seja encarada como mero ato externo, desprovido de sentimento ou desejo. Não se tenciona com essa exortação transformar a relação conjugal em apenas um ato de satisfação de desejo. O argumento consiste na observação de que a privação da relação sexual não pode acontecer - como provavelmente já estava ocorrendo entre os casados naquela comunidade -, sem que não se sofra o dano da dificuldade no enfrentamento da inclinação do corpo à corrupção fortalecida pelo apelo cultural pecaminoso vigente no mundo. A noção de propriedade do cônjuge (v. 2) agora é explicada e expandida, a fim de que se retrate o quanto o Senhor Jesus Cristo foi bondoso em conceder um homem à mulher, e uma mulher a um homem, como dons seus para a santificação.
Tendo em vista isso, deve ficar claro ao marido e à mulher que, ao se casarem, ambos também assumiram como compromisso matrimonial, o princípio de servirem ao Senhor Jesus sendo entregues pelo próprio Redentor ao cônjuge como ferramenta do Espírito no processo de santificação, que lhes confirma o testemunho (cf. 1.6) da salvação, mediante a vitória contra o pecado e o mundo. Em vista disso, a linguagem didática mencionada anteriormente, aparece agora no termo "ὀφειλή" (gr. dívida (cf. v.3)) usado metaforicamente para referir-se à relação sexual. Tanto homem quanto mulher, precisam entender-se à luz desse ensino, colocando-se à disposição de seu cônjuge, a fim de que, pela satisfação sexual segundo a vontade de Deus, vejam-se livres de qualquer impureza proposta pela cultura pagã.
A única excessão a esse princípio apresentada por Paulo, na verdade é uma cláusula de possibilidade, da qual marido e mulher podem lançar mão para dedicarem-se aos exercícios espirituais da oração e jejum (este último aparece apenas em algumas variantes textuais) mais intensamente. Mas, essa iniciativa deve levar em consideração pelo menos duas ressalvas: 1) Isso deve ser feito, como citado, "por mútuo consentimento". A expressão grega traduzida por essa locução é "σύμφωνος" (trnsl. "símfônos") que dá origem a palavra latina/portuguesa "sinfonia". É preciso que ambos os cônjuges estejam realmente afinados e de fato concordem em proceder a abstenção da relação sexual, do contrário, isso não deve ser feito. 2) Que seja feito temporariamente, "para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (cf. v. 5).
Neste ponto, a intenção do autor se revela de maneira mais vívida. Todo o apelo desenvolvido ao longo do capítulo tem como objetivo primeiro, fazer com que os crentes usem os dons concedidos por Deus da maneira devida, para edificação da igreja de Cristo. Porém, jungido a isso, deve-se considerar o recurso divino dado pelo Senhor da igreja, como também direcionado para a luta contra o pecado, conforme tem sido demonstrado.
A "incontinência" (gr. "ἀκρασία") sugere descontrole, um desejo desenfreado acarretado pela abstinência daquilo que foi concedido por Deus para ser desfrutado satisfatoriamente. Se um homem compreende-se da forma como o apóstolo lhe está ensinando, verá que seu compromisso com Cristo é mais amplo, abrangendo inclusive seus deveres conjugais para com sua esposa, que ficará protegida da imoralidade, tendo em vista que está satisfeita no Senhor em seu marido, e vice-versa.
É necessário perceber também que em momento algum o apóstolo indica que tal abstenção define a relação sexual como pecaminosa. O benefício da abstinência seria a dedicação de tempo integral ao Senhor, como Paulo desejaria que todos o fizessem (como dito no versículo 1, e que declarará novamente no versículo 7), e não que a relação sexual traz algum malefício ao processo santificador iniciado pelo Espírito nos crentes. Diante disso, ele registra uma observação no versículo 6: "E isto vos digo como "concessão" (NTLH = sugestão) e não por mandamento", isto é, fica a critério do casal estabelecer se dedicar-se-á espiritualmente por algum tempo por meio da suspensão da relação sexual, ou não.
Ao desenvolver toda essa exortação aos casados, no que tange à proteção contra impureza, o apóstolo volta-se aos solteiros e viúvos, aplicando a mesma consideração a estes, a partir do versículo 7.
2. A solteirice ou celibato como melhor condição de serviço exclusivo ao Senhor, e o casamento como alternativa protetiva aos que não possuem tal dom (vs. 7-8).
Novamente, o autor faz referência ao seu desejo de "que todos os homens sejam tais como também eu sou" (v.7), o que indica aquele sentimento de serviço exclusivo a Deus retratado no início. Entretanto, o adendo feito de que "cada um tem de Deus o seu próprio dom", sintetiza o fato de que nem todos foram chamados pelo Senhor à uma mesma situação ou condição, no caso, celibatários, tal como o próprio apóstolo.
Respeitando a vontade divina, fazia-se necessário que os solteiros e viúvos se examinassem, a fim de aferirem se poderiam permanecer na condição em que estavam. Do contrário, vendo que possuíam o desejo de relacionar-se novamente, deveriam buscar guarida do pecado no matrimônio, de acordo com toda a exortação anterior.
De igual forma, assim como a relação sexual não é pecaminosa, se experienciada dentro do ambiente do casamento, a solteirice também não é nociva; pelo contrário, proporciona tempo ao indivíduo para dedicar-se ao Senhor Jesus, sendo útil na igreja. Mas, uma pessoa não deve insistir na abstenção do casamento, se não foi dotada com esse dom da parte de Deus; isso também seria uma má administração ou mal uso das concessões do Senhor para benefício de sua igreja, e como já enfatizado, o ponto central para onde o apóstolo deseja fazer convergir o coração da igreja, é a apropriação sábia e santa de todos os dons que Cristo tem concedido ao seu povo, visando inclusive (como é o tema central de grande parte das tratativas do apóstolo até esse ponto do texto) a santificação.
Assim, ele conclui essa seção do texto com o seguinte imperativo: "Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado" (v.9). O perigo de viver desejoso (abrasado; inflamado pelo desejo sexual), é a exposição do indivíduo à imoralidade como meio de suprir sua vontade, e por isso, o argumento do versículo 9 é direcionado, concluindo essa primeira parte do capítulo, quando o autor indica que se deve recorrer ao casamento como alternativa a ser escolhida, se viúvos e solteiros enquadram-se na situação descrita, isto é, se estão vivendo abrasados.
Transição
A santificação para a qual a igreja foi chamada, abarca todas as áreas da vida. É impossível deixar de fora algum aspecto de nossa existência, sem que com isso não nos tornemos vulneráveis tanto aos apelos corruptos da cultura mundana que nos cerca, quanto às inclinações depravadas de nosso coração pecador.
Porém, dons foram concedidos à igreja, com o objetivo de que o povo de Deus mantenha-se santo e progrida nessa trajetória. Alguns desses dons são o casamento e o celibato, e tal como o apóstolo demonstrou, ambos devem ser corretamente utilizados, e acima de tudo, usados intensamente, a fim de que seu propósito seja fruído.
Tendo em vista os princípios apresentados pelo texto de 1Coríntios 7.1-9, quanto ao usufruto da relação sexual no matrimônio como dom de Deus na santificação de seu povo, podemos sintetizar tal ensinamento, a partir das seguintes aplicações à vida da igreja contemporânea:
Aplicações
1.Deus concedeu dons ao seu povo que devem ser usados, com contentamento e gratidão, para a santificação, e alguns desses dons são o casamento e o celibato. Esse conceito também deve fazer parte da nossa visão quanto a eles.
Nós cristãos, enxergamos o casamento como uma instituição divina; como entidade refletora de seu relacionamento com seu povo etc. Todos esses conceitos e perspectivas estão corretos, mas, é mister que também percebamos o casamento e o celibato como dádivas do SENHOR para nossas vidas; dons que, mediante a obra redentiva de seu Filho, Jesus Cristo, também são usados pelo Espírito no processo de santificação que foi iniciado em nós a partir de nosso chamado à fé.
Os anos de convívio acabam enfraquecendo a ideia de que um presente nos foi concedido por Deus: nosso cônjuge. Vê-lo como ação providente do Senhor em nosso trajeto rumo à eternidade, fará com que nos apropriemos da condição na qual ele nos estabeleceu com mais satisfação e contentamento. Se casado, esteja, em Cristo, satisfeito com seu(sua) esposo(a), inclusive sexualmente, pois, ele lhe foi entregue para que você esteja protegido contra o pecado, e da mesma forma, disponibilize-se ao seu cônjuge com isso em mente. Se solteiro, também procure utilizar seu tempo da melhor maneira possível, contribuindo na edificação da igreja de Deus diretamente. Seu trabalho e estudos certamente glorificam ao Senhor, mas também Cristo deu a você algo que especial: uma agenda mais flexível que a dos casados, que deve incluir o serviço a Deus de maneira direta… e certamente há muito trabalho a ser feito.
Se assim pensarmos e vivermos, nosso Salvador será honrado de um modo mais abrangente, tal como abrangente é a graça dele na concessão desses dons à sua igreja.
2. Nossa santificação abrange mais áreas da nossa vida do que geralmente pensamos.
Ao pensarmos em santificação, lembramo-nos de diversos exercícios espirituais e meios de graça: oração, leitura da Escritura, culto, sacramentos etc. A relação sexual, por exemplo, é um tema que sempre fica esquecido; parece pertencer à uma área enevoada das nossas vidas, a qual damos muita importância, mas sempre de maneira privada.
1Coríntios 7.1-9 nos remete ao pensamento contrário. Paulo percebe que a obra iniciada pelo Espírito Santo nos crentes é ampla, porém, os crentes em Corinto, devido a forte sedução cultural, estavam se deixando manchar e corromper com a imoralidade, como visto no capítulo 6.12-20. Esta é somente uma das áreas que causavam dúvidas à igreja, para a qual Paulo direciona respostas que enriqueceram o entendimento daquela comunidade, assim como deve enriquecer o nosso entendimento.
Em Cristo, somos "a igreja de Deus… santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (cf. 1.2), e essa santidade não seleciona áreas da nossa vida onde atua, e outras que deixa descoberta.
Assim como esse tema foi usado por Paulo para direcionar os crentes em corinto com relação ao casamento, relação sexual e celibato, da mesma forma precisamos expandir nossas mentes para a realidade geral da santidade que o Senhor opera em nós, a fim de que progridamos continuamente no conhecimento de Deus.
Um exemplo disso é a relação sexual no matrimônio como proteção contra a imoralidade.
3. A relação sexual, no ambiente conjugal, protege-nos de pecar contra o Senhor, mediante imoralidade.
Um sábio pastor reformado, Douglas Wilson, tratando exatamente desse tema, exorta os cristãos com as seguintes palavras:
Vivemos em um mundo caído e, como consequência, os cristãos frequentemente lutam com tentações à luxúria, fornicação e adultério. A Bíblia não ensina que tais tentações irão embora facilmente através do misterioso processo de "confiar em Deus". […] Deus provê uma ajuda muito prática aos cristãos enquanto lutam com as tentações sexuais; essa ajuda se chama atividade sexual lícita. A fim de fornecer proteção satisfatória, as relações sexuais entre cônjuges piedosos devem ser consistentes e frequentes. É necessário que haja proteção constante [e qualitativa] (WILSON, 2013, p. 22).
A síntese do ensinamento de Paulo neste parágrafo de sua carta, sobre a santificação e resposta dos crentes ao chamado à santidade mediante a obra de Cristo, é a compreensão de que o cônjuge com quem nos casamos, nos foi concedido por Deus também para a satisfação sexual, que nos protege do apelo cultural e devasso de nosso tempo, da mesma forma como para isso fomos entregues por Cristo a nosso cônjuge.
Se negligenciarmos esse aspecto de nossa vida, negando-nos ou deixando de usufruir daquilo que o SENHOR nos tem dado, nos exporemos, e aos nossos cônjuges, ao pecado, o que significa que teremos direta responsabilidade no tropeço de nossas(os) esposas(os). A necessidade biológica sexual foi criada pelo Senhor para ser satisfeita, e o casamento, como ambiente onde isso deve ser feito.
Assim, esposos e esposas devem estabelecer frequência em sua vida sexual, com o objetivo (não unicamente este, mas abarcando-o) de que glorifiquemos a Deus no nosso corpo (cf. 6.20).
4. A solteirice é uma condição excepcional para o serviço ao SENHOR. Entretanto, àquele que não possui tal dom, e percebe que possui desejos sexuais, é ordenado que se case, a fim de que também mantenha-se puro no Senhor por meio do casamento.
Seguindo a lógica de que fomos chamados à santidade em toda nossa vida, viúvos e solteiros devem examinar-se, para que, vendo-se inclinado ao desejo sexual, não vivam numa constante luta interna, a qual não podem vencer, pois, ao ser sentido novamente (ou despertado, no caso do solteiro que nunca foi casado) o desejo sexual, constata-se o fato de que não se possui o dom do celibato, devendo então tal cristão, orar ao SENHOR a fim de que lhe seja concedida(o) um cônjuge.
Não subestime o pecado dentro de seu coração, achando que pode lutar contra a tentação. Tampouco exponha-se à impureza por não desejar contrair matrimônio, devido a complexidade da relação conjugal como um todo. Não considere indesejável o que Deus criou para o nosso bem; como dito antes, o casamento é tão dom quanto o celibato. "cada um tem de Deus o seu próprio dom (v.7), e o celibato não é seu caso, a única possibilidade é o casamento, que deve ser recebido com alegria, pois representa o cuidado divino para você.
Conclusão
O autor divino/humano referenda nesse texto a vontade do Senhor da Igreja, de que seu corpo seja mantido puro, através da pureza de nossos próprios corpos, e para isso, deu-nos dons: o casamento e o celibato, por meio dos quais seu nome é glorificado, e o pecado, vencido.
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