O anseio do cristão autêntico

REFLEXÃO

Fp 2.5-11 “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”

O texto fala de um sentimento que Cristo teve. Na verdade, a palavra sentimento aqui não expressa todo o significado do que Paulo quis dizer. A palavra que Paulo utilizou aqui (gr phrónēsis) significa uma mentalidade, uma forma de pensar que, por ser boa, útil, virtuosa, torna-se desejável e leva à prática. Ou seja, phrónēsis significa que eu penso que algo é bom, virtuoso, então eu passo a desejar e praticar aquilo. Sendo assim, Cristo não apenas sentiu. Quando o texto fala do sentimento que houve em Cristo, está dizendo de algo que Ele tinha consciência de que era bom, e por isso Ele desejou e praticou. Mas o que seria então a phrónēsis de Cristo, ou seja, o que seria isso que Cristo pensou, desejou e praticou por compreender que era bom?

A sequência do texto diz que ele se esvazia da deidade, e assume a forma de servo (duolos - escravo). A phrónēsis de Cristo foi tornar-se escravo. Cristo considerou como virtude, desejou e buscou o próprio esvaziamento e a condição de escravo de Deus.

E esse termo escravo é interessante, porque ele aparece 124 vezes no NT, entretanto traduzido erroneamente como “servo”. Talvez os tradutores da Bíblia evitaram usar o termo “escravo” pelo sentido negativo que esse termo apresenta em nossa cultura. Entretando, existe uma distância significativa entre servo e escravo. Servo é alguém contratado para determinado serviço, e está sob o comando do contratante apenas enquanto dura o contrato, e cujas demais esferas da vida fora daquele contrato estão sob o próprio domínio e autonomia, não sofrendo influência do contratante. Escravo por sua vez é alguém adquirido por um SENHOR, e este SENHOR detém todos os direitos sobre o escravo. O escravo é objeto de posse de outro, sua subsistência inteira, sua finalidade, sua vida está sob a vontade de seu dono. Escravo não tem liberdade, não tem autonomia nem direito algum. Um escravo é obrigado a obedecer a vontade do dono sem hesitar nem discutir. O dono falou, tá falado, não tem conversa.

Então, quando o NT refere-se a alguém como servo de Deus, na verdade a ideia ali é que aquela pessoa é um escravo de Deus! É alguém que compreende que não tem liberdade própria, não tem vontade própria, não tem direitos próprios, não pode garantir a própria existência, não pode escolher a própria finalidade, não pode questionar a vontade e os mandamentos do seu dono!

E o texto que lemos dia que a phrónēsis de Cristo, ou seja, o que Cristo compreendeu como bom e virtuoso, que ele desejou e buscou foi tornar-se escravo de Deus. Cristo como homem está dizendo: eu não tenho mais vontade própria, não tenho direitos, não tenho reivindicações, não escolho o que serei e o que farei, e não questionarei ao meu dono, meu Pai.

Alguém poderia aqui questionar se e o esvaziar-se não deve ser compreendido também como phrónēsis? Na verdade o esvaziamento era necessário porque Jesus não poderia ser escravo sendo Deus. Então ele se esvazia para poder tornar-se homem, e aí sim cumprir sua phrónēsis de servesccravo de Deus! Pastor, e o esvaziar-se não deve ser a nossa phrónēsis também? Irmãos, o ser humano já é vazio por natureza. Cristo se esvaziou da deidade porque Ele era Deus, então Ele tinha do que se esvaziar. Então a phrónēsis de Cristo aqui é tornar-se escravo.

Então, Paulo está sendo bem claro aqui quando diz que essa deve ser a nossa phrónēsis. Qual deve ser a minha mentalidade, o que eu devo ter convicção de que é bom, o que eu devo desejar e buscar? SER ESCRAVO DE DEUS! Um cristão autêntico é aquela pessoa que deseja ser escravo de Deus porque compreende que não há nada melhor nessa vida do que ser ESCRAVO DE DEUS!

“Mas irmão, se você deixar esse negócio de chamado de lado e se dedicar nessa ou naquela profissão você vai ganhar muito dinheiro!” Eu sei disso, mas eu SOU ESCRAVO DE DEUS e estou satisfeito com isso! Eu tenho possibilidade de chegar em muitos lugares, mas já abri mão de escolher onde eu quero chegar, EU SOU ESCRAVO DE DEUS, e o que Deus tem pra mim é que é bom, perfeito e agradável.

“Mulher deixa de ser besta, homem deixa de ser besta, esse negócio de família é coisa do passado, joga isso pra cima e vai ser feliz!” Eu sei que para muitos esse é o caminho mais fácil, mas eu já abri mão do meu direito de escolher, EU SOU ESCRAVO DE DEUS, e Deus tem um próposito para mim dentro da minha família! O melhor de Deus pra mim é a minha família!

“Mas jovem, esse negócio de namorar pra casar é coisa do século passado, ficar e se pegar não tem nada não!” Eu sei que o mundo quer ditar suas próprias leis, mas eu já abri mão disso, EU SOU UM ESCRAVO DE DEUS, e o que Deus tem pra mim é um relacionamento sério e com próposito de constituir família! O melhor de Deus pra mim é um relacionamento dentro da Palavra de Deus.

“Que nada, o errado na situação foi ele, foi ela, e se tá errado tem que sofrer mesmo, não perdoe não”! EU SOU ESCRAVO DE DEUS, e como escravo de Deus eu vou perdoar, porque isso é o melhor para mim!

EU SOU UM ESCRAVO DE DEUS! EU SOU UM ESCRAVO DE DEUS!