Somos Criaturas (3)

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Conexão
Estamos navegando pela série de pregações sob o título SER HUMANO, e refletindo sobre a nossa humanidade à luz das Escrituras Bíblicas Vimos que essa humanidade é uma condição comum a todos nós.
Mas que condição é essa? O que realmente nos faz humanos e nos liga uns aos outros?
Genesis 1:27 NVI
27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
A partir da narrativa da criação, no primeiro capítulo de gênesis, vimos que somos criaturas e que reconhecer essa condição é reconhecer uma aspecto importante de nossa humanidade. Então destacamos duas ideias principais muito importantes para nossa conversa sobre humanidade:
Nossa existência não é um acidente, mas um movimento criativo intencional da parte de Deus.
A assinatura de Deus está em nós. Fomos criado à imagem dele.
Esses são dois aspectos definidores para o significado de ser

Dignidade Resgatada

De diversas maneiras a condição humano tem sido negada a certos grupos de pessoas. Esse é um processo de desumanização, que considera o outro inferior e menos digno de respeito. Essa desumanização chegou a tal ponto, no decorrer da história, que muitos foram considerados seres sem alma, subumanos.
Os deficientes já foram considerados sem alma
As pessoas negras já foram consideradas sem alma
Os índios já foram considerados sem alma
Os bebês no útero suas mães, sem alma
Os criminosos, desalmados não merecem viver
Os idosos, como quem já não é mais gente
Para cada um desses grupos foram criadas explicações desumanizantes para justificar moralmente tratamentos subumanos.
Vimos que a dignidade humana precisa ser resgatada e isso começa com o reconhecimento de uma verdade simples e poderosa: todas as pessoas foram criados intencionalmente por Deus, à sua imagem e semelhança.
E ainda que essa imagem em nós esteja turva e corrompida ela é garantia dada por Deus quanto aos direitos que temos por causa de nossa condição humana. Esses direitos não podem ser suprimidos nem rebaixados. Não podemos aceitar essa supressão de direitos a nosso respeito, nem permitir que isso seja feito em relação a qualquer pessoa.

Pessoas com Deficiência

Domingo passado conversamos sobre as pessoas com deficiência e vimos que muitas culturas, em muitas épocas tem negado à elas os direitos básicos de serem humanos, como o direito à vida.
Vimos também que as Escrituras, na contramão de várias culturas, estão preocupadas em em proteger as pessoas com deficiência. No AT há leis voltadas para essa proteção. Essas leis vão além do direito básico à vida e orientam no sentido de oferecermos uma melhor qualidade de vida, reconhecendo nelas a imagem do Deus criador.
Nos EVANGELHOS, grande parte do ministério de Jesus está voltado exatamente para pessoas com deficiências, ao ponto de Ele apresentar a cura de cegos, mancos, leprosos e surdos como um sinal de que Reino de Deus havia chegado.
No restante do NT A igreja continuou dando sinais de que a salvação de Deus implica na restauração do ser humano em sua plenitude. Da mesma forma que acontecia com Jesus, cada corpo curado e cada alma restaurada era uma seta, apontando para plenitude da eternidade, quando seremos seres humanos plenos.

O que nos cabe hoje?

Respondendo à pergunta o que nos cabe fazer hoje sobre o resgate da dignidade humana das pessoas com deficiência, listamos três passos? (1) o primeiro é CONFESSAR que não temos nos importado tanto quanto deveríamos; (2) o segundo é MUDAR os óculos, isto é, permitir que as Escrituras mudem nossa forma de ver as coisas; (3) o terceiro é FAZER algo real, que torne a vida de uma pessoa com deficiência menos difícil.
Concluímos com um chamado para valorizar, preservar e lutar pela dignidade humana das pessoas com deficiência. Porque não importa se somos tortos, se nos falta um pedaço, se somos lentos, se não enxergamos, diante de Deus estamos inteiros. Somos inteiros. Seres humanos criados por ele a sua imagem e semelhança.

Pessoas Pobres

Outro grupo que tem tido sua dignidade humana violada com frequência são os pobres. Na verdade, a existência de pessoas incapazes de se sustentar de forma digna é um grito de denúncia contra um sistema, que pouco se importa com a dignidade humana.
Segundo a última pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, na Paraíba, cerca de 47% da população vive abaixo da linha da pobreza, isto é, sobrevive com menos de R$ 497,00 por mês. Durante os últimos dez anos esse percentual nunca esteve abaixo de 39%.
A pobreza é uma condição quase sempre imposta às pessoas por estruturas sociais e econômicas cruéis, que não se interessam em funcionar de maneira que as pessoas tenham seus direitos básicos como seres humanos preservados. Por trás dessas estruturas, pessoas que não reconhecem valor no ser humano; por trás dessas pessoas, forças espirituais que desejam arruinar o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.
A pobreza, isto é, a falta de condições para suprir as necessidades básicas da vida humana, é ao mesmo tempo consequência da não valorização da vida humana e causa da impossibilidade de ser viver com o mínimo de dignidade humana.
Quase ninguém decide ser pobre, mas, ainda que alguém decida, a pobreza jamais pode ser usada como justificativa para diminuir a dignidade humana.
Estamos aqui, em um bairro pobre da cidade de João Pessoa, que é um dos estado mais pobres do Brasil, portanto quero fazer algumas considerações iniciais sobre o assunto.
Desprezo x Acolhimento
Com frequência, principalmente nos centros de consumo, a pessoa pobre é tratada com desprezo, porque ela dispõe pouco recurso disponível para consumir. Por isso, ela muitas vezes é vista como alguém menos digno de respeito que aqueles que podem consumir mais. De certa maneira, ela se torna um ser humano de segunda categoria.
Mas a pessoa pobre não deve ser desprezada pela sua condição de pobreza, ao contrário, deve ser acolhida e ter seus sofrimentos amenizados. Veja o alerta de Jesus:
Matthew 25:34–36 NVI
34 “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. 35 Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; 36 necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.
Jesus explica que alguém ter parte no Reino de Deus está relacionado à forma ele trata as pessoas pobres e necessitadas. Isso não é sobre salvação pelas obras, mas sobre o reconhecimento de que a imagem de Deus está presente em todas as pessoas, inclusive nas pessoas pobres, que não tem o comer, o que beber, o que vestir ou como se abrigar, e que por isso é preciso fazer algo em favor delas.
Veja que o Senhor se identifica completamente com as pessoas pobres, ao ponto de afirmar que o amor praticado em prol delas é também amor por ele.
Por isso, quem segue a Jesus não deve desprezar as pessoas pobres, mas acolher e agir para amenizar sua condição de pobreza.
Humilhação x Honra
De uma forma geral, no sistema em que vivemos, as pessoas pobres não têm o direito de conviver no mesmo espaço que aqueles que dispõem de recursos, acabando muitas vezes em situações de humilhação.
Há praias restritas, ruas fechadas, áreas VIP, etc. Na verdade, pessoas pobres não têm o direito nem de entrar pela mesma porta (entrada de serviço, elevador de serviço), de comer a mesma comida (empregados de restaurantes), de sonhar os mesmos sonhos (sucesso dos filhos, presentes pra os netos, lazer.... vê se enxerga!). Assim, pouco a pouco, a humanidade lhes vai sendo negada.
Jesus, por outro lado, colocou as pessoas pobres em um lugar de honra; desesperançadas de tudo, são elas que ouvem em primeira mão a proclamação do evangelho, de que há uma esperança.
Em Nazaré, Jesus explicou assim o seu ministério:
Luke 4:16–19 VFL
16 Jesus foi para Nazaré, onde ele tinha crescido. No sábado foi à sinagoga, como era seu costume. Ali ele se levantou para ler as Escrituras, 17 e lhe deram o livro do profeta Isaías. Ele o abriu e achou o lugar onde estava escrito: 18 “O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me escolheu para proclamar as Boas Novas aos pobres e anunciar a liberdade aos presos. Ele me enviou para dar vista aos cegos, para libertar os que estão sendo maltratados e 19 para anunciar o ano em que o Senhor vai favorecer o seu povo”.
Por isso, quem segue a Jesus não deve humilhar as pessoas pobres, mas tratá-las com respeito e aprender a colocá-las no mesmo lugar de honra que Jesus as colocou, isto é, como alvo da proclamação do evangelho.
Dependência x Autonomia
Em nome do pensamento econômico que prega a responsabilidade individual, mas que no fim se torna uma espécie de “cada um por si e Deus por todos”, as pessoas pobres têm sido abandonadas à própria sorte.
Às vezes com poucas oportunidades na história de suas família para se desenvolverem, as pessoas pobres tornam-se reféns da máquina pública ou do sistema privado, perpetuando um ciclo de dependência, pobreza e perda da dignidade humana.
Mark 5:15 NVI
15 Quando se aproximaram de Jesus, viram ali o homem que fora possesso da legião de demônios, assentado, vestido e em perfeito juízo; e ficaram com medo.
Trago à memória essa história pra deixar claro que a ação de Jesus, que não também deve ser a nossa, na vida das pessoas é no sentido de socorrê-las em suas necessidades e em seguida promover sua autonomia como ser humano, e jamais de forjar dependência.
Jesus libertou aquele homem de suas cadeias, mas em seguida ele estava sentado, consciente de si e pronto para avançar pela vida vida. Ele até pediu para ir com Jesus, mas o Senhor disse que ele deveria ficar a anunciar o que Deus tinha feito na vida dele.
Da mesma forma, as pessoas pobres precisam ser libertas dos sistemas que as mantêm incapazes de se sustentarem por si mesmas e em seguida erguerem-se para fazer o mesmo com outras pessoas, estabelecendo um ciclo virtuoso de libertação e autonomia.
Leis no Antigo Testamento
Várias leis do Antigo Testamento tinha o propósito de preservar a dignidade humana, sobretudo quando a pessoa se encontrava em situação de pobreza ou ameaçada por ela.
Deuteronomy 15:1–5 NVI
1 “No final de cada sete anos as dívidas deverão ser canceladas. 2 Isso deverá ser feito da seguinte forma: todo credor cancelará o empréstimo que fez ao seu próximo. Nenhum israelita exigirá pagamento de seu próximo ou de seu parente, porque foi proclamado o tempo do Senhor para o cancelamento das dívidas. 3 Vocês poderão exigir pagamento do estrangeiro, mas terão que cancelar qualquer dívida de seus irmãos israelitas. 4 Assim, não deverá haver pobre algum no meio de vocês, pois na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes está dando como herança para que dela tomem posse, ele os abençoará ricamente, 5 contanto que obedeçam em tudo ao Senhor, o seu Deus, e ponham em prática toda esta lei que hoje lhes estou dando.
Não é o desejo do Senhor que nosso modo de viver a vida resulte na pobreza de alguns, enquanto outros enriquecem. É muito difícil falar e agir na direção da dignidade humana em um mundo que não tem interesse nela em relação aos outros, mas apenas cada um na sua própria dignidade.
O sistema apresentado na lei era simples, mas revolucionário. A cada 7 anos as dívidas era perdoadas e a cada 50 anos as propriedade retornam aos seus donos originais, conforme a divisão feita entre as tribos quando entraram na terra prometida.
Não é possível fazer isso dentro da nossa realidade, mas é possível extrair o princípio pelo qual Deus declara que a vida humana é mais importante do que as posses que por ventura venhamos a acumular.
Assim podemos nos planejar para ser mais generosos, para emprestar aquilo que também pode ser doado e para colocar tudo que nos pertence a serviço não apenas de nós mesmos, mas também da coletividade.
O ministério de Jesus
Jesus deu total atenção aos pobres em seu ministério. Ele os alimentou, os curou, falou em favor deles, questionou aqueles que os exploravam e anunciou a eles a boa notícia do amor de Deus. O Senhor resgatou e preservou a dignidade humana das pessoas pobres.
Matthew 11:4–5 NVI
4 Jesus respondeu: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: 5 os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres;
Os passos da igreja
A igreja seguiu os passos de Jesus. Em uma reunião da qual participaram Tiago, Pedro, João, Paulo e Barnabé. Um dos assuntos de destaque foi o resgate da dignidade dos pobres.
Galatians 2:9–10 NVI
9 Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos. 10 Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer.
Ninguém tinha necessidade
Essa preocupação com os pobre nasceu praticamente junto com a igreja. Logo nos primeiro dias eles já agiram no sentido de não deixar que ninguém passasse necessidade.
Acts 4:34–35 NVI
34 Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda 35 e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um.
Pobres entre o povo de Deus
Outro exemplo dessa atenção especial às pessoas pobres é a oferta levantada pelas igreja da macedônia e da Acaia. Depois de serem abençoados com o anúncio do evangelho, eles se sentiram responsáveis para aliviar os sofrimento das pessoas pobres de Jerusalém.
Romans 15:25–27 NVI
25 Agora, porém, estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos. 26 Pois a Macedônia e a Acaia tiveram a alegria de contribuir para os pobres dentre os santos de Jerusalém. 27 Tiveram prazer nisso, e de fato são devedores aos santos de Jerusalém. Pois, se os gentios participaram das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir aos judeus com seus bens materiais.
Nossas experiências
Temos vivido muitas experiências importantes aqui na Videira:
Ajudamos nossos irmãos que perderam renda na pandemia;
Ajudamos nossos irmãos que passaram por crises financeiras repentinas;
Ajudamos nossos irmão que precisavam de formação acadêmica para se recolocar no mercado de trabalho;
Temos ajudado nossos irmãos que eventualmente precisam de auxílio para o pão de cada dia;
Socorremos uma irmã que precisava de uma cama especial;
Ajudamos na reconstrução de uma casa queimada pelo fogo;
Isso de forma coletiva, mas certamente, individualmente cada uma tem feito também a sua parte.
Isso já é muito bom! Mas há muito mais que pode ser feito para que as pessoas pobres percebam em nós o amor de Cristo.

Anotações finais

Há muito mais sobre esse assunto a ser falado. Mas quem decidir conhecer o que dizem as Escritura sobre isso vai se deparar com um Deus que trabalha em prol de resgatar e manter a dignidade de sua criação, a começar pelos menos protegidos, pelos mais vulneráveis, pelas pessoas pobres que não tem como prover o mínimo para sua sobrevivência.
Devemos ouvir as leis do antigo testamento, olhar para o ministério de Jesus e também acompanhar os passos da igreja. Em cada um desses movimentos seremos alcançados pelo amor ativo de Deus pelas pessoas pobres.
E ao sermos alcançados por esse amor, seremos convidados a trabalhar com Ele no resgate da dignidade das pessoas à nossa volta, reconhecendo nelas a imagem e semelhança do nosso Deus, reconhecendo nelas o alvo do amor de Deus demonstrado na cruz do calvário com a morte de Cristo.
Ele nos criou humanos; conforme sua imagem e semelhança. Por isso ele trabalha para que sejamos tudo que Ele planejou para nós.
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