Fé e Esperença
As Três Grandes Virtudes Cristãs • Sermon • Submitted
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A FÉ É A CERTEZA DA ESPERANÇA
Na Bíblia, a definição mais fundamental da fé está em Hebreus: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho”. Observe a distinção que o autor de Hebreus faz entre fé e esperança. Estas ideias estão intimamente conectadas, mas, apesar disso, são distintas. De maneira semelhante, Paulo escreve em 1 Coríntios 13, sobre a grande tríade de virtudes cristãs: fé, esperança e amor. Esta passagem também revela que há uma distinção entre fé e esperança.
Antes de explorarmos a ligação entre estes conceitos, deixe-me falar sobre a ideia bíblica de esperança, porque, no Novo Testamento, a palavra esperança funciona de maneira diferente de como o faz nos países ocidentais hoje. Quando usamos a palavra esperança, estamos frequentemente nos referindo a um estado emocional de desejo, em nosso coração, a respeito do que gostaríamos que acontecesse no futuro, mas não estamos certos de que isso acontecerá. Podemos esperar que nossos times favoritos vençam campeonatos esportivos, mas essa esperança pode nunca se concretizar. Por exemplo, sou um fã constante do Pittsburgh Steelers e espero, regularmente, que os Steelers vençam as suas partidas de futebol americano. Isto pode ser uma esperança vã e fútil, porque é qualquer coisa, exceto uma certeza. Há um tipo de esperança que não nos envergonha.
Romanos 5:5 - Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.
Mas estou constantemente temeroso de que minhas esperanças quanto aos Steelers me deixem envergonhado, porque, embora vençam campeonatos, eles perdem partidas.
No entanto, quando a Bíblia fala de esperança, ela não se refere a um desejo por um resultado futuro que é incerto, e sim a um desejo por um resultado futuro que é totalmente certo. Baseados em nossa confiança nas promessas de Deus, podemos ter plena certeza quanto ao resultado. Quando Deus dá ao seu povo uma promessa sobre o futuro, e a igreja a toma para si, esta esperança é designada a “âncora da alma”:
Hebreus 6:18-19 - para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu,
Uma âncora é aquilo que dá a um navio proteção contra o flutuar sem rumo no mar. As promessas de Deus, quanto ao amanhã, são a âncora para os crentes, hoje.
Quando a Bíblia diz que “a fé é a certeza de coisas que se esperam”, ela está falando de algo que tem consistência ou importância – algo de valor extremo. A implicação é que a fé comunica a essência da esperança.
Hebreus 11:1
Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. (ARA)
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem. (ARC)
Num sentido real, a esperança é a fé aguardando. A palavra fé possui um forte elemento de confiança. Se a minha esperança se baseia em algo que Deus falou que acontecerá no futuro, a esperança que tenho, quanto à promessa futura, obtém sua substância de minha confiança naquele que fez a promessa. Posso ter esperança porque tenho fé em Deus. Se posso confiar na promessa de Deus quanto ao amanhã, há uma substância para a minha esperança; minha esperança não é apenas uma utopia, uma fantasia ou uma projeção de desejo que se baseia em sonhos inúteis. Pelo contrário, ela está baseada em algo que tem substância.
FÉ É A CONVICÇÃO DE FATOS QUE SE NÃO VEEM
A definição de fé continua, dizendo: “A fé é... a convicção de fatos que se não veem”. O autor usa uma referência a um dos sensos do corpo humano pelo qual ganhamos conhecimento, o senso da visão. Há uma expressão popular que diz: “Ver é crer”. De modo semelhante, pessoas do Missouri gostam de dizer: “Mostre-me”. Esta atitude não é oposta à fé bíblica, porque o Novo Testamento nos chama a colocar nossa confiança no evangelho não com base em algum salto irracional no escuro, e sim com base nas afirmações de testemunhas oculares, que relataram nas Escrituras o que elas viram.
Pense, por exemplo, no testemunho apostólico de Pedro: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pe 1.16). De modo semelhante, quando Lucas começa seu evangelho, ele se dirige a Teófilo nestes termos: “A mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito... uma exposição em ordem” (Lc 1.3). Ele está falando de coisas que substanciou com base no testemunho ocular de outros. Da mesma maneira, quando Paulo defende sua confiança na ressurreição de Cristo, em 1 Coríntios 15, ele apela para testemunhas que viram pessoalmente Cristo ressuscitado: Cefas, os doze, os quinhentos, Tiago e todos os apóstolos (vv. 5-7). Em seguida, ele escreve: “Afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo” (1 Co 15.8). Paulo está dizendo: “Creio na ressurreição porque muitas testemunhas oculares viram Cristo ressuscitado, e eu mesmo o vi”. Portanto, no Novo Testamento há uma ligação entre fé e ver, mas, apesar disso, o autor de Hebreus descreve a fé como a convicção de coisas não vistas. Talvez seja por isso que algumas pessoas argumentem que há uma base bíblica para considerarem a fé cega como virtuosa. Afinal de contas, se alguém não pode ver, dizemos que ele é cego; portanto, se a fé é a convicção do que não pode ser visto, isso tem de significar que a fé sobre a qual o autor está falando é a fé cega. Não posso pensar em algo que esteja mais longe do significado de Hebreus 11.1-2 do que a fé cega. Aqueles que promovem esse tipo de fé dizem: “Cremos no que cremos sem qualquer razão; a razão, aliás, é totalmente desnecessária”. A ideia é que existe alguma virtude em fecharmos os olhos, respirarmos profundamente e desejarmos, com toda a nossa força, que alguma coisa seja verdade – e, depois, dizermos: “É verdade”. Isto é credulidade e não fé. A Bíblia nunca afirma que devemos dar um salto no escuro. Na verdade, a exortação bíblica é que as pessoas saiam das trevas para a luz (cf. Jo 3.19). A fé não é cega, no sentido de ser arbitrária, excêntrica ou uma mera expressão de desejo humano. Se assim fosse, por que o autor de Hebreus diria que a fé é “a convicção de fatos que se não veem”? Quando a fé é ligada à esperança, ela é colocada na estrutura de tempo do futuro, e uma coisa que eu não posso ver de maneira alguma é o amanhã. Nenhum de nós já experimentou o amanhã. Como disse antes, espero que o Pittsburgh Steelers vença todas as suas partidas de futebol. Mas não posso saber de antemão se isso acontecerá ou não. No entanto, Hebreus diz que a fé é a convicção de coisas que não vemos. A ideia é esta: eu não sei o que o amanhã trará, mas sei que Deus sabe o que o amanhã trará. Portanto, se Deus promete que o amanhã trará algo, e se eu confio em Deus quanto ao amanhã, tenho fé em algo que ainda não vejo. Essa fé serve como convicção, porque seu objeto é Deus. Eu o conheço; ele tem uma reputação sublime – é infalível e nunca mente. Deus sabe tudo e é perfeito em tudo que comunica. Por isso, se Deus me diz que algo acontecerá amanhã, eu creio nisso, embora não o veja. Isto não é credulidade ou irracionalidade. Pelo contrário, é irracional não crer no que Deus afirma a respeito de algum acontecimento futuro. O que Deus afirma a respeito do futuro? Ele não somente nos revela os eventos de amanhã que ainda não vemos, mas também nos revela muito sobre a esfera sobrenatural que nossos olhos não podem penetrar. Não podemos ver os anjos neste tempo. Não podemos ver o céu. Mas Deus nos revela a realidade destas coisas, e, pela fé, vemos que elas têm substância, porque Deus é digno de confiança.
Sproul, R. C.. O Que é Fé? (Série Questões Cruciais Livro 8) . Editora Fiel. Edição do Kindle.