Um evangelho contaminado
A Identidade do Rei • Sermon • Submitted
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Introdução
Introdução
14 Ora, os discípulos se esqueceram de levar pão e, no barco, não tinham consigo senão um só. 15 Jesus os preveniu, dizendo:
— Fiquem atentos e tomem cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.
16 E eles começaram a discutir entre si, dizendo:
— Ele diz isso porque não temos pão.
17 Jesus percebeu isso e perguntou:
— Por que vocês estão discutindo sobre o fato de não terem pão? Vocês ainda não percebem nem compreendem? Têm o coração endurecido? 18 Tendo olhos, não veem? E, tendo ouvidos, não ouvem? Não se lembram 19 de quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram?
Eles responderam:
— Doze!
20 — E de quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram?
Responderam:
— Sete!
21 Ao que Jesus lhes disse:
— Vocês ainda não compreendem?
Quantas vezes vocês precisam ouvir e ver algo para aprender uma difícil lição? Pelo que lemos agora, percebemos que os discípulos eram aprendizes lentos, mais uma vez vemos uma situação de incredulidade...
Os fariseus não eram os únicos que não entendiam, que tinham corações endurecidos e não viam nem ouviam espiritualmente. No entanto, ao contrário dos fariseus incrédulos que estavam indo na direção errada, os discípulos estavam progredindo, embora fossem lentos. Eles ainda tinham um longo caminho a percorrer, como os versículos 14-21 e também 32-34 tão claramente testificam.
Eles entraram no barco com apenas “um pão”. É incrível que havia sobrado sete cestas grandes um pouco antes de entrarem no barco (como vimos na semana passada), mas um pão foi tudo que eles conseguiram levar. Eles começaram a discutir aquela situação, talvez até culpando um ao outro. Eles não conseguiram ver a ironia da situação e esqueceram quem estava no barco e o que Ele poderia fazer! Jesus usou o recurso visual disponível para ensiná-los. Ele os advertiu: “Cuidado! Cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. Uma pequena quantidade de fermento permeia todo um lote de massa do pão. O fermento da incredulidade tomou conta dos corações dos fariseus e de Herodes e tomou conta de suas vidas inteiras. Atenção! Não deixe que a incredulidade o derrube e o afaste da verdade divina que você vê e ouve em Mim.
Eles não entendem e começam a falar sobre comer apenas um pão, enquanto Jesus estava falando de assuntos espirituais, mas suas mentes estavam presas naquilo que é mundano.
Então, Jesus intervém com uma série de perguntas:
1. “Por que vocês estão discutindo que não têm pão?” Uh . . . (v. 17).
2. ”Você não entende ou compreende?" Infelizmente, não (v. 17).
3. “Seu coração está endurecido?” Infelizmente, sim (v. 17).
4. “Você tem olhos e não vê?” Infelizmente, sim (v. 18).
5. “Tens ouvidos e não ouves?” Infelizmente, sim (v. 18).
6. “Você não se lembra?” Aparentemente não (v. 18).
7. “Quando parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de pães vocês juntaram?” Uh, doze (v. 19).
8. “Quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de pães vocês juntaram?” Uh, sete (v. 20).
9. “Você ainda não entendeu?” Novamente, aparentemente não (v. 21)!
Essas perguntas não eram para envergonhar os discípulos, mas para instruir. Com certeza, eles eram aprendizes lentos, mas nós também somos, não se iluda. Quão hesitantes estamos, por exemplo, em abraçar a verdade de Lucas 1:37 (“Porque nada é impossível para Deus.”), de Filipenses 4:12-13
12 Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade. 13 Tudo posso naquele que me fortalece.
, e de Filipenses 4:19 .
19 E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, tudo aquilo de que vocês precisam.
Como os 12 apóstolos, muitas vezes vemos as grandes obras de nosso Senhor em nossas vidas, mas ainda não conseguimos entendê-lo e confiar totalmente Nele.
Mas o que Jesus estava querendo dizer a respeito do fermento dos fariseus e de Herodes? O fermento é usado como ilustração para algo que tenha o poder de penetração e contaminação e a partir disso mudar características de algo.
No contexto judaico, o fermento simbolizava o mal, tanto que na páscoa dos judeus, todo o fermento da casa deveria ser retirado. Por isso vemos passagens onde a bíblia usa o fermento como ilustração para falsas doutrinas (Gálatas 5.1-9), a inflitração do pecado na igreja (1Coríntios 5.7) e para a hipocrisia (Lucas 12.1). William Hendriksen diz que o fermento e o ensino se assemelham em vários aspectos: ambos operam de modo invisível; são muito poderosos; têm uma tendência natural de aumentar sua esfera de influência.
Então sobre qual tipo de mal Jesus está se referindo?
O fermento dos fariseus: O legalismo
O fermento dos fariseus: O legalismo
Jesus, sem dúvida, ainda estava pensando na incredulidade dura dos fariseus, que tinham pedido um sinal dos céus como se nenhum sinal tivesse sido dado. Mas o que provocou esse pedido insultante?
Resposta: o contraste entre o ensino de Jesus e o dos fariseus: sua ênfase na lei de Deus, que nos leva a uma na genuína adoração a Deus, em contraste com a ênfase deles na tradição e na sua própria justiça.
O tradicionalismo dos fariseus era um elemento para a incredulidade, uma vez que eles depositavam na própria capacidade em seguir a tradição como o caminha para receberem o favor de Deus.
Observe, a tradição em si não é ruim, porém ela se torna trágica quando é elevada ao mesmo patamar de autoridade que da Palavra ou pior, quando ela se torna superior.
O legalismo do fariseu também está ligado ao sentimento de justiça própria. Quando eu acredito no meu desempenho moral ou religioso para a minha própria salvação.
O legalismo é, por definição, uma tentativa de acrescentar algo à obra completa de Cristo. É confiar em outra coisa senão em Cristo e em sua obra completa e permanente diante de Deus. A maioria dos oponentes do nosso Salvador eram aqueles que acreditavam que eles eram justos em si e por si mesmos, com base em seu zelo e compromisso com a lei de Deus. Os legalistas até faziam apelos ocasionais à graça, mas ao mesmo tempo se autojustificavam, truncavam e distorciam o significado bíblico da graça (anacronismo). O apóstolo Paulo resumiu a natureza do legalismo judaico quando escreveu: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10. 3,4).
Precisamos compreender a relação entre a lei e graça para nossa justificação, isto é fundamental para nos livrarmos do efeito mortal do legalismo. As Escrituras ensinam que somos justificados pelas obras do Salvador, não pelas nossas. O último Adão veio para fazer tudo o que o primeiro Adão deixou de fazer (Rm 5. 12-21; 1Co 15. 47-49). Cristo veio para ser nosso representante a fim de cumprir as exigências legais da aliança de Deus, e prestar a Deus obediência perfeita, pessoal e contínua em nome de seu povo. Jesus mereceu perfeita justiça para todos aqueles que o Pai lhe havia dado. Nós, através da união de fé com Ele, recebemos um status de justiça em virtude da justiça de Cristo imputada a nós. Em Cristo, Deus provê o que ele próprio exige. As boas obras pelas quais Deus redimiu os crentes, para que pudéssemos caminhar nelas, de modo algum contribuem para nossa justificação. Elas são apenas a evidência de que Deus nos perdoou e nos aceitou em Cristo.
Aqueles que abraçaram o legalismo proíbem o que Deus não proibiu e ordenam o que Ele não ordenou. Eles impõem a si mesmos e aos outros um padrão de santidade externa, ao qual Deus não estabeleceu em Sua Palavra. Essa é uma das formas mais predominantes e perniciosas de legalismo na igreja hoje. Muitas vezes vem na forma de proibições contra comer certos alimentos, tipos de vestimentas, corte de cabelo, uso de barba, maquiagem, etc... Às vezes, insinua-se também através de convicções pessoais sobre paternidade e educação, por exemplo.
Mas Jesus cita um outro tipo de fermento...
O fermento de Herodes: O secularismo
O fermento de Herodes: O secularismo
Quem foi Herodes mencionado aqui por Marcos? Herodes Antipas, o mesmo que decaptou João Batista após um esquema criado por sua "esposa" que havia deixado o seu próprio irmão para ficar com ele. Antes de decaptá-lo, Herodes prende João Batista por confrontá-lo em seu pecado.
Herodes simboliza alguém que abraçou para sua vida e uma visão de mundo, através sistema de valores que exclui totalmente Deus.
Em nosso tempo as pessoas têm vivido para o mundo e seguindo os padrões do mundo. Essa maneira de viver, essa visão de mundo, recebe o nome de secularismo. O secularismo é uma cosmovisão e um estilo de vida que se inclina para o profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que o sobrenatural.
Temos visto o colapso de estruturas tradicionais, principalmente a família e a igreja. A ciência tem influenciado cada vez mais o pensamento contemporâneo, causando também uma busca desenfreada por aquilo que a tecnologia oferece ao homem. Valores morais têm sido substituídos por desejos imorais, que cada vez mais são vistos pela sociedade em geral como coisas “naturais”.
Essa inclinação para o profano, em vez do sagrado, tem contaminado a igreja de um modo cada vez mais abrangente, enfraquecendo aquela que deve transmitir a mensagem da verdade. A própria verdade, de acordo com a cosmovisão secular, é relativa. O baluarte da verdade (1Tm 3.15) tem sido mortalmente afetado pela corrosão de um modo de vida e cosmovisão distantes de Deus. Vivemos “tempos difíceis” (2Tm 3.1). Por isso eu gostaria de dar algumas características do secularismo:
O pragmatismo - O que importa é o que funciona (o fim sempre justifica os meios). O pragmatismo ensina que pensamentos, ideias e ações só têm valor em termos de consequências práticas. Assim, não há qualquer conjunto fixo teórico de valores.
A igreja cristã tem sido grandemente influenciada pelos conceitos pragmáticos do secularismo. Se algo “funciona”, então é verdadeiro também para a igreja. Se a igreja enche, não importa que meios estejam sendo usados para isso, pois se está dando certo, então, é a vontade de Deus (não julgue, pelo menos eles esttão fazendo alguma coisa).
O Hedonismo - Hedonismo é uma filosofia de vida que tem na busca do prazer o seu objetivo mais elevado e considera sua satisfação o fundamento da conduta moral. O hedonismo se manifesta o tempo todo na sociedade contemporânea. Por exemplo, o consumismo que leva multidões aos centros de compras muito mais pelo prazer de possuir coisas do que pela necessidade; o crescimento exponencial do mercado de entretenimento que gera satisfação pessoal; a crescente valorização das experiências sensoriais que resultam em um estado de bem-estar, seja físico ou psicológico; o abandono dos padrões tradicionais de expressão da sexualidade e a sua substituição por uma liberalidade que desconhece limites; o predomínio cada vez mais acentuado dos interesses individuais (egoístas) em detrimento do bem-estar coletivo.
Embora possa parecer imperceptível para muitos, é possível ver a influência da filosofia hedonista na igreja nas últimas décadas. Sua forma mais ruidosa provavelmente seja a chamada teologia da prosperidade (financeira ou a teologia da prosperidaade 2.0 que promete o sucesso). Seus pregadores prometem uma espécie de “céu na terra, aqui e agora”, seja através da riqueza, do sucesso ou de uma felicidade a partir de realizações passageiras.
Materialismo - O que isso significa? Mamón na bíblia é como se descreve a devoção ao dinheiro nas mais diferentes formas, como sucesso e fama também. Infelizmente esse desejo tem feito parte da vida de muitos cristãos. Eles têm sido contaminados pelo desejo de possuir, de ter, de comprar. Onde ser bem sucedido profissionalmente é o propósito principal da sua existência, e qualquer coisa pode ser sacrificado para atingir esse objetivo. O Senhor Deus fica em segundo plano na vida de muitos, que têm seus olhos voltados constantemente para Mamon. Jesus fez uma severa advertência quanto a isso: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). No texto grego, “riquezas” é uma tradução do nome “Mamon” que era considerado o deus das riquezas. Mamon é, sem sombra de dúvida, é um grande "deus rival" do Deus verdadeiro.
A mídia com única regra de fé e prática - Esse comportamento secular massificado também tem atingido enormemente a igreja. Os cristãos, assim como os não cristãos, perderam a capacidade ler, interpretar e criticar, passando apenas a assimilar o que veem na internet ou na televisão, quase sempre, coisas muito superficiais. Com essa embriaguez causada pela mídia, as mentes ficam saturadas de lixo. Influenciados por esse modo de viver mundano, muitos crentes deixaram de lado a leitura da Palavra de Deus e a meditação diária que deveriam fazer nela. Grande parte dos crentes da atualidade tem abandonado as riquezas e o doçura da Palavra de Deus, trocando por fontes vazias como fez o povo de Israel:
11 Houve alguma nação
que trocasse os seus deuses,
mesmo que não fossem
deuses de verdade?
Mas o meu povo trocou a sua Glória
por aquilo que não tem proveito algum.
12 Fiquem espantados com isto, ó céus!
Fiquem horrorizados
e cheios de espanto”, diz o Senhor.
13 “Porque o meu povo cometeu dois males:
abandonaram a mim,
a fonte de água viva,
e cavaram cisternas, cisternas rachadas,
que não retêm as águas.”
A regra de fé e prática do povo de Deus deve ser a Palavra de Deus e não as mensagens seculares e mentirosas de nosso mundo pós-moderno. A Bíblia é sempre lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl 119.105). Temos de nos alimentar dela para que nossa cosmovisão possa ser a de quem enxerga o mundo com a mente de Cristo (1Co 2.16).
Conclusão
Conclusão
Por isso, gostaria de caminhar para a conclusão dizendo que diante de todas essas ameaças, Jesus diz: "-Tenham cuidado!" e "-Estejam alerta!". Em ambos imperativos, no original estão em um tempo verbal que indica caráter durativo. Ou seja, Jesus está dizendo: Estejam sempre alerta e tenham cuidado sempre!
Os Doze precisavam dessa advertência. Mesmo que andassem diariamente com Jesus, estavam sempre em grande perigo de serem seduzidos pelos ensinos daqueles que se opunham a ele. Os discípulos tinham uma boa memória para guardar os fatos, mas um pobre entendimento para discerni-los. Eles foram lentos para discernir o milagre dos pães e a lição principal que o milagre encerrava, ou seja, revelar Jesus, aquele por meio de quem o reino de Deus chegou para judeus e gentios.
Os discípulos, por essa razão, não conseguiram alcançar o teor da advertência de Cristo. Eles estavam pensando em provisão alimentar e Jesus os estava alertando sobre o fermento do legalismo e do secularismo.
Dois mil anos se passaram, mas o coração do homem é o mesmo. As multidões ainda continuam famintas e os nossos recursos insuficientes para suprir a todos. Mas quando colocamos o que temos nas mãos de Jesus, o milagre da multiplicação acontece. Devemos sentir pelos homens a mesma compaixão que Jesus demonstrou. E eu não estou falando só de pão, pelo contrário, a maior miséria que o mundo enfrenta não é material, é uma miséria que alcança ricos e pobres, homens e mulheres, adultos e crianças! E para essa miséria só existe um alimento, Jesus o pão da vida.