Reflexões em EC 9.1-9

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texto: Eclesartes 9.1-12

Introdução: Nos versículos iniciais do capítulo 9, nós o vemos afirmar a sua fé na soberania de Deus e então lutar com algumas das implicações práticas dessa doutrina.
Philip Graham Ryken, Estudos Bíblicos Expositivos em Eclesiastes, trans. Markus Hediger, 1a edição. (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017), 227.
I. Alegria em meio ao sofrimento (9.1–6)
Apesar de tudo o que foi dito para explicar e justificar os caminhos de Deus para os mortais, ainda há mistérios na providência divina. Ninguém pode dizer se uma pessoa é alvo do amor ou da ira de Deus só pela maneira como ele a tratou (9.1). Coélet, o Mestre, advertiu, em 6.1–6, que a prosperidade não é sempre ou necessariamente algo bom e, em 7.1–15, disse que a adversidade e a aflição não são necessariamente más. Nem sempre podemos descobrir, a partir da “totalidade daquilo que está diante [de nós]” (9.1), se Deus nos aprova ou nos reprova; as coisas não são sempre o que nos parecem ser ou aquilo que nossos amigos entendem que são. Afinal, os três amigos de Jó levaram em conta o simples fato do seu sofrimento e concluíram incorretamente que ele devia ter pecado gravemente; caso contrário, não estaria sofrendo daquela maneira. Também não devemos concluir que Deus odeia aqueles a quem envia adversidades e ama aqueles que recebem prosperidade. Uma vez que os crentes devem andar pela fé, haverá ocasiões em que as aparências externas e os fatos serão difíceis de explicar no momento. É cruel aumentar o sofrimento de pessoas oprimidas sugerindo que elas definitivamente são alvo do juízo de Deus. Este raciocínio limitado sugere que todo sofrimento resulta de pecados pessoais, mas isso não é bíblico. Certamente, alguns sofrimentos são (1) educativos (como Eliú, inspirado por Deus, disse a Jó em Jó 34.32; 35.11; 36.10,15,22); outros são (2) doxológicos, isto é, para a glória de Deus (como Jesus a seus discípulos mostrou a dedução apropriada a ser tirada do episódio do cego de nascença, em João 9.1–3); (3) probatórios (como quando Habacuque contemplou de sua torre de vigia um mundo de tirania, violência e pecado, e encontrou a resposta na espera paciente pela efetivação da longânima retribuição de Deus); (4) revelatórios (como quando o profeta Oseias entendeu o abandono que Deus sentia pelo adultério espiritual de Israel, quando ele próprio, Oseias, perdeu sua esposa para a prostituição física); e alguns sofrimentos são (5) sacrificiais (como o Servo Sofredor, que suportou grande dor por causa do pecado de outros [Is 42; 49–50; 53]). Portanto, é muito impróprio quando as pessoas fazem uma ligação precipitada de correspondência entre culpa pessoal e sofrimento.
Se alguém disser que essa associação entre sofrimento e culpa pessoal é testemunhada com frequência, quando a Bíblia se dirige a nações e instituições como grupos de crentes, concordamos. Mas as igrejas locais não parecem ter nenhuma existência continuada na vida do porvir como igrejas locais; por essa razão, o julgamento delas deve se dar na justiça divina aqui e agora. Entretanto, os indivíduos comparecerão pessoalmente diante de Deus naquele dia vindouro.
Voltando ao texto de Eclesiastes, o mistério diante de nós, em 9.2–6, é o mais desconcertante de todos os enigmas da vida: como Deus pôde permitir a presença do pecado e da morte em seu mundo bom, que é governado por seu plano bom?
Ora, Salomão não está levantando uma acusação contra Deus ao classificar como “mal” aquilo que sobrevém a homens bons e maus (9.3). Seu uso desse termo “mau”, como sua avaliação, é estritamente do ponto de vista humano e se baseia em aparências. Por enquanto, Salomão deixa intencionalmente de lado toda consideração a partir do ponto de vista de Deus e dos fatos da revelação. Nesse caso, até onde o homem pode ver, o mesmo “evento” ou “destino” acontece a todos.
A palavra traduzida por “sorte” ou “fortuna” (9.2,3) em algumas versões da Bíblia deveria ser traduzida por “evento” ou “acontecimento”: “o mesmo evento acontece a todos”. Salomão se refere apenas àquilo com que os homens “se deparam” no final da vida: um “evento”, “acontecimento” ou “desfecho” (Heb. miqreh). Não há nenhuma sugestão nesse termo de algo do poder do fatalismo ou do acaso, como se vê no paganismo.
A ausência momentânea de qualquer distinção entre os justos e os ímpios no que diz respeito a todos terem de morrer é um grande mistério. Por que será que blasfemadores profanos e homens ímpios e descrentes, que não oferecem sacrifícios nem praticam o bem (9.2), deveriam receber o mesmo tratamento que aqueles que merecem algo melhor? É difícil entender: os ímpios participam do “mesmo evento” que os bons. Os ímpios, cujo coração está cheio de maldade e de toda loucura imaginável, enquanto estão vivos, juntam-se aos justos, sua contraparte, na medida em que todos vão para a sepultura.
O versículo 4 salienta o ponto inevitável para pessoas práticas: onde há vida, há esperança. A tradução real desse versículo não é tão simples quanto seu sentido. O hebraico e várias versões antigas dizem: “O que então se deve escolher? Com todos os vivos há esperança.” Há, no entanto, uma tradição hebraica de leitura (denominada Qere, o que deve ser “lido”) desse texto que supõe que duas letras devem ser transpostas do Kethib (o que está “escrito”) – mudando do verbo “escolher” (yebuchar) para o verbo “ligar” (yechubbar), – e assim o versículo ficaria: “Para todo aquele que está ligado a todos os vivos, ele tem esperança”. Ambas as traduções são possíveis e o sentido não é significativamente diferente, nos dois casos. (A maior parte dos comentaristas e das versões tem ligeira preferência pela segunda tradução). O ponto de Salomão é claro: enquanto os homens ainda estão vivos, há esperança – esperança de preparação para encontrar-se com Deus, esperança de viver significativamente, esperança de fazer algo para a glória de Deus antes que todos os homens compareçam pessoalmente diante dele, como adverte 12.14, quando as pessoas terão de prestar contas pormenorizadamente de sua vida, a fim de se determinar se esta foi vivida de maneira agradável a Deus.
O provérbio do versículo 4b, também encontrado no árabe, reforça a importância da vida. Embora o “cão” fosse uma criatura tão vulgar e desprezível (do ponto de vista da mentalidade do antigo Oriente Médio, os cães se alimentavam de carniça no lixo abandonado da cidade), ainda assim era muito melhor ser um cão vivo do que um “leão” poderoso, majestoso e exaltado – porém morto. Vida! Esse é o item precioso!
A escuridão parece ficar ainda mais densa quando chegamos aos versículos 5–6. Será que esses versículos constituem uma negação explícita de qualquer esperança de vida além-túmulo? Será que a opinião estabelecida de Coélet é que, ao morrer, a pessoa deixa de existir – não sabendo de coisa nenhuma, e ficando incapaz de tudo, inclusive amar, odiar, invejar e herdar?
Pelo contrário, a referência a todas essas coisas é limitada estritamente a coisas que são desfrutadas “debaixo do sol” e deste lado da imortalidade. Coélet não nega que os homens podem receber uma herança na vida futura, como tantos comentaristas são rápidos em afirmar. Seu ponto é extremamente importante, e é o mesmo que se encontra no Evangelho de João: “façamos as obras… enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (João 9.4b). É a consciência de que os homens em breve morrerão e não poderão mais se relacionar com as necessidades e alegrias desta vida que força o notável contraste dos versículos 5–6. O conhecimento nesta vida, as recompensas desta vida e as oportunidades de servir constituem sérios desafios quando vistos da perspectiva de nossa morte iminente. Se os homens escolherem viver como se não houvesse amanhã na eternidade e permitirem que suas paixões e desejos os dominem, terão agido como verdadeiros tolos. Portanto, embora a morte ainda seja um enigma, os homens não devem ter a pretensão de viver como se “passassem apenas uma vez por este mundo” (tomando emprestada a infeliz filosofia de uma propaganda da Avenida Madison*). Que triste será ter perdido todas as oportunidades de participar da execução de uma obra significativa para a glória de Deus!
II. Portanto, desfrutai o trabalho (vs.7-10)
O que se deve então fazer (9.7–9)? Os justos sabem: devem se alegrar e desfrutar da vida. Esta é uma das assim chamadas passagens carpe diem, i.e., “aproveite o dia” (as outras são: 2:24–26; 3.12–13,22; 5.18–20 e 8.15), pois “este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Salmo 118.24). Em vez de deixar que a tristeza nos consuma a vida, Salomão recomenda insistentemente que nenhum mistério sem explicação em nossa vida deve nos impedir de desfrutá-la. Aqueles que temem a Deus, consideram a vida um presente de Deus e recebem seu plano e capacitação para desfrutá-la devem resistir à tendência de preocupar-se e deprimir-se.
Assim, o versículo 7 começa com um convite: “Venha”; “levante-se e mexa-se”. São dados cinco conselhos, especificando o que devemos fazer: (1) coma o seu pão, (2) beba o seu vinho, (3) vista as suas roupas alvas, (4) lave a cabeça com o óleo mais luxuoso e (5) goze do conforto do lar e do amor de sua esposa (9.7–9). A razão para essas ações é logo apresentada: “pois já Deus se agrada das tuas obras” (9.7, ARC) Os justos não têm de se preocupar sobre se Deus é ou não indiferente para com eles e suas vidas. Ele não é; eles são os objetos especiais de seus dons e sua aceitação.
III. Trabalhe enquanto é dia (9.10–12)
O tempo de trabalhar para Deus é enquanto ainda estivermos deste lado do túmulo, pois quando a morte chegar, o dia oportuno terá passado. As palavras do versículo 10 fazem lembrar Colossenses 3.23: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens”. Os homens não devem abdicar de um envolvimento total, diligente e dedicado no privilégio do trabalho. Eles podem pensar que a presença do mal e a morte iminente são obstáculos enormes à aceitação de que Deus tem um bom plano para totalidade da vida, e assim podem recusar fazer qualquer coisa na expectativa de novas descobertas sobre o assunto. No entanto, essa inatividade está errada. O Mestre aconselha: “Envolva-se e trabalhe vigorosamente” para a glória de Deus, enquanto você ainda tem vida nos ossos.
Mais uma vez, Salomão adverte: “na sepultura [Sheol], para onde vais, não há trabalho, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria.” (9.10). Mas essa afirmação, tal como em 9.5–6, não nega a existência de um estado futuro, ou de um comparecimento pessoal e consciente diante de Deus, imediatamente após a morte do corpo. O ponto é que, em relação a este mundo (9.6), essas possibilidades terão cessado. Transformar as palavras de 9.10 em uma negação absoluta da imortalidade seria tão errado quanto fazer o mesmo com as palavras de Jesus, em João 9.4: “a noite vem, quando ninguém pode trabalhar”.
A palavra hebraica Sheol ocorre cerca de sessenta e cinco vezes no Antigo Testamento e é corretamente traduzida por “grave” [sepultura] em quase metade dessas ocorrências na maioria das versões inglesas. Ao meu ver, todas as sessenta e cinco podiam ser igualmente traduzidas por “grave” [sepultura]. Isso não nega a existência da doutrina de um local separado para os incrédulos que morreram, a saber, o “inferno”; apenas levanta a questão de saber se essa palavra específica deve ser traduzida dessa maneira em todos ou alguns de seus contextos. Certamente, nesse versículo, a tradução “sepultura” é bem adequada.
Portanto, enquanto os recursos da vida estiverem disponíveis – a capacidade para trabalhar, as faculdades para inventar ou discutir novas ideias, e a habilidade para usar o conhecimento acumulado quase que diariamente e aplicá-lo sabiamente às situações da vida (9.10)—, dê tudo de si e empregue toda a sua energia em cada tarefa.
Para estimular os homens ainda mais à ação, Salomão elabora três argumentos de suporte, que podem ser expressos nos seguintes provérbios (9.11–12):
• Não cabe ao homem que caminha o dirigir os seus passos (Jr 10.23).
• O Senhor pode livrar com muitos ou com poucos (1Sm 14.6).
• O tempo e os eventos [destino] sucedem a todos (Ec 9.11).
Conclusão: A vida nos apresenta fatos aparentemente estranhos. Há momentos que é tão contraditória 
(Ec 9.11-12)! Coisas boas acontecem com gente ruim, coisas ruins desabam sobre a cabeça de gente boa. A vida é muito complicada. Salomão mostrou claramente este aspecto da vida. Mas os que têm o Espírito de Deus habitando seu interior devem procurar o Senhor da História, Aquele que está no controle, soberano, intocável, e se submeter a Ele, sobretudo no que diz respeito ao próprio destino.
Aplicação:
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