Mateus 24.29-35
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
0 ratings
· 159 viewsO autor completa o quadro escatológico traçado pelo Senhor Jesus, enfatizando o princípio exortativo da vigilância, que fará com que a igreja de Deus prepare-se para o iminente e inevitável reencontro com o Filho do Homem: Cristo Jesus.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Avançando em seu discurso profético, o Senhor Jesus passa a narrar uma terceira cena, que também contém sinais que apontam aos discípulos o seu retorno. Do ponto de vista esquemático, o trecho conclui o desenvolvimento da escatologia estabelecida, quando somado às seções anteriores: No primeiro momento (vs. 1-14), um resumo é concedido aos discípulos, como forma mais básica da resposta à pergunta feita: "Que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século?" (v.3). Nos versículos 15 à 28, a intensificação do conflito cósmico é retratada, e o palco histórico para o retorno do Rei é disposto. Por fim, a presente seção (vs. 29-35), exibe o retorno do Rei propriamente dito.
Cristo, usando o título "Filho do Homem", já usado anteriormente (tomado do texto de Daniel e demais profetas do Antigo Testamento), aponta, no presente trecho, especificamente, para o referencial de cumprimento parcial e definitivo tal como usado nas palavras anteriormente proferidas. Assim como o abominável da desolação figura o levante final contra o Reino de Deus, orquestrado pelo inimigo do Reino dos céus (i.e. a antiga serpente, Satanás (cf. Ap 12.9), mas encontra cumprimento parcial em Antíoco Epífânio (I a.C.) e em Titus, tendo este último não somente profanado mas destruído o templo de Jerusalém em 70 d.C. (como apontado em 24.1-2), da mesma forma, o título "Filho do Homem" possui o caráter ambíguo tanto de uma profecia que foi consumada ou cumprida na crucificação-ressurreição de Cristo, quanto o será em seu retorno.
Atrelado a esta última parte de sua profecia, Cristo retorna ao ponto central evocado em seu discurso, ao dirigir aos seus discípulos uma palavra exortativa quanto à vigilância, como é o caso da parábola da figueira apresentada nos versículos 32 ao 35. Os sinais concedidos não informam o dia específico em que ocorrerá o retorno do Messias (v. 36), mas devem preparar os eleitos para o momento em que serão reunidos como um só povo: o povo de Deus.
Notando essas considerações, a presente seção do evangelho de Mateus exprime como ideia central o retorno do Rei: uma exortação à vigilância.
Elucidação
Tendo como referência a "cronologia" usada pelo próprio Cristo (i.e. "Logo em seguida à tribulação daqueles dias..." (v.29)), a presente seção é desenvolvida como conclusão da anterior, em que o conflito cósmico é encerrado com a já determinada vitória do Messias sobre os revoltosos. E levando em consideração a expressão aditiva "Ἀπὸ δὲ τῆς συκῆς μάθετε τὴν παραβολήν" (Trad. "Aprendam pois a parábola da figueira"), entende-se que a parábola que é jungida à explicação dos sinais escatológicos (vs. 32-35) destina-se à centralizar a tônica ensinada pelo Senhor neste seu discurso.
Isso posto, como também introduzido, a sequência referencial desenvolvida pelo Senhor Jesus, abarca três momentos históricos em que os sinais que apontam para sua segunda vinda seriam concentrados, formando um prelúdio ao seu retorno: 1) o "princípio das dores" (vs. 4-14), que resume toda a etapa final do plano redentivo do Deus Triuno; 2) uma intensificação do conflito experimentado pela igreja (vs. 15-28); e por fim 3) a vinda do Filho do Homem, como confirmação consoladora da vitória de Cristo e consequentemente, de toda a igreja de Deus sobre seus adversários.
O ensejo ou contexto que proporcionou o desenvolvimento do sermão profético, foi a pergunta dos discípulos quanto aos sinais que antecederiam o retorno de Cristo, e a resposta, conforme tecida no presente discurso, apontaria por si só para a própria comunicação dos sinais como confirmação da segunda vinda do Senhor ao mundo e da consumação do século (cf. v.3). Entretanto, a repetição de Cristo quanto esse evento num trecho específico, reforça o desejo do Messias de que seus discípulos estivessem certos de que aquilo verdadeiramente iria acontecer.
Outro detalhe que aponta para essa ênfase quanto a inexorabilidade do retorno do Rei, é o caráter apocalíptico veterotestamentário que compõe esse último quadro do sermão profético, conforme registrado nos versículos 29 e 30:
Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.
Embora todo o discurso profético até este ponto possua contornos apocalípticos, em que por meio do retrato caótico de guerras, fomes, terremotos e a multiplicação da iniquidade (cf. vs. 6-22) -- principalmente levando em consideração que esse caos oprime a igreja -- o Senhor remonte ao momento de consumação e finalização do plano redentivo do Deus Triuno, é mais especificamente nos versos 29 ao 31 que Jesus exibe a inevitabilidade de seu retorno.
Tal como pode ser percebido em textos como Isaías, Ezequiel, Joel, Amós, Ageu etc. (cf. Is 13.10, 34.4; Ez 32.7; Jl 2.31; Am8.9; Ag 2.6) , o uso da criação como entrando em colapso ou agindo de maneira completamente atípica e extraordinária (e.g. o sol e a lua obscurecidos, estrelas caindo do firmamento, a lua com o brilho avermelhado como sangue etc.) declara a ação soberana o SENHOR em julgamento aos seus inimigos (ou também como ameaça disciplinar ao seu povo), e também enfatiza que, assim como os homens não tinham qualquer controle sobre aqueles sinais demonstrados, também não tinham com relação aos planos divinos (TAYLOR, 2018, p.79).
Como dito, a intenção de Cristo ao retratar seu retorno como sendo precedido de tais sinais, aponta para esse mesmo princípio. Embora tenha sido narrado que grande conflito haveria de vir, resultando em desolação e caos sentidos pela igreja, sendo esta hostilizada pelos inimigos do Reino, todo esse cenário não deveria ser interpretado como que estando fora do controle do Senhor; muito pelo contrário, a apoteótica vinda do Filho do Homem em meio a toda essa desolação, desfecharia a história por meio da qual o Deus Triuno tem glorificado seu nome, com a proclamação de seu soberano controle sobre tudo, mediante a publicação de seu Reino em Cristo Jesus.
A criação, usada como instrumento preditivo do retorno do Rei, avisa que o levante dos rebeldes em relação ao estabelecimento do Reino dos céus é inútil, pois certo é que ele retornará, o que por sua vez consola o coração da igreja, que tem a expectativa de seu reencontro com Cristo fortalecida e instigada, e focando esse último ponto, o Senhor também fornece aos discípulos uma exortação em forma de parábola que lhes abre ainda mais o entendimento quanto ao intento principal de todo seu discurso: chamá-los à vigilância.
Como aludido anteriormente, a expressão "aprendei pois a parábola" (v.32) aponta que o conteúdo ensinado sintetiza o objetivo do discurso, e a expressão comparativa "assim também vós" aproxima os ouvintes da prédica, dos elementos apresentados, como segue: "
Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas.
Os sinais indicativos da chegada do verão são comparados pelo Senhor Jesus aos sinais que precederiam seu retorno, isto é, assim como é claro, mediante o exame da figueira, a chegada de uma nova estação, da mesma forma a igreja, ao examinar os sinais dados por Cristo, deverá reconhecer que o retorno do Rei "está às portas".
A tônica pastoral de Mateus concentra-se exatamente nesse ponto da narrativa: tendo em vista toda a ideia retratada na parábola, principalmente à luz da iminente crucificação do Senhor, o evangelista declara à igreja que o cenário final que deve aguardar não é o de derrota ou fracasso, mas de glorificação através da publicação do Reino dos céus em Cristo por ocasião de seu retorno, tema desta última seção do sermão profético.
Os sinais deixados na criação, como estrelas caindo, sol e lua obscurecidos e os poderes dos céus abalados, vistos a partir do realismo bíblico, serão interpretados pelo povo de Deus como o anúncio de que o tempo da redenção se aproxima, conforme descreve Lucas:
Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima.
Transição
Diante disso, resta à igreja manter vigilância. Cristo não deixou seu povo ignorante quanto ao seu retorno, mas trata do coração de cada agente do Reino com relação aos medos e sofrimentos que experimenta nesse mundo, a partir da esperança da glória que há de possuir, quando o Filho do Homem retornar entre as nuvens do céus com poder e glória, a fim de destruir seus inimigos e restaurar a criação ao estado de perfeição com o qual fora criado, para que harmonicamente dê glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, e através de Cristo, habite para sempre com ele.
Observando o tom exortativo imbuído do texto de Mateus 24.29-35, as seguintes verdades devem ser consideradas pela igreja do SENHOR hoje:
Aplicações
1. Os sinais apocalípticos e escatológicos deixados por Cristo não devem gerar medo no coração da igreja, pelo contrário, devem fazer com que estejamos atentos e vigilantes pois o Senhor Jesus está às portas.
Ao interpretar o texto de Mateus 24, diversas pessoas concentram-se na identificação dos tempos, especulando sobre o significado dos sinais que foram estabelecidos por Cristo como lembretes de seu retorno à igreja.
Todavia, esta não é a preocupação principal do Senhor ao dar ciência aos seus servos quanto aos tempos do fim. O ponto principal de todo o discurso é a atenção e vigilância que os eleitos devem ter.
Assim como se reconhece mediante a análise da criação e dos tempos, a passagem das estações (como demonstrado pela parábola da figueira), da mesma forma, ao contemplarmos o cumprimento dos sinais que Cristo determinou como marcadores da aproximação de seu retorno, devemos preparar nosso coração para esse grande momento.
A opressão e sofrimento enfrentados pela igreja não podem sobrepujar a esperança da glória. A ruína do mundo constrasta com o triunfo do povo de Deus, e para que isso fique evidente, os sinais, que parecem confirmar o primeiro sentimento, na verdade apontam para uma outra realidade.
A contemplação do colapso da criação: terremotos, desastres naturais, sinais no céu e outras coisas, exibem quão poderoso é o Senhor que está voltando para salvar sua igreja. Ao cristão, ver essas coisas sem alimentar o coração com expectativa e ansiedade por encontrar-se com Jesus é impossível, e assim deve ser: em breve veremos as nuvens abrirem-se, o sol e a lua perderem seu brilho, diante da gloriosa chegada do Rei dos reis, coisa que homem algum poderá impedir. O que nos leva à segunda verdade que precisamos compreender.
2. Os sinais que se mostram terríveis, exibem o controle supremo e inexorável do Senhor sobre a história, e assim como nunca se pode controlar a criação, da mesma forma, não se pode revogar, anular ou impedir o retorno de Cristo.
Ao contemplarmos todo o quadro desenhado por Cristo que aponta para seu retorno em glória, temos a impressão de que a desolação é irremediável.
Muitos cristãos, ao contemplarem e interpretarem os acontecimentos desastrosos que ocorrem no mundo, como fenômenos naturais, ou a degeneração da humanidade mediante crimes hediondos etc, pegam-se pensando se realmente não é assim que terminará a história; se não estamos todos caminhando para a destruição total sem que haja salvação. Possivelmente, esse mesmo sentimento estava presente no coração dos cristãos do primeiro século, que viam as mesmas coisas ocorrerem, com a adição do agravamento da perseguição contra a igreja.
Entretanto, dois pontos do discurso de Cristo exibem o oposto: em primeiro lugar, a linguagem do caos cósmicos (estrelas caindo, sol e lua sem brilho, poderes dos céus abalados) testemunham do poder do Senhor que a controla. A criação não está apresentando esse sinais por estar ruindo descontroladamente, mas reage ao comando daquele que a usa como relógio, que marca para os eleitos que o tempo da redenção se aproxima.
Em segundo lugar, o Senhor distingue para si o piedoso (Sl 4.3), e fará com que fique evidente a diferença entre o justo e o ímpio: aquele que foi chamado ao Reino será recolhido e guardado — como temos sido — (v.31 "ele enviará seus anjos […] os quais reunirão os seus escolhidos"), enquanto que os ímpios, "se lamentarão" (v. 30), ao verem o Trono Branco e Aquele que sobre ele está assentado, pois
Meditações no Evangelho de Mateus Descrição do Segundo Advento (Leia Mateus 24.29–35)
Na segunda vez, ele virá como Rei de toda a terra, com toda a majestade real. Os príncipes e grandes homens deste mundo haverão de comparecer diante de seu trono, para receber a sentença eterna.
"Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas" conclui o Senhor. Os sinais não devem nos fazer tremer de medo, mas exultar de alegria; o tempo do fim está chegando.
Conclusão
As palavras finais do Senhor, consolam nosso coração com a certeza de que suas profecias são também promessas: céus e terra, mediante o conflito e desolação, podem passar; tudo ao nosso redor pode acabar-se ou ruir, mas suas palavras jamais passarão ou não se cumprirão. "Aquele que há de vir virá e não tardará" (Hb 10.37).