Sem título Sermão (39)
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Transcript
Pregação 1 - Quaresma como preparação para uma entrega total (Jo 3:1-21)
INTRODUÇÃO
No encontro com Jesus, Nicodemos passou por uma experiência cheia de profundas descobertas. Sendo “autoridade sobre os judeus” (v. 3:1) e “mestre em Israel” (v. 3:10), chegou cheio de certezas acerca de Jesus, achava que sabia o suficiente (3:2) e descobriu que pouco sabia sobre Ele (3:3). Naquela noite, Nicodemos entenderia que só é possível conhecer Jesus a partir de uma experiência de entrega total. Ao tentar entender quem é Jesus apenas a partir dos seu “sinais miraculosos” e do intelectualismo, Nicodemos descobriu que estava perdendo o melhor que lhe poderia ser dado. Essa visão limitada de Cristo – e da Sua graça – é uma herança do pecado que diminui e distorce a nossa capacidade de olhar para Deus e avilta a qualidade do nosso relacionamento de adoração. Mas, Jesus mostrou-nos um caminho para que possamos usufruir do amor de Deus. Transpondo os limites da sabedoria intelectual de Nicodemos, bem como o seu apego à sua posição religiosa e social, Jesus o retirou da esfera da lógica natural e lhe apresentou a necessidade de “nascer de novo”. Hoje, no primeiro domingo da Quaresma, queremos iniciar um tempo de preparação para viver intensamente esse projeto de Deus chamado vida. Para tanto, precisamos começar nos preparando para uma entrega total. Mas, como é possível nos entregar totalmente?
1. PREPARANDO-NOS PARA VER O REINO DE DEUS (vs. 1-3)
v.1 - Nicodemos era um homem importante em Israel, um doutor da lei, conhecedor do Antigo Testamento. Um fariseu que reconheceu algum valor no ensino e no testemunho de Jesus, mas não foi capaz de reconhecê-Lo na Escritura. Os seus olhos estavam fechados, não reconhecia Jesus como Rei e tinha medo de ser associado a Ele, por isso foi procurá-Lo na discrição da noite. v.2 - Para Nicodemos, Jesus era um Mestre que ensinava da parte de Deus (v. 2), ele reconhecia Seus os sinais miraculosos (v.2), mas não podia ver o mais maravilhoso: o Reino de Deus (v.3). Esse era o motivo pelo qual ele tinha medo de ser associado a Jesus. Temos medo de andar com Jesus quando não somos capazes de compreender o poder majestoso e soberano do Seu Reino. v.3 – Jesus, entendendo o problema, vai direto ao ponto: “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (v.3). Em outras palavras, ‘é necessário se entregar totalmente para ver quem sou e tudo o que Eu ofereço’. O ponto chave para Jesus é “ver o Reino de Deus” é essa a razão para nascermos de novo. A visão do Reino é o que nos transforma todos os dias, mas o novo nascimento é aquilo que nos habilita para vivermos a graça da renovação. O novo nascimento implica em uma entrega total: Jesus afirma que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus (Mt 12:50), ou seja, nascer de novo é se entregar à vontade do Pai. Paulo ensina que “se 6 alguém está em Cristo, é nova criação” (II Co 5:17); Pedro nos mostra o novo nascimento como a participação na natureza divina (II Pe 1:4) para livrar-nos da corrupção da nossa própria natureza (Cl 3:5) e João nos ensina que deixamos de amar o pecado quando nascemos de Deus e a semente divina passa a habitar em nós (I Jo 3:9). Tudo isso, é entrega total! O novo nascimento é entregar tudo que somos e temos, para que Deus realize em nós uma nova criação, nos dê uma nova natureza, crie em nós um coração novo. Somente dessa forma poderemos ver e contemplar o Reino de Deus. O novo nascimento é um ato de fé no Jesus bíblico, sem nenhum tipo de negociação, sem nenhuma reserva. Somente através dessa entrega total, podemos conhecer o Senhor e ver o Seu Reino.
2. PREPARANDO-NOS PARA CONFESSAR A NOSSA FÉ (vs. 4-6)
v.4 - A mente de Nicodemos não podia alcançar o sentido de nascer de novo, nem da entrega total que Jesus requer daqueles que desejam ser seus seguidores (Mt 16:24). Sua pergunta no verso 4 revela o quanto a sua compreensão de Deus era limitada. “Como alguém pode nascer, sendo velho?”. Esta é a prisão materialista em que o homem carnal vive, uma prisão que não lhe permite experimentar a realidade total da presença de Deus na Criação. É nesse homem que se cumpre a profecia que diz “estejam sempre ouvindo, mas nunca entendam; estejam sempre vendo, e jamais percebam” (Is 6:9). v.5 - Agora, diante da incredulidade de Nicodemos, Jesus faz um ultimato: “ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito” (v.5). Essas palavras mostram que Jesus não aceita uma “meia entrega”, Ele reivindica o todo. Nascer da água e do Espírito é uma exigência de fé e testemunho público nos moldes do que Paulo ensina em Rm 10:9-10. Uma clara menção ao batismo nas águas que consiste em uma confissão dos pecados e uma declaração pública da fé íntima. “Trata-se de vencer verdadeiramente a existência até então pecadora, de partir de uma vida nova, para uma vida transformada” (Ratzinger, 2017). Uma entrega de vida total que até os publicanos entenderam e aceitaram, mas os fariseus da estirpe de Nicodemos se negaram (Lc 7:29-30). A confissão pública é um dos temas mais caros do novo nascimento. Nas primeiras linhas da sua carta aos Romanos, Paulo afirma: “não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16a). A confissão pública de fé é uma exigência para entrar no Reino. É essa exigência que Jesus faz a todos os seus seguidores, uma atitude de fé íntima, profunda e legítima no coração, juntamente com a atitude testemunhal, pública, alegre de evidenciar por meio do batismo nas águas e da pregação evangelho os efeitos dessa fé na vida do crente.
3. APRENDENDO A VIVER PELO ESPÍRITO (vs. 7-15)
A salvação pelas obras estava caindo por terra, a entrada no Reino de Deus estava se modelando como um dom de Deus, não como uma ação meritória do homem. Esse papel passivo parecia estranho a Nicodemos. Mas, Jesus lhe disse “não se surpreenda” (v. 7). vs.7-8 –Jesus finalmente mostra a Nicodemos que para ter uma entrega total da vida a Deus e usufruir de tudo que isso representa é necessário que o Espírito haja soberanamente em nossas vidas. Assim como não podemos controlar o vento, também não podemos controlar o Espírito. Mas, devemos colocar em ação a nossa salvação (Fl 2:12), buscando desenvolver a mentalidade do Espírito que é “vida e paz” (Rm 8:6). Assim, os nossos desejos 7 devem estar submissos ao Espírito de Deus para que tenhamos vida plena e uma entrega total. vs. 9-13 – Para viver pelo Espírito é necessário desaprender a viver pela carne. Paulo nos mostra a diferença dos caminhos que tomam as vidas que se inclinam para o Espírito e daquelas que se inclinam para a carne (ver Rm 8). Jesus estava ensinando algo a Nicodemos que poderia lhe trazer luz e mudar o seus caminhos definitivamente (Sl 119:105; 139:24), ensinando-o a viver pelo Espírito. Ao mesmo tempo, o Senhor advertiu Nicodemos de que ele e os seus amigos não acreditavam no Seu glorioso testemunho. Então, toma para si a autoridade de quem veio do céu e reivindica sua posição de Filho do Homem para que Nicodemos entenda, finalmente, com quem está falando. Não sou apenas um mestre que mostra o caminho, Eu sou o caminho. vs. 14-15 – Então, Jesus usa uma comparação muito profunda. Algo que um fariseu na posição de Nicodemos não poderia deixar de entender. Ele chama como testemunho da sua glória e poder o texto de Números 21. Naquele texto, o povo de Israel se rebelara mais uma vez e Deus havia enviado serpentes para castigar e matar os rebeldes. Então, Moisés fez uma serpente de bronze e a ergueu em uma haste, todos os que haviam sido picados e olhavam para aquela serpente eram curados. Assim, Jesus diz que “da mesma forma [...] é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna” (vs. 14-15). Aqui, portanto, Jesus ensina que viver pelo Espírito é crer no Seu poder de perdoar os pecados e curar o pecador para que alcance a vida eterna. A vida pelo Espírito é também uma forma de entrega total, pois crer significa entregar o controle de nossas vidas ao Senhor, mesmo sem compreender para onde Ele nos levará; crer, também, significa desaprender muito do que a vida material nos ensinou e a confiar naquilo que vem do alto; e, finalmente, crer é levantar o Filho do homem para que Ele nos cure e nos liberte dos nossos pecados.
4. PARTICIPANDO DO AMOR QUE NOS LIVRA DO JULGAMENTO (vs. 16-21)
Jesus, desde o verso 11, transformou o diálogo em um discurso. E, agora, Ele está trazendo a lição final: o inimaginável amor de Deus que nos livra do julgamento e da consequente condenação. v.16 – Nessa que é uma das falas mais reveladoras da intensão de Deus em toda a Escritura, Jesus anuncia o tamanho da obra de Deus e da Sua missão simultaneamente. Ele deixa claro que encarnou, assumindo as nossas dores e enfermidades (conforme a profecia de Is 53), por causa de um amor imenso que o fez assumir a posição de “propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (I Jo 2:2). Isto significa que a obra encarnacional de Jesus teve efeito sobre toda a humanidade, possibilitando uma vida digna sobre a terra. v.17-19 – Negativamente, Jesus informou também o que Ele não estava fazendo na sua primeira vinda. O seu propósito não era julgar, mas oferecer a chance de participar do amor de Deus em toda a sua plenitude por meio de uma entrega total. Jesus fará juízo sobre todas as nações na Sua segunda vinda (Mt 25:31-46). Mas, essa hora ainda não chegou. Jesus, portanto, esclarece o que ocorrerá nesse interstício entre a sua primeira e a segunda vinda, aqueles que crerem no Filho Unigênito de Deus serão salvos, mas aqueles que não crerem trarão para si imediata condenação. vs. 19-21 – Somos todos chamados a participar do amor de Jesus, a crer no seu nome e a “praticar a verdade” (v. 21). É essa a última chamada que Jesus faz a Nicodemos, e a todos nós, no sentido de requerer uma entrega total das nossas mentes e corações à fé evangélica. Apesar de apresentar as 8 consequências da falta desse envolvimento de fé, Jesus foca no chamado para participar do amor.
CONCLUSÃO
A Bíblia não nos diz nada sobre o resultado dessa conversa. O versículo 22 inicia com um simples “depois disso” sem nos dar nenhuma pista sobre a vida que Nicodemos assumiu depois daquela conversa. Mas, nesse trecho, a Palavra nos deixa um chamado para a entrega total de tudo que somos e temos, a esse chamado Jesus chama “novo nascimento”. Essa expressão é muito forte e nos força a entender a necessidade de mudarmos os nossos padrões de vida. Isto é, deixar para traz todo o nosso amor ao pecado (vida antiga) e seguir em obediência aos ensino bíblicos (nova vida). Esse é o projeto de entrega total que Jesus te propõe!