Se há uma coisa que os salmos nos ensinam é que as dúvidas fazem parte da caminhada do cristão com Deus. O salmista se sente à vontade para derramar suas inquietações diante do Senhor. Aqui, por quatro vezes ele questiona a Deus, dizendo, "Até quando, Senhor?".
A ilustração a seguir pode nos ajudar a olhar para além das provações, das marretadas da vida.
"Depois de uma juventude cheia de excessos, um ferreiro decidiu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos, trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas, apesar de toda dedicação, nada parecia dar certo em sua vida. Ao contrário, seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.
Numa tarde, um amigo o visitou e compadecendo-se da sua situação difícil, comentou: “É realmente estranho que, justamente depois de você se tornar um homem temente a Deus, sua vida tenha começado a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de sua crença espiritual, nada tem melhorado”.
O ferreiro não respondeu imediatamente: ele havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar e encontrou a explicação que procurava.
“Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isso é feito? Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor infernal até que ela fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade eu pego o martelo mais pesado e aplico vários golpes, até que a chapa de aço adquira a forma desejada”.
“Logo ela é mergulhada num balde de água fria, e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita. Uma vez apenas não é suficiente”.
O ferreiro fez uma longa pausa e continuou: “Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. Eu sei que ele jamais se transformará numa boa lâmina da espada. Então simplesmente o coloco no monte de ferro velho que você viu na entrada de minha ferraria”.
Mais uma pausa e o ferreiro concluiu: “Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceitado as marteladas da vida. Às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é que Deus não desista, até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Que ele tente da maneira que achar melhor, mas que jamais me coloque no monte de ferro velho das almas."