Mateus 24.36.44

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O autor adverte seu público quanto vigilência e expectativa quanto ao retorno de Cristo, como marca distintiva dos discípulos do Senhor.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Levando em consideração o teor responsivo do discurso profético de Cristo, conforme registrado por Mateus ao longo dos capítulos 24 e 25, o tom exortativo do Senhor exprime mais intensamente sua intenção de manter os agentes do Reino vigilantes e atentos ao seu retorno, do que propriamente revelar os sinais que apontam para esse evento. Tal ênfase não tenciona estabelecer um nível de importância entre os sinais e a exortação em si, apenas ressalta que o fornecimento dos sinais não objetiva satisfazer a curiosidade dos discípulos, mas sim, alimentar em seus corações a expectativa pela publicação do Reino dos céus e a consumação da redenção.
Levando em conta isso, a exortação à vigilância, conforme realizada no trecho anterior (vs. 29-35), é ampliada nesta próxima seção, abarcando uma perspectiva distintiva entre os agentes do Reino e aqueles que não fazem parte dele. O diferencial entre um e outro grupo consiste na percepção dos justo quanto aos tempos, baseados nos sinais concedidos pelo Senhor, enquanto que os ímpios, permanecem alheios ao iminente retorno do Rei (cf. v.38-39).
O tom pastoral direcionado por Mateus em seu texto, ecoa o consolo de que embora a igreja esteja sendo perseguida e humilhada, tudo isso acontecendo como cumprimento dos sinais (cf. vs. 8-9; 16-21), o ímpeto rebelde dos ímpios contra o povo de Deus declara a ignorância deles quanto a aproximação da consumação dos tempos, o que por sua vez, princípio que permeará toda a presente seção de seu sermão.
Em que pese essas considerações, o trecho de Mateus 24.36-44 enfatiza a vigilância como marca distintiva dos discípulos de Cristo.
Elucidação
A proposta de Cristo a partir desse ponto consiste em explicar que, embora sinais tenham sido concedidos a fim de que o povo de Deus esteja atento ao retorno do Rei, não lhes será dito exatamente quando isso acontecerá:
Mateus 24.36 ARA
Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.
As razões para essa "omissão" não são reveladas; à luz de Atos 1.7 é possível entender que simplesmente não era desejo do Pai que essa informação fosse publicada aos filhos do Reino. Cada discípulo de Cristo deve estar consciente de que a volta de Jesus é uma promessa inexorável, e em razão disso, deve ansiar por este dia, ainda mais por não saber quando será, o que por sua vez, o deve levar à vigilância e prontidão.
Por outro lado, o desconhecimento quanto ao dia e hora em que ocorreria a volta de Jesus, causa efeitos diferentes em justos e ímpios. Em decorrência de toda a lista de sinais concedida e da exortação direcionada por Cristo, os discípulos do Senhor estariam vigilantes e atentos, como já dito, não sendo enganados pelos falsos cristos e falsos mestres que surgiriam tentando roubar-lhes a esperança da publicação do Reino dos céus, propondo salvação em ídolos ou coisas desse mundo (cf. vs. 5, 23-26).
Em contra partida, os ímpios, não tendo acesso ao que significam os sinais, por mais que sejam visíveis e envolva-os profundamente (vs. 6-7, 12; 16-22), permanecem alheios ao progresso da história rumo à sua conclusão, conforme o Senhor Jesus passa a descrever a partir do versículo 37:
Mateus 24.37–39 ARA
Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem.
A referência aos eventos ocorridos nos dias de Noé, é estabelecida por Cristo tendo em vista uma proximidade contextual entre o que ocorreu naqueles dias, e o que ocorrerá "na vinda do Filho do Homem". Os atos realizados pelos sujeitos elípticos da oração "comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento" não têm seus executores identificados. Entretanto, no versículo 39, quando Cristo afirma que os mesmos "não o perceberam (que Noé havia entrado na arca), senão quando veio o dilúvio e os levou a todos", os sujeitos são enquadrados no grupo que fora condenado pelo SENHOR. Seguindo essa lógica, há um contraste estabelecido entre Noé e os que não perceberam a chegada do juízo, e é exatamente esse contraste que Cristo usa para estabelecer a relação entre o que aconteceu naquele tempo, e o que acontecerá em seu retorno.
Mesmo tendo Noé construído uma arca, que serviu de testemunho para o que Deus estava por fazer (cf. 2Pe 2.5: "Noé, pregador da justiça"), os ímpios não se importaram nem discerniram que a ira divina se aproximava, e viveram suas vidas normalmente, (e.g. v. 38 "comiam e bebiam..."), até que as águas diluvianas inundaram o mundo, levando a todos. Por semelhante modo, deverá acontecer quando Cristo retornar: os ímpios (isto é, aqueles a quem não foi dado o conhecimento do Reino, tampouco do retorno do Rei) viverão suas vidas sem levar em consideração que, segundo já afirmado, os sinais que acontecem diante de seus olhos apontam para o fim, e portanto, para o juízo iminente do Senhor que cairá sobre eles. Isso é inferido a partir do uso da expressão "tomado” ("levado" NAA) que aparece a partir da segunda parte da predição nos versículos 40 a 41, fazendo referencia ao versículo 39:
Mateus 24.40-41
"Então, dois estarão no campo, um será tomado, e deixado o outro; duas estarão trabalhando num moinho, uma será tomada, e deixada a outra".
As ações de "tomar" (levar) e "deixar", remetem, de maneira pictória, à invasão das águas sobre a terra no dilúvio, e aponta para o caráter duplo da mesma ação divina em decorrência do retorno de Cristo, isto é, salvar e punir: enquanto que o ímpio será "tomado"(como foram aqueles nos dias de Noé), o justo será “deixado”, ou noutras palavras, poupado, como foi o próprio Noé.
Transição
A vinda de Cristo será repentina tanto para um quanto para o outro, mas isso não quer dizer que os dois grupos (justos e ímpios) serão “pegos de surpresa”: aos discípulos está sendo concedida uma lista de sinais que, à luz do poder do Espírito Santo em seus corações, lhes dá o discernimento de que precisam para manterem-se atentos à ao retorno do Senhor; os ímpios por outro lado, vivem inadvertida e temerariamente, o que acarretará sua completa destruição.
Além disso, o Senhor lhes exorta incessantemente quanto a importância da vigilância, e, segundo já comentado, Mateus direciona a mesma preocupação pastoral ao seu público, fazendo-o perceber o quanto a posição que desfruta diante de Deus é privilegiada, mesmo que pareça, mediante as circunstâncias, o contrário.
A igreja, sendo perseguida e afligida pelos ímpios, deve notar que isso só está acontecendo por que um sentimento de impunidade e ignorância cega os inimigos do Reino quanto a situação de perigo em que se encontram: os mundanos vivem para esse tempo, sem se preocupar com o novo mundo cujo amanhecer já desponta no horizonte. Os discípulos de Jesus, em contra partida, estão sendo afligidos a fim de que se lembrem da realidade vindoura que aguardam, além de terem à sua disposição sinais que, mediante o registro bíblico, reforçam a imutabilidade da promessa do retorno do Rei.
Observando a tônica de Cristo, tal como organizada e narrada por Mateus, o texto de Mateus 24.36-44, direciona como aplicação principal a seguinte verdade:
Aplicação
O conhecimento e convicção do retorno de Cristo, deve alimentar no coração dos crentes o anseio pela chegada deste dia, o que lhes fará distinguir-se daqueles que, em sua ignorância, vivem inadvertidamente.
Por diversas vezes o Senhor Jesus Cristo, conclama seus discípulos a vigiarem (e.g. vs. 4, 25, 33), porém, o sentimento de atenção que Cristo remete aos seus discípulos não tem a ver com uma preparação prévia, sem a qual não seriam contemplados com a salvação, como pensam muitos ao lerem esse e outros textos semelhantes das Escrituras.
A vigilância evocada no texto remete ao esforço cada vez mais forte que nós precisamos fazer, em desvencilhar-nos desse mundo, fazendo crescer no nosso coração a esperança e expectativa do retorno de Cristo.
Infelizmente, nossas atividades diárias nos fazem ficar tão absortos com as coisas desse mundo, que a segunda vinda de Cristo parece-nos às vezes uma simples história que nos contaram, que não tem muito impacto sobre nossas vidas.
Como disse o apóstolo Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19), e é exatamente assim que nós vivemos: como condenados, pois nos afundamos com as coisas dessa vida, nos esquecendo que um novo céu e nova terra nos aguardam.
Comemos, bebemos, casamos, damo-nos em casamento, vivendo normalmente nossas vidas, como se não estivéssemos prestes a testemunhar a consumação dos séculos, pois, se os sinais estão todos se cumprindo, se estamos observando as palavras do Senhor se realizarem, o que mais falta para que ele retorne? apenas que chegue o dia que o Pai reservou para o cumprimento e estabelecimento de sua vontade. E quando será isso? não sabemos, e por não sabermos, deveríamos viver cada dia nesse mundo, como mais próximos da redenção.
Não foi para vivermos como ímpios que fomos chamados, e sim, como justos, como Noé, que testemunhava da salvação vivendo na expectativa de que o SENHOR cumprisse o que prometera, e visitasse o mundo com as águas do dilúvio. Ele foi deixado, foi poupado, mas todos os outros, que ignoraram a advertência de sua “pregação” vivendo despercebidamente, foram levados pelas águas da ira divina.
Tratando como filhos amados, e salvos por meio de sua obra, executada em sua primeira vinda, o Senhor Jesus nos adverte:
Mateus 24.42–44 ARA
Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá.
Estejamos pois apercebidos, aguardando com profunda convicção o retorno do Filho do Homem.
Conclusão
Não sabemos quando virá nosso Senhor. Sabiamente Cristo não nos revelou isso, a fim de que a cada novo dia, esperemos pelo soar das trombetas que anunciarão nossa redenção.
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