1Coríntios 9.13-27

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O autor direciona seus ouvintes/leitores à intensificação do argumento anterior, isto é, que da abnegação, os crentes evoluam seu pensamento para a compreensão de que devem entregar-se totalmente à causa do triunfo do evangelho.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Tendo apresentado a validade dos direitos pastorais que possui, e dos quais poderia desfrutar sem qualquer impedimento, pois foi chamado para o apostolado pelo próprio Cristo, e em vista de que o seu trabalho foi confirmado pela radicação da própria igreja de Corinto, exortando, porém, os irmãos daquela comunidade à abnegação em prol da não obstrução da obra evangélica, o apóstolo Paulo passa a ampliar, na presente seção, o princípio anteriormente ensinado, evoluindo-o, no entanto, ao ponto do sacrifício pessoal que cada crente deve buscar realizar a fim de que obtenha a verdadeira recompensa: a coroa incorruptível (v.25).
Outra vez usando a si mesmo como exemplo, Paulo demonstra que todo o empenho e esforço que empreende na obra de edificação da igreja e avanço do testemunho do evangelho, possui como fundamento o desejo de mostrar-se qualificado (v.27) para cumprir a tarefa a ele legada pelo próprio Cristo. Ao ser chamado ao apostolado, Paulo fora incumbido de uma missão que faz pesar sobre ele a obrigação cuja a recompensa que recebe (imediatamente, ou seja, nesta vida) é anunciá-lo de graça, ou noutras palavras, sem buscar os direitos cabíveis a ele ("para não me valer do direito que ele me dá" (v.18)).
Como dito, a tônica desta segunda parte consiste numa evolução do argumento anterior: o que deve começar com a abnegação dos direitos legítimos concedidos por Cristo, agora deve conduzir os membros daquela igreja à compreensão de que devem entregar-se totalmente à causa do evangelho, a fim de que este triunfe. O argumento é desdobrado em dois pontos: em primeiro lugar, o autor apresenta-se como referencial de entrega total à causa do evangelho, buscando chamar os cristãos em corinto a seguirem seu exemplo (v. 13-22), e em segundo, é apresentada a ideia de que essa auto-entrega não é feita sem a esperança de uma recompensa, mas sim, que tal ganho é superior ao usufruto de direitos ou bens nesse mundo: a participação no triunfo do evangelho e a coroa incorruptível (possivelmente expressões correlatas) (vs. 23-27).
Diante disso, tendo em vista as considerações anteriores e as presentes, notando o foco central do texto de 1Coríntios 9, que é a noção da abnegação como ferramenta para o triunfo do evangelho, a presente seção (vs. 13-27) elucida o princípio da auto-entrega como meio de obtenção da verdadeira recompensa.
Elucidação
1. O exemplo apostólico como referencial de entrega total à causa do evangelho (vs. 13-22).
A partir do versículo 13, o apóstolo chama atenção para outro argumento que conecta-se ao versículo 8, em que também alude ao Antigo Testamento, desta feita, no que tange àqueles que prestavam serviço no templo, isto é, os sacerdotes, que tomavam parte do que era oferecido, como sustento para si mesmos (Êx 29.32-33; Nm 18.21-32; Dt 18.1-8). Aqueles homens se alimentava das oferendas, tendo sido autorizados pelo próprio Deus para fazer uso das coisas sagradas, em vista de que não tinham herança de terras como as demais tribos de Israel, e portanto, não trabalhavam noutra atividade para além do serviço ao SENHOR.
De igual forma, o Senhor Jesus Cristo havia estabelecido (ou ordenado cf. v. 14) que aqueles dos seus servos que foram chamados à pregação do evangelho, agora no Novo Testamento, vivam do evangelho, ou noutras palavras, sejam sustentados pelas igrejas que servem. Contudo, a reincidência desse tópico, embora convirja em direção à mesma conclusão, de que mesmo direitos legítimos devem dar lugar ao triunfo do evangelho (como foi o tópico da seção anterior), progride para um nível mais elevado de comprometimento com essa causa, que é a doação da vida individual de cada crente também em prol do evangelho.
A lógica apresentada não sugere apenas que algo que poderia ser feito, ou do qual se poderia desfrutar, deve ser colocado de lado, mas aponta para uma atividade ou empenho mais intenso. Entregar a própria vida como um meio através do qual o evangelho de Cristo triunfará é uma gana que floresce no coração de todos aqueles que foram chamados à fé, ou que pelo menos devem buscar desenvolver.
A partir do versículo 15, o apóstolo repete a mesma tática que usou nos capítulos 3 e 4, em que usou a si mesmo como exemplo do princípio ensinado, objetivando retratar agora no capítulo 9 o padrão a ser seguido pelo coríntios.
Em primeiro lugar, o apóstolo enfatiza o peso do ministério, traçando um paralelo entre seu o apostolado e o chamado cristão:
1Coríntios 9.15–18 ARA
eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória. Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá.
A ideia de Paulo nesse trecho é fazer notório que o intento máximo de sua vida, e que dá razão ao esforço que empreende na obra para a qual foi chamado, não é desfrutar dos direitos que recebera do Senhor, mas sim, que a missão da qual fora incumbido seja cumprida. O "peso da obrigação" (v.16) é a expressão usada a fim de denotar a realidade para à qual chama a atenção dos cristão coríntios: o apóstolo não esperava gozar de qualquer privilégio para além da fruição do cumprimento de sua própria missão.
O trato pastoral nesse ponto do texto é muito claro: tanto quanto Paulo, cada crente havia sido chamado para o serviço do testemunho do evangelho, e dessa forma, alimentar no coração o desejo de usufruir dos direitos concedidos por causa do chamado, é algo de menor importância, se comparado ao anseio de que a missão seja cumprida. O autor não apenas ratifica o sentimento de abnegação que abordou anteriormente (vs. 1-12), mas abre caminho para que uma compreensão maior seja captada pelos crentes. Os cristãos coríntios não deveriam buscar seus direitos acima de tudo, mas usarem a si mesmos como ferramentas através das quais o evangelho alcançará seu objetivo.
Em face disso, o apóstolo narra o trecho em que demonstra essa realidade, a partir de si mesmo e da dinâmica que experimentou em sua vida a fim de servir a esse propósito:
1Coríntios 9.19–22 ARA
Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.
Elencando diversos grupos com os quais teve de lidar em seu ministério até o momento, Paulo declara o quanto buscou operar segundo a perspectiva que agora apresenta aos coríntios. Tendo em vista "salvar alguns", ele entregou a si mesmo (livremente (cf. v. 19 "sendo livre de todos...")), pondo-se à disposição do Senhor a fim de que o testemunho do evangelho fosse apresentado.
"Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns" aponta para o princípio de que Paulo usou todos os recursos ao seu dispor - sendo ele mesmo o principal - para servir a algo que considera maior do que ele mesmo. Antes de ter seus direitos garantidos e desfrutar deles, a glória de Paulo (em favor da qual ele preferia morrer, ao perdê-la (cf. v. 15)), estava em entregar-se totalmente a Cristo, para que por meio dele o evangelho triunfasse.
É para essa mesma disposição mental que Paulo quer guiar os cristãos coríntios: assim como ele fez-se tudo para que a obra evangélica triunfasse, os crentes deveriam não somente abrir mão de alguns de seus direitos (quando preciso), mas também olhar para si mesmos como ferramentas nas mãos de Cristo, que deveriam ser usadas para sua glória na edificação da igreja.
2. A auto-entrega não é realizada inutilmente, mas recebe como recompensa, a coroa incorruptível (vs. 23-27).
Entretanto, antes de todo esse esforço ser uma ambição desprovida de retorno ou vazia de sentido, Paulo apresenta a partir do versículo 24 a recompensa que espera (e que os crentes também deveriam aguardar) obter no final do trajeto pelo qual trilha:
1Coríntios 9.24–27 ARA
Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.
A imagem usada pelo apóstolo, objetivando tornar mais intensa a exortação, é extraída os jogos olímpicos, especificamente do corredor. Os corredores esforçavam-se sabendo, em primeiro lugar, que somente um obteria a coroa de louro: o símbolo de sua vitória. E em segundo lugar, almejando essa coroa, expunham seus corpos a grande esforço em troca de algo perecível ou corruptível.
O crente por outro lado, possui como estímulo a perspectiva oposta: ele corre sabendo que muitos alcançarão juntamente consigo o prêmio final, e além disso, tem consciência de que a coroa que obterá no final da carreira não perece, mas é eterna, bem como a alegria de ter sido feito participante da vitória de Cristo e do triunfo do evangelho.
"Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar", são as palavras que Paulo usa para concluir seu raciocínio. Se os crentes deveriam possui a mesma meta que o apóstolo, necessitavam também entregar-se de igual modo à mesma causa, sabendo que isso implicaria em um sacrifício pessoal que deveriam fazer, buscando diminuir-se, para que estejam aptos a serem testemunhas adequadas da grandeza do evangelho, como ele coloca no versículo 27: ele "esmurra" (gr. "ὑπωπιάζω" = trad. lit. "espanca") seu corpo, isto é, se humilha, expondo-se à situações em que até sofre, para que não seja desqualificado, isto é, quando provado, não venha a ser visto como indigno ou inapto em cumprir a missão para a qual foi arregimentado.
Transição
A complexidade do sentimento impresso no texto de 1Coríntios 9.13-27 é remetida a igreja do SENHOR em qualquer tempo: o início da jornada de edificação da igreja, pede que, olhando para a glória do evangelho, abramos mão de muitos direitos que recebemos de Cristo, a fim de que seu nome seja glorificado na vida outras pessoas por nosso intermédio, seja na salvação do perdido, ou na edificação dos crentes e da igreja de um modo geral.
Mas esse objetivo é apenas inicial: está proposto para nós algo muito mais intenso: a entrega da própria vida, de modo integral, em prol do evangelho, que redundará no final, como aclamação do crente como digno de receber a coroa incorruptível e eterna, das mãos do próprio Cristo.
Tais verdades sintetizam as aplicações tencionadas pelo autor divino/humano e são direcionadas à igreja hoje. Como segue:
Aplicações
1. A abnegação de nossos direitos não é um favor que prestamos a Deus ou aos nossos irmãos, mas apenas um aspecto de todo referencial de sacrifício que somos chamados a realizar, entregando-nos inteiramente à causa do evangelho.
Paulo não contentou-se em apenas não usar dos direitos que possuía, e isso não pelo motivo pequeno de parecer humilde ou presto em ajudar os irmãos, mais porque almejava entregar-se totalmente a Cristo, a fim de que por ele fosse usado para trazer glória ao evangelho.
Se abrimos mão da nossa liberdade, por exemplo, em favor de algum irmão ou irmã, mas não entendemos que essa doação pessoal precisa progredir para um nível mais elevado de comprometimento com a edificação da igreja ou com o testemunho evangélico, estaremos demonstrando completo desconhecimento tanto do princípio apresentado neste trecho do capítulo 9 e 1Coríntios, quanto do anterior.
Cristo nos chamou a abnegação para que por meio dela, pudéssemos descortinar diante de nós um quadro muito mais amplo que nos mostra o quanto precisamos nos desprender de nós mesmos, a fim de servir a Deus servindo-nos uns aos outros e à glória do evangelho.
Quanto esforço temos empregado para a glória de Deus, tencionando que a recompensa ou o ganho desse esforço seja dirigido a outro e não a nós mesmos? Trabalhamos para a glória de Deus, sim, é verdade, mas o SENHOR concede que desfrutemos do fruto do nosso trabalho. Ajudamos os irmãos sempre que possível, sim, mas será que ficaríamos verdadeiramente felizes e satisfeitos em termos nos deixados gastar sabendo que todo o "lucro" ou benefício seria direcionado ao irmão ou mesmo a um descrente, fazendo com que este agora conheça a Cristo?
É para este supremo sacrifício que o texto nos está chamando: o sacrifício cristão radical; a entrega total das nossas vidas em prol do Senhor. Nos preocupamos tanto com nossas coisas, com nossa vida diária, nossos afazeres, que a ideia de sacrifício tornou-se um conceito distante.
A igreja de Corinto era uma igreja egoísta, como muitas vezes nós o somos, e o remédio para o egoísmo e individualidade é o sacrifício pessoal, por isso, o Espírito Santo nos chama a fazer das palavras do apóstolo as nossas: fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.
Paulo certamente era um exemplo de sacrifício, mas Cristo é maior do que Paulo, e viveu de maneira perfeita esse princípio que agora nos ensina; ele foi feito pecado para salvar pecadores; foi feito maldito para salvar malditos, foi condenado, para libertar condenados. Ele enfraqueceu para fortalecer fracos; Ele foi tudo o que precisávamos, para que que por meio dele, fossemos salvos.
Mas todo o seu sacrifício, foi realizado olhando para o fim de sua carreira, para o prêmio que lhe estava proposto, o que nos remete ao segundo ponto de aplicação.
2. O auto-sacrifício não é vazio de sentido ou frívolo, mas reserva a obtenção da verdadeira recompensa: a coroação em Cristo.
A Escritura, como visto, apresenta o próprio Senhor Jesus Cristo como exemplo de auto-sacrifício em favor de outrem. Mas, o exemplo do Senhor não se restringe apenas ao sacrifício em si, mas abrange também a busca pela recompensa proposta, conforme coloca o autor aos hebreus:
Hebreus 12.2 ARA
olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.
Após relacionar na longa galeria de heróis, todos os homens e mulheres que entregaram-se, pela fé, em prol do triunfo do evangelho, o último exemplo concedido é o de Jesus, que realizou a obra pela qual esperaram todos os crentes do AT, em vista da alegria que lhe havia sido proposta, a qual obteve, ao assentar-se à direita do Pai, tendo recebido toda majestade que lhe era devida.
Não somos chamados a replicar a mesma atitude de Cristo, pois o evangelho não pode ser repetido: somente Cristo sacrificou-se redentivamente. Porém, somos convocados à sacrificar-nos como reflexo na nova vida que agora recebemos nEle, por meio da qual uma nova realidade nos foi proposta: uma realidade que liberta da mesquinhez e individualidade tão difundidas em nossa cultura caída e corrompida.
Esmurrando nosso corpo, corremos a carreira cristã olhando para pódio, que aguarda não um de nós, mas todos. Golpeamos a nós mesmos, a fim de que fazendo morrer o velho homem, demos lugar ao novo, conformando-nos à imagem do Filho de Deus, e também como ele recebeu a coroa incorruptível, nós a receberemos, tendo sido qualificados pela ação poderosa do Espírito, para sermos cooperadores do Evangelho.
Conclusão
Viver para si mesmo é a marca daquele que está morto, pois tem o entendimento embrutecido ao ponto de considerar-se mais importante do que qualquer outro. Sacrificar-se por outro, entregar sua vida em nome de Cristo e do Evangelho, é demonstrar vida, e a grandeza da promessa que nos aguarda, enche-nos com a força necessária a fim de que nos vejamos como pequenos cristos; prontos a nos fazer tudo para com todos.
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