Mateus 24.45-51

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O autor divino/humano encaminha ao seu público um complemento à advertência anterior, em que a vigilência e expectativa pelo retorno do Rei, leva cada agente do Reino ao serviço fiel e prudente para com Cristo.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Propondo outra parábola, por meio da qual exorta seus discípulos em relação ao que acontecerá nos momentos precedentes à sua vinda, Cristo direciona aos doze homens que escolhera como seus discípulos, uma palavra que lhes deve servir de alerta quanto ao chamado para o qual foram arregimentados.
Ecoando o mesmo espírito didático visto na seção anterior, em que preocupou-se com o coração dos discípulos no tocante à postura de vigilância que deveriam assumir, ao invés de nutrir ou atender algum tipo de curiosidade superficial para com os sinais referentes à sua vinda, o Senhor Jesus passa a tratar com seus ouvintes sobre as responsabilidades do chamado que desempenharão, que é o de pastorearem todos aqueles que forem chamados ao Reino, preparando-os para que também aguardem a redenção por vir.
A parábola dos dois servos, registrada por Mateus na presente seção, destina-se a alcançar o público-alvo enfatizando a mesma tônica: embora um chamado muito específico tenha sido concedido apenas aos apóstolos — e aos presbíteros depois deles — todo o povo de Deus está encarregado de cuidar uns dos outros, servindo-se do "sustento"(v.45) (uma metáfora para a palavra e todos os benefícios advindos do ministério do Espírito) que os capacitará a servirem o Senhor até que retorne, com a promessa de herdarem todos os seu bens (v.47).
Assim, o texto de Mateus 24.45-51 elucida como ideia central uma exortação ao serviço como modo de espera pelo retorno de Cristo.
Elucidação
A parábola direcionada é iniciada com uma pergunta que embora introduza o discurso parabolar, explica que aquele ensinamento tem paralelo direto com o que é esperado dos discípulos. A pergunta "quem é pois o servo fiel e prudente...?" enfatiza que essa mesma fidelidade e prudência vistas no servo bom, devem estar presente nos discípulos, e portanto, aquela parábola demonstra outra virtude a ser desenvolvida por eles, no período de tempo entre a primeira e segunda vinda do Messias.
Segundo a parábola, um servo fora incumbido por um senhor de cuidar dos outros serviçais, tendo como atribuição principal "dar-lhes o sustento a seu tempo" (v.45). Levando em consideração a construção parabolar, Cristo tem em mente os próprios apóstolos, que seriam encarregados — não muito depois daquele momento — de ministrarem a todos aqueles que forem alcançados pela pregação e testemunho do evangelho, o sustento, que como dito, pode apontar para todos os benefícios concedidos por Cristo à sua igreja através do Espírito Santo nesta dispensação em que os eleitos aguardam seu retorno.
Em face da obediência do servo bom, uma promessa e bem-aventurança é deferida:
Mateus 24.46–47 ARA
Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens.
Por outro lado, uma postura diferente é exemplificada, contendo a exortação em questão. O mesmo servo agora assume uma postura contrária a primeira apresentada: sendo caracterizado como "mau", é acrescido a essa referência, que tal servo assumiu uma postura despótica em relação aos seus companheiros, espancando-os, e além disso, passou a comer e beber com ébrios (v.49).
As duas atitudes do mesmo servo, apontam para as possibilidades comportamentais que os discípulos poderiam assumir enquanto aguardam o retorno de Cristo. O primeiro, atendendo à ordem dada, age de conformidade com o que lhe foram designado. No segundo momento, além de ter dado pouca importância ao iminente retorno do senhor (uma das ênfases de todo o discurso profético de Cristo) (e.g. "meu senhor demora-se… v. 48), trata mal seus companheiros de serviço, oprimindo-os.
Em vista da exortação que está sendo direcionada, Cristo enfatiza que seus discípulos poderiam agir de acordo com a expectativa devida aos agentes do Reino no tocante ao seu retorno em glória, agindo como bons despenseiros de sua casa, ministrando o sustento providenciado por Cristo para que a fé de seus servos fosse nutrida. Ou, dando as costas a essa expectativa, agiriam malignamente, como aqueles desavisados mencionados na seção anterior (vs. 37-39), que foram apanhados pelo juízo divino, como será aprofundado mais adiante.
Anexas a ambos os comportamentos do servo, estão inclusas duas promessas: no primeiro caso, como comentado, a bem-aventurança mediante obediência é destacada, sendo ainda dito que o servo bom herdaria os bens de seu senhor. Por outro lado, a negligência para com o retorno do Rei, será retribuída com dura punição, sendo adicionado o contexto repentino no seu sentenciamento, como aponta o versículo 50: "virá o senhor daquele servo em dia que não o espera e em hora que não sabe", o que comunica a imagem desenvolvida na seção anterior, em que aqueles que são pegos de surpresa pelo juízo que era sinalizado, são destruídos (cf. vs. 39, 40-41), o que é confirmado com a sentença referida por Cristo no complemento do tratamento do servo mau: "e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes" (v.51).
Transição
O quadro exortativo dirigido por Mateus ao seu público-alvo, abrange amplamente as virtudes a serem desenvolvidas pelos agentes do Reino, enquanto testificam do evangelho e esperam pelo retorno do Rei. Tanto a vigilância, quanto o serviço fiel e prudente, são aspectos característicos daqueles que professam a fé na inexorável vitória de Cristo e publicação do Reino.
Agora que o Messias está à direita da majestade, preparando o cenário cósmico para o seu retorno, o que fariam os seus discípulos nesse mundo? além da ordem missionária que será endereçada à igreja ao final do seu texto (Mateus 28.18-20), lhes cabe o serviço diligente e fiel, que inclui o usufruto do sustento por ele ministrado através do Espírito Santo, e este, por meio dos apóstolos e demais pastores da igreja.
O cristão não foi chamado à apatia ou à indolência, mas ao trabalho de cuidado uns dos outros, com o qual demonstra sua prontidão em relação à hora em que vira seu Senhor.
Em face disso, o autor divino/humano direciona à igreja de Cristo por meio do texto de Mateus 24.45-51, alguns princípios a serem postos em prática. Quais sejam:
Aplicações:
1. O agente do Reino, como servo fiel e prudente, aguarda o retorno de Cristo obedecendo às ordens recebidas, principalmente quando se vale daquele sustento concedido, o qual lhe garante perseverar na esperança da segunda vinda do Senhor.
Tanto à luz de Mateus 24, quanto de Lucas 12.42-46, essas palavras são dirigidas especificamente aos discípulos, aqueles que foram chamados ao pastoreio do rebanho de Deus. Entretanto, embora as ordens tenham foco específico, isso não quer dizer que também não possam, em certo nível, englobar a todos os que são chamados ao Reino, afinal de contas, esperar pelo retorno de Cristo não é um requisito apenas dos que lideram a igreja do Senhor, mas de todo aquele que por ele foi chamado à salvação.
A fidelidade e prudência são virtudes que todo cristão deve buscar desenvolver enquanto estiver nesse mundo esperando pela vinda do Filho do Homem, e essas qualidades são focalizadas por Cristo no usufruto do sustento que ele nos concedeu em seu Espírito. Os meios de graça (oração, leitura da Escritura, culto, sacramentos) não são apenas formas por meio das quais Cristo nos fortalece, mas também formas de obedecermos à ele, provando nossa condição de servos e filhos do Reino.
Negligenciar essas coisas é não somente submeter-se à mendicância e pobreza espiritual, mas também agir como servos maus e rebeldes.
Logo, a parábola em questão enfatiza que nossa espera pelo retorno de Jesus Cristo, não é um repouso passivo, mas um exercício de fidelidade para com nosso redentor. Devemos ansiar o retorno do Senhor, mas não apenas com o coração, e sim, com toda nossa vida, servido nosso Senhor por meio daquilo que ele nos dá como fonte de fortalecimento, para resistirmos os dias maus que ele profetizou que chegariam, os quais já temos vivido.
É necessário então que analisemos nossas vidas, a fim de que possamos nos empenhar cada vez mais em servir ao Senhor, através dos meios de graça citados, e todos as outras formas possíveis (e.g. no nosso trabalho, estudos, lazer e tudo mais), a fim de que sejamos servos bons e fiéis, que glorificam e enaltecem seu Senhor.
2. A igreja recebeu critérios através dos quais pode examinar se aqueles que pastoreiam o rebanho de Deus, têm agido como o servos bons ou servos maus.
Como servos dos servos de Deus, todo aquele que foi chamado ao cuidado das ovelhas de Cristo, recebe como principal característica de sua função, a subserviência, isto é, a incumbência de colocar-se à disposição do Senhor, servindo bem seu povo, principalmente no que concerne à administração do sustento provido por Cristo mesmo.
Ecoando esse princípio, o apóstolo Pedro, em sua primeira carta, fala aos presbíteros (e consequentemente à toda a igreja, numa que a carta deveria ser lida diante de todos):
1Pedro 5.1–4 (ARA)
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória.
Embora a preocupação principal de Mateus seja a de consolar os crentes, lembrando-lhes da vinda de Cristo, fazendo-os descansar na promessa da glória a ser revelada, mesmo em meio a perseguição e luta, ele lembra o povo de Deus de que estando nesse mundo, organizado em comunidades lideradas por homens, cada crente também deve estar atento a que tipo de serviço é prestado por aqueles que foram postos pelo Senhor como cuidadores dos demais servos, tal como ilustrado na parábola.
É dever da igreja zelar para que o bom testemunho de Cristo como supremo pastor, seja preservado através do exercício de homens verdadeiramente chamados ao pastoreio, e que estão cientes de que são servos, não senhores sobre os demais irmãos.
Por outro lado, os que agem de forma desonrosa, como servos maus, certamente estão perdidos quanto ao passar dos tempos, e não cuidam que de surpresa virá o Senhor, que os encaminhará ao lugar de choro e ranger de dentes.
Conclusão
J. C. Ryle, comentando esse texto, assevera:
Meditações no Evangelho de Mateus Os Dias Anteriores à Segunda Vinda; Recomendação à Vigilância (Leia Mateus 24.36–51)

Há uma vasta profundidade na declaração do Senhor: “Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim”. Se não estamos prontos para, a qualquer momento, receber o Senhor que volta, bem podemos questionar se somos verdadeiros crentes em Jesus ou não.

Servir ao Senhor em vigilância e fidelidade é que caracteriza o bom servo, o qual desfrutará de todo o Reino do céu que será inaugurado quando Cristo retornar.
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