1Coríntios 10.1-22
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· 11 viewsO autor afirma o princípio da união do crente com Cristo, como base de sua exortação contra a idolatria, usando como exemplo a própria história de Israel no passado.
Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após ter exortado os irmãos em Corinto quanto ao sacrifício pessoal que é esperado deles, como demonstrativo de que participam do plano através do qual Deus é glorificado mediante o triunfo do evangelho, o apóstolo inicia uma nova exortação, em que esclarece a relação íntima que a igreja de Cristo desfruta com seu Senhor, e quais consequências podem advir sobre o povo de Deus ao negligenciarem esse relacionamento agindo como idólatras e pagãos, dando o exemplo do próprio povo de Israel, que fazendo pouco caso de sua união com o SENHOR, trouxe sobre si grande pesar, ao ter o Deus visitado-os com disciplina.
A presente seção é estruturada a partir de dois pontos básicos em que a temática da exortação contra a idolatria sob a ótica da união com Cristo é enfatizada: em primeiro lugar, nos versículos de 1 à 13, Paulo demonstra claramente que, ignorando todos os sinais concedidos por Deus ao povo de Israel, que lhes garantia o pertencimento a si como propriedade exclusiva, ("[...] e todos, em Moisés, foram batizados..." (v.2)), muitos dentre o povo foram punidos pelo Senhor, por terem sido idólatras, imorais e rebeldes (vs. 7-10), fatos que são interpretados pelo apóstolo como tendo acontecido "para servir de exemplo e foram escritas como advertência a nós" (v.11). Em segundo lugar, nos versículos de 14 à 22, o apóstolo direciona a exortação propriamente dita, relembrando que, assim como Israel no passado, a igreja de Cristo (o que inclui os crentes em Corinto) está num relacionamento íntimo com o Senhor, e portanto, deve atentar em não replicarem as mesmas atitudes do povo no passado, o que traria sobre si dura disciplina ao se contaminarem com a cultura pagã e idólatra que os tentava.
O argumento que permeará também parte do capítulo 11, incide novamente sobre o apelo da cultura corintia para com a igreja, e reforça à luta contra essa tentação, tendo em vista que "não vos sobreveio tentação que não fosse humana". Frente a isso, como já adiantado, o texto de 1Coríntios 10.1-22 centraliza uma exortação contra a idolatria sob a ótica da união com Cristo.
Elucidação
Passaremos então a analisar a estrutura argumentativa, tal como identificada introdutoriamente.
1. O exemplo antigo: a disciplina divina como resultado da violação à união com Cristo (vs. 1-13).
Iniciando suas considerações, Paulo traça uma argumentação equivalente entre os sinais concedidos ao povo de Israel (vs. 1-5) e a postura de muitos dentre o povo que, ignorando tais evidências de sua união com o Senhor, foram destruídos ao terem profanado tal relacionamento.
A linguagem paulina ao listar os sinais nos quais o povo foi "batizado", pode ser considerada de um ponto de vista paralelo-sinonímico, isto é, ao referir que "os nossos pais", no passado, estiveram sob a nuvem (ref. à peregrinação pelo deserto), passaram pelo mar (ref. à travessia pelo mar vermelho), tendo sido batizados em ambos (vs.1-2), e beberam (ref. à água que brotou da rocha) e comeram (ref. ao maná) da mesma "fonte espiritual"( v.4), Paulo demonstra que todas essas coisas foram tipos (cf. v. 6, i.e. referências revelacionais progressivas) do próprio Cristo Jesus e que apontavam para a união do povo com ele, e, ao terem violado de diversas formas essa união, foram alvos da disciplina divina.
Para exemplificar melhor como se deu essa violação, a fim de também estabelecer a aproximação contextual que liga Israel aos crentes em Corinto, o próprio Paulo relembra (ou faz menção aos que não conhecem) dos episódios em que o pecado do povo feriu o princípio da união espiritual que tinham com Cristo. Cinco episódios são listados nos versículo de 6 à 10:
1. Quando o povo de Israel deu ouvidos ao "populacho" que os havia seguido desde o Egito, e murmurou contra o Senhor cobiçando a vida que tinham antes (Nm 11.1-6).
2. Quando adoraram o bezerro de ouro, quebrando os mandamentos da Aliança, e fazendo uma imagem para adorar (Êxodo 32.6).
3. Quando se prostituíram com os moabitas (Nm 25.1-18), sendo referenciado neste caso, a morte de 23 mil israelitas pelas mãos do Senhor.
4. Quando puseram o Senhor à prova, pelo que foram punidos com o envio de serpentes abrasadoras que também mataram e feriram a muitos Israelitas (Nm 25.1-6).
5. Quando outra vez murmuraram contra o Senhor (Nm 16.41,49).
Todos esses episódios formam um quadro que declara o coração rebelde do povo. Nesse ponto, a exortação contra a idolatria (como será visto mais adiante), não se restringe a apontar apenas o pecado de adoração à ídolos, mas enfatiza um procedimento pagão e ímpio que torna profano aquilo que fora santificado pelo Senhor e unido a ele, mediante aqueles sinais citados no início da argumentação.
Noutras palavras, a idolatria de Israel quebrou o vínculo que possuíam com todas as figuras e referências redentivas, que apontavam por sua vez para a consumação dos tempos (cf. v. 11) em Cristo Jesus (cf. v. 4 "E a pedra (bem como todos os outros "tipos") era Cristo ): aquele que os haveria de redimir finalmente. O pecado em questão não foi simplesmente a adoração a ídolos, mas a ruptura da conexão exclusiva entre o povo e seu Senhor, o mesmo tipo de pecado que estava sendo proposto pela cultura pagã da cidade de Corinto, e que tão tenazmente assediava os cristãos ali.
Paulo, a partir do versículo 11, adverte os irmãos daquela comunidade para o fato de que a história de Israel não foi registrada levianamente, mas lhes serve de "exemplo" e "advertência", pois, se Israel recebeu figuras ou tipos que apontavam (embora garantissem efetivamente a união deles com o Redentor) para Cristo, em sua vida e obra, muito mais responsabilidade temos nós em relação ao mesmo princípio de união com Deus, "sobre quem o fim dos séculos têm chegado", isto é, se o povo, antes, foi culpado e duramente castigado por seus pecados, levando em consideração que seu relacionamento com o SENHOR estava alicerçado sobre tipos e referências que apontavam para uma realidade superior ainda por vir, muito mais seriam os cristãos corintos, tendo em vista que Cristo já havia vindo, o que apontava para a plenitude dos tempos que ele inaugurara.
Diante disso, a advertência que Paulo está fazendo a partir da história de Israel, ressaltando a maior responsabilidade dos crentes sob a nova aliança para com o relacionamento que têm com o Senhor Jesus, é clara: Israel, no antigo testamento, estava unido a Cristo através de tipos e figuras; na nova aliança, os crentes estão unidos diretamente ao próprio redentor, sem a mediação de referências, e portanto, usufruem de uma união muito mais abundante, embora não mais verdadeira que o povo de Deus no passado.
A partir desse ponto, preparando o caminho para a exortação seguinte, Paulo consola seus ouvintes/leitores, ao afirmar que todo peso dessa responsabilidade não é insuportável, tampouco a tentação que experimentavam de violar a união com Cristo era irresistível, conforme escreve a partir do versículo 12:
Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.
Era bem verdade que havia um forte apelo externo (e talvez interno) a que os cristãos se rendessem à mentalidade mundana, idólatra, prostituta e ímpia difundida na cidade de Corinto, mas a tentação (gr. "πειρασμός" (v.13) — cf. "πειράζω" Mt 4.1) que sentiam, deveria ser encarada a partir da fidelidade do Senhor em não permitir que seus eleitos sejam expostos à uma carga que não podem suportar; pelo contrário, Cristo lhes proveria livramentos, tal como fez com Israel, dando-lhes sempre o sustento necessário para que não cobiçassem o paganismo, embora fazendo pouco caso de tais livramentos, tenham assim procedido.
Unido a Cristo, cada crente desfruta no SENHOR do socorro necessário para que se mantenha firme no propósito de não quebrar seu vínculo com Aquele que os santifica e os torna propriedade exclusiva sua.
Através desse consolo, o apóstolo passa a direcionar ao seu público-alvo a exortação resultante de toda a argumentação exemplificada até esse ponto, enfatizando a união com Cristo como base de seu imperativo: fugi da idolatria!
2. Exortação contra a idolatria: a união com Cristo como base admoestativa (vs. 14-22).
A conjunção enfática conjuntiva/conclusiva "διόπερ" (trad. = "Portanto"; "por essa razão" etc) alude ao fato de que o autor concluir que toda argumentação anterior desemboca nas afirmações a seguir, sendo a mais central delas, o imperativo (conforme mencionado) que direciona aos irmãos para os quais escreve.
A fuga da idolatria ordenada por Paulo, não possui como base exortativa apenas a abstenção do pecado de adoração a ídolos, mas, como sugerido, evoca todo o conteúdo apresentado, sobretudo no que diz respeito à união do crente com Cristo. Nada obstante, o mesmo princípio de vínculo com o Senhor é também abordado a partir de figuras ou sinais que declaram a mesma realidade, usados nesse ponto para estabelecerem uma conexão com os sinais concedidos a Israel no passado.
Da mesma forma como a nuvem, o mar, o maná e a rocha eram tipos de Cristo, e exprimiam a união dos crentes com o Senhor no passado, o cálice e o pão apontam para a mesma realidade no presente, conforme ele estabelece a partir do versículo 16:
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.
Como já dito, embora haja uma diferença em termos de plenitude e abundância da relação íntima que os crentes sob a nova aliança desfrutam para com Cristo se comparados aos israelitas no AT, a essência é a mesma: estão unidos ao Senhor, e essa união é estabelecida visivelmente por meio de sinais concedidos também como confirmação do pacto que une o cristão a Deus.
Dois sinais estabelecem essa confirmação visual da relação do crente com o Senhor: o cálice da benção que "é a comunhão do sangue de Cristo", e o pão, que aponta para "a comunhão do corpo de Cristo". Esses dois referentes, juntos, apontam claramente para o momento em que é declarado a união do cristão com o Senhor Jesus através do sacramento da Ceia do SENHOR. Naquele momento, além da referência à obra redentiva-expiatória realizada por Cristo em sua vida, morte e ressurreição, o vínculo entre aquele que recebe o sacramento com o Senhor é novamente professado e publicado.
O cristão, tendo acesso aos sinais visíveis que representam o corpo de Cristo no momento da Ceia, declara que está da mesma forma intimamente ligado ao Senhor, como o próprio apóstolo asserta: "Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão (neste último caso, a expressão pode ser uma provável referência ao próprio Cristo (cf. Jo 6.32-33, 35, 38).
Levando em consideração essa união prévia do crente com Cristo, como seria possível que alguém agora se associasse ( ou comungasse (cf. v. 20)) com algo que profanaria essa união, como é o caso da idolatria, que por sua vez, vincula o idólatra a demônios?
O apóstolo, expandindo essa noção, torna a dar o exemplo de Israel no passado, como consta a partir do versículo 18:
Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios.
A relação a que Paulo alude, demonstram a dinâmica associativa entre ofertante e a coisa ou entidade a quem se oferta um sacrifício. Tal como Israel no passado se associava com o Senhor Deus mediante a representatividade da oferta, da mesma forma os pagãos, ao oferecerem sacrifícios aos ídolos, estavam comungando com aqueles a quem sacrificavam. Como o próprio Paulo colocou no versículo 19, isso não quer dizer que os deuses e ídolos a quem eram oferecidos sacrifícios existem de fato, mas tais entidades na verdade eram demônios, espíritos malignos que cegavam o entendimento dos homens a fim de que permanecessem distantes do Deus verdadeiro (2Co 4.4.), mediante a promoção do pecado e da corrupção.
Diante disso, seria uma enorme incoerência se um crente cedesse à tentação de corromper-se com a cultura idolatra e pagã de Corinto, tomando parte em ambientes de sacríficios demônios, principalmente porque nessas circunstâncias não ocorria apenas o pecado de adoração a ídolos, mas também todos aqueles pecados que foram cometidos por Israel e listados nos versículos de 6 a 10, o que faria com que um cristão atraísse sobre si o mesmo destino que os israelitas rebeldes sofreram no passado, conforme Paulo conclui:
Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele?
As duas perguntas finais sintetizam a tônica de todo o trecho: a igreja de Corinto replicaria os mesmos pecados que Israel no passado, provocando o zelo do Senhor? A palavra "παραζηλόω" evoca a ideia do "sentimento divino" para com sua propriedade: tendo em vista que aquilo que era seu, ou carregava seu nome, corrompeu-se ou profanou-se (no caso o povo) indo após ídolos, violando a união que tinha com o próprio Senhor, a ira de Cristo se acenderia, como foi no passado. E se isso acontecesse, quem poderia resistir? quem seria mais forte que Cristo, ao ponto de sobreviver o ardor de sua ira disciplinar contra sua igreja?
Transição
Em 1Coríntios 10.1-22, o apóstolo Paulo lida com um grave problema que assolava a igreja de Corinto: a tentação de seguir o curso mundano da idolatria e profanação era forte, e muitos crentes cogitavam (se já não estavam fazendo) ceder às propostas pagãs que lhes eram ofertadas.
Assentar-se com ímpios, participando de seus rituais demoníacos parecia, assim como pareceu a Israel no passado, atrativo e agradável. Entretanto, o Espírito Santo lembra seu povo da relação íntima que possuem com seu Redentor, Cristo Jesus, e como dar as costas à essa comunhão maravilhosa, é violar o sagrado vínculo estabelecido, o qual professaram que tinham, todas as vezes que se assentaram à mesa do Senhor, participando da eucaristia.
Como alguém poderia dizer que tinha comunhão com Cristo, enquanto estava nos templos pagãos, participando ativamente da adoração aos demônios, concordando com todo os vis rituais que ali eram executados?
Tanto quanto Israel no passado, que estava unido a Cristo por meio dos tipos e referências que lhe fora apresentados, a igreja está ligada a Cristo, recebendo como confirmação disso, o partir do mesmo pão e o beber do mesmo cálice do Senhor, e portanto, o mesmo imperativo deve ser ouvido: fugi da idolatria! lembrando que, se ignorarem isso, a mesma ameaça do passado, permanece em vigor: não podemos resistir o zelo do Senhor, pois não somos mais fortes do que ele (v. 22).
Diante disso, algumas verdades devem ser compreendidas à luz do presente texto, por nós, sobre quem o fim dos séculos tem chegado. Quais sejam:
Aplicações
1. Precisamos entender profundamente o princípio da união nossa com Cristo.
Como diz o autor aos hebreus, no passado, o Senhor Deus falou de diversas formas ao pais pelos profetas (Hb 1.1-2), mas nos últimos dias, nos falou através do Filho, Jesus Cristo. Isso significa que todos aqueles tipos que apontavam para Cristo, foram substituídos pela realidade superior da própria presença do Senhor entre nós, por meio de seu Espírito.
Entretanto, isso não significa que nossa união com o Senhor é meramente virtual ou etérea, existindo num plano completamente distante, ou de uma forma inferior àquela por meio da qual ele foi revelado aos israelitas outrora. Muito pelo contrário, como disse, o próprio Cristo nos foi dado sem a mediação de qualquer referência, e seu vínculo abundante com seu povo é demonstrado todas as vezes que comemos do pão, que simboliza seu corpo, e bebemos do vinho que representa seu sangue.
Somos propriedade exclusiva do Senhor, tal como era Israel no passado. Como explica o puritano Herman Witsius:
Mediante uma união verdadeira e real, os eleitos são unidos com Cristo quando seu Espírito se apodera deles e infunde neles um princípio de nova vida (BEEKE, 2016, p. 599).
Esse apoderamento é também uma apropriação, que aponta para a obtenção de um povo do qual fazemos parte, e do qual não podemos nos apartar, pois fomos atraídos irresistível e inexoravelmente ao Senhor por sua graça.
Israel no passado, viu sua união com Cristo ser confirmada, quando atravessaram o mar vermelho à pés enxutos, o que efetivou sua libertação da escravidão; viu o mesmo benefício ser asseverado quando da rocha — que era Cristo — beberam água, saciando-os no deserto, através do qual peregrinaram sendo protegidos pela nuvem que os cobria; o mesmo ocorreu quando do céu o Senhor fez chover o maná, alimentando seu povo. Da mesma forma, nós, vemos nossa união (mais abundante) com Cristo ser confirmada quando nos assentamos à sua mesa, comendo do seu corpo e bebendo do seu sangue.
A graça de estarmos em Cristo é a mesma que aquela da qual desfrutaram nossos pais no passado, porém mais abundante para conosco que vivemos sob a nova aliança. Isso é maravilhoso aos nossos olhos, mas também inspira o cuidado de preservamos essa união, nos abstendo de ceder a mesma tentação que cercava os cristãos em Corinto, de sendo idolatras, despertarmos o zelo do Senhor, contra o qual não podemos resistir. O que nos leva ao nosso segundo ponto.
2. Tanto quanto Israel e a igreja de Corinto, também vivemos em meio à uma cultura idolatra, que tentará fazer com que nos curvemos à demônios para adorá-los.
O imperativo apostólico para fugirmos da idolatria, como aludido anteriormente, é bem mais amplo do que a não adoração a ídolos representados em pedra ou madeira, como havia na cidade de Corinto e nas cidades dos povos ao redor de Israel.
Paulo sintetiza sua ordem ao mandar os cristãos fugirem da idolatria, mas os pecados que circundam essa trangressão foram relacionados antes: cobiçar o que é mau; chamar de salvador aquele ou aquilo que não é; dar vazão a imoralidade e impureza sexual; murmurar e não contentar-se com a providência do Senhor, e ligado a isso, por Cristo à prova, como se de alguma forma ele fosse obrigado atender aquilo que nós definimos como "necessidades".
Todos esses pecados foram cometidos por Israel, e todos eles foram resumidos pelo apóstolo em idolatria, pois profanaram a união que o povo tinha com Deus.
Não podemos ser ingênuos achando que não corremos o mesmo risco hoje, pois a cultura ao nosso redor tentar fazer com que incorramos nos mesmos erros. Ou não vivemos num mundo terrivelmente devasso, que nos incita a todo tipo de imoralidade sexual? ou não estamos numa era em que cada vez mais se incentiva o desejo em relação aquilo que é mal aos olhos do Senhor, sendo essas coisas vendidas como se fossem boas? Ou não estamos sendo incentivamos diariamente a sermos cada vez mais descontentes com aquilo que o Senhor (sendo mais sábio do que nós, e conhecendo nossa necessidade) nos dá?
E de onde vem todas essas coisas, senão da mente diabólica de Satanás e seus demônios, que buscam potencializar o desejo pecaminoso que jaz em nossos corações? Lembrem-nos que quando Satanás tentou a Cristo, propondo que o Senhor se curva-se e o adorasse (ou seja, fosse idolatra), ele não se apresentou primeiro como um deus ou ídolo, mas lhe mostrou todas as riquezas e bens do mundo, afirmando que Jesus obteria tudo aquilo se ele o adorasse. A mesma proposta tem sido feita a todo crente: que ele quebre, ignore, profane sua união com o Senhor, em troca de todos os prazeres desse mundo. Foi assim com muitos dentre o povo de Israel, que aquiescendo à proposta pagã, foram destruídos pela ira do Senhor, pois Deus é zeloso com o que lhe pertence, e não será ridicularizado por aqueles que hora se assentam à sua mesa, hora se assenta à mesa dos demônios.
A advertência de Paulo é clara: essas coisas lhes sobrevieram (a destruição de muitos em Israel por causa da idolatria) como exemplos E FORAM ESCRITAS PARA ADVERTÊNCIA NOSSA (v. 11).
Àqueles que desejarem profundamente manterem-se fiéis à Cristo e a união que possuem com ele, receberão do Senhor o livramento necessário para que a tentação jamais exceda a capacidade de cada um de resisti-la, pois mais poderoso do que o apelo mundano a que adoremos a demônios, é a graça de Deus que reserva nosso coração somente à Cristo Jesus. A cultura anticristã e diabólica do mundo tentará nos arrastar para longe daquele que, em seu corpo e sangue, se mostra sempre unido a nós, mas nunca conseguirá finalmente nos tirar das mãos do supremo pastor, que entregará ao Pai todas as ovelhas que foram postas sob seu cuidado.
Nada obstante, a história de Israel direciona para nós um aviso: lembrem-se dos 23 mil que num só dia caíram, e dos foram mordidos pelas serpentes, ou dos foram destruídos pelo exterminador.
Conclusão
Tratando da Escritura Sagrada, e consequentemente, do registro de toda a história da redenção e estabelecimento do Reino de Deus desde o Antigo Testamento, a confissão de fé de Westminster afirma:
Símbolos de Fé: Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve Catecismo Capítulo I: Da Escritura Sagrada
foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda.
Assim, devemos receber com temor, tremor e alegria, advertência do presente texto, a fim de que preservemos nossa união com Cristo, que nos assegura que pertencemos ao Deus Triuno, e a ele somente.