O Evangelho: Revelação de Jesus Cristo - Gl. 1:10-17

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Observação preliminar
Não estavam em pauta apenas modificações do evangelho (v. 8,9), mas também difamações pessoais. Porém Paulo tem para elas apenas dois breves questionamentos, para logo voltar novamente ao tema do “evangelho”.
Ele sabe que, ao solaparem sua credibilidade pessoal, o objetivo é somente desestruturar a sua pregação. Por isso ele faz uma declaração importante para, por assim dizer, polir o seu Evangelho, assim como se pule um espelho, limpando-o de todos os sedimentos.
O evangelho deverá estar diante dos gálatas novamente como um espelho reluzente da graça de Deus. É nessa perspectiva que encontramos nesse trecho a tese fundamental, pelo menos da primeira grande parte da carta, Gl 1:6–2:21.
V - 11 Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem,
Este é o argumento mais poderoso, o eixo principal, por assim dizer, em torno do qual gira toda a questão, a saber, que ele não recebeu o seu evangelho da parte de homens, mas lhe foi revelado por Deus mesmo.
E uma vez que isto podia ser negado, Paulo oferece uma prova fundamentada em um relato dos acontecimentos. Para transmitir maior autoridade à sua afirmação, ele declara que não está falando sobre um assunto duvidoso, mas sobre um assunto que está disposto a comprovar.
O início da frase é bem chocante: “Pois faço-lhes saber” – como se ainda não o soubessem. Eles, porém, por certo conheciam muitos dos fatos que Paulo lhes irá relatar.
Entretanto, estavam agindo como se não os conhecessem. De outra forma, não estariam dando ouvidos aos deturpadores do verdadeiro e único evangelho da salvação.
É por essa razão que o apóstolo precisa lembrar-lhes novamente da verdade acerca dele e do evangelho que ele proclama.
E ele o faz de uma forma mui habilidosa e terna, chamando-os de “irmãos”, pois, mesmo agora, a despeito de seu desvio, ele os considera membros da mesma família espiritual da qual ele também é membro.
O assunto para o qual ele chama a atenção é “o evangelho por mim pregado”; pregado assim, eles o ouviram e são responsáveis pelo que ouviram; por mim – não importa o que os inimigos tenham proclamado; o evangelho – pois, como afirmou previamente, a defesa que o apóstolo faz em seu favor, na verdade é uma defesa em favor do único e suficiente evangelho.
V - 12 Porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo
Temos de levar em conta as armas com que os falsos apóstolos atacavam a Paulo, alegando que seu evangelho era deficiente e espúrio; que o obtivera de um mestre inferior ou incompetente e que sua instrução imperfeita o levava a fazer asseverações imprudentes.
Orgulhavam-se, por outro lado, de que haviam sido instruídos pelos mais preeminentes apóstolos, cujos pontos de vistas eles, os falsos apóstolos, conheciam muito bem.
Era, portanto, necessário que Paulo expusesse sua doutrina em oposição a todo o mundo e a alicerçasse no fato de que não o aprendera nas escolas de qualquer homem, e sim mediante revelação da parte de Deus. De nenhuma outra maneira ele poderia ter repelido as calúnias dos falsos apóstolos.
MEUS IRMÃOS PRECISAMOS TRAZER A MEMÓRIA ATOS 9:4-5.
4 E , caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 5 Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
PRECISAMOS TRAZER A MEMÓRIA PAULO ANTES E DEPOIS DE TER UM CORAÇÃO REDIMIDO PELO SENHOR.
Só quando a luz celeste desceu repentinamente sobre ele e o envolveu, e quando ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues? … Eu sou Jesus a quem tu persegues”, etc. – só então é que tudo mudou.
Foi próximo de Damasco que se realizou, em princípio, essa mudança radical, e Paulo, então, recebeu seu evangelho.
Agora contemplava a Cristo como o verdadeiramente ressurreto e exaltado, cheio de majestade e poder, mas também… cheio de amor incompreensível, um amor tão maravilhoso e condescendente, que buscara e achara esse cruel e mordaz inimigo a fim de fazer dele um ardente e amoroso amigo.
Vs 13-14 Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. 14 E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
Paulo então menciona rapidamente três fatos importantes: a. sua vida como perseguidor, b. sua conversão e c. sua atividade imediatamente após sua conversão, a fim de mostrar por meio desses três acontecimentos que seu evangelho não lhe fora dado por nenhum agente humano, senão que o recebera como dádiva de Deus. Então escreve:
Porquanto vocês têm ouvido de minha antiga forma de vida quando praticava a religião judaica. Sim, os gálatas ouviram, provavelmente do próprio Paulo e de outros, sobre a forma como ele conduzira sua vida enquanto ainda estava regulada pelos princípios que governavam a vida dos judeus ainda não convertidos a Cristo.
E prossegue: como perseguia a igreja de Deus além de todos os limites e a procurava destruir. Para tal propósito não era necessário que Paulo mencionasse detalhadamente todas as coisas horríveis de sua atividade destruidora: que tinha a ver tanto com homens quanto com mulheres, quando as vítimas eram presas com correntes, metidas em cárcere, coagidas a blasfemar e, às vezes, levadas à morte (ver At 8.3; 9.1, 13, 14; 22.4, 5; 26.10, 11).
ATOS 8.3:
Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere.
ATOS 9.1:
Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote
ATOS 9.13-14:
Anias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; 14 e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.
ATOS 22:4-5:
4 Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres, 5 de que são testemunhas o sumo sacerdote e todos os anciãos. Destes, recebi cartas para os irmãos; e ia para Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para serem punidos.
ATOS 26:10-11:
10 e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. 11 Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.
Note que a palavra “Igreja”, como é usada aqui, tem um conceito universal (diferente de 1.2, 22), e que, como tal, engloba tanto judeus quanto gentios.
V14 - A atividade de perseguição já foi descrita, ainda que em termos gerais. Agora o que é descrito é o motivo ou ímpeto que estava por trás dessa atividade destruidora. Para Paulo, esse estímulo recebeu o apoio do progresso que ele alcançara dentro do judaísmo farisaico, uma religião de obras e escravidão, e por sua descoberta de que esta religião era precisamente o oposto da religião cristã, religião essa cuja base era a graça e a liberdade.
FILIPENSES 3.6:
Quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível
PERSEGUIDOR - 1. perseguir — fazer sofrer, seja física ou emocionalmente.
Isso não nos surpreende, pois, como no-lo diz em Gálatas 1.14, ele estava “progredindo” na religião judaica, estava “abrindo caminho” à semelhança de um pioneiro, que com sua foice vai abrindo uma picada pela floresta, destruindo todo obstáculo a fim de poder avançar.
Essa religião judaica (literalmente “o judaísmo”) de que Paulo fala não era aquela revelada no Antigo Testamento, cujas linhas – históricas, tipológicas, psicológicas e proféticas – convergem em Belém, no Calvário e no Olival.
Não, a religião judaica da qual Paulo fazia parte e se fazia progredir era aquela na qual a santa lei de Deus era sepultada sob o peso das tradições humanas, as quais Paulo chama “as tradições de meus pais”, a “halakah”, ou todo o corpo de leis orais judaicas, que suplementava a lei escrita.
Por meio da obediência à lei mosaica, interpretada por todas essas tradições, muitas delas triviais e às vezes até mesmo diretamente contrárias à própria intenção do mandamento original, os judeus, inclusive Paulo antes de sua conversão, tentavam abrir caminho para “o reino do céu”. E, segundo o próprio testemunho de Paulo aqui, ele avançara em sua religião judaica muito mais que muitos de seus companheiros dentre seu povo.
E à medida que progredia na religião judaica, naturalmente avançava também em seu ódio contra a religião cristã. Aliás, ele avançara tanto em seu pavoroso fanatismo, que nessa área de terrorismo ele já havia ultrapassado a seu próprio mestre, Gamaliel (At 5.33–39).
33 Eles, porém, ouvindo, se enfureceram e queriam matá-los. 34 Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, 35 e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. 36 Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. 37 Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. 38 Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; 39 mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
Para entender o que Paulo pretende comunicar, é preciso ter em mente seu propósito em lembrar aos gálatas esses tristes episódios de sua vida. Ele está dizendo que não existe persuasão humana que fosse capaz de transmitir o evangelho a um tão convicto e feroz perseguidor como ele fora. Seu propósito é provar que seu evangelho não é oriundo dos homens, mas que procede de Deus.
Com esse mesmo propósito em mente é que ele prossegue:
V 15-16a Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve 16 revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue,
Aqui se narra a história da conversão de Paulo do lado “de dentro”. Com certeza havia também o lado exterior ou físico.
A conversão de Paulo não fora produto de uma mera imaginação subjetiva. O que ele vira não era nenhuma alucinação.
Realmente, ele contemplara com seus olhos físicos o Cristo exaltado.
Realmente, com seus ouvidos físicos ele ouviu a voz do Senhor.
O aspecto exterior e físico, porém, jamais teriam sido suficientes. O que Paulo viu e ouviu tinha que ser aplicado a seu coração.
E essa história é aqui narrada. “Quando, porém, aprouve àquele (…) revelar seu Filho em mim” também pode ser traduzido: “Quando, porém, em seu beneplácito, ele (…) revelou seu Filho em mim.”
As palavras “que me separou (…) e me chamou por sua graça” formam uma combinação em que são enfatizados tanto o soberano beneplácito de Deus quanto seu maravilhoso amor por alguém que nada merecia.
A expressão “me separou desde o ventre de minha mãe” designa muito mais que a atividade divinamente providencial revelada no nascimento físico de Paulo.
Indica que Deus não esperou até que Paulo comprovasse primeiramente sua dignidade ou excelência para então designar-lhe uma função importante em seu reino.
A MARAVILHOSA DOUTRINA DA ELEIÇÃO
Desde seu nascimento, Paulo já havia sido designado para essa missão específica, e tal designação era em si a expressão do plano de Deus desde a eternidade (Ef 1.11).
EFÉSIOS 1.11:
Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
Dessa forma, o verbo separou, como empregado aqui, significa nada mais nada menos que “selecionou” (me), “consagrou” (me), “separou” (me) do resto da humanidade. De modo semelhante, “chamou-me em sua graça” se refere aqui não só à vocação eficaz para a salvação mediante a santificação (v. 6), mas também à nomeação para o apostolado plenário.
Há aqui uma alusão muito clara a Jeremias 1.5: “Antes que o formasse no ventre materno eu o conheci; e antes que você saísse da madre, o consagrei, e o constituí profeta às nações”.
Quão maravilhosamente ele operou essa graça no chamamento de Paulo. Ela transformou um homem que respirava ameaças e morte contra a Igreja de Cristo em alguém que passou a respirar doxologias sempre que meditava nesse maravilhoso amor redentor que Deus mostrara, sim, a ele, um homem tão indigno!
O propósito imediato dessa separação e vocação era, segundo se declara aqui, “revelar seu Filho em mim”. Revelar, isto é, “remover as escamas dos olhos espirituais de meu coração, assim como se removeram as escamas de meus olhos físicos” (At 9.18).
Imediatamente, lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver.
Gálatas C. Este Evangelho Tem Sua Origem em Deus, Como Revelam as Experiências de Paulo Antes, Durante e Logo depois de Sua Conversão (1.11–17)

Além do mais, Paulo não diz “Jesus” ou “Cristo Jesus”, mas “seu Filho”, pois Deus queria que ele visse que esse Jesus a quem ele estava perseguindo, nas pessoas de seus discípulos, era realmente o unigênito Filho de Deus, participante da própria essência divina, mesmo sendo ele Deus! Ainda assim, as palavras “revelar seu Filho em mim” significam muito mais que meramente “para meu intelecto”.

A frase faz referência à graça iluminadora (“para revelar”), que é ao mesmo tempo transformadora (cf. 2Co 3.18). Quanto mais Paulo percebia que era ao Filho de Deus que ele estivera perseguindo, e que, apesar disso, esse Filho tivera misericórdia dele, e que em seu infinito e terno amor o buscara, freando seu curso e o transformando em um ardente embaixador dos mistérios da graça, tanto mais ele amava e adorava esse Cristo!
2Co 3.18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
FINALIZANDO NOSSO SERMÃO
Vs - 16b, 17. Isso vale também com respeito à experiência que o apóstolo teve imediatamente e pouco tempo depois de sua conversão, pois ele prossegue: não me aconselhei em seguida com carne e sangue, nem subi a Jerusalém aos que já eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia, e regressei de novo a Damasco.
Tendo sido guiado pela mão a Damasco (At 9.8), Paulo não permitiu que ninguém lhe impusesse idéias subjetivas. Não negamos que Ananias, sob a diretriz do Senhor, visitou o ex-perseguidor, impôs sobre ele suas mãos, restaurou sua vista, batizou-o e afirmou que ele, Saulo, seria uma testemunha perante todos os homens (At 9.10–18; 22.12–16). Tudo isso, porém, fora feito em obediência ao próprio Cristo. Aliás, Ananias ouvira tantas notícias ruins sobre Saulo, o perseguidor, que não desejava cumprir a ordem que recebera. Sua relutância teve que ser vencida (At 9.13, 14).
Tendo permanecido vários dias em Damasco, Paulo, em vez de ir a Jerusalém a fim de receber, dos outros apóstolos – cujo apostolado ele reconhecia plenamente! –, instruções sobre o conteúdo do evangelho, decidiu prontamente não ir para lá. As palavras “não me aconselhei em seguida com carne e sangue” não significam “não em seguida, mas posteriormente”; ao contrário, significam “Imediatamente decidi não me aconselhar com carne e sangue”; isto é, decidi não me aconselhar com o mero homem, com toda sua fraqueza, em contraste com o Deus Onipotente
De modo que Paulo não foi a Jerusalém naquele tempo. Literalmente, ele escreve: “não me coloquei imediatamente sob aqueles que eram apóstolos antes de mim”, isto é, buscando seus conselhos ou aprovação. Ele sabia muito bem que, tendo visto o Senhor e recebido dele mesmo o evangelho e a vocação para proclamá-lo, estava nas mesmas condições que os outros apóstolos. Então, em vez de ir a Jerusalém, ele foi para a Arábia!
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