Mateus 25.1-13
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted • Presented
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· 10 viewsO autor direciona a seus ouvintes/leitores uma exortação, declarando que embora o retorno de Cristo pareça demorar-se, tal evento é uma realidade, e portanto, a igreja deve estar preparada para encontrar-se com o Noivo.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Tendo iniciado a sequência de exortações através de parábolas, começando a partir do versículo 45 do capítulo 24, Cristo prossegue sua abordagem pastoral para com os discípulos, alertando-os quanto à expectativa que devem nutrir no coração a respeito de sua segunda e derradeira vinda, o que os fará estar preparados para esse grande momento.
A proposição desta segunda parábola assume caráter semelhante àquelas que desenvolveu anteriormente, segundo o registro do presente evangelho, no tocante a apresentação do Reino por meio de comparações (e.g. "O reino dos céus é semelhante a..." cf. caps. 22.1-14; 20.1-16; 13.24-30, 31-32, 44, 45-46, 47-50, 52). Em face disso, a introdução de Cristo no versículo 1, anexa o caráter de apresentação do Reino à própria temática escatológica.
A intenção do Senhor Jesus com isso, é fazer com que seus discípulos percebam que seu retorno está diretamente ligado ao estabelecimento do Reino à luz de todas as palavras anteriores, concedendo uma percepção cumulativa quanto a ele. Assim, além de tudo o que foi dito, o retorno de Cristo representa também a consumação dos planos redentivos do Senhor, através dos quais publica seu Reino sobre todas as coisas.
Remontando ao ponto distintivo entre os que aguardam sua vinda e os que estão alheios a ela, Cristo propõe a presente parábola enfatizando outro aspecto da relação dissociativa entre ambos os grupos. A caracterização das personagens encarrega-se de centralizar o foco da exortação: "Cinco dentre elas [as virgens] eram néscias (gr. "μωρός") e cinco, prudentes (gr. "φρόνιμος"), podendo essa adjetivação ser uma forma de Cristo rememorar as palavras ditas nos versículos 36 ao 44, em que os que foram pegos de surpresa pelas águas do dilúvio foram exterminados, assim como as virgens néscias ficarão de fora da festa de casamento, que representa a reunião da igreja com o Senhor.
Para além da exortação à vigilância (cf. 24.36-44) e ao serviço diligente que devem prestar enquanto aguardam o retorno do Senhor (cf. 24.45-51), Jesus eleva o coração de seus discípulos à compreensão de que eles devem estar prudentemente prontos para o grande encontro com o Rei, ainda que estejam vivenciando as mesmas experiências que os incrédulos, o que pode sugerir que o Senhor tarda, mas isso é apenas aparente.
Observando essas considerações, o texto de Mateus 25.1-13, focaliza como ideia central a prudência no aguardo do retorno de Cristo.
Elucidação
Como introduzido, a proposição parabolar de Cristo, segundo os termos das falas anteriores, em que procurou estabelecer uma comparação que elucidasse o caráter do Reino dos céus, aproxima a presente seção daqueles contextos, criando assim uma correspondência entre a temática de sua segunda vinda com o estabelecimento do Reino dos céus.
A exortação direcionada aos discípulos, encriptada por meio da parábola (cf. Mt 13.11), se encarrega de reforçar o tom de separação entre aqueles que conhecem o Reino e a ele foram chamados, dos que não possuem esse privilégio, e portanto, não podem discernir o significado do que está sendo realmente proposto por Cristo, tanto por uma questão de falta de discernimento espiritual devido a condição de rebelião em que se encontram os que não foram chamados à fé no Messias, quanto por, como já antecipado, estarem alheios a grande promessa que está sendo feita pelo Senhor: seu retorno. Diante disso, outra faceta da postura vigilante que os discípulos devem nutrir é explicada pelo Senhor na presente parábola.
Como registrado no versículo 1: "[...] Dez virgens que, tomando suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo". O pano de fundo usado por Cristo como elemento cênico da parábola é o banquete nupcial oferecido em homenagem a um casal que estava prestes a efetivar o enlace matrimonial. Como parte do rito, o noivo após ter recebido a noiva das mãos de seus pais, dirige-se ao local onde vai ser realizado o banquete, sendo acompanhado por um séquito de virgens, no caso, dez virgens. Para além dessa descrição, um comentário é feito nos versículos 2 à 4, especificando uma distinção entre essas virgens:
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
O fator distintivo entre os dois grupos, principalmente a partir das qualidades de prudência e tolice, ecoa as observações anteriormente feitas, enfatizando a prontidão que os discípulos deveriam ter para com a realidade do retorno de Cristo, e a tolice dos ímpios, que não estão apercebidos disso, conforme mencionado anteriormente, segundo a seção de 24.36-44.
Entretanto, após essa descrição, ambos os subgrupos de virgens são submetidos à uma mesma experiência, no caso, a aparente demora do noivo, em razão da qual, néscias e prudentes adormecem: "E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram" (v.5). Esse aspecto da parábola das dez virgens, assemelha-se ao contexto anterior referido na parábola do dois servos: o servo mau, assume uma postura negligente para com seu senhor, alegando: "meu senhor demora-se" (cf. v.48).
O ponto que é referido pela parábola consiste de um adiantamento feito por Cristo, prevendo que em algum momento no desenrolar do curso histórico, o seu retorno pode aparentar aos discípulos algum atraso ou delongamento, e nesse ínterim, o diferencial entre os agentes do Reino e os ímpios novamente se evidenciaria, pois, as virgens prudentes (que representam os agentes do Reino), embora tenham adormecido, não passaram a ser adjetivadas como "néscias", pois haviam se precavido mediante a reserva de azeite em suas vasilhas (cf. v.4).
O trato pastoral do Senhor para com seu público (o que abrange também a intenção do registro evangélico feito por Mateus) é demonstrar que essa percepção de demora em relação a seu retorno é apenas aparente, e aqueles que verdadeiramente aguardam sua vinda, ainda que em algum momento achem isso, estarão apercebidos, mantendo-se vigilantes e atentos aos sinais que antecipam o momento da publicação do Reino dos céus por ocasião do retorno do Senhor Jesus.
Nesse ponto da parábola, o Senhor retrata o caráter inesperado do seu retorno, mediante o registro da chegada repentina do noivo: "Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro" (v.6). O súbito aparecimento do noivo, aponta para a esse mesmo aspecto da vinda do Senhor, conforme sempre alertado ao longo do discurso profético (cf. 24.27, 32-33, 43-44).
Contudo, na parábola, embora a chegada súbita do noivo receba foco, é a reação das virgens que protagoniza e centraliza a exortação. No momento em que são despertadas pela ordem de encontrarem-se com o noivo, as virgens néscias percebem que suas lâmpadas estão se apagando. O caráter cultural nesse ponto, comunica a intensidade do transtorno, pois as virgens como parte integrante do cortejo nupcial, necessitavam estar com as lâmpadas acessas, então, as néscias solicitam azeite das prudentes, pedido que é recusado, tendo em vista que "não nos falte a nós e a vós outras!" (v.9).
Indo as néscias, aos mercado e aos vendedores a fim de comprarem azeite, um comentário é feito:
E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta.
Segundo comentário da Bíblia de Estudo Herança Reformada, o fechar da porta representa o juízo de Cristo que "é definitivo e sem qualquer reversão" (BÍBLIA DE ESTUDO HERANÇA REFORMADA, 2018, p. 1372). As virgens tolas, por não terem aguardado o retorno do noivo de maneira prudente, isto é, crendo que certamente ele voltaria, o que as faria confiar nisso a despeito da demora, não são levadas para a festa de casamento. Ao retornarem, até batem na porta, querendo adentrar para o banquete, mas são excluídas pelo noivo, que alega não as conhecer (v. 12).
Interpretando a parábola, o Senhor Jesus resume seu significado, a partir da exortação simples, que vem sendo repetida desde o início de sua fala aos discípulos: "Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora [em que o Filho do Homem virá] (mms gr.) (v.13).
Transição
Embora diversos aspectos culturais, e portanto, familiares aos discípulos, tenham sido empregados na parábola, o sentido exprimido por Cristo nessa fala é simples e direto: a vigilância quanto ao seu retorno, efetivamente fará separação entre aqueles que com ele entrarão para as bodas do Cordeiro, isto é, para a reunião do povo com Deus, e aqueles que ficarão de fora, o que retrata juízo e condenação.
Mateus, direcionando esse registro ao seu público, exorta a igreja a não se deixar enganar pela aparente demora do retorno do Senhor, ainda que durante esse período de espera, o discípulos do Senhor estejam sendo submetido à sofrimento. O "atraso" do Rei pegará de surpresa os néscio, mas os prudentes, isto é, os salvos, estarão preparados para encontrar-se com o Noivo.
Apreendendo essas nuances do texto de Mateus 25.1-13, a verdade centralizada e direcionada pelo autor divino/humano à igreja de Deus, pode ser sintetizada na seguinte aplicação:
Aplicação
Cristãos e ímpios vivem nesse mundo, ambos à espera do retorno de Cristo: os primeiros, atentos a chegada desse momento, e os outros, alheios, e embora essa volta aparente atraso, somente aqueles que não ansiam o retorno do Rei, ficarão de fora das bodas, pois não expectavam que o Rei de fato retornasse, como fazem os discípulos.
Como dito, Mateus direciona essa parábola ao seu público-alvo (i.e. cristãos em Roma), tencionando exortá-los a manterem acessa a esperança e expectativa de encontrar-se com seu Senhor em breve.
Aqueles irmãos estavam sofrendo dura perseguição, e criam que o Senhor retornaria, tal como prometeu. Entretanto, Mateus escreve seu evangelho entre o ano 60 a 65 d.C., e já nesse período pairava sobre os crentes a impressão de que o Senhor se demorava em retornar.
Todavia, diferentemente do que fizeram alguns ao longo da história, determinando uma data especifica para a segunda vinda de Jesus Cristo, a fim de aquietarem o coração de seus seguidores, falando do que não sabiam (cf. 24.36), Mateus relembra os discípulos que o que é esperado deles é a prontidão da confiança na promessa do Rei. As virgens prudentes, ainda que tenham sentido a demora da vinda do noivo, mantinham-se convictas de que ele viria, e prepararam-se com reservas de azeite para suas lâmpadas. É isso o que é esperado dos que professam a fé no Senhor Jesus Cristo: confiarem ao ponto de manterem-se preparados para o retorno do Senhor.
Esse "preparo" não é visto no texto como uma espécie de critério que será usado para conferir a uns o ingresso às bodas do Cordeiro, e rejeição aos que não estão prontos. A prudência, conforme o texto exibe, é uma característica inerente àqueles que verdadeiramente creem no retorno do noivo: todo aquele que nutre em seu coração a certeza de que Cristo virá, apesar de, enquanto vive nesse mundo, sentir que ele delonga-se em vir, insiste (pelo poder do Espírito) em esperá-lo, e por esperar prudentemente o cumprimento dessa promessa, entrará para a festa de casamento, no qual será unido ao Noivo eternamente.
Conclusão
"Não vos conheço!" essa será a sentença que o ímpio ouvirá, pois viveu alheio a iminente chegada do Rei. Por outro lado, os prudentes discípulos, que aguardaram ansiosamente o momento em que seriam reunidos a seu senhor, entrarão para as bodas, alegrando-se com a chegada do Noivo, que dará inicio a eterna festa de casamento, entre ele e a igreja.
Cristo triunfa!