Mateus 25.14-30

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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O autor divino/humano registra outra parábola, por meio da qual expande a compreensão dos discípulos de Cristo quanto ao serviço diligente e fiel que é esperado deles, enquanto aguardam o seu retorno.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Continuando a série de parábolas em que ensina seus discípulos a manterem-se vigilantes em relação à sua volta, Cristo agora introduz uma nova parábola, abordando um outro aspecto dessa vigilância.
A perspectiva do Senhor é tanto reforçar a virtude principal que distingue apercebidos (justos) de néscios (ímpios) preparando os primeiros para as bodas, enquanto que os últimos, em sua ignorância e indiferença quanto ao retorno do Rei, são apanhados de surpresa e julgados pelo próprio Cristo.
À luz da seção anterior, foi adiantado aos discípulos que a aparente demora do retorno de Cristo, não justificaria uma postura néscia com relação a sua vinda, e tal ação seria retribuída com a exclusão das bodas (v. 11-12). Agora, na parábola dos talentos, a postura servil dos servos enquadra a ação esperada pelo Senhor de seus discípulos, em que tendo confiado-lhes tesouros, ele espera que ao retornar, encontre seus servos cumprindo com diligência a tarefa para a qual foram designados.
Notando os contornos exortativos que Cristo concede às parábolas que propõe a seus discípulos, dando-lhes cada vez mais discernimento quanto ao seu retorno e ao modo como devem esperar por ele, a presente passagem encoraja os discípulos ao serviço diligente em face do retorno de Cristo.
Elucidação
Neste ponto, já ficou evidente aos discípulos que o Senhor está enfatizando aspectos mais pastorais do que propriamente escatológicos quanto a sua vinda. Os sinais fornecidos antes (cf. 24.4-31) são suficientes para que qualquer discípulo atento possa discernir quando a vinda do Senhor se aproximaria. Portanto, a postura daquele que aguarda o Rei é centralizada por Jesus, para que ficasse claro quais deveres eram requeridos deles nesse ínterim.
A vigilância (cf. 24.36-44), fidelidade e serviço (cf. 24.45-51), e a prudência (cf. 25.1-13) foram as virtudes anteriormente ensinadas por Cristo a fim de que por meio delas seus discípulos aguardassem seu retorno por meio de uma obediência diligente; diligência essa que agora é apresentada por meio de outra parábola que a focaliza.
Na presente parábola o Senhor anuncia outra situação que encena ou dramatiza como será o Reino dos céus (cf. v. 14): "Será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens".
Não era incomum que grandes donos de propriedades viajassem à negócios ou para vistoriarem outras terras que lhe pertenciam, e essas viagens não tinham uma data certa de retorno, devido às muitas variáveis que a poderiam atrasar ou adiantar. A imagem retratada por Cristo é colhida então do dia-a-dia dos discípulos.
Um dono de terras, antes de empreender saída, encarrega três servos de cuidarem de uma soma considerável de dinheiro (v.14). O talento grego era uma moeda cujo valor poderia variar entre 6.000 à 30.000 denários. Levando em consideração que o piso salarial para um dia de trabalho era um denário (cf. Mt 20.1-16), o Senhor retrata na parábola que uma grande quantia de dinheiro foi deixada sob responsabilidade daqueles homens.
A despeito do valor tesouro, a divisão dos talentos foi feita, conforme registra o versículo 15, tendo como critério a capacidade de cada servo: "A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo a sua própria capacidade", isso sugere que cada um recebeu o que poderia administrar, sem excessos ou faltas.
A narrativa propõe a diligência empregada por cada servo em administrar os recursos que recebera:
Mateus 25.16–18 ARA
O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor.
A maior parte das versões (NAA, NVI, ESV, Jerusalém, ARA) segue uma das possíveis leituras variantes (conforme testemunhas do texto grego), em que o advérbio "εὐθέως" (trad. "imediatamente") é atribuído ao servo que ganhou cinco talentos, caracterizando sua presteza em atender à ordem de seu senhor, o que é replicado pelo uso de outro advérbio; "ὡσαύτως" (trad. "do mesmo modo") em relação ao servo que recebeu dois. O ponto em questão - quer se siga a leitura das versões, ou a alternativa, em que o primeiro advérbio é aplicado à partida do senhor (i.e. "chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. ... e imediatamente partiu") - os dois primeiro servos, mostram-se interessados em operar de acordo com a ordenança de seu senhor, fazendo com que o dinheiro posto sob a responsabilidade deles, rendesse pelo menos o dobro da quantia investida.
De contra partida, o terceiro servo omitiu-se do cumprimento do dever, escondendo o dinheiro do senhor. Essa atitude poderia ser interpretada como tendo o servo algum receio de perder o tesouro que não era seu. Entretanto, as atitudes descritas por Cristo na parábola, sugerem que na verdade o coração do terceiro servo é indiferente para com o senhor e seu tesouro, ainda que o que lhe fora confiado, o foi com base em sua própria capacidade, o que fica claro no momento em que a prestação de contas acontece: "Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles" (v.19).
Os dois primeiros servos que receberam talentos, apresentam-se ao senhor, expondo os resultados do trabalho que empreenderam no cuidado e administração do que receberam:
Mateus 25.20 ARA
Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei.
O primeiro servo entrega a seus senhor a soma dobrada dos talentos que recebera para cuidar. Tendo empregado os meios necessários (cf. v.16 "[...] saiu a negociar..."), o árduo trabalho do primeiro servo é recompensado com uma expressão de louvor da parte de seu senhor, que segundo sugere a parábola, havia preparado uma festa (cf. v.21 "[...] entra no gozo...") em seu retorno, na qual também homenageia aqueles empregados:
Mateus 25.21 ARA
Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
O mesmo ocorre com o segundo servo, ao entregar ao senhor, quatro talentos; quantia que representa o dobro do que lhe foi entregue. Também a este é estendido louvor e o convite para adentrar a festa de seu senhor (v.23).
Entretanto, ao apresentar-se o último servo, que recebera um talento, o mesmo expressa sua indiferença para com o tesouro do senhor, e consequentemente para com o próprio:
Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu (vs. 24-25).
Como comentado anteriormente, embora o termo usado pelo servo para exprimir a razão para ter enterrado o talento do senhor, ao invés de negociar como fizeram os outros, tenha sido "receoso" (gr. "φοβέω"), ao afirmar "aqui tens o que é teu", o servo usa uma terminologia que comunica desinteresse. Segundo Craig Keener, essa frase "era empregada nas transações judaicas com o sentido de "não sou mais responsável por isso"" (KEENER, 2017, p.125).
Tanto os discípulos de Cristo quanto o público para o qual Mateus estava dirigindo seu registro evangélico, eram conhecedores dessa peculiaridade da parábola. Diante disso, o ponto-chave da exortação consiste em transmitir uma postura negativa que receberia a condenação do próprio Cristo, diante da negligencia de seus servos para com as atribuições para as quais foram encarregados pelo Senhor, dentre elas, o testemunho do evangelho (cf. 28.18-20), mas primariamente, a própria espera por seu retorno.
A cada discípulo foi dado, além de talentos ou capacidades próprias para desempenharem seu serviço a Cristo, o poder de aguardar o Senhor, crendo resolutamente no cumprimento da promessa de sua segunda vinda. Expandindo o princípio ensinado na parábola dos dois servos (cf. 24.45-51), agir como se Cristo não fosse retornar, demonstrava mais do que displicência ou falta de confiança na promessa da segunda vinda, mas, à luz da parábola dos talentos, especialmente a partir da postura do terceiro servo, também completo desinteresse no Senhor e no estabelecimento de seu Reino.
Ao ouvir as justificativas do servo, o senhor da parábola o julga severamente:
Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes (vs. 26-39).
Diferentemente do que se poderia esperar, o servo não é julgado por ter sido medroso, ou ainda, indolente, mas como "mau" e "negligente" (v.26), e ainda, ao final, como "inútil" (v.30), confirmando a ideia de desinteresse dele para com o senhor e seu tesouro.
A expressão de julgamento "ali haverá choro e ranger de dentes" (v.30) é idêntica ao verso 51 do capítulo 24, em que o servo mau também é julgado por seu senhor. A aproximação entre as parábolas, elucida temáticas semelhantes: os servos maus das duas parábolas, são julgados e condenados com veemência por seus senhores, por terem ignorado a vinda dos senhores, agindo com irresponsabilidade. Porém, a maldade dos último servo é agravada pelo fato de que lhe fora dada uma tarefa para qual tinha competência, mas ativamente desprezou seu senhor.
Transição
O desprezo dos incrédulo é a temática proposta agora por Mateus mediante o registro da presente parábola. O servo mau do texto de 24.45-51, espanca seus companheiros e come e bebe com ébrios, o que representa um modo de vida totalmente alheio ao retorno de Cristo, tal como é vivido pelos mundanos. Não obstante, no caso do servo retratado nos versículos 14 à 30 do presente capítulo, a postura de ignorância é ativa, demonstrando a completa indiferença dos ímpios para com Cristo por desejo próprio.
Mateus registra a parábola para retratar ao seu público outra faceta da vida tola daqueles que estão oprimindo a igreja: agem de maneira desprendida de qualquer temor a Cristo, e dão às costas a iminência de seu retorno.
Como afirmando, o julgamento é idêntico no caso dos dois servos (da parábola do capítulo 24 e desta), reforçando e intensificando o julgamento a ser experimentado pelos ímpios: deram às costas a Cristo, e viveram ativamente indiferentes para com o iminente retorno do Senhor; serão por isso lançados nas trevas (uma metáfora judaica para o que entendiam ser o inferno), onde sofrerão os terrores da ira divina.
Diante disso, a parábola expressa algumas verdades a serem compreendidas pela igreja:
Aplicações
1. O Senhor tem dado a seus servos a incumbência de aguardarem seu retorno trabalhando diligentemente para a publicação de sua glória.
Embora seja uma afirmação verdadeira, o ponto central da parábola não é a distribuição de dons e talentos por meio dos quais devemos servir ao Senhor Jesus Cristo e a seu Reino. A temática escatológica ainda presente na parábola, ecoando tudo o que foi apresentado no início do capítulo 24, aponta para a ordenança recebida pelos crentes de trabalharem diligentemente enquanto esperam seu Senhor, como forma de demonstrarem sua fidelidade e amor para com ele.
Os dois primeiros servos devotam-se à administração dos talentos, porque desejavam ser fiéis a seu senhor, cumprindo o mandado que lhes foram confiado. Eles têm plena convicção que seu senhor há de retornar, e portanto, agem à luz dessa certeza: com trabalho diligente.
Ao retornar, seu senhor os caracteriza exatamente dessa forma: servos bons e fiéis (vs. 21,23), virtudes que devem estar presentes no coração daqueles que esperam a Cristo Jesus.
O Senhor certamente voltará, e tendo certeza disso, devemos trabalhar, ou seja, obedecer a Cristo nesse mundo, expectando o momento em que prestaremos contas de nosso serviço ao Senhor. Como teremos vivido? Teremos tratado-o com indiferença, agindo como descrentes, ou faremos tudo o que for possível para sermos encontrados fiéis?
O que nos liga à segunda aplicação.
2. Os ímpios não ignoram o retorno de Cristo por mera displicência (e.g. o servo mau (cf. vs. 48-51)), mas ativamente dão às costas ao Senhor, agindo com total indiferença em relação à sua iminente volta.
A primeira parábola em que servos são descritos (vs. 45-51) registra a tolice do servo mau, em viver como se seu senhor não fosse retornar de uma forma indireta. Ele entrega-se aos prazeres da vida, fazendo pouco ou nenhum caso de que um dia seu senhor retornaria.
O terceiro servo descrito na presente parábola, como dito, mostra uma ativa indiferença e desprezo para com o senhor o seu tesouro. (cf. v.25 "[…] aqui tens o que é teu...").
Isso demonstra que o ímpio (representado nos dois casos pelos servos maus), não está alheio à volta de Cristo por mero descuido, mas porque ativamente despreza o Senhor Jesus em seu coração. A descrição cuidadosa do sentimento ímpio para com o Senhor, é enfatizado por Cristo nessas parábolas a fim de que nós sejamos advertidos: viver como se o Senhor não fosse retornar, não é uma postura característica daqueles que foram chamados ao Reino, mas daqueles que ficarão fora dele, sofrendo nas trevas… onde haverá choro e ranger de dentes.
Nós não fomos deixados à mercê da nossa ignorância, mas fomos iluminados com a salvação do Senhor, que abriu nossos olhos para o perigo que corríamos; de sermos eternamente condenados, e tendo nos transformado em seus servos, fomos incumbidos da responsabilidade de servi-lo até que ele retorne, quando entraremos no gozo de nosso Senhor.
Conclusão
Todos aqueles que foram convocados ao Reino dos céus, e aguardaram com fidelidade e serviço diligente seu estabelecimento, ouvirão as suaves palavras do Senhor Jesus que lhes dirá: "muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, nas lutas, nas dificuldades e perseguições; sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor!".
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