O CONHECIMENTO DE DEUS
Deus tem revelado claramente sua existência a toda criatura na terra; todas as pessoas sabem que ele existe, quer admitam isso ou não. Entretanto, precisamos ir além de saber que Deus existe, e chegar a um entendimento mais profundo de quem ele é – seu caráter e natureza – porque nenhum aspecto da teologia define todos os outros de modo tão abrangente quanto o nosso entendimento a respeito de Deus.
Falando teologicamente, incompreensível não significa que não podemos saber nada a respeito de Deus, mas, em vez disso, que o nosso conhecimento a respeito dele sempre será limitado. Podemos ter um conhecimento significativo e assimilável de Deus, mas nunca podemos, nem mesmo no céu, ter um conhecimento exaustivo de Deus. Não podemos compreender totalmente tudo que ele é.
Uma razão para isso foi articulada por João Calvino na expressão finitum non capax infinitum, que significa “o finito não pode assimilar o infinito”. A expressão pode ser interpretada em duas maneiras diferentes, porque a palavra capax pode ser traduzida ou por “conter” ou por “assimilar”. Um copo de 200 ml não pode conter uma quantidade infinita de água porque tem um volume finito; o finito não pode conter o infinito. Mas, quando a expressão de Calvino é traduzida com o outro significado de capax, “assimilar”, ela indica que Deus não pode ser compreendido em sua totalidade.
Calvino disse que Deus condescende, em sua graça e misericórdia, em usar linguagem imperfeita para nosso benefício. Em outras palavras, ele se dirige a nós em nossos termos e em nossa linguagem, como um pai falaria com um filhinho. Chamamos isso de “conversa infantil”, mas algo significativo e inteligível é comunicado.
Temos de ser cuidadosos para entender o que a linguagem antropomórfica da Bíblia comunica. Por um lado, a Bíblia afirma o que estas formas comunicam sobre Deus. Por outro lado, de uma maneira mais didática, ela nos adverte de que Deus não é um homem. Entretanto, isto não significa que a linguagem teológica, técnica e abstrata é superior à linguagem antropomórfica e que, portanto, é melhor dizer “Deus é onipotente” do que “Deus possui os animais aos milhares sobre as montanhas”.
Por todas estas razões, Deus não fala conosco em sua própria linguagem. Ele fala conosco em nossa linguagem. E, porque ele fala conosco somente numa linguagem que podemos entender, somos capazes de assimilar o que ele fala. Em outras palavras, toda a linguagem bíblica é antropomórfica, e toda a linguagem sobre Deus é antropomórfica, porque esta é a única linguagem que temos à nossa disposição, e isso porque somos seres humanos.
Uma das maneiras mais comuns de descrever Deus é chamada via negationis. Uma via é uma “estrada” ou um “caminho”. A palavra negationis significa apenas “negação”. E essa é a maneira primária de falarmos sobre Deus. Em outras palavras, descrevemos a Deus por dizer o que ele não é.
Há duas outras maneiras em que os teólogos sistemáticos falam de Deus. Uma é chamada via eminentiae, “o caminho de eminência”, em que levamos conceitos ou referências humanos ao grau supremo, como os termos onipotência e onisciência.
A terceira maneira é a via affirmationis, ou “caminho de afirmação”, pela qual fazemos afirmações específicas sobre o caráter de Deus, como “Deus é um”, “Deus é santo” e “Deus é soberano”.
A linguagem inequívoca se refere ao uso de um termo descritivo que, aplicado a duas coisas diferentes, expressa o mesmo significado.
A linguagem equívoca se refere ao uso de um termo que muda radicalmente seu significado quando o usamos para designar duas coisas diferentes.
Entre a linguagem inequívoca e a linguagem equívoca, há a linguagem analógica. Uma analogia é uma representação baseada em proporção. O significado muda em proporção direta à diferença das coisas descritas.