1Coríntios 11.17-34
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· 26 viewsO autor divino/humano orienta a igreja do SENHOR quanto a importância da comunhão para a ordem e obediência a Deus no culto público, principalmente em relação à observação do sacramento da Ceia, sob ameaça de disciplina, a fim de que o povo de Deus professe sua fé em Cristo, através de um reunião solene e santa, que reflete sua comunhão com o Salvador.
Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Continuando a seção em que tratará da ordem do culto público na igreja de Corinto, o apóstolo Paulo passa a exortar a igreja quanto ao problema que enfrentava em relação ao momento da administração da Ceia do Senhor.
Ecoando a problemática das divisões e partidarismos existentes naquela comunidade, tal dificuldade estava pondo em xeque a participação dos membros nesse momento em que a união da igreja com Cristo é enfatizada. Se as divisões existentes na igreja provocavam separação tal, ao ponto de não haver discernimento do Corpo de Cristo (cf. v.29), isto é, quanto a essa união que todo o crente desfruta com o Senhor e com todos aqueles que com ele também foram unidos mediante a obra redentiva, o próprio fundamento do sacramento estava sendo prejudicado, ao ponto de o apóstolo afirmar que a reunião para a Ceia do Senhor não estava ocorrendo (cf. v. 20 "[...] Não é a Ceia do Senhor que comeis").
A comunhão entre os crentes é não somente um benefício concedido por Deus, através do qual conquistou para si um povo, mas aponta para a essência da igreja: um ajuntamento solene de almas que foram unidas a Cristo. Qualquer egoísmo ou individualidade que fira esse princípio, ferirá também a boa ordem necessária para que o sacramento da Ceia exprima o significado que foi pensado por Deus para comunicar: a obra salvadora do Senhor (cf. [...]"anunciais a morte do Senhor até ele venha..." (v.26)), conforme o apóstolo elenca, ao afirmar que entregou a igreja o que também recebeu do próprio Cristo (cf. v. 23).
Assim, quando ricos não esperam pelos mais pobres, comendo e bebendo ao ponto de se embriagarem (cf. vs. 21-22), ou quando um membro não se vê como parte desse todo, viola o sacramento, comendo-o indignamente e despertando a disciplina divina (v. 27, 30).
Preocupado em que a igreja partilhe da verdadeira comunhão com o Senhor, o que certamente os fará viver em união uns com os outros, o apóstolo Paulo redige o texto de 1Coríntios 11.17-34, centralizando a temática da comunhão mútua como reflexo da união com Cristo como fator ordenador para o exercício do culto.
Elucidação
Como afirmado na análise anterior, os parágrafos estão dispostos a partir das expressões de elogio (v. 2) e repreensão (v.17), traçando uma divisão textual clara entre os tópicos apresentados.
No entanto, é perceptível que uma subestrutura é estabelecida na presente seção, de maneira a centralizar aspectos específicos da exortação que o autor direciona ao seu público.
Pelo menos três subtópicos são desenvolvidos por Paulo, todos orbitando ao redor da virtude da comunhão como princípio necessário para a ordenação do culto público e participação à mesa do Senhor: nos versículo 17-22, o apóstolo introduz uma denúncia, a qual expande a fim de que os coríntios percebam que as divisões existentes na igreja estão impedindo-os de fruírem do sacramento tal como ordenado. Dos versículos 23 ao 26, o apóstolo repete a base da tradição apostólica para instituição da Ceia do SENHOR, também tencionando que a partir dela, os crentes em corinto percebam o quanto estão distantes da celebração daquele sacramento instituído pelo próprio Cristo, como demonstrativo de sua união com a igreja.
Por fim, nos versículos 27 ao 34, Paulo exibe que a violação do princípio fundamental da Ceia do SENHOR acarreta a disciplina divina, que já estava em execução na igreja (cf. v. 30), mas que ao contrário do que poderiam pensar, demonstrava o amor do Senhor para com seu povo, impedindo-os de aviltarem desenfreadamente o sacramento, "não condenando-os com o mundo" (cf. v. 32), e também recomendando-os à união fraternal (e.g. "esperai uns pelos outros" v. 33).
Notada essa organização argumentativa, passaremos analisá-la pormenorizadamente.
1. Denúncia: as divisões como fator obstrutivo para fruição da Ceia do Senhor (vs. 17-22).
Como introduzido, o problema do partidarismo e divisões existentes na igreja de Corinto, permeava vários aspectos da vida da igreja, incluindo o momento de celebração da Ceia do SENHOR no culto. Ao invés de refletirem a união que desfrutavam com Deus por meio da comunhão mútua entre os crentes, o que estava acontecendo na comunidade cristã de Corinto era a a separação elitista de alguns que rejeitavam irmãos mais pobres, ou outros irmãos (por quaisquer motivos), invalidando a observação do sacramento.
Segundo já comentado, a reprovação inicial feita pelo apóstolo, demarca a intensidade da exortação, e portanto, a gravidade do erro cometido pelos crentes naquela comunidade. "Não vos ajuntais para melhor, e sim para pior" (v.17b).
Repetindo o que havia mencionado em 1.11, que recebera da parte dos da casa de Cloe informações sobre a igreja, Paulo afirma que soubera da desordem que pairava sobre aquela congregação, afetando também o culto público, e sendo profundo conhecedor da igreja (inclusive por ter sido seu fundador (cf. Atos 18.1-4)), o autor afirma que crê na delação (cf. v. 18).
Embora ele admita que certa dose de discordância seja válida entre os crentes, a fim de que os "aprovados" (gr. "δόκιμος" = lit. "genuínos") se manifestem (v.19), a divisão que estava sendo provocada na igreja não tinha origem em algum pleito pela verdade ou estabelecimento do que era ordenado por Cristo — situação que legitimaria tais divergências — mas vinha de uma sectarização baseada em princípios completamente antagônicos à realidade salvífica da qual agora fazem parte.
Segundo comenta Craig Kenner:
"Alguns [eram] tratados com maior honra do que outros na refeição. Isso reflete valores mundanos de status. Alguns estudiosos sugerem que o fato de uns cearem antes de outros (v. 21) indica que escravos e outros trabalhadores não podiam chegar à ceia tão cedo quanto os demais, que eram mais abastados e dispunham de mais tempo livre" (KENNER, 2017, p. 577).
Esse aspecto elitista com base em classe social ou situação sócio-econômica, fica claro a partir da segunda parte do versículo 22: "[...] Ou menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm?". O fato era que muitos naquela comunidade estavam promovendo uma separação entre irmãos, com base num princípio mundano de hierarquia social; um ultraje contra o que representa a Ceia do SENHOR.
Em Cristo, ricos e pobres; nobres e plebeus; escravos e livres tomam assento à mesa do SENHOR, pois estão diante do único e verdadeiro Rei de toda a terra. Que princípio poderia ser superior a esse, ao ponto de fazer distinção entre os cristãos?
Aquelas divisões que foram apresentadas inicialmente na carta (cf. 1.12-17; 3.4-5) que evidenciavam preferências intelectuais, agora mostravam-se mais nocivas, numa que apartavam crentes de crentes com base também em diferenças de ordem social, e nesse caso, a própria validade do sacramento estava em cheque, como Paulo afirma no versículo 20: "Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a Ceia do Senhor que comeis".
Os irmãos em Corinto, no momento do culto público e da Ceia, até estavam todos debaixo de um mesmo teto e num mesmo ambiente, mas não estavam ao redor da mesma mesa, no caso, a mesa de Cristo. Os preconceitos radicados no coração dos coríntios configuravam uma ofensa tão séria a natureza da comunhão com Cristo representada no partir do pão, que a própria tradição apostólica estava sendo invalidada.
Enquanto uns (os mais pobres), por não poderem chegar a tempo, ficavam com fome, não participando do momento de maior expressividade em relação a sua comunhão com Cristo, outros (os mais ricos), chegando antecipadamente, comiam e bebiam em demasia, ao ponto de embriagarem-se (v.21).
Tal discrepância demonstrava o total distanciamento daquela igreja do conceito ensinado por Cristo ao ter instituído o sacramento da Ceia, razão pela qual o apóstolo relembra os coríntios as palavras a ele testemunhadas (provavelmente por Lucas) quanto ao momento em que o Senhor declara sua vontade de que a igreja celebre aquele momento de comunhão como parte fundamental de sua confissão de fé no próprio Cristo; confissão essa que será manifesta também por meio da observação do princípio da comunhão entre os crentes.
2. A base tradicional do sacramento como princípio aferidor de sua execução e da comunhão (vs. 23-26).
No versículo 23, o apóstolo repete uma expressão similar àquela encontrada no versículo 2, onde referenciou a tradição que a igreja de Corinto recebera dele: "Porque eu recebi do Senhor 'o que' [a tradição] também vos entreguei". No entanto, há um forte ponto de contraste entre as duas seções em relação a essa tradição. Se a execução da verdadeira tradição foi o que levou Paulo a louvar o coríntios num primeiro momento (vs.2-16), é o distanciamento desta que agora o conduz a demonstrar reprovação pelo procedimento descrito nos versículos 17-22.
A evocação da tradição, nesse ponto, visa exibir o contraste entre o que foi ensinado (sabendo que o fora a partir do que o próprio apóstolo recebera de Cristo), e o que estava sendo praticado na igreja.
As palavras institucionais de Cristo repetidas agora, estampam um quadro por meio do qual os membros da igreja de Corinto podiam aferir o quanto estavam ferindo o princípio comunitário imbuído por Cristo no sacramento que concedeu a igreja, como símbolo de sua união com seu povo.
A evidência de que Paulo recebeu o relato da instituição da Ceia a partir de Lucas, deve-se pela repetição da expressão normativa somente encontrada no evangelho deste, em que Jesus ordena a seus discípulos que se lembrassem dele:
Lucas 22.19–20 (ARA)
E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.
A expressão é repetida por Paulo nos versículos 24 e 25 , com o intuito de que a igreja de Corinto percebesse a procedência daquilo que lhes havia sido entregue como tradição cristã. O momento da Ceia do Senhor não é um banquete qualquer, como aqueles dos quais muitos participavam na sociedade comum de Corinto, em que havia uma forte divisão de classe social ou condição econômica. O sacramento declara a morte de Cristo (v. 26), e ao usar a morte como evento central que embasa o rito, Paulo está sintetizando toda a obra redentiva efetuada pelo Senhor Jesus, através da qual redimiu um povo das mais diversas condições sociais, seja nobre, rico, plebeu ou pobre.
Além disso, o caráter testificativo da Ceia não pode ser ignorado. A igreja, reunida em volta da mesa do Senhor, declara não somente a obra expiatória/redentiva realizada por Cristo, mas também sua volta (cf. v. 26b [...] até que ele venha"), ou seja, que a salvação é uma realidade cuja publicação é iminente. Qualquer alteração ou corrupção do sacramento, põe em perigo o testemunho dessa verdade tão basilar à fé, o que indica que quando a comunhão é quebrada, a igreja que pratica tal rito está falhando não apenas uns com os outros, mas diretamente com o próprio Cristo Jesus.
A violação da ordenança da Ceia do Senhor é um grave pecado cometido; pecado que estava presente no cotidiano da igreja de Corinto. Partidarismos, divisões e preconceitos eram encontrados na mesa onde a união com Cristo deveria preencher com amor os corações daqueles que tinham honra de participar de um momento tão glorioso, declarando inclusive que foram resgatados da condição que os nivelava igualmente como pecadores condenados.
Paulo já havia advertido a igreja (quando tratou da questão do paganismo e idolatria (cf. 10.22)) que não podiam provocar o zelo do Senhor sem que isso não acarretasse duras consequências. A partir do versículo 27, ele passa então a demonstrar que a disciplina divina já estava em prática, tendo em vista a deturpação do sacramento que estavam perpetrando no momento em que se reuniam para a adoração.
3. A disciplina como consequência da violação da unidade da Igreja e demonstrativo da misericórdia divina, e a recomendação à comunhão fraterna (vs. 27-34).
Usando a mesma terminologia anterior, extraída também do capítulo 10, como já comentado, Paulo afirma no versículo 27:
Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.
Ao anunciar tal sentenciamento, o autor realiza um jogo de palavras ao longo dos versículos 27 à 29, com os termos corpo e sangue; pão e vinho, usando-os como dupla referência ao corpo de Cristo representado no momento da Ceia, e o corpo de Cristo que era a própria igreja.
O termo "indignamente" (gr. ἀναξίως), sugere alguém que está assentado à mesa de maneira imprópria, não por causa de algum pecado outro que tenha cometido, mas porque, como será dito no versículo 29, não discerniu o corpo. Tal discernimento viria a partir de um exame criterioso, no qual o membro em questão veria-se como parte do todo da igreja.
É mister enfatizar que, à luz desses versículos, não está descartada a ideia de que cada crente devia analisar o coração, ao ponto de identificar pecados que por ventura cometeu, buscando arrepender-se deles. Mas, de acordo com o contexto, o exame em foco visa evitar que alguém faça distinção pecaminosa entre si e os outros membros que com ele se assentam ao redor da mesa de Cristo, como estava acontecendo em Corinto.
Ao contemplar o Corpo de Cristo (pão e vinho), cada crente deveria lembrar-se de que aquele corpo foi "dado por vós" (v.24), ou seja, por todos os que foram chamados à salvação, discernindo que a obra redentiva confere graça para que todos os eleitos professem através da obediência ao sacramento, sua união com o Senhor, formando assim o Corpo de Cristo, do qual ele é o cabeça.
Pôr-se à mesa ignorando isso, e fazendo separação entre os crentes, era portar-se de maneira indigna; procedimento passível de julgamento, tornando-se réu do corpo e do sangue do Senhor, pois come e bebe ignorando a união com Cristo, e assim, atrai juízo para si (v.29).
Testificando a veracidade de tal princípio, Paulo mostra aos cristãos coríntios que esse julgamento já estava em vigor: "Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos os que dormem". Não poucos crentes em Corinto, que ignoravam a graça da comunhão plena que todos (sem excessão por classe social) desfrutavam, haviam sido feridos pela disciplina do Senhor, e havia ainda os que já dormiam; um eufemismo que o apóstolo usa para referir-se à morte.
Todavia, antes de entristecerem-se por causa do pesar da mão divina, os coríntios deveriam enxergar a disciplina do Senhor como algo benéfico, inclusive fazendo distinção entre eleitos e réprobos.
O Senhor os estava visitando em juízo a fim de que - principalmente agora através da exortação apostólica - os crentes se arrependessem de tal pecado, não sendo condenados com o mundo. Muitos estavam violando o sacramento, e por isso Deus os estava ferindo, para que fossem aperfeiçoados na compreensão da unidade da igreja.
Se os cristãos são disciplinados, isso indica que Deus os deseja salvar, e não condenar, como fará com os mundanos, pois o Senhor, momentaneamente (embora os exponha à sofrimentos que funcionam como prelúdio de sua punição) deixa os ímpios sem disciplina, para que futuramente recaia sobre eles todo o peso de sua ira.
"Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados" diz Paulo no versículo 31, complementando esse argumento afirmando que ninguém veria a si mesmo de maneira imparcial, ao ponto de declarar-se culpado de algum pecado. Como resultado, isso não nos faria desfrutar da correção divina, que visa nos tornar santos. Logo, embora seja com grande temor que os cristãos coríntios deveriam olhar para o que estava acontecendo em seu meio,
— isto é, muito ficarem doentes e até morrerem devido pecado de segregação que estavam cometendo — eles deveriam também alegrar-se, pois estavam sendo chamados ao arrependimento e compreensão de que o Corpo de Cristo desfruta de uma comunhão tal com seu Cabeça, que essa união deve ser refletida no amor e união que um crente direciona para com outro, vendo-se como parte de um todo.
Sintetizando essa ótica, o apóstolo recomenda então que essa comunhão seja experienciada no momento de celebração do culto público e da Ceia do Senhor: "Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros" (v.33). Os ricos e todos aqueles que possuíam uma condição sócio-econômica melhor, são conclamados por Paulo a esperar por aqueles que não tem a mesma condição, e por precisarem trabalhar, chegavam mais tarde.
Isso pode sugerir uma aplicação muito simplória, quando comparada a tudo o que foi dito, mas o ato de esperar faria com que todos vissem a necessidade de equipararem-se aos demais irmãos, fazendo-os enxergarem-se como iguais, e portanto, membros de um mesmo corpo.
Transição
O ponto focal para onde o apóstolo Paulo deseja fazer com que a Igreja de Corinto olhe, é a ordenação do culto público à partir da vontade que o próprio Senhor Jesus revelou para o modo como funcionaria sua igreja.
Tal vontade abrange áreas muito mais basilares para saúde da igreja do que eles supunham, como é o caso da ordenação da relação de autoridade entre marido e mulher, retratada nos versículo de 2 a 16 deste capítulo.
Agora, o tema é a comunhão verdadeira que a igreja é chamada a professar através da legítima prática da tradição apostólica do sacramento da Ceia do Senhor. Somente honrando a igreja, esperando uns pelos outros no momento do partir do pão, os crentes testificam dignamente da morte do Senhor até que ele venha, e isso perpassa por uma consideração cristã, que rejeita a sectarização baseada em critérios de classificação sócio-econômica, ou de qualquer outro tipo, pois a separação dos membros do corpo de Cristo é uma grave ofensa ao princípio da união com o Senhor representada no pão e no vinho.
Em face dessa perspectiva, o texto de 1Coríntios 11.17-34, direciona as seguintes aplicações para a igreja de Deus:
Aplicações
1. A comunhão com Cristo, representada no momento do culto público, envolve a experimentação de uma comunhão verdadeira entre os próprios crentes, e esta segunda configura uma condição sine qua non para a primeira.
As divisões dentro da igreja de Corinto estavam prejudicando não somente a convivência entre os crentes, mas a profissão de fé mediante obediência ao sacramento, tal como foi transmitida a igreja por intermédio dos apóstolos.
O mesmo pode ocorrer conosco, se houver em nosso meio algum tipo reserva, diferença ou até mesmo atrito que não sendo resolvido, aparta um irmão do outro.
No culto público, principalmente quando nos ajuntamos em volta da mesa do SENHOR, estamos declarando que somos um corpo. Se toleramos que hajam em nosso meio separação e divisão, isso implicará na própria legitimidade do sacramento, e assim, não será a Ceia do Senhor que estaremos comendo.
Pão e Vinho representam corpo e sangue, o mesmo corpo e sangue derramados para que fôssemos feitos um com ele. Se separamos o que Cristo uniu, como podemos nos chamar de cristãos? Se admitirmos em nosso meio algum tipo de divisão, certamente estaremos confessando que nossa união com Cristo não é tão poderosa quanto confessamos, e nosso testemunho é falso.
Ao nos congregar, que tenhamos ciência de que fazendo parte do corpo de Cristo como seus membros, fomos chamados à unidade; unidade plena e integral, que supera quaisquer divergências ou mágoas, ou feridas que tenhamos causados uns nos outros. O sangue de Cristo apagou nossos pecados; que possamos da mesma forma, fazer morrer nosso orgulho, ou preconceitos, ou diferenças, a fim de que confessemos de prestemos um culto agradável ao Senhor, no qual declaramos que estamos profundamente unidos a ele e uns aos outros.
2. Dessa união e comunhão depende a saúde da igreja, e se divisões pecaminosas adentrarem as portas da igrejas, elas serão seguidas pela disciplina do SENHOR.
O pecado da igreja de Corinto era dividir (ainda mais a partir de critérios pecaminoso), o que era indivisível. Crentes ricos, distanciavam-se de crentes pobres, segundo o pensamento mundano que ainda estava presente em seus corações.
Parece ridículo achar que hoje, temos aqui em nosso meio pessoas que, tendo melhor condição sócio-econômica, apartam-se dos que não desfrutam de tal situação. Entretanto, é muito possível que em nosso meio hajam outros tipos de preconceitos ou diferenças.
Alguma experiência passada que causou algum mal-estar; uma opinião ou palavra que não foi bem recebida; um gesto que não agradou, todas essas coisas podem alimentar em nosso coração divisões pecaminosas, intrigas, rixas e demais separações que ameaçam a unidade do povo de Deus.
A mesma palavra que Paulo direcionou à igreja de Corinto, é repetida para nós hoje:
pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.
Se tais divisões forem encontradas em nosso meio, o Senhor poderá nos visitar, não com doenças ou morte (embora devamos nos lembrar que Deus não muda), mas com o adoecimento da própria igreja. O próprio Deus fará com amergemos uma vida espiritual medíocre, até que aprendamos a valorizar nossa união com Cristo, manifesta por meio de uma comunhão em amor e verdade.
Assim como vimos à luz do texto anterior, que da ordem no lar depende a ordem na igreja, da mesma forma, a compreensão de comunhão e unidade plenas em Cristo é o que proporciona um ambiente em que o Deus Triuno é glorificado, e sua igreja edificada no poder do Espírito.
Deus disciplina seu povo, para que nãos seja condenado com o mundo (1Co 11.32b): se for necessário que ele nos faça sofrer com o adoecimento da igreja, a fim de nos conduzir à humildade, perdão, amor e comunhão, ele o fará.
Evitemos a disciplina do Senhor, irmãos, esperando uns pelos outros, isto é, nos entendendo como iguais aos olhos de Cristo, que partiu seu corpo por nós, para nos dar vida e alegria, como membros de um mesmo corpo (a igreja).
Conclusão
Ao nos ajuntarmos para o culto e para a Ceia, declaramos que somos membros do corpo de Cristo, corpo pelo qual ele partiu o seu próprio, a fim de que assim vivêssemos. Que não desprezemos essa dádiva, permitindo que seja dividido, o que não pode ser separado.