Mateus 26.1-5
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted • Presented
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· 2 viewsO autor divino/humano apresenta o perfeito e soberano controle divino sobre as conspirações rebeldes dos homens contra o Reino, exortando a igreja a confiar naquele que rege a história para o louvor da sua glória e redenção da criação.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Como referenciado na própria passagem, o Senhor Jesus Cristo conclui seu discurso, no qual informou seus discípulos a respeito dos sinais que antecederiam sua volta. A sobreposição das seções encaminha o ouvinte/leitor à compreensão do quadro maior retratado por Mateus com relação ao estabelecimento do Reino.
A seção iniciada no capítulo 19.3, expõe a temática da intensificação da oposição enfrentada pelo Messias (Cristo) por parte dos principais sacerdotes e anciãos do povo. Esse bloco do evangelho vai até o capítulo 23, no qual Cristo condena estes que desejam opor-se ao Reino. Por outro lado, como já dito, no capítulo 24 é iniciado o grande discurso profético no qual o Senhor declara sua segunda vinda, não mais como intuito de ser humilhado e sacrificado, mas para publicar sua glorificação e publicar o Reino de Deus, restaurando todas as coisas.
A interposição dos capítulos 24 e 25, entre a seção da oposição contra o Reino (caps 19.3 à 23.39) e o relato da paixão do Senhor Jesus (caps 26.6-28.20), serve como demonstrativo de que toda essa resistência também faz parte dos planos do Pai, por meio do qual glorificará o Messias, seu Filho Jesus Cristo, declarando sua soberania sobre toda a criação, tal como fora profetizado desde o AT.
Essa temática é sintetizada mais claramente na presente seção (Mt 26.1-5), em que dois pontos de vista são registrados pelo evangelista. Nos versículos de 1 e 2, Mateus narra as palavras de Cristo, que fazem menção à sua crucificação, apontando que tal evento está estabelecido, e ele está se encaminhando para sua realização. Concomitantemente, os versículo 3 a 5 retratam a confabulação dos sacerdotes e anciãos do povo para matarem o Senhor, o que declara sua antagonia ao Reino.
Ambas as subseções confirmam a visão anterior de que a resistência ao Reino ocorre por determinação divina, que usa a rebeldia do coração dos anciãos do povo para que seus objetivos sejam estabelecidos, concretizando assim o plano redentivo.
Diante dessas observações, a presente seção do evangelho de Mateus (bloco que também se encarrega de introduzir o texto dos capítulos de 26 à 28), apresenta a seção cuja temática centraliza a execução dos planos redentivos de glorificação do Messias na publicação do Reino, focalizando especificamente a instrumentalização da antagonia humana para fruição dos planos redentivos.
Elucidação
A partir da presente perícope, Mateus desdobra (vs. 1-5) sua narrativa, encaminhando-se para iniciar uma nova seção, expondo o fim do sermão profético com a alusão à aproximação da paixão do Senhor Jesus, exatamente como ponto de virada entre as seções do seu evangelho, bloco que se iniciará especificamente a partir do versículo 6 do presente capítulo.
Segundo já aludido, na seção dos capítulos 19.3 à 23.39, o evangelista enfatizou o quanto os escribas, fariseus, sacerdotes e demais anciãos do povo, estavam motivados a oporem-se ao Senhor Jesus e ao Reino. Em vários outros momentos no evangelho, tal antagonia também foi registrada (e.g. cf. 12.1-8, 9-14, 22-32, 38-42; 15.1-19; 16.1-4), demonstrando a obstinação do coração dos adversários.
Agora, na etapa final do texto, Mateus retoma o registro dessa antagonia, mas a partir desse ponto a perspectiva de seus ouvintes/leitores está iluminada por todos os princípios abordados anteriormente, sendo um deles, a inevitável glorificação de Cristo e nele, de todos os seus discípulos, que também estavam enfrentando a oposição mundana contra o Reino, tal como havia sido profetizado pelo Senhor desde o início (cf. 5.11-12).
A narrativa é iniciada mediante uma fala de Cristo à seus discípulos em que adianta os eventos por vir:
Sabeis que, daqui a dois dias, celebrar-se-á a Páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado.
O adiantamento dessa informação aponta, como já declarado, que os eventos vindouros estão completa e totalmente debaixo do controle do Pai, que assim os estabeleceu para o cumprimento dos planos eternos da Trindade na redenção da criação e sua glorificação.
Como comenta Hendriksen:
Mateus, Volumes 1 e 2 26.1–5 O Conselho de Deus versus a Conspiração Humana
A colisão entre o conselho de Deus e a conspiração humana é indicada em 26.3–5; 27.1,50,62. Essas passagens claramente mostram que enquanto as autoridades judaicas insistiam em que a prisão, o julgamento e a morte de Jesus não deviam ocorrer durante a festa, triunfou o decreto divino de que certamente devia ocorrer nesse tempo em particular.
A convergência providencial da entrega do Filho do Homem, segundo interpretada por Cristo neste verso, sugere a imutabilidade e perfeição da vontade divina, que garante que o conflito referido na sequência não representa qualquer ameaça na fruição dos propósitos do Pai, de que o Senhor Jesus seja glorificado como o Rei-Messias prometido no AT, que inaugurará e publicará o seu Reino.
A proximidade entre essas perspectivas é estabelecida por Mateus, não apenas a partir da sobreposição da fala de Cristo e da trama dos anciãos, mas é evidenciada no próprio corpo do texto, quando, para fazer conexão entre a declaração do Senhor e o conluio dos anciãos, Mateus usa o termo conectivo "τότε" (trad. lit. "então", "naquele tempo") geralmente empregado para referenciar contiguidade entre situações, como é o caso.
A alusão ao amplo grupo de participantes no conluio (cf. v. 3a "[…] Os principais sacerdotes e os anciãos do povo"), aponta para o fato de que as diversas facções religiosas de Israel estavam reunidas; motivadas a estabelecer um plano para "prender Jesus à traição" (v.4). Não é a primeira vez que esse grupos reúnem-se com esse objetivo em comum. Como salientado anteriormente, ao longo do capítulo 22 (situado na seção em que a oposição contra o Reino é retratada mais especificamente), fariseus, saduceus, e até herodianos propuseram questionamentos a Cristo, a fim de induzi-lo ou apanhá-lo em algum erro (cf. 22.15, 23, 35).
A manifestação antagônica se repete, porém um ponto é colocado como impedimento a execução do plano durante aqueles dias: "Mas diziam: não durante a festa (páscoa), para que não haja tumulto entre o povo".
Como abordado por Hendriksen, a falha dos anciãos mostra-se evidente nesse ponto, e é adiantada propositadamente por Mateus a fim de que a superioridade dos planos divinos sobre o conchavo humano ficasse evidente. Cristo foi crucificado exatamente no período da páscoa (cf. v. 17, 47-56; 27.1, 33-44). O evangelista nesse ponto, por meio da narrativa, exorta seu público quanto a o caráter teológico dos eventos ocorridos com Cristo.
Transição
Assim como a igreja em Roma têm sido, o Messias foi perseguido por aqueles que avessaram-se ao Reino de Deus. Entretanto, essa perseguição não estava foram do controle do Altíssimo; pelo contrário, refletia exatamente a vontade do Pai de que seu Filho fosse exposto a esse sofrimento, afim de que por meio dele executasse o evangelho. A aproximação entre os sofrimentos messiânicos com aquele sofrimento que (referencialmente) experimenta todo discípulo de Cristo, é outra vez feita na narrativa de Mateus: todo aquele que confessa a Cristo como o Rei, vê-se rodeado pelo conluio dos ímpios.
Entretanto, o caráter distintivo do evangelho é o fator que exalta a Cristo como vitorioso Senhor sobre tudo: os planos humanos que levaram Cristo à ser alvo da perseguição dos anciãos de Israel, fizeram parte de todo o planejamento redentivo decretado pela Trindade Santíssima na eternidade.
Os discípulos em Roma deveriam, ao ler esse texto, alegrar-se, pois embora sob dor e sofrimento, Cristo estava na trilha determinada pelo Pai, que culminaria na sua glória e na redenção de todo os que foram chamados ao Reino.
Os homens tramaram destruir a Cristo, destilando contra ele toda sua rebelião contra o Reino de Deus, mas agiram da forma como foi determinada pelo Deus Triuno, o que inclui a Segunda Pessoa da Trindade, isto é, o próprio Cristo. sendo eles usados como instrumentos divinos para execução de sua soberana vontade.
Notando essa ênfase na presente passagem, a intenção autoral pode ser desdobrada em duas aplicações direcionadas à igreja do Senhor. Quais sejam:
Aplicações
1. Os planos dos homens contra Cristo, somente refletem a vontade divina na execução da redenção, e contra ela, nada podem fazer.
Não podemos confundir os sentimentos aos quais somos remetidos pela narrativa evangélica: há profunda tristeza na morte de Cristo, pois o inocente Filho de Deus está sendo expostos às mais terríveis agruras (tormentos que começam com a trama dos anciãos de Israel) sem nada disso merecer.
Entretanto, o autor divino/humano direciona também a atenção da igreja, para essa reconfortante verdade: o sofrimento ao qual Cristo foi exposto através da rebelião dos homens que tramaram contra ele, não fugiu por nem sequer um segundo dos planos do Todo-Poderoso Deus, que arquitetou que absolutamente todas as coisas convergissem para o cumprimento de todo o plano da salvação.
Cristo não foi vítima da trama dos homens porque os homens tiveram o poder de subjugá-lo, mas porque como Cordeiro mudo ele se entregou aos tosquiadores (Is 53.7), pois assim convinha ser feito para que a glória de Deus na vida, morte e ressurreição de seu Filho fosse efetivada.
A partir do vislumbre dos planos divino guiando os eventos relacionados à Cristo, podemos aplicar tal princípio também à sua igreja.
2. De igual forma, os planos dos homens contra a igreja, estão debaixo do controle decretivo do Deus Triuno, que conduz a história de seu povo, para o momento da glorificação.
A perseguição que a igreja de Roma sofreu no primeiro século, estende-se a toda a igreja de Cristo ao longo dos tempos. Homens maus sempre se levantarão para confabular contra o povo de Deus. Entretanto, assim como foi com Cristo, da mesma forma ocorre com a amada noiva do Cordeiro: está sendo vítima da rebelião dos homens, mas essa antagonia também está sob as amarras dos decretos divinos.
Os homens odiarão a igreja, e tentarão destruí-la à todo custo. Mas jamais conseguirão obter nada mais do que o Senhor determinou em seus planos, pois ele é quem rege a história, controlando inclusive a rebelião do coração dos inimigos do Reino, para que façam exatamente aquilo que foi estabelecido na eternidade, no Conselho Trinitário.
O fim da igreja não será outro que não o da glorificação, e essa glorificação virá por meio da derrota dos planos dos adversários da igreja, quando, querendo oblitera-la, verão no céu o Cristo que tanto perseguiram regressar a este mundo, para declarar a vitória de seu povo, como sempre esteve determinado desde a eternidade.
Conclusão
A deliberação dos ímpios contra o Reino sempre existiu (Sl 2.1-3), assim como desde sempre as intenções nefastas do coração humano são instrumentalizadas pelo Criador, a fim de que o louvor da sua glória cubra toda a terra, como as águas cobrem o mar. Assim foi com Cristo, e o será com a igreja, pois o conselho dos ímpios será destruído pelo cetro de ferro daquele que se assenta no Trono.