Trazendo à memória o que pode dar esperança
Notes
Transcript
Introdução
Introdução
Desde a queda de nossos pais, no Éden, vivemos em mundo manchado pelo pecado e que clama por restauração, um mundo cheio dos mais diversos tipos de sofrimento e dores que possamos imaginar. Doença, morte, guerra, fome, pobreza, perseguição, dentre tantas outras coisas que poderíamos mencionar como aflições do homem.
Entretanto, o ser humano sempre buscou esquecer esse fato olhando para aquilo de bom que esse mundo também tem a proporcionar, riquezas, poder, diversão, viagens e tantas outras coisas que poderíamos mencionar como o deleite do coração humano.
Nesse contraste tão destoante de cores da vida, o ser humano, em geral, tende a esquecer esquecer ou rejeitar as tristezas da vida, colocando toda a sua esperança naquilo de bom que esse mundo pode proporcionar. A ilusão de uma esperança vã, incerta e sem propósito eterno pode trazer tanta infelicidade quanto esperança nenhuma.
O texto dessa noite trata acerca de esperança, mas não de qualquer uma, mas daquela que é resultado da obra divina, não de obra humana, sendo portanto certa e eterna; daquela esperança que gera uma alegria indescritível e que muitas das vezes, aos olhos humanos, poderá não fazer sentido algum. Que a palavra que Deus nessa noite possa te trazer à memória aquilo que pode te dar esperança, a única esperança que realmente importa nesse mundo caído.
Contexto
Contexto
A primeira epístola de Pedro foi, provavelmente, escrita durante o período em que Nero reinou sobre o império romano. Tratou-se de um período de grande perseguição à igreja de Cristo, de modo que o simples fato de “ser cristão” já trazia a sombra da morte sobre aqueles que o professavam.
Nesse contexto de grande perseguição, muitos cristãos da época, judeus e gentios, se dispersaram ao redor do mundo conhecido da época para fugir daqueles que intentavam contra eles, como foi o caso daqueles que se dispersaram na região da Ásia Menor, atual Turquia. Diferente das demais cartas escritas pela pena do apóstolo Paulo, geralmente direcionadas a uma comunidade específica, Pedro aqui se dirige aos grupos de cristãos dispersos em cinco partes distintas do império romano: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.
Olhando para a condição desses irmãos, pessoas que perderam suas casas, terras, posses, direitos, estavam sendo perseguidos, dentre tantos outros sofrimentos, Pedro escreve a sua carta com o objetivo de exortá-los, encorajá-los e fortalecê-los a perseverarem na fé com a alegria da esperança que lhes era proposta.
Divisão do texto
Divisão do texto
1Pedro 1.1-2 - A obra completa
1Pedro 1.3-5 - A esperança certa
1Pedro 1.6-9 - A alegria indescritível
A obra completa (1Pe 1.1-2)
A obra completa (1Pe 1.1-2)
1Pedro 1.1 (ARA)
Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,
Como é comum para outras epístolas, Pedro inicia com uma apresentação e saudação. Ele se identifica como apóstolo de Jesus Cristo, chamando para si a autoridade que lhe foi entregue pelo próprio Cristo quando o chamou dentre os seus doze. O que será dito a seguir tem o peso da autoridade dada por Cristo e deveria ser ouvido como as palavras do próprio Cristo.
Ele se dirige então aos seus leitores identificando-os através de duas características: os eleitos e forasteiros da Dispersão. O termo “eleito”, “eklektos”, tem o sentido de escolhido por Deus, selecionado por Ele. Pedro já inicia sua epístola fortalecendo aqueles irmãos, lembrando-os de que não estavam em condição qualquer, eles haviam sido escolhidos pelo Rei e Criador do Universo. Eles não eram apenas eleitos, mas também “forasteiros da Dispersão”. O termo “forasteiro” traz a ideia de alguém que encontra-se em viagem, fora de sua terra e o termo “dispersão”, ou “diaspora”, tem o sentido de espalhamento como semente.
Pedro os lembra não só de sua condição de “glória”, como escolhidos de Deus, mas deixa bem clara a sua condição de sofrimento, eles estavam dispersos, longe de suas terras em função da perseguição que estavam sofrendo. Entretanto, a forma como Pedro une as duas condições lembra-os de que como escolhidos de Deus o foram para cumprir a missão dAquele que os chamou, o qual não prometeu regalias, pelo contrário, garantiu que, certamente, padeceriam sofrimentos, mas que em meio ao sofrimento deveriam espalhar a semente da Palavra de Deus (Mt 10.16-23).
1Pedro 1.2 (ARA)
eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.
Pedro então segue, no versículo 2, declarando que a eleição destes tem motivo, processo e propósito:
Quanto ao motivo, foram eleitos segundo ou de acordo com a “presciência de Deus Pai”. A palavra para “presciência” é “prognosis” (At 2.23), que trata de um planejamento ativo e conhecimento prévio a uma ação. Deus em Sua Eternidade já havia planejado a eleição, a escolha dos seus. Eles haviam sido escolhidos porque Deus desde a Eternidade já havia definido isso.
Atos dos Apóstolos 2.23 (ARA)
sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos;
Quanto ao processo, eles foram eleitos “em santificação do Espírito”. Eles foram eleitos quando transformados pelo Espírito Santo em um povo santo, para viverem em novidade de vida à forma de Cristo. O Espírito Santo executa a eleição através de um processo de convencimento do pecado, separação para Si e contínua santificação e conformação à semelhança de Cristo.
Quanto ao propósito, eles foram eleitos “para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”. O termo obediência, no original, traz o sentido de obediência a um acordo, de submissão. O primeiro propósito da eleição é a obediência e submissão a Cristo. Fomos eleitos desde a Eternidade para vivermos à semelhança de Cristo para uma total submissão e obediência a Ele. Mas não só isso, fomos eleitos para a aspersão do sangue de Jesus. Aqui, Pedro usa um termo comum e muito conhecido no judaísmo, a aspersão do sangue. Na Antiga Aliança, a aspersão de sangue de um novilho era uma prática do sumo sacerdote para perdão dos seus próprios pecados e de sua família, bem como perdão dos pecados do povo. Eles haviam sido eleitos, escolhidos para receberem o perdão de seus pecados através do sacrifício de Cristo e serem instrumentos dessas boas novas para outros.
Os eleitos de Deus são seus escolhidos desde a eternidade para viverem o processo de santificação, sendo convencidos do pecado e separados pelo Espírito Santo para uma novidade de vida com o propósito de se sujeitarem completamente a Cristo em obediência e para terem seus pecados perdoados pela aspersão de seu sangue. Com a multiplicação do senso de tamanha graça, certamente a paz também inundaria seus corações.
A esperança certa (1Pe 1.3-5)
A esperança certa (1Pe 1.3-5)
1Pedro 1.3 (ARA)
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
Pedro inicia, então, seu louvor ao Deus Triúno pela tamanha graça que proporcionara aos seus eleitos. Seu louvor não é vazio, mas cheio de gratidão pela tamanha misericórdia que reconhece ter sido derramada sobre ele e seus irmãos. Ele declara que a misericórdia foi direcionada a eles quando Deus os “regenerou”, fazendo-os nascer novamente, não pela carne para viver pela carne, mas pelo Espírito para viver por meio dEle.
João 3.5–6 (ARA)
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.
Nesse novo nascimento, somos direcionados a uma viva esperança, as portas abertas para uma vida eterna ao lado do Cristo ressurreto. Em sua ressurreição, Cristo venceu a morte e deu uma viva esperança para aqueles que nasceram do Espírito, a saber entrarem em Seu Reino para a vida eterna.
1Pedro 1.4 (ARA)
para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros
Essa viva esperança traz consigo uma herança para a qual Pedro aplica três características que a tornam infinitamente superiores a qualquer maravilha terrena:
Ela é “incorruptível”: do grego “aphtharton”, essa herança é imperecível, ela não se destrói, nem se consome com o tempo
Ela é “sem mácula”: do grego “amianton”, essa herança é totalmente pura, sem nada que possa imputar nela alguma condenação ou fonte de injustiça.
Ela é “imarcescível”: do grego “amaranton”, ela é inalterável, não perde nada em valor com o tempo.
Ela é “reservada nos céus”: do grego “teteremenen”, essa herança é guardada, vigiada e protegida, não em qualquer cofre ou por qualquer vigia, mas no próprio céu.
1Pedro 1.5 (ARA)
que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.
Pedro fortalece ainda mais a esperança proposta aos eleitos ao afirmar que essa herança é certa, é garantida reservada no céus para os eleitos que são “guardados pelo poder de Deus”. O termo original para “guardados” é “phrouroumenous”, que tem o sentido de alguém que coloca algo sob sua tutela, alguém que vigia e monta guarda para proteger algo. Pedro aqui está declarando que os eleitos de Deus, aos quais essa herança maravilhosa é garantida, são protegidos, guardados e vigiados pelo Próprio Deus. O Próprio Deus dos Exércitos monta guarda e vigia os seus eleitos, os seus escolhidos de modo que nenhum venha a se perder.
Essa certeza é dada por Deus e vivida pelo homem mediante a fé, ao descansarem nEle em total e absoluta confiança e dependência do seu poder, bondade e sabdoria. A consumação dessa fé se dará nos últimos tempos quando a salvação dos eleitos será revelada, quando as portas do universo se abrirem e Cristo vier em Glória manifestar, diante de todos os homens, a redenção daqueles a quem elegeu, perdoou e santificou.
A alegria indescritível (1Pe 1.6-9)
A alegria indescritível (1Pe 1.6-9)
1Pedro 1.6 (ARA)
Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações,
Pedro agora exorta àquilo que é loucura para o mundo: embora estivessem padecendo os sofrimentos das provações, deveria “exultar”, se alegrar em uma felicidade extrema devido à esperança viva e garantida pelo próprio Deus. Aqueles que são nascidos da carne têm seu fim e sua alegria nas esperanças perecíveis, maculadas, marcescíveis e passageiras do mundo, mas os eleitos que nasceram da água e do Espírito têm sua alegria máxima na esperança da glória.
Apesar disso, Pedro não é insensível quanto a dor que seus irmãos padecem. Ele os encoraja a olharem para a temporalidade de suas provações:
Primeiro, ele faz um paralelo entre o tempo presente com um período breve de tempo. Aqui ele chama atenção que o sofrimento deles possui um tempo determinado e que, quando comparado a eternidade da esperança que lhes é proposta, trata-se de um período breve de tempo. A vida dos eleitos não deve ser baseada no tempo do mundo onde vivem como peregrinos, forasteiros, mas no tempo em que viverão no Reino dos Céus ao lado do Rei.
Segundo, ele declara que as provações que venham a padecer passam pelo crivo de Deus quanto à sua necessidade. Seja por disciplina ou por fortalecimento em maturidade, as provações certamente vêm sobre os eleitos apenas quando são necessárias, sendo o Próprio Deus que define isso. Certamente, tais provações cooperarão para o seu bem.
1Pedro 1.7 (ARA)
para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;
Agora Pedro traz a figura de um ourives que que submete o ouro ao fogo a fim de purificá-lo de todas as impurezas. Quando Deus submete seus eleitos às mais variadas provações, está “confirmando” o valor de sua fé. A palavra para “confirmar” tem o mesmo sentido para “apurar”, como examinar, testar ou provar. Enquando o ouro é apurado pelo fogo e ainda sim continua perecível, a fé do eleito é confirmada pelas provações, de modo a expurgar tudo aquilo que o guia a pensar como o mundo e destaca a fé que o faz depender absolutamente de Deus olhando para a esperança garantida por Ele, que guia a uma herança eterna. O valor, ou o fim da fé examinada pelas diversas provações encontra-se na herança garantida aos eleitos, que excede em muito o valor do mais fino ouro apurado pelo fogo.
Hoje a fé dos eleitos é provada pelos mais diversos tipos de sofrimentos, mas, na revelação de Jesus Cristo em Sua segunda vinda, redundará em louvor, glória e honra, quando desfrutarão de corpos glorificados e alcançarão o objeto da sua esperança e a herança que lhes é proposta por Deus.
1Pedro 1.8 (ARA)
a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória,
Essa fé apurada, confirmada pelas provações, essa fé que não vem do homem, mas é dom de Deus, essa é a fé que olha para Cristo através da sua Palavra e leva o eleito de Deus a amá-lo e a nEle se alegrar com felicidade extrema, olhando para toda a graça derramada e para toda a esperança que é garantida. A alegria terrena é simplória e efêmera, mas em Cristo alcançamos a alegria é indizível e e cheia de glória.
1Pedro 1.9 (ARA)
obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.
A fé do eleito encontra sua consumação, sua plenitude na revelação, na manifestação de Cristo em Sua segunda vinda, o fim, o alvo, o propósito (“telos”) da fé em Cristo e em Sua obra é alcançado. Hoje os eleitos de Deus desfrutam a certeza da salvação, mas a sua consumação virá quando, na segunda vinda de Cristo, no Grande Dia do Senhor, os seus eleitos forem salvos da condenação eterna ao ouvirem de Cristo:
Mateus 25.34 (NVI)
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo.
Conclusão e aplicações
Conclusão e aplicações
Irmãos, certamente todos nós já padecemos, estamos padecendo ou padeceremos sofrimentos nesta vida. A pergunta que nos resta fazer é como temos respondido ao sofrimento e às provações que são colocadas diante de nós? Será que temos nos firmado nas vãs esperanças que este mundo quer nos oferecer, de modo que hipocritamente temos cantado que temos saudade de nossa pátria e que as belezas deste mundo não irão nos encantar?
Certamente meus irmãos, a palavra dessa noite é de exortação, sim. Avalie se o seu coração está arraigado nos esplendores deste mundo e não nas promessas que Deus nos entregou. Se você for um eleito de Deus, certamente Ele irá apurar a sua fé através das provações que Ele entender serem necessárias até que desprenda seu coração desse mundo e olhe para o Reino dEle.
Mas além de uma palavra de exortação, trata-se de uma palavra de encorajamento e fortalecimento na fé. Avalie a si mesmo e saiba que, se você for um eleito de Deus, Ele mesmo te escolheu desde antes da fundação do mundo, o Espírito Santo já te convenceu do pecado, te separou e gerou em um novo nascimento de modo que na aspersão do sangue de Cristo você encontra perdão dos seus pecados e recebe uma esperança certa e uma herança garantida, elas superam as mais maravilhosas bençãos que o homem pode encontrar nessa vida. Não deixe que as dificuldades e as tristezas dessa vida venham a te fazer virar o rosto para essa esperança, ela é preciosa demais. Ninguém pode tirar ela de você, porque é o Próprio Deus que te guarda e reserva a sua herança nos céus. Quão grande honra e alegria isso deve nos trazer meus irmãos!
Por fim, em meio aos sofrimentos, lembrem de descansar no Senhor. Qualquer sofrimento que venhamos a padecer se faz necessário aos olhos do nosso Deus, seja para nossa disiplina, seja para nossa edificação, certamente nossa fé estará sendo apurada, confirmada e as convicções sustentadas pelos princípios desse mundo destruídas.
Meus irmaos, exultemos em Cristo e na esperança que Ele nos garantiu. Um dia, no Grande Dia do Senhor, Ele retornará e proferirá as palavras que consumarão a fé e a alegria indescritível que já devem se fazer presentes em nossas vidas.