Obadias

A voz dos profetas  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Introdução

Continuando a série de pregações A Voz dos Profetas, hoje vamos olhar mais de perto o livro do profeta Obadias. Ele é o menor livro do Antigo Testamento, com um capítulo e 21 versículos. O nome Obadias significa “servo de Javé”.
Embora a data em que o livro foi escrito não seja uma unanimidade entre os estudiosos, estima-se que o profeta viva numa época caótica, em que o aparato religioso dos israelitas havia sido destruído. O texto indica que Obadias pode ter testemunhado o momento em que Jerusalém foi saqueada, em 587 a.c., e os babilônios levaram os israelitas de Judá como prisioneiros.
É possível também que Obadias tenha escrito o seu livro enquanto estava no exílio, enquanto estavam frescas as memórias sobre a crueldade com que o grande império da Babilônia devastou o pequeno reino de Judá.

Cenário Histórico

Para compreendermos melhor esse pequeno livro, precisamos lembrar da família de Abraão. O livro de Obadias trata do aviso de que a justiça de Deus alcançaria os Edomitas, por causa de uma long história de desavenças familiares. Vejamos a árvore genealógica.
Os descendentes de Jacó (Israel) e Esaú (Edom) são herdeiro de uma disputa que nasceu no lar desequilibrado de Isaque e Rebeca. O relacionamento entre eles não era dos melhores e contato com os filhos era marcado por predileções e preferências, de maneira que os gêmeos, em vez de crescerem amigos entre si, tornaram-se afastados e inimigos.
Esaú fez pouco caso de seu direito de primogenitura e Jacó enganou o pai com a ajuda de sua mãe. Perseguido pelo irmão, Jacó fugiu, vindo a fazer as pazes com o irmão muitos anos depois. Ainda assim, essa paz não os fez andar juntos. Duas nações vieram a existir a partir de seus descendentes.
Essa disputa antiga entre Jacó e Esau, resolvida entre eles, deixou marcas tão profundas que seus descendentes carregaram consigo rixas, mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, geração após geração.
O comentarista Isaltino Filho resume assim o conflito em sua cronologia:
1.400 a.c. Edon recusa a passagem de Israel a caminho de Canaã (Nm 20.14-21, Dt 25);
922 a.c. Davi conquistou Edom e promoveu uma chacina, matando a maioria dos homens (2Sm 8.13, 1Reis 11.5);
845 a.c. Edom e Filistia pilharam Judá 2Cr 21.16-17;
785 a.c. Amazia atacou Edom matando 20 mil homens 2Cr 25.11-12;
586 a.c Edom ajudou a Babilônia a destruir Jerusalém e ocupou o sul de Judá Sl 137.7, Ez 25.12;

Considerações Gerais

Relacionamentos (familiares) são importantes e não dever ser menosprezados. As feridas causadas nas famílias são mais profundas e duradouras que aquelas causadas fora delas.
Não há limite para a destruição que o “sentir-se não amado” pode causar. A começar pelo ressentimento, que se transforma em amargura e por fim em ódio, uma família incapaz de prover amor e segurança pode fazer uma grande estrago na vida de seus membros.
Por outro lado, muito maior que o potencial de destruições é o poder de fazer bem que há nos relacionamentos familiares. Através dele a vontade de Deus pode ser realizada em nós. Isso é o que está demonstrado através das famílias imperfeitas de Abraão, Isaque e Jacó, através de quem o plano de Deus para resgatar a humanidade se realizou.
Portanto, ao mesmo tempo que cuidamos para que nossas famílias sejam espaços de respeito, amor e acolhimento, podemos confiar que Deus vai agir mesmo com nossas imperfeições.
Em Gn 33.1-17 você vai encontrar a história da reconciliação entre Jacó e Esaú. É uma história marcante, repleta de detalhes sobre os sentimentos que tomaram conta dos gêmeos. Eles perdoaram, mas o ódio produzido por anos de ressentimento já havia contaminado suas famílias e seus descendentes.
Não é bom acumular raiva e ressentimento contra ninguém, mas quando o alguém é próximo a gente deve correr para tratar.
Ephesians 4:26 NVI
26 “Quando vocês ficarem irados, não pequem”. Apazigúem a sua ira antes que o sol se ponha,
Matthew 5:24 NVI
24 deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.
Matthew 18:15 NVI
15 “Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão.
Fique alerta em relação às palavras que saem de sua boca; elas podem acender a chama do ódio na vida de outras pessoas sem que você se dê conta ou tenha controle sobre os resultados.

Edomitas no espelho

Nos versos de 2-5, Obadias colocou um espelho diante dos Edomitas, para que eles pudessem se perceber e se darem conta das raízes do seu pecado.
A capital de Edom, Selá (depois chamada de Petra) parecia inexpugnável. No alto de uma região rochosa e montanhosa, era uma cidade completamente protegida de seus inimigos por penhasco de até 300 metros de altura. À noite as luzes da cidade vistas de baixo pareciam estrelas no céu.
Obadias diz que essa situação fez com que os Edomitas se tornassem orgulhosos, alimentando sobre si mesmos uma imagem irreal. Eles se viam invencíveis, mas não eram; viam-se protegidos, mas não estavam; viam-se como uma grande nação, mas não era verdade. Através de Obadias, Deus anuncia que ia desfazer esse autoengano e por um fim na arrogância que tomou conta deles.
Na base da violência de Edom contra seus irmãos estava o entendimento equivocado de que eles tinham esse direito. Eles haviam aprendido a alimentar-se dessa imagem distorcida sobre si mesmos, de que eram melhores, mais sábios e melhores estrategistas, chegando ao ponto de colocar sua confiança nessa ilusão.
Nós estamos em melhor condição que eles, porque temos o alerta da palavra de Deus sobre a construção de uma imagem distorcida sobre nós mesmos.
Romans 12:3 NVI
3 Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.
O caminho para sentir-se forte não é inflar o próprio ego, mas se reconhecer fraco e declarar sua dependência da força que há no Senhor.
2 Corinthians 12:8–10 NVI
8 Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. 9 Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. 10 Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte.

Justo Juízo

Dos versos 5 a 9, o Senhor deixa claro que seu justo juízo sobre os Edomitas será completo. Quando o Senhor terminar não haverá qualquer sinal do Reino de Edom. Eles serão traídos por seus amigos e aliados. Os sábios desaparecerão e os guerreiros se tornarão covardes. A dureza das palavras de Obadias podem nos fazer pensar que tudo isso é um exagero, mas não é.
Também é possível que alguém questione se Deus tem o direito de fazer isso, isto é, de intervir na história determinando o fim da nação Edomita, mas Ele tem todo o direito.
É o salmista que nos lembra “do Senhor é a terra e sua plenitude; o mundo e tudo que nele habita”. Portanto, tudo o todos pertecem ao Senhor por direito de Criação.
Além disso, é preciso lembra que essa ação de Deus aconteceu depois de uma espera de mais de 2.000 anos, através dos quais gerações de Edomitas mantiveram acesa em suas almas a chama do ódio. Portanto a justiça de Deus chega após a revelação de sua grande misericórdia e paciência por dois milênios. Como nos lembra o salmista, o Senhor é tardio e irar-se (Sl 103.8).

Lista de Acusações

Dos versos 10 a 14, o profeta Obadias lista as acusações contra Edom:
Violência contra seus irmãos;
Omissão em socorrê-los quando precisavam;
Participação no espólio de guerra;
Alegria com cativeiro/exílio;
Satisfação com o sofrimento de Judá;
Arrogância no trato com os aflitos;
Saques no dia de calamidade;
Satisfação com a destruição de Jerusalém;
Roubo das riquezas de Judá;
Armadilhas para matar os que fugiam;
Captura e entrega dos sobreviventes aos invasores.
Às vezes a gente pensa que Deus está preocupado com coisas religiosas externas, mas Ele quer saber é como nós estamos lidando com as situações reais da vida, em que somos desafiados a confiar nele e a colocar de lado nossa natureza caída.
As acusação levantadas contra os Edomitas nos permitem perceber alguns princípios que o Senhor considera importantes. Vejamos quais são:
Até contra os adversários/inimigos deve haver um limite para nossa indignação;
Nem mesmo ao adversário/inimigo deve ser negado o socorro nos momentos de aflição;
Ganhar às custas de quem já foi derrotado é inadmissível;
Alegra-se com a dor, o sofrimento ou a destruição… nem com inimigos/adversários;
Não cabe arrogância quando lidamos com aflitos, mesmo que sejam inimigos/adversários.

Conclusão

Quero terminar fazendo alguns comentários aos versos 17 a 21.
No final de seu livro, seguindo uma tradição profética, Obadias anuncia que o Senhor não se esqueceu do seu povo, e que as aflições pelas quais eles passaram serão parte do passado quando eles retornarem do cativeiro.
As terras invadidas serão devolvidas, os inimigos serão banidos e o povo a quem Deus prometeu uma descendência, uma terra e uma bênção verá a promessa sendo cumprida.
A última frase, no entanto, é a que mais chama a atenção: “o reino será do Senhor”. Toda a história da humanidade converge para essa verdade: o reino pertence ao Senhor, e é apenas sob o domínio dele que a vida é plena em seu sentido.
Jesus orou pedindo “Venha o teu Reino”.
João, em Apocalipse 11.15, anuncia na sétima trombeta “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e de seu Cristo, e ele reinará para todo sempre.”
Ali, longe de sua terra, aprisionado e humilhado, o povo de Deus precisava do anúncio do profeta Obadias, de que o Reino será do Senhor.
Hoje, aqui, aprisionados por essa pandemia, sofrendo a dor da perda de pessoas queridas a quem amamos, vendo nosso país navegando sem rumo e sem direção, nós também precisamos nos lembrar de que o Senhor continua reinando e que ele agirá na história para seu grande amor, sua justiça e sua misericórdia sejam reconhecidas.
Chegará o dia em que esse reinado será plenamente percebido, quando todo o joelho se dobrará diante de Jesus, o Cristo de Deus e confessará que ele é Senhor sobre tudo e todos. E nos aguardamos esse dia com esperança e alegria no coração.
Que o Senhor nos abençoe e guarde.
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