Missões Urbanas e o desafio relacional

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Quando fiquei sabendo que o tema escolhido pelos irmãos para a reflexão deste final de semana seria Missões Urbanas e Pequenos Grupos me senti animado e desafiado ao mesmo tempo. Animado porque a ideia de uma igreja cuja liderança está preocupada com o cumprimento da Missão deixada por Cristo é animadora nos dias de hoje; desafiado porque conectar a vocação missionária à estratégia de Pequenos Grupos nos pede disposição para repensar alguns formatos que se tornaram comuns em nossas igrejas.

A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA

Nosso ponto de partida será a vocação missionária. Essa é uma expressão bastante repetida, principalmente nos cultos de missões. E como a repetição muitas vezes rouba o significado das palavras, talvez seja bom reavivarmos seu significado. Vocação significa chamado e missionário se refere a alguém que leva uma mensagem. Então, quando falamos de vocação missionária estamos nos referindo ao fato de Deus haver-nos chamado (convidado) para levar uma mensagem (um recado) dele para as pessoas em nossa volta (e também àquelas longe de nós).

Eu os enviei ao mundo

John 17:18 BKJ 1611
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
Em sua oração, conhecida com sacerdotal porque nela ele intercede por nós, Jesus diz: “Da mesma maneira como me enviaste ao mundo, Eu os enviei ao mundo”. E quem são esses que ele enviou? Os doze apóstolos? Os discípulos que acompanhavam sua andança pelas cidades? Claro que todos eles estavam incluídos. Mas, nessa oração, Jesus não está falando apenas sobre os que estavam ao seu lado, Ele falava também sobre aqueles que viriam a crer: seus discípulos de todas as épocas.
Isso quer dizer que a missão não é coisa de um só ou de uns poucos, mas de todos. Todos nós fomos chamados e incumbidos de levar a mensagem. Todos fomos chamados a viver o desafio de ser missionário. Esse fato tem uma implicação importantíssima: nós podemos ajudar uma outra pessoa a cumprir a missão, mas isso não nos isenta da parte da missão que é nossa, isto é, a missão não pode ser terceirizada a alguma instituição nem delegada a uma outra pessoa. Apoiar o trabalho daqueles irmão e irmãs abnegados que saem pelo mundo para falar de Jesus é importante e necessário, mas isso não é suficiente. Tem uma parte da missão que é sua.

Não peço que os tire do mundo

John 17:15 ARA
15 Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.
Ainda nessa mesma oração, o Senhor fez um pedido que algumas pessoas prefeririam que ele não tivesse feito. Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”. Orando dessa maneira Jesus rejeitou de forma definitiva qualquer tipo de escapismo religioso (porque há muitos irmãos que pretendem se desligar da realidade da vida, às vezes difícil, e nessa fuga tentam levar consigo tantos quantos puderem.
Diante das palavras de Jesus, podemos afirmar com tranquilidade que a missão que recebemos do Senhor deve ser realizada dentro da normalidade da vida cotidiana. Isto quer dizer que a mensagem que recebemos do Senhor deve ser entregue enquanto a gente trabalha, estuda, passeia, vai ao supermercado, visita a família, espera no consultório médico... A missão não é cumprida quando estamos dentro das quatro paredes da igreja (templo), mas quando a igreja (pessoas) sai e encara o desafio de viver neste mundo levando a mensagem do amor gracioso de Deus.

Ide por todo mundo

Matthew 28:19–20 ARA
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Talvez o texto mais conhecido sobre a missão que recebemos de Jesus seja aquele registrado em Mateus 28. Em suas palavras finais antes de ascender aos céus, ele confirmou nossa vocação missionária e foi direto dizendo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...”.
O imperativo do verbo junto com a expressão “todas as nações” leva muitas pessoas a pensar que a principal característica de cumprir a missão seja sair de onde você está e ir para um lugar distante pregar o evangelho. No entanto, o tempo verbal utilizado no texto grego poderia ter sido traduzido não como “Ide”, mas como “Indo”. Tanto isso é verdade que no evangelho de Marcos 16.15 a tradução King James Atualizada troca os tempos verbais, podendo-se ali ler a grande comissão da seguinte forma: “Enquanto estiverdes indo pelo mundo inteiro, proclamai o evangelho a toda criatura.”
Isso reforça o entendimento de que a missão não é apenas sair de sua cidade para falar de Jesus em uma terra distante, mas também levar a mensagem da graça de Cristo enquanto você vive (enquanto estiverdes indo...) na sua própria sua cidade, na sua rua, no seu bairro, no seu condomínio.
Portanto, meus irmãos, o termo “missões urbanas” é totalmente coerente com a vocação missionário que recebemos nas Escrituras. Jesus orou para que fôssemos sal e luz pelas ruas de nossas cidades e nos enviou para caminharmos por este mundo como portadores da mensagem. Fomos enviados para os pontos críticos e difíceis de nossas cidades como missionários de seu evangelho e não podemos perder isso de vista.

O DESAFIO DAS CIDADES

Qualquer pessoa que more em uma cidade um pouco maior sabe que viver em cidades grandes como Campina tem suas vantagens, mas pode ser bem difícil. A dificuldade que as cidades enfrentam não são recentes. Nas Escrituras, muitas cidades e suas mazelas são citadas.
Sodoma e Gomorra, duas cidades dos tempos passados, foram destruídas por Deus por causa de sua impiedade e crueldade. Nínive, uma cidade com mais de 120 mil habitantes, foi alvo da graça de Deus, que enviou o profeta Jonas para anunciar a mensagem antes que ela fosse destruída. E não podemos esquecer do lamento de Jesus sobre Jerusalém, uma cidade que se habituou a desprezar e matar os missionários de Deus a ela enviados.
Cidades como Campina Grande e João Pessoa sofrem com terríveis mazelas que se tornaram parte do nosso cotidiano. São desafios que se impõem todos os dias e que influenciam na maneira como tentamos cumprir a missão. Vejamos alguns desses desafios

Violência

Quando nós nos aglomeramos em grandes cidades parece que a prática da violência se avoluma. Nas cidades a maldade encontra ambiente favorável para produzir crimes terríveis. De onde vem tanta violência? Acredito que em parte a violência é resultado da despersonalização. Nas ruas das cidades somos um rosto a mais entre milhares, sem família, sem passado, sem futuro, sem uma história a ser contado. Quando perdemos a identidade no meio da multidão, nossa humanidade é diminuída e então abre-se um espaço para atitudes de desprezo e de violência. Não é verdade que a agressão contra alguém que conhecemos nos ofende mais que aquela cometida contra um desconhecido?
Veja que desafio para a missão! Viver nas cidades de maneira que as pessoas em nossa volta se sintam importantes e dignas. Viver de maneira que as pessoas recuperem suas identidades e deixem de ser apenas um rosto a mais, exposto à violência.

Consumismo

As cidades, onde muita gente vive em um espaço relativamente pequeno, são o palco ideal para vender e comprar coisas. As grandes cidades são vistas por muitas pessoas como uma grande aglomeração de consumidores. Isso faz sentido, porque em nossa sociedade o consumo é tão importante que se tornou uma forma de dizer para os outros quem nós somos, isto é, nossa identidade e nosso valor são definidos por aquilo que somos capazes de adquirir.
Aqui temos outro desafio para cumprir a missão: viver nas cidades de maneira que as pessoas em nossa volta sejam valorizadas não pelo que têm ou podem comprar, mas pelo que são: seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.

Pluralidade

Nas cidades se junta gente de todo tipo. Nas grandes cidades tem gente de vários lugares do país e até do mundo. É nas cidades que as culturas diferentes se encontram, que as religiões diferentes são obrigadas a conviver lado a lado. Algumas mais, outras menos, as grandes cidades são todas marcadas pela pluralidade. Quando vivemos nas cidades nossos costumes, isto é, o jeito de viver e de se relacionar com as pessoas, que a gente pensava ser o “jeito certo”, é confrontado com outros jeitos certos de viver.
Aqui o desafio para a missão é duplo: viver nas cidades de maneira que as pessoas em nossa volta sejam respeitadas em sua individualidade e se sintam amadas como são. Ao mesmo tempo, pensando na maneira como nos relacionamos com as pessoas, somos desafiados a discernir o que é apenas uma questão de gosto daquilo que realmente afronta o evangelho.

Distanciamento

Talvez uma das características mais marcante das cidades seja o potencial que elas têm de afastar as pessoas umas das outras, mesmo quando estão fisicamente próximas. Isso acontece porque nas grandes cidades o anonimato se tornou o álibi perfeito para não nos envolvermos. Como não sei quem é a pessoa que passa ao meu lado, não conheço o atendente da loja nem o funcionário da farmácia e não dou notícia nem do sujeito que mora no mesmo condomínio que eu, sinto-me desobrigado de me aproximar deles. São apenas pessoas estranhas de quem prefiro ficar longe. E espero que também elas fiquem longe de mim.
Que grande desafio para a missão! Viver nas cidades de maneira que o amor seja maior que o distanciamento. Para cumprir a missão somos desafiados a correr o risco de nos deixar conhecer para ganhar o direito de nos tornarmos próximos de outras pessoas. Isso me faz lembrar a história que Jesus contou, daquele samaritano. Mesmo sem conhecer aquele homem caído à beira do caminho ele correu o risco de se fazer próximo para poder demonstrar o seu amor através do cuidado que aquele moço precisava.

A MISSÃO ATRAVÉS DOS RELACIONAMENTOS

Violência, Consumismo, Pluralidade, Distanciamento… Como cumprir a missão diante de tantos desafios?
Meus irmãos, eu acredito que o cenário que vivemos hoje nos leva a resgatar os relacionamentos interpessoais como um caminho que vai nos ajudar a cumprir a missão, mesmo em dias tão turbulentos.
Acredito também que a melhor maneira para desenvolver esses relacionamentos (íntegros e libertadores) é nos encontrarmos em Pequenos Grupos e compartilhar nossas caminhadas como discípulos de Jesus.

Amar a Deus e amar ao próximo

Eu sei que durante muito tempo fomos ensinados que a missão era pregar o evangelho através de sermões, realizar cultos ao ar livre, distribuir folhetos evangelísticos, organizar conferências missionárias, etc., mas essas são apenas estratégias, caminhos que foram construídos para nos aproximar das pessoas. A missão é conduzir as pessoas em nossa volta, mediante nosso testemunho de amor, a amarem a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmos.
Esse resumo foi dado por Jesus quando ele conversava com um mestre da lei judaica e explica que o evangelho da graça de Deus tem a ver com relacionamentos, isto é, amar a Deus e amar ao próximo. Na história que Jesus contou, enquanto o sacerdote e o levita optaram por não se envolver; o samaritano decidiu correu o risco de se tornar próximo.
Se queremos ser missionários em nossas cidades não podemos agir como o sacerdote que estava mais preocupado com o culto do que com as pessoas, tampouco podemos agir como o levita que estava mais interessado em cumprir as leis cerimonias. Somos chamados a aprender com o samaritano, que usou seu tempo, gastou seu dinheiro e fez o que estava ao seu alcance para socorrer aquele homem ferido. Por causa de sua atitude de amor o samaritano se tornou o próximo daquele homem. Se queremos cumprir a missão em nossas cidades precisamos tornar a construção de relacionamentos íntegros e libertadores uma prioridade para nós.

Mutualidade

Sempre achamos linda a história do bom samaritano, mas quase nunca sabemos como colocá-la em prática em nossas vidas. Como será que a igreja lá do início experimentou isso?
No novo testamento, a partir da obra do Espírito Santo trazendo a Igreja à existência, um conceito ganhou força e ajudou a cumprir a missão através de relacionamentos cheios de amor: é o conceito de mutualidade que nos é apresentado pela expressão “uns aos outros”.
No livro “Um por todos, todos por um”, Gene Getz relaciona mais de 20 vezes a expressão “uns aos outros”.
Membros uns dos outros, Amando cordialmente uns aos outros, Honrando uns aos outros, Tendo o mesmo sentimento de uns para com os outros, Amando uns aos outros, Edificando uns aos outros, Acolhendo uns aos outros, Admoestando uns aos outros, Saudando uns aos outros, Esperando uns pelos outros, Importando-se uns com os outros, Servindo uns aos outros, Levando as cargas uns dos outros, Suportando uns aos outros, Sendo benignos uns para como os outros, Sujeitando-se uns aos outros, Estimando uns aos outros, Consolando uns aos outros, Confessando os pecados uns aos outros, Orando uns pelos outros, Sendo hospitaleiros uns com os outros, Tendo comunhão uns com os outros.
Toda essa ênfase do Novo Testamento em mutualidade é uma pista importante de que o evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus é experimentado quando estamos na companhia uns dos outros. E quando essa mutualidade é experimentada pela igreja acontece o que foi registrado no livro de Atos.
46 Cada dia adoravam juntos no templo; reuniam-se em pequenos grupos familiares para celebrar a comunhão, e tomavam as refeições em comum, 47 com grande alegria e gratidão, louvando Deus. A cidade inteira via-os com bons olhos e todos os dias Deus ia acrescentando ao seu número aqueles que se salvavam. Atos 2.46-47 OL [3]
Talvez sua tradução não fale explicitamente de “pequenos grupos familiares”, mas é exatamente a isso que o texto se refere quando fala que os irmãos se reuniam “de casa em casa”. Esse texto é importante porque faz uma conexão direta entre a experiência da igreja de reunir-se em pequenos grupos para comunhão e celebração e o cumprimento da missão: “todos os dias Deus ia acrescentando”.

Grupos Pequenos

Não resta dúvida que diante do modo como vivemos nas cidades, esse não é um caminho fácil. E quando decidimos nos reunir em Pequenos Grupos devemos compreender que estamos indo na contramão do modo de pensar da maioria. Mas, ao mesmo tempo, podemos ter certeza de que estamos recuperando a maneira que o Espírito de Deus usou para iniciar e impulsionar a Igreja.
Meus irmãos, eu creio firmemente, que as dificuldades que enfrentamos para cumprir a missão nas grandes cidades podem ser vencidas mais facilmente pelo exercício da mutualidade. Acredito também que Pequenos Grupos são o melhor caminho para isso acontecer em nossas igrejas.
Quando nos reunimos em Pequenos Grupos somos convidados a olhar nos olhos das pessoas e ouvir suas histórias de vida. Assim, todos nos tornamos mais humanos e somos chamados pelo Espírito de Deus a abandonar a violência e abraçar a compaixão.
Quando nos encontramos em Pequenos Grupos somos convidados a conviver com pessoas diferentes de nós. Descobrimos que nem todos têm os mesmos gostos ou os mesmos costumes. Assim, em Pequenos Grupos, ao invés de nos tornarmos donos de todas as verdades somos chamados a respeitar e conviver com aqueles que são diferentes de nós.
Quando a igreja funciona em Pequenos Grupos é porque nós decidimos colocar limites no consumismo e usar parte de nosso tempo em algo diferente de ganhar dinheiro para comprar coisas. Assim, experimentar grupos pequenos é também uma forma de reconhecer que SER alguém vem antes de TER alguma coisa.
Por fim, quando a vida da igreja é vivida em Pequenos Grupos o amor que desenvolvemos uns pelos outros se torna visível inclusive para os de fora. Assim o distanciamento das grandes cidades é vencido, a missão encontra espaço e o evangelho de Cristo é anunciado com poder.
Todos nós somos vocacionados. Todos fomos chamado a cumprir a missão e levar as pessoas a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmas. Não podemos abrir mão da missão diante dos desafios que enfrentamos nas grandes cidades. Nós aprendemos a sobreviver nelas, mas precisamos fazer mais que isso: precisamos viver nelas como missionário: sal da terra em que moramos e luz na cidade em que vivemos.

VIVENDO PEQUENOS GRUPOS

Hoje pela manhã vimos que todos nós somos vocacionados. Todos fomos chamado a cumprir a missão e levar as pessoas a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmas. Vimos que embora sejam grandes os desafios que enfrentamos nas grandes cidades, não podemos abrir mão da missão. Vimos que nossa vocação não é para sobreviver apenas, mas para viver como missionário: sal da terra em que moramos e luz na cidade em que moramos.
Hoje à noite quero refletir com os irmãos sobre a bênção e os desafios de sermos membros uns dos outros e vivermos igreja em Pequenos Grupos.
Como disse hoje pela manhã, eu creio firmemente, que as dificuldades que enfrentamos para cumprir a missão nas grandes cidades podem ser vencidas pelo exercício da mutualidade. Acredito também que Pequenos Grupos são o melhor caminho para isso acontecer em nossas igrejas.
Meu desejo é que o Espírito de Deus seja o guia a conduzir-nos às verdades preciosa do coração do Pai.

Membros uns dos outros

O apóstolo Paulo, em suas cartas, fez várias comparações para tentar explicar a natureza da igreja e dos relacionamentos entre nós. Ele comparou a igreja a uma família, a uma lavoura e a um edifício de pedras vivas, mas a comparação mais extensa e detalhada que ele fez foi com o corpo humano (1 Cor 12.12-31).
Um dos aspectos dessa comparação com o corpo, é que na igreja também existem diferente partes que estão ligada entre si. Paulo afirma que essa ligação entre nós é tão profunda que por causa dela somos membros uns dos outros, isto é, a vida de cada parte do corpo depende das outras partes.

Novas criaturas

E porque estamos tão ligados entre nós? As Escrituras dizem que esta ligação é resultado de uma ação sobrenatural de Deus. Mediante nossa confiança em Cristo Jesus, ele gerou em cada um nós uma nova natureza (), inclinada para ele, tornando-nos seus filhos (João 1:12). Aqui as duas comparações (corpo e família) se complementam: fazemos parte do mesmo corpo porque fomos gerados espiritualmente pelo mesmo pai.
Em outras palavras, essa pessoa maravilhosa que está aí ao seu lado é seu irmão. Mas nem você, nem ela, fizeram qualquer coisa para isso. Foi obra do Espírito Santo. E assim como acontece com os irmãos de sangue, nada que vocês façam vai mudar essa realidade. Não existem ex-irmãos. Somos Corpo de Cristo, Família de Deus, chamados por ele para vivermos a dores e os amores que vivem uma família.
Como isso é possível? Como experimentar a realidade do Corpo de Cristo como uma família? A Bíblia nos desafia com os mandamentos recíprocos:
Amai-vos cordialmente uns aos outros, Honrando uns aos outros, Tendo o mesmo sentimento de uns para com os outros, Edificai-vos uns aos outros, Acolhendo uns aos outros, Admoestando uns aos outros, Saudai-vos uns aos outros, Esperai uns pelos outros, Importai-vos uns com os outros, Servi uns aos outros, Levai as cargas uns dos outros, Suportando-vos uns aos outros, Sendo benignos uns para como os outros, Sujeitai-vos uns aos outros, Estimando uns aos outros, Consolai-vos uns aos outros, Confessando os pecados uns aos outros, Orai uns pelos outros, Sendo hospitaleiros uns com os outros, Tendo comunhão uns com os outros.

A dinâmica de Atos

Podemos tentar fazer tudo isso durante o culto de domingo à noite, mas, por experiência, preciso dizer que não é suficiente. Para colocarmos em prática esse aspecto da natureza da igreja que é a mutualidade, precisamos conviver. É a proximidade que faz surgirem as situações em que nosso amor é exercitado.
Talvez seja por isso que ao examinarmos com cuidado os registros feitos no livro de Atos dos Apóstolos sobre o nascimento da Igreja, podemos perceber que uma das marcas que se destacam é que ele estavam junto: no cenáculo, onde foram revestidos de poder (At 2:2); no pátio do templo, adorando a Deus e de casa em casa, compartilhando o alimento e a Graça de Deus (At. 2:44-46).
Essa dinâmica do livro de Atos – grandes grupos de adoração e pequenos grupos de comunhão – estabelece um princípio que cria as condições para que a vida de Cristo encha a igreja de vida e poder, e assim a missão seja cumprida. A maioria de nossas igrejas investe muito nas reuniões em que toda a congregação se ajunta, mas esquece a outra perna que faz a igreja avançar: Pequenos Grupos.

PEQUENO GRUPOS

Quero compartilhar com os irmãos quatro aspectos de nossos encontros em Pequenos Grupos que os tornam uma poderosa estratégia para, ao mesmo tempo, experimentarmos a Igreja como parte que somos do Corpo de Cristo e cumprirmos a missão dentro de nossas cidades.

Lugar de Graça

Apenas encontrar-se em Pequenos Grupos não é suficiente. É preciso estar atento o que é que está acontecendo em nossos encontros. Para que a missão seja cumprida em nossas cidades esses devem ser momentos de graça. Reflexo do amor que nutrimos uns pelos outros. Escrevendo aos gálatas, o Paulo disse o seguinte:
Galatians 5:13–15 VFL
13 Mas vocês, irmãos, foram chamados para viver em liberdade. Contudo, não deixem com que a liberdade de vocês se torne um pretexto para que façam o que agrada à natureza pecadora de vocês. Ao contrário, sirvam uns aos outros com amor. 14 Pois toda a lei se resume num só mandamento: “Ame o seu próximo como você ama a si mesmo”. 15 Mas se continuarem se tratando como animais, ferindo e prejudicando uns aos outros, tenham cuidado para não se destruírem!
Precisamos lembrar o que Cristo fez por nós e agir da mesma maneira com nossos irmãos: Jesus não pôs nossos defeitos em outdoors para nos humilhar. Em vez disso ele nos ajuda a reconhecer nossas limitações, perdoa nossos erros e depois nos encoraja a prosseguir na caminhada.
Isso quer dizer que não podem ser para acusações mútuas ou para competições sobre quem é melhor e mais crente. Nossos encontros não podem ser lugar de fingimento e crítica, mas sim de serviço e amor gracioso.

Lugar de Pluralidade

Quando o apóstolo Paulo compara a igreja a um corpo, ele afirma o tempo todo que somos partes diferentes, temos dons diferentes, ministérios diferentes e funções diferentes. Por experiência também sabemos que temos gostos diferentes, culturas familiares diferentes e hábitos diferentes. Escrevendo aos Colossenses, Paulo fala um pouco sobre essas diferenças e a pouca importância que têm para caminha cristã.
10 Vocês estão vivendo uma espécie de vida totalmente nova, que consiste em estar continuamente aprendendo cada vez mais o que é correto, e procurando constantemente ser cada vez mais semelhante a Cristo, que criou esta vida nova no íntimo de vocês. 11 Nesta vida nova não importa a nacionalidade, a raça, a educação ou a posição social de alguém; estas coisas não significam nada. O que importa é se a pessoa tem Cristo ou não, e Ele é igualmente acessível a todos. (Cl 3:10,11- BV)
Por isso, irmãos, para que a missão seja realizada em nossas cidades devemos aprender a conviver bem com as diferenças. Precisamos lembrar o tempo todo que Deus não fez e nem nos quer iguais. A Bíblia fala que a graça de Deus é multiforme (1 Pe 4.10) e eu penso que é assim porque ele respeita nossas diferenças e deseja nos alcançar de diversas formas.
Isso quer dizer que não podemos nos encontrar em Pequenos Grupos com a expectativa de que nos tornaremos todos parecidos uns com os outros, teremos os mesmos gostos e as mesmas opiniões. Quem alimentar essa expectativa de padronização certamente vai se decepcionar (e frustrar os outros irmãos).
Lugar de Confiança
Cumprir a missão nas grandes cidades será mais fácil se desenvolvermos relacionamentos de confiança entre nós. Foi assim com Jesus. Os evangelhos contam a amizade profunda entre ele e os seus discípulos. Aquele grupo de 13 foi-se formando lentamente. Alguns era até parentes entre si, mas outros nem se conheciam. Durante três anos eles se tornaram amigos. Veja o que Jesus disse para eles:
John 15:15 NVI
15 Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido.
Para que um pequeno grupo se transforme em um lugar seguro, onde as pessoas confiam umas nas outras, cada um deve se esforçar para se tornar confiável. E o que nos torna confiáveis? As pessoas confiam em nós quando sabem que nós as amamos. Isso quer dizer que são as atitudes de amor, respeito e consideração de uns para com os outros que tem o poder de transformar os encontros de Pequenos Grupos em lugares de confiança.
Por isso, para que a missão seja realizada em sua cidade, você deve se esforçar para se tornar alguém digno de confiança, alguém de quem as pessoas têm vontade de ser amigas porque se sentem amadas e seguras ao seu lado.

Exercício de Perseverança

Se você acompanhou nosso raciocínio até agora deve ter percebido que esse não é um caminho fácil. Mas não tenho medo de dizer que esse caminho, dos relacionamentos íntegros e libertadores no contexto de um Pequeno Grupo, foi preparado pelo Senhor para andarmos nele.
Vocês já deram bons passos na direção certa e devem se lembrar que essa caminhada precisa ser feita com perseverança. Não é fácil ajustar o jeito de viver igreja. Cumprir a missão a partir do que acontece nos Pequenos Grupos é desafiador. Alguns chamariam isso de troca a lentes dos óculos, isto é, mudar de paradigma.
É preciso perseverança porque as mudanças que esperamos ver em nós e nos nossos irmãos muitas vezes são lentas e cheias de percalços. Não tenham pressa com os resultados. Se o Senhor é delicado e gentil, por que nós seríamos apressados e rudes?
É preciso perseverança porque as pessoas em nossa volta estão comprometidas com outro modo de viver a vida. Não é bom esperarmos que todos entendam e aceitem os princípios que vimos no dia de hoje. É preciso orar pedindo a Deus que nos faça perseverantes e nos ajude no compromisso de amor mútuo (o amor é paciente).
É preciso perseverança para que a Graça de Deus conquiste, o amor aprenda a respeitar as diferenças e a confiança cresça entre nós. Assim o mundo verá que a unidade entre nós vem do alto, é produzida pelo amor de Deus e desejará experimentá-la. Assim, seremos os missionários de Deus em nossas cidades: sal da terra em que moramos e luz nas ruas em que moramos.
Que o Senhor nos ajude e enfrenta e vencer os desafios de viver igreja em nossos dias.
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