Mateus 26.20-35
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted • Presented
0 ratings
· 15 viewsO autor/divino arranja a narrativa do anúncio da traição de Judas e negação dos discípulos contra Cristo, a fim de demonstra o objetivo para tamanho sofrimento: o sacrifício do Cordeiro de Deus para remissão dos pecados de muitos, conforme é encenado a cada vez que a igreja partilha da Ceia, momento em que sua esperança de reunião com Cristo no Reino do Pai é reavivada.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
De acordo com a sequência narrativa conforme registrada por Mateus, depois de ter enfatizado as reações dos discípulos ante o evangelho encenado na casa de Simão, o leproso (cf. vs. 6-19) , as próximas cenas são destinadas a interpretar e assegurar que os eventos vindouros, como adiantados por Cristo anteriormente, estão para se cumprir.
Desde o capítulo 16 Cristo adverte seus discípulo que, estando à caminho de Jerusalém, ao chegar lá, deverá "sofrer muitas coisas nas mãos dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia" (Mt 16.21). Ao passo que se aproxima o momento de sua crucificação, Mateus referencia essa predição como ponto conectivo encarregado de demonstrar que tudo está ocorrendo exatamente de acordo com o plano redentivo estabelecido pelo Pai, no que concerne à publicação de seu Reino. Assim, o sofrimento anunciado antes, começa a ser executado, tal como descreverá a presente seção.
Tal como o bloco anterior, três cenas compõem a evolução dessa primeira parte dos fatos, aludindo às palavras anteriores de que o Messias "sofreria muitas coisas nas mãos dos líderes de Israel", começando por sua traição e entrega aos anciãos do povo. Isso ocorre a partir de duas cenas: o anúncio da traição de Judas, que segundo o evangelho de João, após ser identificado como o traidor, saiu logo, a fim de fazer o que pretendia (cf. Jo 13.27, 30); e o anúncio da traição dos demais discípulos, que negarão seu senhor como cumprimento da profecia de Zacarias 13.7. Entre essas duas cenas, o evangelista registra a instituição da Santa Ceia, momento em que Cristo interpreta seus sofrimentos futuros como sendo o meio através do qual a salvação será efetivada e o Reino publicado mediante sua crucificação, morte e ressurreição, como havia sido determinado.
O Filho de Deus; O Messias Prometido, não sofreria por mera fatalidade, isto é, pela traição do filho da perdição (Judas) ou pela fraqueza de fé dos demais discípulos. O desígnio eterno entregaria Cristo como o Cordeiro Pascal, morto em lugar de todos aqueles que foram agraciados com o chamado ao Reino, e como símbolo da aliança que assegura isso, recebem a fraterna refeição da Ceia como memorial espiritual do que ocorrerá quando da publicação consumatória do mesmo.
Assim, o texto de Mateus 26.20-35 declara como ideia central o início da paixão do Messias: o anúncio da traição e o símbolo da morte vicária.
Elucidação
Notando as intenções elucidativas do autor com relação aos eventos narrados, observaremos primeiramente as duas cenas paralelas que demarcam o anúncio da traição ou negação dos discípulos, para que então o momento da Ceia do Senhor seja evidenciado como centro nevrálgico da passagem.
1. Cena 1 (vs.20-25): A traição de Judas.
A narrativa inicia-se com a descrição cênica de todos os discípulos dispostos à mesa juntamente com Cristo, e "enquanto comiam" (v. 20) o Senhor declara a traição de um de seus companheiros. O ambiente festivo da páscoa, conforme a tradição judaica, era reservado apenas aos mais íntimos, de maneira que, preferencialmente, a refeição era dividida entre algumas poucas famílias, respeitando a instituição mosaica, conforme demonstra o texto de Êxodo 12.4. Assim, o anúncio de uma traição deveria ser visto como algo extremamente vil; um ultraje à hospitalidade do anfitrião.
Confirmando essa noção, a descrição do autor é de que, diante da delação da traição, os discípulos ficaram "muitíssimos contristados (gr. "λυπέω" = "aflitos", "perturbados"), [e] começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura, sou eu, Senhor?" (v.22). A resposta de Jesus confirma a intensidade da traição, ao afirmar que "o que mete comigo a mão no prato, esse me trairá" (v.23).
Alguns interpretam essas palavras de Cristo como que fazendo referência ao momento exato em que, simultaneamente, ele e Judas dirigiram a mão em direção à refeição que estava diante deles, e assim, seria feita a revelação do traidor. Entretanto, levando em consideração a narrativa paralela dos evangelhos, apenas João descreve explicitamente o momento em que, mediante a entrega do bocado molhado, Judas foi desmascarado. Tal fato, porém, passou despercebido aos olhos dos demais discípulos, como narra João (cf. Jo 13.28). Assim, a ênfase de Mateus com relação às palavras do Senhor quanto ao traidor "meter a mão no prato", direciona a atenção dos ouvintes/leitores para o fato de que o traidor estava à mesa: era um de seus mais chegados companheiros.
A traição de Cristo não foi efetivada por seus inimigos externos, como por exemplo, os anciãos de Israel, com quem Judas já havia estabelecido um acordo para entregar o Messias. O Senhor seria entregue às autoridades judaicas por meio de um que fazia parte de seu círculo mais íntimo.
Não obstante, em que pese a informação de que no meio de discípulos estava o traidor, duas informações complementam a cena: 1) tal traição também estava dentro dos planos divinos que culminariam no sacrifício do Messias (ênfase da cena central vs.26-30) e 2) a identidade do inimigo. Após o questionamento de todos os discípulos, Mateus destaca especialmente o questionamento de Judas, que provavelmente ocorreu no momento em que os outros também perguntaram, mas foi colocado à parte exatamente para que ele fosse denunciado, criando uma correlação em que apenas Cristo, Judas e o ouvinte/leitor do texto, estivessem cientes do dado.
A soberania divina é apresentada como leme da história e dos eventos em curso: "O Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito" (v.24), mas a responsabilidade do traidor não será mitigada: "[...] Mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do homem está sendo traído". Diante dessa informação, Judas, "que o traía" (v.25) questiona se seria ele o discípulo desleal, ao que Cristo confirma: "Tu o disseste". Esse rápido diálogo equivale ao momento descrito por João, em que o Senhor molha o bocado de pão e entrega a Judas, desvelando sua identidade.
O início do sofrimento messiânico ocorre com uma traição: o inocente será entregue para ser moído (cf. Is 53.5) através da vileza do coração de um homem que, escondido entre seus amigos, levantou contra ele seu calcanhar (Sl 41.9). Ser pendurado no madeiro certamente é a mais intensa e excruciante parte da via dolorosa que Cristo percorrerá, mas tal dor é infligida desde o momento em que é exposto a traição daquele que até mesmo à sua mesa se assentou.
O sofrimento messiânico é enfatizado e demarcado por Mateus, num primeiro momento, através da revelação daquele que haveria de entregar o Senhor às autoridades dos judeus, a fim de que fosse preso e morto, como será narrado nas próximas cenas. Entretanto, as agruras que padecerá o redentor, estendem-se à traição não apenas de Judas, mas inclui também ser negado por todos os seus outros discípulos, também como cumprimento dos desígnios do Pai, conforme registrado na cena paralela.
2. Cena 2 (vs.31-35): A traição dos discípulos.
Mateus inicia a escalada descritiva dos sofrimentos do Messias, ampliando a compreensão daqueles que teriam acesso ao seu texto, para o fato de que, embora Judas desempenhe um papel especial como opositor do Reino e instrumento divino no cumprimento de seu plano redentor, importa que Cristo sofra o abandono de todos aqueles que verdadeiramente eram seus discípulos.
A cena começa com a própria fala do Senhor, na qual descreve esse fato:"Então, Jesus lhes disse: Esta noite, todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas" (v.31). Nesse ponto, Cristo cita o texto de Zacarias 13.7, texto que registra o juízo divino sobre os falsos profetas em Israel. Entretanto, no meio de todo o julgamento do SENHOR, Zacarias registra uma palavra de renovação: estes, que foram dispersos pela espada do Senhor, mediante a provação, seriam poupados de aniquilação total, e purificados para novamente gozarem do relacionamento com o SENHOR da Aliança:
Desperta, ó espada, contra o meu pastor e contra o homem que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos; fere o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas; mas volverei a mão para os pequeninos. Em toda a terra, diz o Senhor, dois terços dela serão eliminados e perecerão; mas a terceira parte restará nela. Farei passar a terceira parte pelo fogo, e a purificarei como se purifica a prata, e a provarei como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: é meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus.
O Senhor Jesus alude que o momento descrito na profecia estava para chegar: a espada que traria a provação sobre seus companheiros era a cruz, na qual seria erguido, e nesse momento os discípulos (cf. Zc.13.7 "meu companheiro") fugiriam, negando-o. Mas, tal como predito por Zacarias, sua ressurreição os haveria de reunir, como ele informa em seguida: "Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia" (v.32 (cf. Zc 13.8-9)).
A fraqueza dos discípulos, assim como a traição de Judas, estava prevista, e fazia parte de toda a dor imposta sobre o Servo Sofredor do SENHOR, responsável pela publicação e efetivação do plano redentivo. Todavia, Pedro resiste a alegação de Jesus, e afirma que "ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim" (v.33). O discípulo manifesta a mesma incompreensão dos planos salvíficos que demonstrou quando Jesus anunciou sua morte pela primeira vez, conforme Mateus registra em 16.22-23.
Novamente, Jesus responde a remonstrância de Pedro com a inevitabilidade da obra expiatória: "Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes" (v.34). Nesse ponto, a compreensão mateana quanto aos eventos narrados é evidenciada de maneira mais enfática: os episódios de traição são descritos preparando o leitor/ouvinte com a compreensão de que os mesmos foram preordenados como parte da angústia pela qual passará o Redentor, cumprindo o propósito para o qual fora designado. Mesmo que todos os discípulos tenha feito coro (cf. v.35b) com a afirmativa petrina de que "ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei" (v.35) tudo concorreria para que o sangue do Cordeiro de Deus fosse derramado.
Em face de tudo isso, a cena intermediária lança luz sobre as duas outras: a instituição do sacramento da Ceia dá sentido a todo o sofrimento a ser experimentado pelo Senhor Jesus: ele seria traído e negado para que fosse exposto como sacrifício expiatório pelos pecados de muitos, conforme narra a cena 3.
3. Cena 3 (vs.26-30): a instituição da Ceia.
A expressão repetida "enquanto comiam" proporciona ao leitor/ouvinte do texto a compreensão de que a refeição pascoal está em curso, isto é, os diálogos estão em andamento ao passo que todos preparam-se para participar do momento em que o sacramento será instituído. Compreendido isso à luz das duas passagens paralelas, o leitor, após concluir a leitura desse trecho, estaria pronto para ver na instituição sacramental da Ceia, o apogeu da obra vicária e do sacrifício a ser realizado pelo Senhor Jesus na cruz.
O anúncio da vil traição de Judas e da covarde negação dos discípulos, são como blocos necessários para a construção do magnifico Reino dos céus: a comunhão entre Deus e seu povo é garantida mediante o oferecimento do Cordeiro Pascoal, entregue em meio a profunda dor, para que esse mesmo povo seja nutrido com a esperança que os fará aguardar do Reino do Pai.
A refeição comungante é iniciada com a partilha dos elementos que, segundo Cristo, apontam para si mesmo e seu sacrifício:
[...] Tomou Jesus um pão, e, abençoando, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos (v. 26-27).
O aspecto representativo da ceia em curso, une-se ao evento da páscoa, a fim de que ambas apontem para o mesmo fim. Como comenta Hendriksen:
Ao vincular historicamente, e de uma forma por demais estreita, a Páscoa e a Ceia do Senhor, Jesus deixou bem nítido que o que era essencial na primeira não se perdeu na segunda. Ambas apontam para ele, o único e todo-suficiente sacrifício pelos pecados de seu povo. A Páscoa aponta para esse sacrifício prospectivamente; a Ceia do Senhor aponta para ele retrospectivamente (HENDRIKSEN 2010, p.490).
Essa união entre a antiga aliança e a inauguração de uma nova e plena dispensação, é referenciado pelas palavras posteriores à distribuição do segundo elemento (vinho): "Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança" (v.28). Cristo, nesse momento, faz referência ao momento em que o SENHOR, no monte Sinai, estabeleceu com o povo de Israel sua aliança, conforme registra o texto de Êxodo 24.3-8:
Êxodo 24.3–8 (ARA)
Veio, pois, Moisés e referiu ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; então, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que falou o Senhor faremos. Moisés escreveu todas as palavras do Senhor e, tendo-se levantado pela manhã de madrugada, erigiu um altar ao pé do monte e doze colunas, segundo as doze tribos de Israel. E enviou alguns jovens dos filhos de Israel, os quais ofereceram ao Senhor holocaustos e sacrifícios pacíficos de novilhos. Moisés tomou metade do sangue e o pôs em bacias; e a outra metade aspergiu sobre o altar. E tomou o livro da aliança e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras.
Ao ter anunciado a si como sacrifício que deveria ser lembrado e absorvido pelos discípulos através da ceia, Cristo estava enfatizando que a aliança da redenção, conforme administrada desde Adão, passando por Abraão e Moisés chegando até eles, e daquele momento em diante, até que o último eleito fosse chamado ao Reino, alcançaria seu cumprimento quando ele fosse morto e ressuscitasse. Além disso, a expectativa criada pelo Senhor quanto seu retorno é também retratada nesse momento.
Segundo o costume judaico, quatro cálices de vinho eram ingeridos ao longo de toda refeição pascoal. Entretanto, ao ter Cristo dito que não beberia "deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai", ele estava fazendo menção de que não tomaria parte no último cálice (KEENER, 2017, p. 129), para que ficasse claro que a conclusão daquilo que estava sendo iniciado ali, ocorreria quando retornasse em glória para a reunião da igreja com seu Deus, tal como prometido desde o Antigo Testamento.
Transição
A Ceia do Senhor retrata o objetivo máximo de todo o sofrimento representado adjacentemente pelas cenas que anunciam a traição e a negação sofrida por Cristo. Com que fim Cristo submeteu-se a tudo isso? porque ele foi exposto à dor de ter sido rejeitado por aqueles que pessoalmente escolheu como seus discípulos, e ser traído por aquele que nunca o havia amado, mas o trocou por míseras moedas de prata? Mais ainda; levando em consideração que este é apenas o início do percurso doloroso, por que o justo Filho de Deus deveria padecer tanto sofrimento, como ser humilhado, torturado, crucificado e morto? a resposta é dada pelo próprio Senhor, ao ter entregue o sacramento à sua igreja: "isto é o meu sangue, derramado em favor de muitos para a remissão de pecados" (v.28).
Como afirma o autor da epístola aos hebreus: "[...] sem derramamento de sangue não há remissão de pecados" (Hb 9.22). A antiga ofensa cometida por Adão, necessita ser reparada. Tendo a Lei sido quebrada, somente mediante a morte do transgressor, é que a justiça poderá ser satisfeita. Ou, no caso, com a morte de um substituto perfeito: que cumpra toda a Lei, e ofereça-se como pagamento do débito contraído.
Mateus apresenta o sofrimento do Messias através da traição e da negação que sofreu (vs. 20-25; 31-35), para que fosse ressaltado o objetivo de tamanho sofrimento (vs.26-30): Cristo entregou-se como cordeiro pascoal, cujo sangue nos livra da morte, e a Ceia nos assegura que, tendo ressuscitado, está indo adiante de nós, para nos reunir com ele no Reino do Pai.
Notando isto, o texto de Mateus 26.20-35, encerram as seguintes verdades ao povo de Deus:
Aplicações
1. A razão dos sofrimentos de Cristo é seu sacrifício , e o objetivo de seu sacrifício é o cumprimento de todo o plano redentivo do Pai, para o louvor de sua glória e publicação de seu Reino em seu Filho.
O sofrimento do Messias estava premeditado. Cristo não sofreu por algum tipo de mudança no coração de Judas, que em algum momento frustrou-se ou mudou de ideia quanto a seguir a Cristo, e por isso o entregou às autoridades dos judeus. Ele fez o que foi escolhido para fazer desde antes da fundação do mundo, quando Santíssima Trindade destacou a Segunda Pessoa para a tarefa de sacrificar-se em vista da redenção do cosmos.
A traição dos homens contra o Messias foi a primeira dor que Cristo sentiu, tendo ele se predisposto livremente a experimentar o tormento que o encaminharia ao martírio da cruz. Como descrito por Isaías, ele foi "o mais rejeitado dos homens" (cf. Is 53.3): Judas e os demais discípulos demostrariam isso claramente.
Todo esse sofrimento, entretanto, deve ser visto a partir da determinação soberana do SENHOR. Nada transcorreria ao Senhor Jesus que não fora previamente determinado, e por isso, somente aqueles que não detinham o conhecimento do plano trinitário, espantaram-se com o ultraje de Judas, e resistiram aceitar que seriam fracos ao ponto de negarem o Senhor.
A igreja de Cristo, mediante o presente texto, é informada disso: vê nas páginas escritas por Mateus a grandiosidade da obra vicária: o corpo foi partido e o sangue derramado, em nosso favor. A redenção foi consumada mediante toda a dor que Cristo sentiu, o que inclui a traição do filho da perdição, que se infiltrou entre seus amigos, e a rejeição destes outros, o que nos leva ao segundo ponto.
2. Em meio ao sofrimento, Cristo concedeu a igreja o emblema de que sua obra foi efetiva em redimir um povo para Deus, e em lembrar que a promessa de publicação do Reino foi selada com seu sangue.
A refeição pascoal foi jungida à comunhão proposta pelo Senhor a fim de que o AT fosse cumprido e a Nova Aliança fosse inaugurada; Nova Aliança que encerra a promessa de que, após a ressurreição do Senhor, o tempo estaria sendo contado, e as últimas coisas seriam executadas para que o Reino fosse publicado.
É fortuito que o símbolo da promessa de retorno seja uma refeição: no Antigo Testamento, na páscoa, o cordeiro e as ervas deveriam ser ingeridos como que às pressas (cf. Êx 12.11), pois, após a execução da última praga, o povo foi tirado do Egito repentinamente, rumando à terra prometida. Da mesma forma, a Ceia do SENHOR, como refeição comungante, reserva esse caráter de expectativa: o sacrifício foi realizado; o cordeiro foi morto, e agora, tudo o que resta é que o Senhor novamente venha, em resgate de seu povo, para levá-los ao Reino Eterno; à Canaã Celestial.
Pão e vinho apontam para a seriedade do que foi feito: sangue precisou ser derramado em favor de muitos, para que esses tivessem seus pecados perdoados. Mas, a Ceia não é um momento de tristeza, apesar da dor que Cristo sentiu, a Santa Cria é um momento de alegria: O Cordeiro de Deus sofreu para que nós nos regozijássemos em sua presença, quando retornar em glória.
3. A negação dos discípulos enquadra o segundo motivo para a crucificação de Cristo, e deveria ser um forte motivador em nossa luta contra o pecado.
Geralmente, ao lermos nas páginas das Escrituras o anúncio da traição de Judas e da negação dos demais discípulos, nos distanciamos, enojando tais atitudes. Certamente há uma distância instransponível que não nos permite ser comparados com Judas, pois apesar de termos em nosso coração pecado suficiente para trair o Senhor, somos filhos do Reino, destinados à salvação, ao passo que ele, foi proscrito.
No entanto, com relação aos demais discípulos, devemos nos lembrar que, ainda que o fato de negarem o Senhor tenha sido determinado desde a eternidade, isso não diminui a vileza do que cometeram, e foi através de sua fraqueza, que Cristo foi abandonado, sofrendo toda a dor que lhe estava proposta.
Da mesma forma, será útil a nós a lembrança de que foram nossos pecados que levaram Cristo ao madeiro; foi a nossa fraqueza que fez com que o Cordeiro de Deus sentisse toda a dor do abandono e da rejeição, além da própria dor física e tormento espiritual que sentiu na cruz.
Quando estiver para pecar; quando sentir a tentação de cometer qualquer transgressão, lembre-se de que por meio dela negamos a Cristo, embora já tenhamos sido reconciliados com ele mediante sua morte e ressurreição, sendo isso comprovado quando Jesus visitou os discípulos na Galiléia.
Conclusão
Ao nos sentarmos à mesa do SENHOR, somos remetidos à todo sofrimento pelo qual ele teve que passar, a fim de que a vontade do Pai fosse estabelecido, sua glória publicada e nossa redenção executada. O sangue do Cordeiro nos livra da morte, e nos garante que o Reino nos aguarda.