Romanos1.1-7
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ILUSTRAÇÃO:
A importância da carta aos Romanos
Romanos 1.1–7 (RA): Prefácio e saudação
1 Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, 2 o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, 3 com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi 4 e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor, 5 por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios, 6 de cujo número sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo. 7 A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
INTRODUÇÃO
Paulo Saúda os Cristãos Romanos e Descreve Sua Missão (1.1–7)
PAULO SAÚDA OS CRISTÃOS ROMANOS E DESCREVE SUA MISSÃO (1.1–7) Nos primeiros sete versos da carta, Paulo descreve seu chamado (1.1), reconta a mensagem do seu evangelho (2–4), identifica sua tarefa…
CENT Ro (1 vez)
Autor e data
Paulo escreveu Romanos perto do fim de sua terceira viagem missionária, durante sua estadia de três meses na Grécia ou Acaia (At 20.2), região onde estavam as igrejas de Atenas, Corinto e o porto de Cencreia (ver 16.1). Tércio (16.22) serviu-lhe de amanuense e Febe, outra crente, levou a carta, provavelmente de Corinto para Roma (ver 16.1–2), em uma viagem marítima que teria durado de duas a três semanas. É possível datar a escrita de Romanos no ano 58 d.C., embora para alguns o ano 57 seja mais exato.
O estilo literário de Paulo reflete sua dupla criação, judia e greco-romana. Por um lado, era um rabino capacitado sob a tutela de Gamaliel, o famoso fariseu que aconselhou o Sinédrio a ter paciência com os seguidores de Jesus (ver At 5.33–40). A leitura de 1.18–3.20 deixa evidente que sua formação o havia preparado para defender o evangelho de Jesus à maneira judaica diante de outros estudantes da Torá, usando as próprias Escrituras hebraicas. Por outro lado, esta carta mostra claramente que o apóstolo dominava a língua e a retórica gregas.
Contexto histórico
No conjunto, o número de cristãos em Roma teria alcançado várias centenas. A igreja ali era uma rede de congregações. Algumas delas estavam localizadas em Transtiberium (bairro periférico onde só viviam os judeus), e sua condição socioeconômica era provavelmente baixa. Outras se reuniam nas casas de cristãos não judeus. Como sugere Paulo no capítulo 14, o número de crentes gentios excedia o dos crentes judeus. Roma tinha uma população de cerca de 1 milhão de habitantes, e calcula-se que provavelmente havia ali 50 mil residentes judeus, uns 5% da população. Sabemos que em Roma e em suas periferias havia sinagogas, edifícios que funcionavam como casas de oração e centros de instrução na lei, a Torá. Os cristãos eram uma pequena seita em um mar de paganismo. Não contavam com edifícios próprios como sinagogas de bairro ou templos grandiosos; antes, reuniam-se em apartamentos ou casas particulares maiores. Áquila e Priscila acolhiam uma congregação em sua casa (16.3–5); provavelmente o capítulo 16 aluda a outras. É possível que Paulo tenha conhecido alguns dos destinatários da carta depois que os judeus foram expulsos de Roma em 49 a.C.; isso permitiu que conhecesse Priscila e Áquila, que estavam exilados em Corinto (At 18.2).
Quer tenham se reunido como um grupo unificado para ouvir a leitura da carta recém-chegada, quer Febe tenha lido o rolo de casa em casa, essa teria sido uma experiência auditiva, pois as pessoas, em sua maioria, eram analfabetas. Febe talvez levasse uma hora para lê-la em voz alta; além disso, certamente era capaz de responder a perguntas sobre o conteúdo. Febe provavelmente estava presente quando Paulo ditou a carta para Tércio e, dadas as circunstâncias, era a pessoa mais indicada para ser sua primeira expositora.
Ao ler 15.23–33, vemos que o itinerário que Paulo tinha em mente era ir de Corinto a Jerusalém, depois a Roma e, por fim, à Espanha. Mas aconteceu de ele ser preso em Jerusalém (ver At 21.33), e quando finalmente chegou a Roma, o fez na condição de prisioneiro (ver At 28.14–16). Então, dois ou três anos depois de escrever a carta, finalmente entabulou uma relação presencial com a igreja em Roma. Pouco tempo depois, essa igreja enfrentaria seu maior teste: Roma foi incendiada no verão de 64 d.C. e, como o imperador Nero pôs a culpa do incêndio nessa pequena seita, uma feroz perseguição e martírio caíram sobre ela (ver nota em 8.14).
Propósito
Os estudiosos têm sugerido várias teorias sobre o propósito principal desta carta. A visão que seguiremos aqui é que Paulo a escreveu para
1) informar os crentes romanos de sua futura viagem a Roma e, mais importante, à Espanha;
2) pedir-lhes seu apoio a essa nova iniciativa; e
3) convencê-los de que era absolutamente necessário que a Espanha ouvisse o evangelho, pois o mundo todo precisava ouvi-lo.
Por que a Espanha? Porque se tratava de um território que ainda não havia sido tocado pelo evangelho, e porque o chamado de Paulo incluía servir como pioneiro (15.20). Se o ouvinte ou o leitor de Romanos não sente hoje a mesma urgência, talvez se deva ao fato de que ainda não entendeu o evangelho, pois este implica que nossos parentes, vizinhos, concidadãos e aqueles que habitam nos rincões da terra precisam ouvi-lo e aceitá-lo para receber o perdão de Deus por meio de Jesus Cristo. Paulo vai demonstrar que esse evangelho é “o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem, primeiro os judeus, e também os gentios” (1.16). Por essa mesma razão, todo crente é chamado a tomar parte na evangelização.
A carta à igreja em Roma, portanto, tem um propósito missionário e foi projetada para recrutar crentes romanos — e, por extensão, a nós — para a obra de difusão do evangelho. Paulo procurava ajuda espiritual e econômica da igreja em Roma. Temos outros exemplos semelhantes em Filipenses 4.15–16 e 2Tessalonicenses 3.1–2.
Estrutura literária e temas principais
A Carta aos Romanos é a mais extensa saída da pena de Paulo e a mais sistemática em sua estrutura.
Quanto ao conteúdo, aborda detalhadamente várias facetas da doutrina da salvação, mas diz muito pouco sobre temas como a doutrina dos últimos dias. Ele começa seu argumento afirmando que todo o mundo está perdido e depois expõe a solução de Deus, que é a obra de Cristo e o poder da nova vida no Espírito. Inclui uma longa seção para responder a perguntas tais como
por que os judeus não creem em seu próprio Messias e se, em algum momento, Israel se voltará para Deus.
Por último, ocupa-se de alguns detalhes relativos a como viver a vida cristã em um mundo que nos apresenta diferentes problemas éticos
Saudação atípica
A carta de Paulo aos Romanos é muito mais que simplesmente uma carta, é um tratado teológico.
Hernandes Dias Lopes
V.1
PAULO
SERVO
DE JESUS
CHAMADO
APÓSTOLO
SEPARADO
PARA O EVANGELHO
DE DEUS
Romanos 1.1–8 (CEH Ro): A introdução de Paulo à carta aos Romanos é a mais longa de todas as suas cartas. No texto original essa introdução é composta de 93 palavras. Cada parte da saudação é ampliada – o nome do remetente, o nome dos destinatários e as saudações propriamente ditas.
O apóstolo faz questão de definir, com muita clareza, logo de início, o evangelho, tema que discorrerá em toda a carta. Menciona também as marcas da verdadeira igreja e fecha sua introdução falando um pouco de si e de seu desejo e propósito de visitar os crentes de Roma.
No capítulo anterior, abordamos a incomparável importância de Romanos na história da igreja e de sua indisputável influência tanto na Reforma do século 16 como nos grandes reavivamentos espirituais posteriores. Neste capítulo, iniciaremos o estudo da carta, a partir de sua longa introdução.
William Barclay destaca que, quando Paulo escreveu esta carta, dirigiu-se a uma igreja que não conhecia pessoalmente, situada numa cidade que nunca tinha visitado; a maior cidade, a capital do maior império do mundo, razão pela qual o apóstolo escolhe com muito cuidado suas palavras.
As marcas do evangelho verdadeiro (1.1–5)
A epístola aos Romanos não foi escrita prioritariamente para corrigir algum problema na igreja de Roma, mas para fazer uma apresentação e uma defesa do evangelho. Como dissemos no capítulo anterior, mais do que uma carta, Romanos é um tratado teológico.
Seis verdades devem ser aqui destacadas:
Em primeiro lugar, o arauto do evangelho (1.1). No primeiro século, o remetente de uma carta colocava seu nome no início da missiva. Por isso, Paulo abre a epístola fazendo três afirmações sobre si mesmo.
a. Paulo era servo de Cristo (1.1). A palavra grega doulos, traduzida por “servo”, significa escravo, aquele que foi comprado por um preço, pertence a seu senhor e está completamente à sua disposição. Um escravo não tem vontade própria nem liberdade para fazer o que lhe agrada. Um escravo vive para agradar a seu senhor e obedecer-lhe as ordens.
No império romano os escravos carregavam uma pesada argola de ferro soldada em volta do pescoço com o nome do seu senhor. Acredita-se que havia cerca de sessenta milhões de escravos em todo o império romano; um escravo não era considerado uma pessoa, mas apenas uma propriedade, uma ferramenta viva. Como propriedade de seu dono, este poderia submetê-lo a trabalhos forçados, castigá-lo e até matá-lo.
Paulo, porém, não é escravo de um senhor carrasco. Seu senhor deu a vida por ele, comprou-o com seu próprio sangue e conquistou-o com imensurável amor. Assim, a expressão “servo de Jesus Cristo” descreve ao mesmo tempo a obrigação de um grande amor e a honra de um grande ofício. Charles Erdman diz que Paulo indicava com essa expressão plena submissão a seu Senhor.
Vale ressaltar que, quando Paulo se apresenta como servo de Cristo, isso se refere não apenas uma posição de grande humildade, mas também de subida honra. Cranfield diz que, no antigo Israel, chamar um homem de “servo de Deus” era conceder-lhe título de honra. Isso, porque patriarcas, reis e profetas se apresentavam como servos do Senhor. Assim, Paulo se autoposiciona na mesma linhagem de Abraão, Moisés e Davi.
b. Paulo foi chamado para ser apóstolo (1.1). A palavra grega apostolos significa “enviado”. Paulo foi chamado do mundo para ser enviado de volta ao mundo a fim de anunciar o evangelho, especialmente aos gentios.
Há forte contraste entre os dois termos usados por Paulo. Se a palavra servo expressa grande humildade, o título apóstolo enfatiza grande autoridade. Servo é um termo geral para todos os cristãos; apóstolo é um termo específico apenas para aqueles que foram chamados por Cristo e testemunharam sua ressurreição.
Calvino corrobora esse pensamento ao declarar: “Paulo é servo de Jesus Cristo, como a maioria, e apóstolo por vocação de Deus, e não por atrevida usurpação”. William Hendriksen diz que o apóstolo é investido com a autoridade daquele que o enviou, e essa autoridade diz respeito tanto à doutrina quanto à vida. Nessa mesma linha, John Murray afirma que a pregação dos apóstolos estava investida da autoridade de Cristo e do Espírito Santo.
Pelo fato de ter perseguido a igreja de Deus, Paulo não se considerava digno de ser apóstolo (1Co 15.9), mas ao ser chamado pelo Cristo glorificado (At 26.15–18), sendo testemunha, portanto, de sua ressurreição (1Co 9.1; 15.8), recebeu a mesma autoridade que os demais apóstolos (Gl 1.15–17), tendo sua missão divinamente confirmada pelos sinais que acompanhavam suas obras (2Co 12.12).
Cranfield destaca o fato de que não é na base do egoísmo humano presunçoso, mas na base do chamamento divino, que Paulo é apóstolo. Aqueles, portanto, que hoje se autointitulam apóstolos estão em desacordo com a Palavra de Deus. Não temos mais apóstolos no mesmo sentido do Novo Testamento. Aqueles eram o fundamento da igreja e recebiam os oráculos de Deus. Hoje a revelação de Deus está completa. Concordo com Geoffrey Wilson quando diz: “Uma vez que a função dos apóstolos é essencialmente impossível de ser repetida, a única sucessão apostólica conhecida no Novo Testamento é a fidelidade continuada ao depósito sagrado de verdade, que foi, de uma vez por todas, dado à igreja por eles”.
c. Paulo foi separado para o evangelho de Deus. Paulo foi separado por Deus antes mesmo do seu nascimento (Gl 1.15) para anunciar o evangelho da graça (At 26.16,17). Francis Schaeffer diz corretamente que separações envolvem sempre duas ações: separação de e separação para. A separação de é algo facilmente entendido. Existem muitas coisas que nos podem manter afastados de Deus, e não é possível sermos separados para Deus, a não ser que sejamos separados destas coisas.
A consagração de Paulo ao evangelho foi total e integral. Ele chega a chamar o evangelho de Deus de meu evangelho (Rm 2.16; 16.25). John Stott enfatiza que a palavra grega aphorismenos tem o mesmo significado que a palavra “fariseu”. Como fariseu, Paulo havia sido separado para a lei; mas agora Deus o havia separado para o evangelho. Concordo com F. F. Bruce quando ele diz que todos os ricos e variados dons da herança de Paulo (judaica, grega e romana) e de sua educação foram predestinados por Deus com vistas a seu serviço.
Em segundo lugar, a fonte do evangelho. “… separado para o evangelho de Deus” (1.1). Paulo deixa claro que ele não é a fonte do evangelho, mas apenas seu arauto. O apóstolo não é a fonte da mensagem, mas seu canal. Ele não cria a mensagem, apenas a transmite. O evangelho não vem do homem, mas de Deus. Sua origem não está na terra, mas no céu. O evangelho não é fruto da lucubração humana, mas da revelação divina.
Nas palavras de Charles Erdman, o evangelho não é invenção humana; é uma revelação celestial, gloriosa, divina. Cranfield está coberto de razão quando diz que a mensagem da boa-nova que Paulo deve proclamar é a palavra autorizada de Deus. Sua fonte não é outra senão o próprio Deus. Na mesma linha de pensamento, Leenhardt diz que o autor último do evangelho é o próprio Deus. A mensagem não é meramente humana; ao contrário, é a Palavra de Deus, ação em que Deus está presente e age eficazmente a tal ponto de ele mesmo ser o agente do evangelho apostólico.
Há muitos “evangelhos” inventados ou distorcidos pelos homens. Esses outros evangelhos representam as reivindicações pretensiosas de homens presunçosos. Esses evangelhos não passam de falso evangelho (Gl 1.6–8). Concordo com John Stott quando ele diz que os apóstolos não inventaram o evangelho; ele foi revelado e a eles confiado por Deus. Por isso, o que temos não é uma miscelânea de especulações humanas, nem mais uma religião a ser adicionada ao que já existe. O que temos é o evangelho de Deus, a boa-nova do próprio Deus para um mundo perdido. Sem esta convicção, a evangelização perde todo o seu conteúdo, propósito e motivação. O evangelho de Deus é sua jubilosa proclamação da vitória e da exaltação de seu Filho, e da consequente anistia e libertação que os homens podem desfrutar pela fé nele.
Em terceiro lugar, a antiguidade do evangelho. “O qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras” (1.2). O evangelho não é uma inovação, uma espécie de plano B, porque o plano A fracassou. O evangelho foi concebido na eternidade, anunciado por Deus na História, prometido pelos profetas, prefigurado nos sacrifícios judaicos e plenamente cumprido em Cristo. Há uma continuidade perfeita entre o Antigo e o Novo Testamento.
O evangelho não é ruptura, mas atualização. Nas palavras de William Greathouse, o evangelho não é uma ruptura com o passado, mas sua consumação (1Co 15.3,4). Charles Erdman diz acertadamente que nessas “Escrituras”, ora conhecidas como o Antigo Testamento, estava contido o evangelho em tipo, símbolo e profecia; elas predisseram os grandes eventos redentores que formariam a substância da mensagem do evangelho. Desta forma, segundo John Murray, Paulo demonstrou tanto a unidade como a continuidade da dispensação do evangelho em relação ao Antigo Testamento.
O evangelho que Paulo anuncia é aquele prometido pelos profetas no Antigo Testamento e revelado aos apóstolos no Novo Testamento. Calvino diz que o evangelho não foi dado pelos profetas, mas prometido por eles. Por isso, engana-se quem confunde as promessas com o evangelho. Na visão de John Stott, o evangelho de Deus tem duplo atestado de autenticidade, a saber: os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento. Os dois dão testemunho de Jesus Cristo. É bem conhecida a célebre declaração de Aurélio Agostinho: “O Novo Testamento está oculto no Antigo Testamento e o Antigo Testamento está revelado no Novo”.
Concordo com Leenhardt quando ele afirma que há um só Deus, o qual fala de maneiras várias segundo a diversidade dos tempos, mas diz sempre a mesma coisa, porque é verídico; e realiza sempre a mesma obra, porque é fiel. Sua veracidade e sua fidelidade alcançam expressão suprema em Cristo Jesus. A linha de raciocínio do apóstolo Paulo é que as boas-novas da salvação pela fé não constituem inovação e que o cristianismo não é uma contradição ao judaísmo; antes, porém, o cumprimento, a consumação, o clímax dessa dispensação. O Messias predito do Antigo Testamento é o Cristo do Novo; o Servo do Senhor a quem os profetas predisseram é o Filho de Deus a quem os apóstolos pregaram.
Paulo crê firmemente na suficiência das Escrituras para nos revelar o conteúdo do evangelho. Ele não aceita nenhum evangelho além daquele revelado nas Escrituras. Nada de revelações forâneas às Escrituras. Nada de introduzir alguma novidade estranha à Palavra de Deus. O conteúdo do evangelho se limita à revelação divina que temos nas Sagradas Escrituras. Adolf Pohl diz que o intuito divino era pôr o cumprimento ao lado da promessa.
Em quarto lugar, a essência do evangelho. “Com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (1.3,4). O evangelho de Deus revelado nas Sagradas Escrituras tem um centro ao redor do qual tudo gira. Do começo até o final, ele trata do Filho de Deus.
O evangelho tem como essência o Filho de Deus. É o evangelho de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o eixo, o cerne, o conteúdo e a essência do evangelho. John Stott tem razão quando diz que a boa-nova de Deus é Jesus. Portanto, apartar-se de Jesus, um passo que seja, significa afastar-se do evangelho. Adolf Pohl corrobora essa ideia ao escrever: “O evangelho prometido no Antigo Testamento trata do Filho de Deus [… ]. O centro das Escrituras é o próprio Cristo. Como Filho, ele é mais que Abraão, Moisés, Davi, Salomão ou qualquer profeta. É a plenitude concreta de Deus. Na verdade o cristianismo é Cristo. Ele é a essência, a suma e a substância do evangelho. Jesus é o Messias dos judeus e o Senhor dos cristãos”.
Paulo destaca duas verdades sobre Jesus:
Sua encarnação (1.3). O Filho do Deus eterno encarnou e entrou no mundo como descendente de Davi (2Sm 7.16). Francis Schaeffer aponta que, se observarmos que a genealogia em Mateus se refere a José e a genealogia em Lucas se refere a Maria, descobriremos que Jesus descendeu de Davi por ambas as partes, materna e paterna.
A encarnação de Cristo é um dos pilares do evangelho. Fala do seu estado de humilhação. O verbo se fez carne. O Deus eterno entrou no tempo. Aquele que preenche todas as coisas esvaziou-se. O Senhor do universo se fez servo. O Deus bendito se fez homem. Aquele que é bendito eternamente se fez maldição. O Santo de Israel se fez pecado. O autor da vida sofreu morte de cruz.
Geoffrey Wilson diz que na cruz o “Sol da Justiça” foi eclipsado durante aquelas horas terríveis em que ele sofreu a execução penal da ira divina contra o pecado. A glória essencial de Cristo foi obscurecida quando ele, voluntariamente, desceu àquele profundo abismo de vergonha e sofrimento que marcou o ponto mais baixo de sua humilhação.
Sua ressurreição (1.4). Jesus Cristo foi designado Filho de Deus com poder, pela ressurreição dos mortos. O Filho de Deus se manifestou primeiro com fraqueza, depois com poder. Ele, que era Filho desde a eternidade, não deixou de ser Filho ao esvaziar-se na encarnação e humilhar-se em morte de cruz. Agora, porém, é designado Filho de Deus, em poder, pela ressurreição dos mortos.
Antes de ressuscitar, ele era o Filho de Deus em fraqueza e humildade. Por meio da ressurreição, torna-se o Filho de Deus em poder. Obviamente Paulo não está dizendo que Cristo só se tornou Filho de Deus pela ressurreição, uma vez que ele é o Filho do Deus eterno, e esta filiação não teve nenhum começo histórico. O que Paulo afirma é que Cristo foi designado Filho do Deus em poder pela ressurreição. Assim, Paulo não está aludindo às duas naturezas de Cristo (humana e divina), mas aos dois estados, de humilhação e exaltação. É um e o mesmo Filho de Deus que aparece igualmente em humilhação e em exaltação.
O Filho realmente era o único gerado do Pai antes de todos os mundos, e a divindade do Filho necessariamente é a base da encarnação e da ressurreição. Jesus foi o Filho de Deus em fraqueza e humildade na encarnação. A glória divina, que antes estava oculta, se manifestou depois da ressurreição. A partir daquele instante ele é o Filho de Deus em um novo sentido: é o Filho de Deus em poder, o Filho de Deus em glória e em pleno poder. O apóstolo Paulo diz que, pela ressurreição, Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra (Fp 2.9–11).
A ressurreição de Cristo marca o fim do sofrimento messiânico e o começo do senhorio transcendente do Mediador (At 2.36; Fp 2.9–11). A entronização de Cristo inaugurou a era do Espírito, pois é o Cristo exaltado que derrama o Espírito sobre a igreja.
Em quinto lugar, a abrangência do evangelho. “… entre todos os gentios” (1.5) O evangelho de Deus, cujo conteúdo é Cristo, destina-se a todos os gentios, a todos os povos. A palavra grega ethne, traduzida por “gentios”, significa “nações” e refere-se a todos os gentios. Os judeus pensavam que as boas-novas de salvação eram destinadas apenas a eles. No entanto, o plano eterno de Deus incluía todos os povos. Cristo morreu a fim de comprar para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9). John Stott é enfático quando escreve: “Precisamos libertar-nos de todo orgulho, seja de raça, nação, tribo, casta ou classe, e reconhecer que o evangelho de Deus é para todos, sem exceção e sem distinção. Este é um tema de suma importância em Romanos”.
O evangelho é universal em seu alcance, mas não universalista em sua aplicação. Seu propósito é salvar apenas os que creem (Rm 1.16), ou seja, todos os homens sem acepção, mas não todos os homens sem exceção.
Em sexto lugar, a finalidade do evangelho. “Por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé…” (1.5). O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, mas todo aquele que crê prova sua fé pela obediência.
William Hendriksen corretamente enfatiza que a obediência está baseada na fé e dela emana. Obediência e fé são gêmeas idênticas e inseparáveis. Uma não existe sem a outra. O domínio de um senhor e a obediência a ele são coisas correlatas. O ato de fé é a submissão a Deus. Assim, a causa da salvação é a graça. O instrumento da salvação é a fé. A evidência da salvação é a obediência. “Obediência por fé” é a resposta que o evangelho exige; é a sujeição voluntária ao evangelho ouvido. Geoffrey Wilson tem razão quando diz que a obediência a Cristo é fruto da fé nele. Entretanto, recusar-se a confiar nele para a salvação é a pior forma de desobediência (Jo 16.9).
Não poderíamos sintetizar os pontos mencionados anteriormente melhor do que John Stott o fez: “A boa-nova é o evangelho de Deus, sobre Cristo, segundo as Escrituras, para as nações, para a obediência por fé, por causa do Nome – o nome de Cristo”.
As marcas da igreja verdadeira (1.6–8)
Tendo apresentado os distintivos do evangelho verdadeiro, Paulo passa a falar das marcas da igreja verdadeira. Destacamos cinco pontos importantes a seguir.
Em primeiro lugar, a igreja é o povo amado de Deus. “A todos os amados de Deus, que estais em Roma…” (1.7). A igreja é um povo amado de Deus. Deus amou a igreja na eternidade e a atraiu para si com cordas de amor (Jr 31.3). Não foi a igreja que escolheu a Deus, foi Deus quem a escolheu. Não foi a igreja que amou a Deus primeiro, foi Deus quem a amou, e desde a eternidade. Deus colocou seu coração na igreja antes mesmo de lançar os fundamentos da terra (8.30–39). O amor de Deus pelos crentes de Roma é um amor que antecede, acompanha e segue o amor deles por Deus.
Em segundo lugar, a igreja é o povo chamado para ser propriedade de Cristo. “De cujo número sois também vós, chamados para serdes de Jesus Cristo” (1.6). Os crentes pertencem a Cristo por predestinação, redenção e chamamento. Sua salvação tem origem no chamamento eficaz de Deus (Rm 8.30; 11.29). A igreja é o presente de Deus Pai ao Deus Filho. A igreja é o povo chamado para ser propriedade de Cristo.
Em terceiro lugar, a igreja é o povo chamado para ser santo. “… chamados para serdes santos…” (1.7). A igreja é chamada do mundo, para ser separada do mundo, mesmo estando no mundo, para viver exclusivamente para Deus no mundo como sal e luz. Bonnet e Schroeder estão corretos em alegar que o chamamento não é fruto da santidade; ao contrário, a santidade é o fruto do chamamento.
A santidade é tanto uma dádiva quanto uma exigência. William Greathouse afirma corretamente que a ideia básica da santificação é a separação; os santos, porém, não são apenas os separados, mas também os purificados. Em outras palavras, o povo de Deus é santo tanto de forma posicional como processual. Todos os que creem em Cristo são separados para Deus (santificação posicional). Todos os santos devem santificar-se (santificação processual). Os santos precisam santificar-se. Ser santo não significa ser canonizado. Todos os que creem em Cristo são santos e chamados para se santificarem.
Em quarto lugar, a igreja é o povo que recebe graça e paz. “… graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1.7). Tanto a graça quanto a paz são dádivas divinas à igreja. É impossível pertencer à igreja sem ter graça e paz. A graça é o amor imerecido de Deus aos pecadores, revelado em Cristo. A paz é o estado de reconciliação com Deus desse pecador salvo pela graça.
A graça indica sempre algum dom absolutamente gratuito e totalmente imerecido, enquanto a paz é o bem-estar que os homens desfrutam mediante a graça. A graça é a raiz; a paz é o fruto. A graça é a causa da salvação; a paz, seu resultado.
William Hendriksen afirma de forma sublime que a graça de Deus é o favor em ação, sua benignidade em operação, o arco-íris que circunda seu próprio trono, do qual saem relâmpagos, sons e estrondos de trovão (Ap 4.3,5). Pensamos no juiz que não só comuta a pena, mas também cancela a culpa do ofensor e ainda o adota como filho. A graça traz paz. Esta é tanto um estado, o de reconciliação com Deus, quanto uma condição, a convicção interior de que, consequentemente, tudo está bem.
Concordo com Geoffrey Wilson quando ele diz que a morte propiciatória de Cristo provê a única base para a restauração da comunhão entre Deus e o homem. É a apropriação subjetiva daquele grande fato objetivo do evangelho que produz a paz com Deus e a paz de Deus.
Em quinto lugar, a igreja é o povo que dá testemunho da sua fé. “Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé” (1.8). A igreja não é apenas chamada do mundo para ser propriedade de Cristo, mas é também enviada de volta ao mundo para ser embaixadora de Cristo e dar testemunho da sua fé.
William Greathouse diz que Paulo nada sabe de uma fé que é tão oculta, da qual nada é visível. Em linguagem hiperbólica, Paulo declara que a fé dos crentes de Roma era conhecida em toda a igreja, em todos os lugares onde o cristianismo fora estabelecido no vasto império romano.
CONCLUSÃO
APLCAÇÕES