A família não vem em primeiro lugar

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A família não vem em primeiro lugar

A Bíblia nos ensina fortemente sobre a importância de valorizar a vida em família. Família foi instituída por Deus. Ele é o autor do primeiro casamento e da constituição da primeira família, lá no Éden.
Ele mesmo trata de ensinar sobre os deveres de cada membro de uma família, pensando em como aquele lar pode ser mais harmonioso e reflita melhor sua intenção.
Dentre todos no mundo, os cristãos são os mais capazes e mais estimulados a amarem suas famílias de maneira intensa e verdadeira.
E é exatamente esse amor profundo que muitas vezes produz em nós preocupações e ansiedade, que nos move a fazer aquilo que é nossa responsabilidade quanto à nossa família. No entanto, em alguns momentos isso pode ser exagerado e passar do ponto daquilo que Deus tem para a vida familiar. E então percebemos que esse Deus que nos ensina a amar intensamente nossa família, ele não espera que amemos impulsivamente, mas que amemos da maneira correta.
Muitas vezes, interpretamos o ensino de Jesus para não sermos ansiosos com base em um ponto de vista extremamente individualista, como se ele estivesse simplesmente nos mandando evitar a angústia psicológica de nosso desejos egoístas. A preocupação contra a qual Jesus advertiu é bem mais que meramente individual. Ele nos disse que não perguntássemos "O que vamos comer?" ou "O que vamos vestir?" (Mt 6.31).
Para aqueles que faziam parte de uma rede familiar (quase todos os seus ouvintes entrariam nessa categoria), tais perguntas não diziam respeito somente à segurança pessoal, mas também à segurança familiar. E então ele deu a ordem de buscar "em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça" (Mt 6.32-33).
Jesus nos ensina algo preciso nesse texto: o Reino de Deus e sua justiça devem estar em primeiro lugar.
Mesmo diante das necessidades mais básicas envolvendo a si mesmo e também à família, o Reino de Deus deve estar em primeiro lugar.
E apesar de ser algo claro nas escrituras, quando pensamos nesse tema nos vemos diante de um desconforto muito grande. Jesus parece causar esse desconforto intencionalmente quando olhamos para as coisas que ele disse nos evangelhos a cerca de sua própria família.
A fé cristã ensina com frequência as famílias a se amarem e se valorizarem. No entanto, o cristianismo não ensina que a família deve vir em primeiro lugar. E quando pensamos assim, facilmente ficamos desconfortáveis com algumas declarações de Jesus sobre a família.
Jesus nos advertiu: "Se não tomar sua cruz e me seguir, não pode ser meu discípulo" (Lc 14.27). Essa frase dita hoje em dia, depois da crucificação de Jesus, tem um significado muito diferente do que seus ouvintes entenderam naquela época. Em primeiro lugar, ao contrário dos contemporâneos de Jesus, não trilhamos estradas cuja paisagem contém ao longo do caminho pessoas se contorcendo na tortura de cruzes reais. Entendemos "cruz" como uma metáfora segura para a devoção espiritual. Ou então, nós a compreendemos como uma metáfora para os estresses da vida: "Ai, essa é a cruz que eu carrego". No entanto, Jesus estava ensinando aqui, de forma específica, sobre o contexto da família. No versículo anterior ele diz: "Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14.26, RA).
Esse é um versículo que ouvindo e lendo pela primeira vez não parece ser algo falado por Jesus.
C. S. Lewis sem dúvida estava certo ao dizer que esse versículo só é "útil para aqueles que o leem hortorizados". E explicou: "O homem que acha fácil aborrecer o pai, e a mulher cuja vida é uma longa luta para não odiar a mãe, devem ficar longe dessa passagem." Jesus não está falando que é justo e bom desonhar os pais ou desrespeitar os familiares.
Afinal, Jesus é o Príncipe da Paz. Ele nos disse que os pacificadores são bem-aventurados filhos de Deus. Ele veio para trazer "paz na terra àqueles de que Deus se agrada", conforme cantaram os anjos por ocasião de seu nascimento (Lc 2.14). E no entanto, Jesus disse também: "Não imaginem que vim trazer paz à terra! [...] Vim para pôr o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra. Seus inimigos estarão em sua própria casa" (Mt 10.34-36).
"Quem se recusa a tomar sua cruz e me seguir não é digno de mim. Quem se apegar à própria vida a perderá; mas quem abrir mão de sua vida por minha causa a encontrará" (Mt 10.38-39).
Então o que exatamente Jesus está nos ensinando?
Ele está nos ensinando que tanto em relação a nossa própria vida quanto em relação a nossa família, nós só experimentamos a salvação e a bênção do Senhor quando a entregamos nas mãos de Cristo.
No sistema do reino, a maneira de encontrara própria vida é perdendo-a (Mc 8.35). Assim também, a maneira de se reapropriar da família é crucificando nossos valores familiares.
A família oferece a nós uma cruz a ser carregada, se quisermos fazer isso de forma que agrade a Deus. Existe sacrifício. Existe entrega. Existe renúncia. Para que uma família viva bem é necessário doação, quebra de orgulho e desprendimento. Nós morremos um pouco todos os dias para vermos o bem de nossas famílias. Tem momentos em que devemos tomar decisões que são para o bem de nossas famílias, ainda que imediatamente aquilo cause algum tipo de sofrimento.
Mas o fazemos por Deus. O fazemos porque o Reino de Deus deve vir em primeiro lugar, e então o primeiro compromisso de nossas famílias é com Deus.
O sofrimento faz parte. Existe uma cruz. No entanto, se nós amarmos a Cristo sobre todas as coisas, poderemos então amar nossas famílias da maneira correta.
Se buscarmos em primeiro lugar o reino, teremos melhores condições de alcançar o bem-estar de nossa família. Se amarmos Jesus mais que a família, estaremos livres para amar a família mais que nunca antes. Se abrirmos mão do controle sufocante sobre a família - na forma de uma visão idílica de nossa família atual, de nostalgia pela família de muito tempo atrás, de cicatrizes das feridas familiares ou de nossas preocupações com o futuro da família, então estaremos livres para ser família.
Nós vivemos em um tempo em que o discurso de que a família vem em primeiro lugar é aplaudido nas redes sociais. Priorizar a família perante o trabalho, perante os amigos e perante a própria igreja parece ser digno de louvor. No entanto, na falta de buscar em primeiro lugar o reino de Deus essa priorização da família fica apenas no discurso.
Se amarmos a Cristo acima de todas as coisas e acima inclusive da família não quer dizer que vamos amar menos nossa família. Pelo contrário. Amando Cristo sobre todas as coisas amaremos nossa família do jeito certo, do jeito que ela precisa ser amada.
Muitas vezes tudo o que um filho precisa é a segurança do olhar de um pai que ama mais a Cristo do que a seu filho.
Tudo o que nossa esposa precisa é receber o olhar fiel de um marido que ama mais a Cristo do que a ela.
Tudo o que seu esposo precisa é ser amado por uma mulher que ama ainda mais a Cristo.
Sim, a família é uma bênção, idealizada por Deus para nosso deleite e amor, mas somente se Deus estiver em primeiro lugar.
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