Ame a sua Igreja

Introdução

Estamos começando mais uma conferência da Atos 29 Brasil, "Ame sua igreja". Quantas vezes você já escutou a espressão que você é a igreja, como uma forma de diminuir a importância de "pertencer a igreja"? Afinal de contas, nós somos ou pertencemos a igreja? A igreja é um povo, uma comunidade que se reúnde regularmente por Cristo em nome Dele. Esse povo que está espalhado por toda face da Terra se faz visível a partir de comunidades locais onde cristãos salvos, regenerados e batizados pactuam para viver em comunhão. Então somos igreja porque pertencemos a ela, como não amar a igreja.

Para nos aprofundarmos mais sobre o que significa amar a igreja, eu gostaria de meditar com vocês nas primeiras palavras do Apóstolo Paulo a igreja de Corinto.

Apenas para recapitular. Corinto era uma colônia romana, um local onde muitos deuses eram adorados, e isso gerava uma forte influência sobre a cultura, nas festas cívicas e até nas alianças comerciais. Corinto também era rota de palestrantes itinerantes que cobravam para ensinar as pessoas a progredirem e melhorarem de vida. Foi no meio dessa realidade que a igreja de Cristo foi plantada ali, e mesmo ainda jovem enfrentava grandes desafios. A igreja em Corinto enfrentava sérios problemas em sua condução dos cultos coletivos, admnistração da Ceia do Senhor, uso dos dons espirituais, além de uma grade divisão formada por pelo menos 4 facções, pecados gravíssimos de imoralidade sexual (inclsive um filho tendo realações com a madrasta), irmãos movendo processos contra o outro, e também problemas relacionados a casamento e divórcio. A igreja de Corinto de certa forma nos ajuda de certa forma a desconstruir uma imagem romântica que muitos tentam criar sobre a igreja primitiva, afim de menosprezar a igreja dos dias de hoje.

Aquela igreja que foi plantada e pastoreada por Paulo, em pouco tempo se encontra nesse cenário. Paulo que estava na cidade de Éfeso então envia essa carta para tratar esses problemas específicos. O que eu amo nas epístolas, é que ao mesmo tempo que elas são descritivas em relação aos problemas que ocorrem nas igrejas, elas também são normativas, pois nos apontam a solução em Deus para esses problemas. Por isso, eu gostaria de refletir a partir da realidade dos nossos irmãos do primeiro século, os desafios de ser e amar a igreja de Cristo hoje.

1Coríntios 1.1–9 NAA

1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Cristo Jesus, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todos os lugares invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 3 Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês. 4 Sempre dou graças ao meu Deus por vocês, por causa da graça de Deus que foi dada a vocês em Cristo Jesus. 5 Porque em tudo vocês foram enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento, 6 assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vocês, 7 de maneira que não lhes falta nenhum dom, enquanto aguardam a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. 8 Ele também os confirmará até o fim, para que vocês sejam irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. 9 Fiel é Deus, pelo qual vocês foram chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

Paulo começa com uma introdução muito gentil, se não conhecessemos o teor da mensagem carta, nós iriamos imaginar que a mensagem seria apenas de elogios e gratidão. Mas o tema central não é esse, pelo contrário, muitas repreensões até mesmo severas sobre a vida daqueles irmãos. Paulo antes de tudo chama aqueles irmãos de santos! E Paulo expressa amor por aquela igreja, por eles serem santos. Daí vem a primeira lição desta carta, o que significa de fato ser santo.

1- A igreja não é santa pelo que fazemos, mas pelo que Cristo fez.

O conceito popular de santidade é relacionado somente ao que fazemos, uma vida irrepreensível para carregar esse adjetivo. Mas como pode, pessoas que vivam daquela forma, mesmo tendo acesso ao evangelho poderiam ser chamados de santos?

Somos santos porque Deus nos chamou para sermos santos quando nos encontrávamos na condição de mortos e nos tornamos santos porque estamos em Cristo. Não há um sequer que não tenha pecado, o único que não pecou foi Cristo e ao morrer por nós, sofrendo a nossa punição, a santidade Dele é atribuída a nós e faz de nós esse povo. Não existe ninguém que seja perfeito, mas ainda assim por vezes vemos membros das nossas igrejas se associando a aqueles que não foram comprados pelo sangue de Cristo por julgá-lo melhores que seus irmãos, ou pior, existem aqueles que aderem a moda de amar mais a animais do que pessoas. Amar a igreja de Cristo passa primeiramente pela compreensão da verdadeira santidade, e estar em Cristo é a verdadeira santidade.

Então isso significa que estando em Cristo as pessoas podem viver da forma como bem entender? De forma alguma, Deus nos faz santo e a nossa santidade, o testemunho pessoal de viver uma vida que agrade a ele é em resposta a isso, é a evidência do novo nascimento. O esforço moral não é caminho para santidade, mas resultado. Qualquer esforço moral ou até mesmo religioso encharcado de justiça própria não significa nada para Deus. Por isso somos a igreja quando pertencemos a ela, porque somos aperfeiçoados através da igreja que é o corpo. Paulo escreve essa carta a igreja como instrumento de correção, mesmo assim enfatizando a graça de Deus sobre a vida deles. Essa atitude de Paulo desconstrói os dois extremos:

a) Achar que o fato de sermos santos em Cristo, a santidade (testemunho pessoal) não é necessário.

b) Achar que me torno santo a partir do que eu faço, logo Deus me aceita como resultado desse esforço próprio.

Paulo vai além, além de reconhece-los como santos, demonstra amor pela vida deles. Grato pela graça que foi dada aqueles irmãos, da mesma forma que foi dada a ele, ou seja, Deus amou da mesma forma aqueles irmãos como o amou. Ambos foram alvo da mesma graça, escolhidos da mesma forma. A repreensão de Paulo era cheia de zelo e temor, e esse reconhecimento nos ensina quando somos tentados a imaginar que o nosso padrão de escolha é maior do que o de Deus.

Você consegue demonstrar amor e gratidão pela vida de todos os seus irmãos em Cristo?

Paulo também reconhece que apesar de "doente" não faltava nada aquela igreja, que Deus já havia providenciado todos os dons necessários para a edificação dos santos. E isso nos trás a segunda grande lição deste texto:

2- O que realmente a igreja precisa, só Deus pode dar.

Quantas vezes projetamos em coisas secundárias o que julgamos necessário: Estrutura, conforto, programas, eventos… Enquanto o que a igreja realmente precisa é da edificação através do exercício dos dons que Deus dá livremente ao seu Povo, justamento por os amar. O dom que você recebeu foi Deus quem lhe deu, e ele espera que você coloque em prática, negligenciar o serviço ao seu irmão no contexto da igreja local é pecado. Paulo estava lembrando isso a eles, a igreja em Corinto sofria com problemas de divisão fruto do egoísmo e individualismo. Igreja é local onde doamos e recebemos através da doação do outro. O que a igreja precisa para isso? A pregação pura do evangelho e a administração correta dos sacramentos/ordenanças, para que como corpo todos sejamos edificados através do serviço.

Como você tem tratado o dom que Deus te deu? Em que prioridade da sua vida está o serviço a outros irmãos através da sua igreja local? Amar a igreja implica no uso dos dons que Deus nos dá, a serviço do povo Dele.

Aplicação

Qual foi a primeira coisa que Paulo disse ter feito por esses irmãos de uma comunidade tão cheia de defeitos? Questionou a salvação deles? Disse que se arrependeu de tê-los conhecido? Ele não disse nada disso, antes agradeceu por eles. Paulo entendeu que aqueles irmãos chegaram a tal ponto por um problema que é um desafio para todos nós: O esquecimento. Quando esquecemos da nossa identidade em Cristo e do evangelho, podemos caminhar na mesma direção que nossos irmãos de Corinto no primeiro século caminharam. Por isso Paulo começa lembrando de quem eles são, santos e como se tornaram, foram alvo da graça de Deus, chamados pelo Pai para serem filhos adotados de Deus.

É sempre sábio começar pela observação de evidências da obra de Deus na vida de alguém que você precisa corrigir, mesmo que existam outros problemas em sua mente. Fazer uma pausa para lembrar a si mesmo e ao outro de que a graça de Deus tornará mais fácil para aquele que erra ouça as palavras de correção.

"Se você não pode ver evidências da graça de Deus naquele que precisa de correção, pode estar com um cisco nos seus olhos; nesse caso, talvez deva esperar para falar sobre o cisco do outro até que possa ver evidências da obra de Deus em seu irmão ou sua irmã"

Mark Dever.

Meu amigo, se aquele que está errado é um crente, Deus o comprou, e seu Espírito está trabalhando nele. Se você não consegue observar isso, está deixando de ver a coisa mais importante sobre essa pessoa. Lembre-se de quem você é em Cristo e enxergue isso no seu irmão também. Você não é a sua preferência política ou ideológica, e isso é importante enfatizar em dias de polarização e as pessoas são classificadas a partir de suas preferências políticas. Sua identidade não está em quem você votou, nem onde você colocou seu filho para estudar, quando a sua identidade está nessas coisas isso deve ligar um alerta em você, pois é um sinal de apostasia. Quando a minha fonte primária de relacionamento com outros cristãos estão nessas coisas, você está pecando contra a cruz de Cristo. Foi a obra na cruz que nos trouxe a comunhão, foi o sangue de Jesus que comprou a nossa unidade que foi inclusive o tema central da ultima oração de Jesus antes da sua morte.

Conclusão

Não somos chamados para o mesmo ministério apostólico de Paulo. Mas podemos trabalhar para ajudar outras pessoas ao nosso redor a perceber as evidências da graça de Deus em sua vida e a se lembrar delas. Fazer isso nos tornará mais amorosos, cuidadosos, observadores, alegres e úteis. Ajudará a tornar os outros mais agradecidos, encorajados, piedosos, flexiveis e confiantes. E isso trará a glória de Deus.

Ore para que Deus o ajude a conhecer os outros, a cuidar deles, a ser um observador da vida deles e ser gentil com eles. Ajude-os a carregar seus fardos e tristezas, lembrando-os da boa obra que Deus tem operado na vida deles. É assim que Paulo começa essa carta, e não seria impróprio para você começar a fazer o mesmo na vida de outros hoje? Chame a atenção da sua igreja para as evidências da graça de Deus para o bem deles e para a glória de Deus. Responda ao chamado reiterado de Deus nas Escrituras que sempre nos lembremos. Ao nos lembrarmos disso, conseguiremos sim dedicar amor bíblico para com todos das nossas igrejas locais.