Zombaria: os efeitos do juízo.

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Habacuque 2. 6-20

Contexto:
v. 6a: os povos outrora objetos de escárnio se levantarão para zombar dos caldeus.
todos estes: refere-se a todas as nações/povos do v. 5
dito zombador: um cântico de escárnio, uma forma irônica de demonstrar a dramática situação do povo caldeu.
O dito zombador é composto por cinco ditos proverbiais, todos iniciados com a expressão “Ai”.
Ai: um tipo de interjeição geralmente utilizado para introduzir discursos de juízo. Ex: Isaías 5. Aqui esta expressão reforça o caráter zombador da mensagem profética.

Os efeitos do juízo:

Virarão despojos os que acumulam despojos (v. 6-8)

No primeiro “Ai”, encontramos a ironia de que aqueles que tanto despojaram dos outros povos se tornariam agora o próprio despojo.
Credores (v. 7): lit. morder. Bem sugestivo. Eles se levantam para abocanhar tudo o que os caldeus haviam conquistado.
penhores (6b): monturos de lama. Toda a riqueza deste mundo só acumula volume, mas não tem valor em si, como um monte de barro.
Subitamente: a justiça divina acontece de forma repentina para os caldeus.
v. 8: a razão pela qual os caldeus se tornarão despojos. Eles foram com violência a toda terra, isto é, a toda a criação. Por isso serão punidos.
Provérbios 22.16 “O que oprime ao pobre para enriquecer a si ou o que dá ao rico certamente empobrecerá.”
Provérbios 13.11 “Os bens que facilmente se ganham, esses diminuem, mas o que ajunta à força do trabalho terá aumento.”
Aplicações
a) Justiça retributiva neste texto.
b) Deus está também preocupado com questões sociais e econômicas.

2. Suas casas serão destruídas pelos próprios materiais (v. 9-11)

O segundo Ai mostra que o esforço feito pela babilônia para construir uma casa sólida será em vão. A casa se auto-destruirá!
Aves predatórias colocam seus ninhos no alto para evitar ataques inimigos.
Essa analogia simboliza a intenção dos caldeus em acumular riquezas para assegurar a sua casa (dinastia)
“Nabucodonosor disse que um dos principais propósitos de seu reforço das paredes de Babilônia era construir um nome duradouro para seu reinado. Ele também reza a seu deus Marduk: “Que ele conceda como bênção vida para muitas gerações, uma posteridade abundante, um trono sólido e um longo reinado”. (Palmer Robertson, p. 245).
Mas tal esforço é em vão. Em lugar da segurança virá a vergonha. E os próprios elementos da casa o farão ser destruido.
Aplicação: Toda a ganância é vã!

3. A água virá sobre o fogo (v. 12-14)

O terceiro “Ai” mostra a desgraça vinda pela sua principal atividade: a conquista militar!
A busca por conquistar povos tras destruição. O fogo/sangue do v. 14 mostra este sentido. O fogo traz o sentido de juízo purificador de Deus (Gn 19.14; 2Pe 3.10). Mas em lugar do fogo a água da glória do Senhor inundará a terra.
Jeremias 51.58 “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os largos muros de Babilônia totalmente serão derribados, e as suas altas portas serão abrasadas pelo fogo; assim, trabalharam os povos em vão, e para o fogo se afadigaram as nações.”
É clara a alusão que a profecia de Jeremias a Habacuque.
Habacuque insere em sua profecia elementos que fazem alusão a textos mais antigos. A expressão “a terra se encherá da glória do Senhor” tem menção a alguns textos, tais como:
Gênesis 1.28 “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.”
Números 14.21 “Porém, tão certo como eu vivo, e como toda a terra se encherá da glória do Senhor,”
Isaías 11.9 “Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.”
Aplicação: o progresso é vão pois ele nunca encherá toda a terra. Mas a glória do Senhor essa sim irá.

4. Serão envergonhados os que fazem os outros passarem vergonha (v. 15-17)

O quarto Ai fala de outro aspecto horrendo da cultura babilônica que também será objeto de juízo: a sua conduta imoral.
É quase um princípio universal que o pecado da embriaguez esteja associado à impureza sexual e à degradação do corpo. As filhas de Ló o embebedaram para que pudessem cometer o ato ignominioso de incesto (Gn 19.32–35). Noé se embriagou e isso o levou a expor sua nudez perante seu filho (Gn 9.21). Palmer Robertson, 256.
Lv 20.17 “Se um homem tomar a sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe, e vir a nudez dela, e ela vir a dele, torpeza é; portanto, serão eliminados na presença dos filhos do seu povo; descobriu a nudez de sua irmã; levará sobre si a sua iniqüidade.”
Descobrir a nudez traz o sentido em levítico de ter relações sexuais. Por isso é possível que Cam tenha abusado do seu pai (Gn 9.21) e que Habacuque esteja se referindo a isso no v. 15.
As consequências de tais atos repugnantes são vistos a partir do v. 16: ao em vez de embebedarem eles que ficarão bêbados e se tornarãos expostos a ponto de serem abusados. “Exibir a circuncisão” (lit. circuncisão) traz a ideia de colocar a mostra o órgão sexual e, assim, evidencia a vulnerabilidade.
Vinho da ira do Senhor: o cálice (v.16). Não há nada pior do que experimentar o cálice da ira de Deus. Este cálice foi o experimentado por Jesus para nos salvar. Ele como homem não queria bebe-lo e demonstra isso no Getsêmani (Marcos 14.36). Mas Ele o fez por amor a nós e obediência ao Pai. O cálice também aparece em Apocalipse descrevendo o derramamento da ira de Deus sobre as nações. (Ap 16.2)
A glória dos caldeus será a vergonha pública (v. 17). Oposição a glória do v. 14.
Babilônia deve sofrer a humilhação devastadora em decorrência da violência feita ao Líbano. Por que o Líbano? Por que não pela violência feita a Jerusalém? Mui provavelmente, o oráculo do Senhor especifica o Líbano em decorrência de sua beleza proverbial, que contrasta tão drasticamente com sua aparência após a destruição efetuada pelos invasores babilônios. Os cedros do Líbano eram considerados como as mais majestosas de todas as plantas que Deus plantara na terra, da mesma maneira que as sequoias e o pau-brasil seriam na América hoje. (Palmer Robertson, p. 260.)

5. Ficarão calados os que pediam aos ídolos falarem (v. 18-20)

O último Ai se refere aquilo que é a raiz de todos outros pecados: a idolatria.
v. 18: Diferente dos outros Ais, este começa com um tipo de indagação retórica, que denuncia a futilidade da idolatria. “que adianta fazer ídolos que nada falam?”
Daí segue-se o Ai no v. 19. Coitados daqueles que trabalham tanto e investem tanto na construção de ídolos de ouro e prata! Eles não falam nada.
O que acontecerá no final? Os adoradores dos ídolos ficarão calados igual a seus ídolos. Eles ficarão iguais a eles. Podemos fazer clara referência ao Salmo 115.8 “Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam.”
G.K. Beale lança um livro que trabalha justamente essa tese: “Você se torna aquilo que adora: uma teologia bíblica da idolatria” Trabalhando em textos como Isaías 6 e o próprio salmo 115 citado, o autor mostra como a adoração promove a transformação no próprio adorador. Se isso é ruim para aqueles que adoram falsos deuses, isso parece benéfico para aqueles que adoram ao Deus verdadeiro, os quais são santificados pela sua santidade e poder, tal qual o profeta Isaías teve os seus lábios purificados com a brasa tirada de uma tenaz (Isaías 6.6)
A nossa esperança é de que, após o Juízo, nos tornaremos semelhantes ao próprio Senhor Jesus! Ressucitados em um corpo incorruptível, livre do domínio do pecaodo. Livre da culpa, da opressão e da angústia! Viveremos com Ele eternamente!
v. 20: O que fará ídolos e seus adoradores ficarem totalmente calados? A presença de Deus.
Templo tem a ideia de ser o lugar onde Deus habita. Em muitos momentos do AT esse lugar foi representado por uma tenda, um monte, uma edificação.
Mas em Cristo, este passa ser a representação da presença de Deus. Quando em João 2 ele fala da destruição do santuário e sua reedificação em 3 dias, ele se refere ao santuário do seu corpo e não do templo físico.
Na nova aliança, a presença de Deus passa ser vista no corpo de Cristo, a igreja, e no corpo do cristão individual. Se sou de Cristo, sou templo do Espírito Santo. Se somos igrejas, somos templo do Espírito Santo!
Mas há algo sobre a presença de Deus na consumação. Apocalipse 21.22 “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro.”
Não haverá templo na Nova Jerusalém, por o próprio Senhor estará presente no meio de nós. A presença do Senhor será tão intensa que não haverá necessidade de qualquer templo ou local específico para a sua presença.
Portanto, toda a terra se cala porque toda ela está tomada da presença do SENHOR! É a nova criação o seu templo! É na consumação que a glória do Senhor preenche todo o universo!
Conclusão:
Assim, notamos que o cântico de zombaria proferido contra os caldeus consiste em destacar o quão inútil foi a sua busca feita com tanto afinco.
Os despojos seriam despojados.
Os materiais da casa destruiriam a própria casa.
Ao espalhar fogo/sangue pela terra, as águas do conhecimento da glória do Senhor o cobrirão.
Ao envergonhar seus companheiros eles é que serão envergonhados.
Ao adorarem ídolos mudos, eles que ficarão calados.
Aplicações:
Lembremos que Deus está preocupado com todas as questões deste mundo. Ele não está restrito a questões meramente espirituais. Ele está preparando uma redenção para todo o universo!
Consideremos o quão inútil é perseguir as coisas deste mundo e se esquecer de Deus: ganância, poder, sexo, prazer, e tudo mais que nos é oferecido para “adorarmos” não vale nada diante do conhecimento da glória do Senhor. Você crê nisso? Então coloque isso em prática na sua vida. Renuncie! Diga não a religião oferecida por este mundo!
Mantenha-se firme na esperança da ressurreição! É na consumação de todas as coisas que a glória do Senhor encherá toda a terra! É na consumação de todas as coisas que não teremos mais injustiças, contendas e violência! É na consumação de todas as coisas que termos Deus presente de uma forma nunca antes experimentada! É na consumação que viveremos com o Senhor Jesus eternamente. Você crê nisso? Então viva com esperança hoje!
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