1Coríntios 15.12-34

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O autor argumenta com os cristãos sobre as implicações da ressurreição de Cristo, e de como esta expande a visão cristã sobre a certeza de que tal obra também será aplicada sobre os crentes, fazendo-os assim fruir o objetivo para o qual foram chamados à fé: publicar a glória do Reino dos céus.

Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após ter atestado claramente que a ressurreição de Cristo é um fato, e além disso, que é uma das bases sobre as quais o evangelho salvador está alicerçado, Paulo passa a defender o mesmo ponto de vista a partir de outros argumentos, reforçando a importância de que os coríntios demovam-se de uma posição cética com relação ao ressurgimento do Senhor Jesus dos mortos, para a postura inicialmente adotada por eles mesmos quando foram expostos à pregação e ensino do apóstolo.
Agora que estava claro que Cristo havia mesmo ressuscitado, tendo defendido isto do ponto de vista comprobatório testemunhal (cf. vs.5-8), as implicações dessa verdade começam a ser descortinadas para os membros daquela comunidade. A ressurreição do Senhor não foi um evento inócuo, e certamente não ocorreu de maneira desprendida de um propósito que abrange os próprios crentes. Se sua morte incide efeitos diretos sobre os eleitos (v. 3 "Cristo morreu pelos nossos pecados..."), de igual forma sua ressurreição, e assim, esse evento evangélico deve nortear o modo como os crentes vivem, e sobretudo, como aguardam a consumação e fruição da finalidade última de tal fato.
A presente seção é estabelecida sobre a divisão estrutural de quatro argumentos que se encarregam de expor o mesmo tema central: A ressureição de Cristo como fonte da esperança e expectativa da glória final. Nos versículos 12 à 19, Paulo apresenta um silogismo que enfatiza a lógica da ressurreição, demonstrando a incongruência do ceticismo corintiano, inclusive expondo as consequências últimas de tal reserva, excluindo por absurdo a possibilidade de Cristo não ter ressuscitado. A partir dos versículos de 20 à 23, o autor, usando como escopo referencial a festa das primícias determinada no Antigo Testamento, publica Cristo como "o primeiro fruto", ou "as primícias dos que dormem" (v.20); o que serve de base para a esperança de que, se aqueles irmãos morrem como fruto da ação de Adão, em Cristo, haverão de ressurgir dos mortos, exatamente porque ele foi o primeiro.
Nos versículos 24 à 28, essa expectativa é por sua vez amparada sobre a uma base ainda maior: a publicação do Reino de Deus é a finalidade e propósito último de todo o percurso evangélico. Cristo, tendo ressuscitado, venceu a morte. Entretanto, essa vitória será consumada quando ele retornar, a fim de, mediante a ressurreição dos eleitos, "entregar o Reino ao Deus e Pai" (v.24), sujeitando todas as coisas ao seu domínio, derrotando finalmente aquele que era o "último inimigo a ser vencido": a morte (v.26).
Por fim, de um ponto de vista mais diretamente exortativo, Paulo usa todos os argumentos anteriores para combater, nos versículos 29 à 34, outra resultante lógica da negação da ressurreição de Cristo: a nulidade da vida; ecoando o princípio já apresentado no versículo 19. Se Cristo não ressuscitou, todo esforço nesse mundo seria inútil, inclusive os próprios sofrimentos em prol do evangelho que o mesmo Paulo experimentava diariamente. Sendo isso uma impossibilidade (de estar entregando-se nulamente pela causa do evangelho, visto ter Jesus ressuscitado), ele adverte os coríntios a afastarem-se das "más conversações" (v. 33) que corrompem o bom costume de perseverança na tradição apostólica, a fim de que mantenham-se firmes no conhecimento de Deus.
Em síntese, como supra-apresentado, o texto de 1Coríntios 15.12-34, expõe como ideia central a ressureição de Cristo como fonte da esperança e expectativa da glória final.
Elucidação
Notando a estrutura construída pelo autor, passaremos a analisar os argumentos pormenorizadamente.
1. (vs 12-19): Silogismo - a lógica da ressurreição.
A introdução argumentativa que apresenta as implicações da ressurreição de Cristo dos mortos na vida cristã, é extraída primeiramente de um protesto realizado por Paulo contra o ceticismo corintiano mediante um silogismo, a fim de que seja percebido (e reforçado) que a lógica a qual os membros daquela comunidade estavam sendo expostos por aqueles que duvidavam de tal fato, culminava numa desesperança que faria ruir não somente esse ponto da tradição apostólica transmitida às igrejas, mas todo o edifício credal professado pelos crentes.
A expressão silogística "se... então" e suas variações, aparecem pelo menos oito vezes nessa seção, indicando uma relação íntima e inescapável entre a premissa e a conclusão. Como é visto no versículo 12, o autor apresenta um questionamento a fim identificar claramente a dúvida reinante na mente de alguns com relação a esse assunto. Assim, ele indaga: "se é corrente pregar-se (ou " se é pregado" cf. gr.) que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?".
A pergunta expõe a primeira incoerência dos céticos: eles haviam crido na palavra anunciada por Paulo anteriormente (cf. v. 1-2), que incluía a referência à ressurreição do Senhor. Se tinham recebido aquela palavra em sua integralidade, como agora estavam duvidando da ressurreição de Cristo? Como é possível que os mesmos crentes que receberam a pregação apostólica que enfatizou o levantar de Jesus da morte, agora duvidem que isso realmente tenha acontecido?
A partir disso, Paulo inicia, no versículo 13, o silogismo propriamente dito, já levando em consideração essa incompatibilidade. Se não há ressurreição dos mortos de modo geral (como era comumente crido pelos filósofos gregos, que no máximo afirmavam a imortalidade da alma, mas em desconexão com a matéria (i.e. corpo)), Cristo não seria excessão a essa "regra" (v.13), e se é assim, é vã (cf. 2, 10) tanto a pregação que enfatiza isso, quanto a fé que nela crê.
A convicção salvífica operada pelo Espírito no coração do crente, depende intrinsecamente de que a ressurreição do Senhor seja verídica. Do contrário, é vazia de sentido, nula, completamente sem razão ou fundamento minimamente capaz de gerar efeitos redentivos. Além disso, todo o esforço testemunhal (gr. "μαρτυρέω" v. 15) empreendido pela igreja, além de fútil, tornar-se-ia um atentado contra o próprio Deus, pois, se ele não ressuscitou a Cristo, e a igreja afirma que ele o fez, todos se tornariam falsas testemunhas (gr. "ψευδόμαρτυς"). Com isso, ao invés de serem servos Cristo e amigos de Deus, todo crente na verdade seria visto pelo SENHOR como um inimigo; alguém que profere mentiras ou presta uma falsa alegação quanto a sua obra, não tendo qualquer vínculo com ele.
A resultante dessa reflexão lógica é apresentada nos versículo 16 e 17 sob o locus argumentativo da exclusão por absurdo: Se os mortos não ressuscitam (premissa apresenta anteriormente), Cristo não ressuscitou, e dessa forma, "ainda permaneceis nos vossos pecados", numa que a fé e a pregação não desenvolvem aquele efeito espiritual válido que conecta os crentes à obra salvadora, pois estas seriam "vãs".
Embora fossem uma comunidade com problemas espirituais bastantes complexos, conforme visto nos capítulos 5 à 7, a crença geral era que a igreja de Corinto via-se (e deveria mesmo, pois de fato foram chamados à santificação (cf. 1.1-3)) como beneficiada pela obra salvadora operada pelo sacrifício de Cristo Jesus, aplicado às suas vidas pelo poder do Espírito. Mas, isso dependia de um ponto-chave: a fé no evangelho, que, novamente, propaga o nascimento, vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Se houvesse alguma interferência na recepção do evangelho conforme anunciado entre eles, e alguma dificuldade na crença no que tange a esse evangelho, por exemplo, em relação a ressurreição, a finalidade última do evangelho não poderia ser fruída, qual seja: a remissão de pecados operada por Cristo, aplicada aos crentes (como notado) mediante a fé, e isso significaria dizer que não desfrutavam da redenção mediante a expiação dos pecados, e ainda estavam sob o jugo do pecado. Além disso, todos aqueles que, antes deles, morreram crendo na ressurreição dos mortos, pois criam no evangelho, perecerão, já que (segundo postulavam alguns) não há ressurreição, como Paulo declara no versículo 18: "os que dormiram em Cristo pereceram".
A partir disso, uma exortação em tons de lamento é feita, publicando a miserabilidade de uma existência em que isso fosse verdade: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (v.19).
Sem a ressurreição de Cristo, não há remissão de pecados, não há fé, não há pregação/evangelho, e, consequentemente, o que resta é a miserabilidade de uma vida sem sentido, focada em usufruir o máximo possível de qualquer coisa nesse mundo que possa trazer algum prazer ou benefício, sabendo que na verdade qualquer coisa aqui é nada em relação ao vazio da inexistência: única possiblidade de uma realidade na qual não há ressurreição.
Contrapondo todo esse cenário trágico, resultado de uma lógica que exclui o evidente fato de ter Cristo ressuscitado, Paulo apresenta o segundo ponto de sua prédica, notando a grandeza da ressurreição, enfatizando o Senhor como tendo sido o primeiro a ressuscitar, e por isso, todos podemos aguardar o momento em que seremos nós a ressurgir.
2. (20-23): Cristo - o primeiro fruto.
Assim como na seção anterior (vs. 1-11), Paulo parte agora da afirmação inequívoca de que "Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem" (v.20). A linguagem paulina evoca uma referência veterotestamentária que proporciona uma compreensão que remonta à muito tempo antes dos próprios coríntios: a ordenação da festa das primícias, conforme registra do texto de Êxodo 23.16: "Guardarás a Festa da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo..."
A alusão aponta para a raiz de uma noção que, embora embrionária — isto é, que ainda aguardava maior clareza a partir da progressão da revelação divina —, estava presente na história do povo de Deus. A cada ano, Israel deveria trazer ao Senhor os primeiros frutos da colheita, em sinal de sua obediência ao Senhor, mas, segundo a referência paulina, também como demonstrativo da esperança em uma nova vida.
Partindo dessa noção, Paulo faz os coríntios perceberem que Cristo era referenciado desde há ordenação dessa festa, como sendo ele o primeiro fruto ou sinal de que uma nova vida aguarda todos aqueles que, pela fé, o contemplam como "o primeiro dentre muitos irmãos" (cf. Rm 8.29).
Além isso, outra evidência aponta para a veracidade da ressurreição do Senhor: a representação da humanidade em dois homens e os respectivos efeitos de suas obras: Adão e Cristo. Assim como a morte é o resultado da queda causada pelo pecado de Adão — evento do qual ninguém duvida, pois todos o verificam (todos morrem) —, assim também a ressurreição é resultado da obra de um homem: Cristo Jesus, como registrado no versículo 22: "Assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo".
A partir desse ponto, novamente ratificando a ressurreição como fato histórico comprovadamente verídico, Paulo começa a elevar a atenção da igreja de Corinto para a preciosidade da esperança que devem ter na obra redentiva, consumada com o erguimento de Cristo sobre a morte: ele foi o primeiro; o ato inaugural, que garante que assim como ele ressuscitou, todos aqueles que nele crerem, serão igualmente ressuscitados. Se a morte, causada pelo pecado de Adão, é real, a ressurreição, efetivada pela vitória de Cristo sobre aquela, também o é, e ligado a esse último traço argumentativo, o autor expande ainda mais sua tese, apresentando que a ressurreição, por sua vez, não é um fim em si mesma, mas possui uma finalidade grandiosa, que serve como corolário da fé: a publicação do Reino de Deus na consumação dos tempos.
3. (vs. 24-28): A publicação do Reino como base da esperança na ressurreição.
A conclusão do versículo 23, conforme redigido por Paulo, aponta para um desfecho conectado essencialmente à ressurreição de Cristo: o Senhor tendo sido o primeiro a ressurgir, deve ser visto como a garantia de que todos os eleitos também o vão, mas isso acontecerá "por sua própria ordem: Cristo, as primícias (ou seja, ele primeiro); e depois, os que são de Cristo, na sua vinda". Essa referência à segunda vinda do Senhor no final do versículo, enfatiza a consumação do plano histórico-redentivo empreendido pelo Deus Triuno, principalmente porque o Conselho Trinitário determinou que nesse momento o seu Reino eterno seria publicado no mundo.
O "fim" anunciado no versículo 24, declara isso, especificando que, nesse momento (da ressurreição) Cristo entregará "o Reino ao Deus e Pai". A ressurreição serve a um propósito maior do que a própria ressurreição dos eleitos em si: por ocasião disso, a história salvadora chegará ao seu encerramento, mediante o anúncio público de uma vitória: o embate cósmico prometido ao longo das Escrituras do AT e executado na vinda (encarnação), vida e morte de Cristo, alcançou seu apogeu quando este ressuscitou; naquele momento ele venceu o poder da morte, triunfando sobre ela, que não lhe pôde resistir (cf. Atos 2.24). Não obstante, o anúncio dessa vitória foi postergado para o momento em que, nos eleitos, isso ficaria evidente. Quando os próprios santos forem ressuscitados, Cristo haverá de exibir seu triunfo: a morte não conseguiu vencer o Rei, e isso ficará claro quando seus próprios servos forem trazidos da morte para a vida eterna.
Toda a narrativa redentora aponta para o governo que Deus exerce sobre o cosmos através de seu Servo; Jesus Cristo, e esse governo será exibido ultimamente quando Cristo sujeitar todas as coisas, e dentre essas, a própria morte, que "se verá" submetida quando na ressurreição do santos. Nesse momento "todo principado, bem como toda potestade e poder" (v.25) serão destruídos e postos sob os pés do Redentor (v. 26 - rf. Sl 110.1).
Além disso, a relação de glorificação e publicação de poder é cíclica: Cristo, em sua segunda vinda, ressuscitará todos os eleitos, declarando seu poder sobre tudo, inclusive sobre a própria morte, "o último inimigo a ser destruído"; assim ordenado para que fosse declarado o Reino de Deus sobre todas as coisas. Quando isso acontecer, ele glorificará ao Pai, sujeitando-se a este (v. 28). O Pai, por sua vez, porá todos os seus inimigos sob os pés do Filho, que será declarado como o Rei (que sempre foi) que impera em seu Nome, e dessa forma, "Deus [será] tudo em todos", isto é, sua glória inundará toda a criação através de Cristo Jesus.
Toda essa argumentação (e aparente digressão) serve ao propósito de ratificar que a ressurreição dos mortos não é uma noção estanque, rasa ou vazia de sentido, com fim em si mesma, mas é algo que aponta para algo muito mais excelente. Os coríntios deveriam ver algo muito mais glorioso na ressurreição, para além da volta dos mortos, como de repente cogitavam alguns: o Deus Triuno reservou esse momento para celebrar a coroação do Filho como o Rei que governa em nome do Pai, o Deus Todo-poderoso. As vidas dos crentes servem a esse propósito: em seu erguimento dos mortos, eles demonstrarão a própria vitória de Cristo sobre a morte, e com isso, a declaração do império excelente do SENHOR sobre tudo e todos.
A visão gloriosa da publicação do Reino dos céus, evolui de maneira irreversível a compreensão dos crentes em corinto quanto a ressurreição dos mortos. Tornar atrás, isto é, duvidar disso, ainda mais agora que são sabedores de que tal obra divina os faz contemplar tão excelente realidade por vir, é despencar numa completa miséria existencial, argumento que o autor desenvolverá no ponto seguinte, juntamente com a exortação a afastarem-se dos que preferem viver de maneira tão paupérrima.
4. (vs. 29-34): A nulidade da desesperança na ressurreição - uma exortação.
Após uma escalada exponencial na grandeza e glória de uma argumentação que vai desde a esperança fundamentada no fato de ter Cristo ressuscitado primeiro como garantida de que cada eleito também o vai, até a afirmação de que isso será o atestado da vitória do SENHOR sobre a morte e publicação de seu reino eterno, Paulo derruba intencionalmente os ouvintes/leitores de seu texto, num vácuo existencial que experimenta todo aquele que descrê ou duvida da ressurreição dos mortos.
Em primeiro lugar, no versículo 29, Paulo usa a fé (ainda que equivocada) de alguns em algum tipo de ressurreição, que os levava a "batizar-se" em favor dos que já morreram, como ilustração da veracidade da doutrina verdadeira. Alguns (não se sabe se cristãos ou pagãos) na cidade de Corinto, tinham a prática de, por terem tanta certeza de que os mortos voltariam a vida, que batizavam-se por aqueles que morreram mas não haviam se batizado ainda ou declarado sua fé.
Ao usar esse argumento, Paulo não está confirmando ou apoiando tal prática, apenas está mostrando aos coríntios, a partir de exemplos conhecidos deles mesmos, que haviam aqueles que nutriam esperança nalgum tipo de volta dos mortos ou ressurreição. Se eles acreditavam nisso, mas tal era uma impossibilidade, porque então permaneciam realizando essa prática?
E mais importante do que isso, se a ressurreição é uma impossibilidade, porque ele (e os demais apóstolos e cooperadores (cf. v. 30 plural "ἡμεῖς")) esforçavam-se tanto em seu trabalho, expondo-se "a perigos a toda hora?" (v.30). O próprio autor cita, hiperbolicamente, que morria todos os dias (v.31), isto é, afadigava-se ao máximo no serviço para o qual foi destacado, tendo inclusive "enfrentado feras em Éfeso" (v.32), o que pode indicar a resistência contumaz de algum opositor da fé evangélica.
Tanto esforço seria completamente inútil e vazio, tendo em vista que não há nenhuma esperança de recompensa no final de uma carreira tão árdua quanto a dele, ao que ele protesta no versículo 31, confirmando a conclusão lógica da incredulidade na ressurreição: "Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos" (v.32). Essa frase é uma citação do texto de Isaías 22.13, em que é retratado a imagem de um povo ignorante com relação a ação disciplinadora do SENHOR, que estava enviando a calamidade aos habitantes de Israel, mas eles não tornavam ao seu Deus em arrependimento.
O ponto conectivo entre o contexto da profecia de Isaías e o da igreja de Corinto é que, muitos, não crendo na ressurreição, estavam marchando para um fim desastroso ao qual não percebiam: uma vida fútil (sem esperança) e alienada do verdadeiro conhecimento de Deus, contra o qual adverte na sequência, tecendo uma exortação a que os verdadeiros crentes, se afasta destes que, em seu ceticismo, duvidam da ressurreição do Senhor Jesus Cristo:
1Coríntios 15.33–34 ARA
Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes. Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não pequeis; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto digo para vergonha vossa.
A igreja de Corinto deveria atentar para o fato de que, mantendo proximidade com aqueles que negavam o evangelho da ressurreição, estariam predispostos a sucumbir diante de tal heresia. Alguns dentro da própria igreja, como já comentado, não tinham o conhecimento de Deus. Aproximar-se de um incrédulo, ignorando seu estado de intransigência para com a doutrina cristã que cria no fato histórica do levantar de Cristo dos mortos, era se expor à vergonha diante da comunidade cristã.
Transição
A ressurreição do Senhor, além de um fato histórico verificável, é também uma das bases do evangelho que nutre a esperança de que uma realidade superior aguarda cada crente.
Cada cristão foi chamado a viver não para esse mundo, mas mantendo acessa em seu coração a expectativa de que, tendo sido chamado à fé, foi reservado para ser um instrumento do plano glorioso da Corte Trinitária, quando de sua própria ressurreição dos mortos, sendo literalmente a prova viva de que Cristo venceu a morte, para a glória de Deus Pai.
O Senhor Jesus, tendo sido o primeiro fruto, garante a cada crente o lastro dessa esperança: o que ocorreu com ele, acontecerá com todos os que pela fé mantêm-se firmes no evangelho que uma foi pregado: que Cristo Jesus ressuscitou.
Diante disso, o texto de 1Coríntios 15.12-34, sintetiza as seguintes verdades a serem observada pela igreja contemporânea:
Aplicações
1. A ressurreição de Cristo é o fundamento de nossa esperança, sem a qual todo nosso esforço nessa vida é vazio e sem sentido.
Como disse o apóstolo: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé" (v.17). Como seres caídos, somos facilmente enredados por nosso próprio coração, transformando até as coisas mais legitimas e honestas desse mundo em ideais em favor dos quais envidamos os mais hercúleos esforços.
Nosso trabalho, nosso sustento e da nossa família, nossos projetos, todas essas coisas são erguidas por nós ao mais alto grau de importância, ao ponto de gastarmos com elas toda nossa energia, mas não passam de palha; castelos de areia.
Se, mediante a perspectiva gloriosa da ressurreição, não levantarmos nossos olhos para contemplarmos a ressurreição de Cristo através do evangelho que nos chamou das trevas para luz, viveremos na miséria de uma realidade pobre, desprovida de qualquer sentido maior que vá além de nós mesmos.
Todos os nossos bens, dos mais simples aos mais valiosos, serão destruídos pelo tempo. Nosso trabalho pode ser tirado de nós, pela mera sombra de instabilidade econômica ou política. Nosso projetos "andam na corda bamba" da dependência de inúmeras circunstâncias, tão frágeis que, ao soprar a mais fraca brisa, caem, e não se concretizam.
Se mergulharmos de cabeça nessa vida, tudo o que vamos conseguir é nos acidentar na areia rasa, como as crianças fazem na praia.
A ressurreição nos garante uma esperança muito superior: eterna, permanente, duradoura e verdadeiramente valiosa, uma esperança que está para além dessa realidade imperfeita na qual hoje vivemos, e essa convicção não é requerida de nós sem que uma garantia nos tenha sido dada: a evidência da ressurreição de Cristo dos mortos é o penhor divino de que assim como seu Filho ressuscitou, sendo o primeiro, seus outros filhos (nós) também o seremos, como confirma o Catecismo de Heidelberg: "Temos a nossa carne [representada em Cristo] como garantia segura de que ele, o nosso Cabeça, também nos levará para si, como membros seus" (Resposta à pergunta 49 - Catecismo de Heidelberg).
Se não queremos viver como os mais miseráveis dos homens, sigamos a ordem do Espírito: tire seus olhos daqui, confie na ressurreição e espere; em breve a trombeta haverá de tocar, anunciando a vitória de Cristo sobre a morte!
O que nos leva ao nosso segundo ponto.
2. Nossas vidas servem ao propósito maior da publicação e enaltecimento do Reino de Deus, e isso será demonstrado finalmente em nós, quando formos trazidos dos mortos para a glória do Deus Triuno.
À luz de todas aquelas coisas terrenas mencionadas anteriormente, o coração humano tende a validar sua obsessão por esta vida, ratificando que as tais são coisas muito honestas, pelas quais o homem, correndo atrás, vive de maneira superior, quando na verdade, não passam de mimos infantis, ou correr atrás do vento (Ec 1.14).
Será que temos alguma noção do propósito último de nossa existência? Para além da robótica resposta que damos, repetindo as sábias palavras do Catecismo de Westminster, de que o fim supremo do homem é "glorificar a Deus e alegrar-se nEle para sempre", há em nós alguma noção do que significam de fato essas palavras?
Somos tão egoístas e auto-centrados, que pensamos que a razão de nossa vida é sermos felizes, admitindo parcamente que essa felicidade possui alguma referência elementar em Deus. Essa visão rala e fugaz, além de desconsiderar a veracidade da ressurreição, tornando-os cada vez mais insensíveis à espiritual realidade por vir, não nos deixa contemplar o projeto divino para o qual fomos criados, e para do qual, por meio da ressurreição, participaremos.
Nossos corpos, agora mortais, sofrem com a deterioração; não mais em pagamento pelo pecado de Adão, pois este já foi pago na cruz, mas para que, em nós seja, revelada a grandeza da vitória de Cristo quando ressuscitou dos mortos. O Senhor Jesus Cristo nos levantará da morte, publicando que todas as coisas estão debaixo dos seus pés, tornando público o Reino de Deus.
Nossas vidas servem a este grandioso e mais excelente propósito: demonstrar a glória de sua majestade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A contemplação da ressurreição permite que nos desfaçamos da pobreza de uma vida sem sentido focada em nós mesmos.
A realidade da ressurreição não deve ser encarada como letárgica, no sentido de nos desencorajar a ter qualquer coisa nesse mundo, como bom trabalho, conforto, sustento etc. O que o Espírito faz conosco é nos lembrar que ressuscitaremos para a publicação do Reino dos céus, e com isso, que servimos a algo muito mais excelente do que os castelinhos de areia que construímos.
Conclusão
"Comamos e bebamos, que amanhã morreremos" é o lema daqueles que vagueiam errantes por esse mundo, sem qualquer noção de para onde vão. Nós, servos de Cristo, somos lembrados pelo Espírito através da certeza na ressurreição, de que nosso barco está navegando até o porto seguro do dia final, e lá, glorificaremos o Senhor, anunciando que a morte foi vencida e o Reino dos céus chegou!
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