1Coríntios 16.1-24
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· 11 viewsO autor divino/humano ratifica a compreensão católica que a igreja deve ter, solidificando a compreensão quanto ao amor fraternal e respeito às autoridades, como marca do vínculo poderoso do amor que os chamou à santificação.
Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
No último capítulo de sua carta, o apóstolo Paulo sintetiza muitos dos ensinamentos de que tratou ao longo do texto, concentrando atenção especial no sentimento que evocou na saudação, quando buscou fazer com que aquela igreja se percebesse como parte de um todo muito maior: o corpo de Cristo (cf. 1.3 "com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor...").
As recomendações, exortações e saudações contidas neste capítulo, demonstram como finalidade principal o exercício da fraternidade, respeito e amor por parte dos cristãos coríntios, em vista de que seu chamamento à santificação consista também numa preocupação para com aqueles que gozam do mesmo privilégio; isto é, todos os crentes, em todo lugar, quaisquer que sejam suas condições ou ofícios, e por isso Paulo abrange tanto as coletas que deveriam ser recolhidas e direcionadas aos santos em Jerusalém (vs.1-4), quanto o reconhecimento que deveriam ter para com aqueles que trabalhavam na obra do Senhor (vs.10-17).
Assim, uma divisão natural é construída baseado nessas intenções autorais: nos versículos 1 à 18, Paulo elabora exortações finais, centralizando o sentimento de comunhão que deve haver na igreja universal, incluindo o cuidado com os pobres e o respeito aos cooperadores e obreiros. Nos versículos finais (19 à 24), ele reúne saudações que expressam o amor que a igreja de Corinto desfruta de outras igrejas, que também manifestam zelo para com os próprios coríntios, incluindo o próprio apóstolo.
Notando a intencionalidade autoral, o texto de 1Coríntios 16.1-24 sintetiza as considerações finais do apóstolo Paulo, expondo a reafirmação da comunhão universal da igreja.
Elucidação
Em vista da organização textual referida introdutoriamente, consideremos as subseções elaboradas por Paulo neste capítulo de sua carta.
1. (v.1-18): Exortação ao amor e consideração universal entre os cristãos.
O início das tratativas de Paulo em sua carta à Corinto elucida a questão de como serão recolhidas e distribuídas as ofertas direcionadas aos santos em Jerusalém. Muitos irmãos haviam naquela igreja que necessitavam de suprimentos e demais cuidados. Como é observado em Atos 2.42-47 e 4.32-37, já havia desde os primórdios da igreja neotestamentária um sentimento de comunhão tal, que os membros viam-se de fato como uma comunidade que devia exercitar cuidado para com aqueles irmãos necessitados. As ocorrências textuais citadas incluem a noção de que a catolicidade da igreja perpassava por este cuidado assistencial.
Paulo transmite esse mesmo sentimento à igreja de Corinto, deixando-os previamente avisados quanto a como será operado o recolhimento das "dádivas" (v.3) que visa atender essas necessidades. A ordenança apostólica é que "cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme sua prosperidade" (gr. "ὅ τι ἐὰν εὐοδῶται". A NVI traduz a locução como "de acordo com a sua renda"). A perspectiva paulina conclama os coríntios à exercitarem a mordomia cristã com justiça: cada um recebia de Deus recursos para que administrasse não apenas em benefício pessoal, mas também para socorro de seus irmãos.
Com isso, cada crente deveria recolher uma quantia voluntária em sua casa, para que, no primeiro dia da semana (domingo, dia em que se realizava o culto), Paulo, quando estivesse entre eles, recolhesse essas ofertas, e enviasse por mãos daqueles que a igreja aprovaria para tal tarefa (v.3).
A tônica apostólica é fazer com que os crentes vejam-se comprometidos com outros além deles mesmos, pois em outras partes, como já mencionado, outros irmãos invocavam o nome do mesmo Senhor.
Do verso 5 ao 9, a expressão do desejo do apóstolo de visitá-los é referida e inicia a seção em que ele exorta a igreja a ter atenção com aqueles que se afadigam na obra do Senhor de cuidado das igrejas.
Agora que já foram despertos (mais uma vez) a verem-se como parte de uma família muito maior, estão prontos para viverem de acordo com essa realidade, contribuindo com o trabalho daqueles que foram direcionados pelo Senhor Jesus ao cuidado das igrejas. Essa seção também transmite aos coríntios um sentimento de amor e zelo do apóstolo, que será retomado mais à frente, quando ele mencionar a saudação que outras comunidades direcionam aos crentes em Corinto.
Timóteo é o primeiro obreiro mencionado de quem os coríntios deveriam cuidar, e esse trato deveria também girar em torno de fazer com que ele operasse no meio do povo de Deus 'sem receio' (gr. "ἀφόβως").
Tendo em vista a noção católica que Paulo deseja imprimir na mente dos crentes aos quais se dirige, ele enfatiza que tal sentimento deveria direcionar cada membros a cuidar de seus pastores, ao ponto dos mesmos não serem obstruídos por qualquer comportamento encontrados na comunidade, avesso à própria obra. Paulo já havia provado um pouco da hostilidade corintiana, e nota que a complexidade dos problemas presentes na igreja poderia desencorajar o jovem Timóteo. "Ninguém pois o despreze" (v.11) é a solicitação do autor. Se os crentes em corinto foram verdadeiramente chamados à fazerem parte do coro terreno dos que invocam o nome do Senhor, precisavam ter atenção ao modo como tratariam aqueles que foram encarregados da obra do Senhor.
O próprio Apolo, estimado pelos coríntios, provavelmente tendo ouvido falar das tantas dificuldades espirituais da igreja, mostrou-se relutante em ir (à pedido do próprio apóstolo) à Corinto:
Acerca do irmão Apolo, muito lhe tenho recomendado que fosse ter convosco em companhia dos irmãos, mas de modo algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando se lhe deparar boa oportunidade.
Paulo registra a relutância de Apolo como uma advertência aos crentes na comunidade a qual se dirige: ele estava enviado Timóteo que deveria ser bem recebido e não ser obstruído na obra que estava realizado, pois dadas as dificuldades da igreja, muitos já se sentiam desencorajados à ir ter com aqueles irmãos.
O sentimento de tristeza quanto a resistência de Apolo, deveria servir como outro incentivo à igreja, para pôr em prática as exortações e direcionamentos encaminhados por Paulo na presente carta. Além das tantas falhas que pecados que cometiam, agora pesava sobre eles a responsabilidade de nutri e manter uma igreja saudável; ambiente que qualquer cooperador desejaria, ou pelo menos não teria qualquer receio de trabalhar.
Todavia, embora Paulo tenha confrontado os membros da igreja de Corinto com a dura realidade de sua complexidade, as exortações dos versos 13 e 14 visam encorajá-los à mudança e correção necessárias:
Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos. Todos os vossos atos sejam feitos com amor.
O desejo apostólico é que os fatos apresentados não minguem a fé e empenho dos irmãos, mas que mantenham-se firmes no serviço a Cristo, portanto-se "varonilmente" (gr. "ἀνδρίζομαι" = corajosamente) e com amor.
Uma última recomendação é feita ainda ligada ao sentimento de respeito e acolhimento aos obreiros, agora levando em consideração aqueles irmãos que já estavam no meio dos coríntios: Estéfanas é citado como sendo alguém que se consagrou "ao serviço dos santos" (v.15). O destaque feito por Paulo, demonstra a importância do serviço que homens como ele estavam prestando ao povo de Deus, como também é o caso de Fortunato e Acaico.
Além do respeito e do cuidado que deveriam ter, evitando que qualquer coisa obstruísse o ministério pastoral exercido por esses homens (v.10), Paulo suplica aos coríntios: "peço (…) que também vos sujeiteis a esses tais, como também a todo aquele que é cooperador e obreiro. (…) Reconhecei, pois, a homens como estes" (cf. vs. 15, 16 e 18).
Sujeição e reconhecimento são as virtudes que devem ser encontradas na igreja de Corinto em relação a esses homens, pois enquanto haviam muitos que estavam tentando perverter o caminho da igreja em relação ao conhecimento de Deus (cf. 15.34), outros empenhavam esforços tal, ao ponto de dedicarem a vida ao cuidado pastoral de cada crente na igreja, como é o caso dos três homens citados no texto, que juntamente com Timóteo, deveriam receber o mesmo respeito direcionado ao próprio Paulo, pois realizam a mesma obra (v.10 "porque trabalha na obra do Senhor, como também eu"). Aqueles homens foram instrumentos do Espírito, suprindo a comunidade de Corinto com "o que da vossa parte faltava" (v.18), e isso deveria fazer com que fossem tratados com a honra devida.
Todas essas considerações, como supra citado, orbitam a temática da catolicidade da igreja. Pertencer ao povo de Deus e invocar o nome do Senhor deveria levar os crentes em Corinto a terem sentimentos de amor para com os que em outras partes precisam de socorro, e temor para com aqueles que entre eles afadigavam-se na obra de Cristo.
Por outro lado, Paulo reforça todas essas considerações colocando os coríntios como alvos dessas mesmas ações por parte de outras igrejas. O apóstolo exibe o amor de outras igrejas e irmãos para com Corinto, exibindo essa relação de reciprocidade como outro fator motivador para a firmeza e constância na fé.
2. (vs. 19-24): A reciprocidade do amor cristão - considerações finais.
Nesse ponto, Paulo tece uma lista de saudações que estavam sendo direcionadas à igreja de Corinto, por parte de outras igrejas. Isso é feito a fim de que, como dito, aqueles irmãos pudessem ver-se como alvos do mesmo amor que estavam sendo exortados à nutrir e direcionar, como é registrado nos versículos 19-20:
"As igrejas da Ásia vos saúdam".
"No Senhor, muito vos saúdam Áquila e Priscila..."
"(…) E, bem assim, a igreja que está na casa deles".
"Todo os irmãos vos saúdam".
Estando na Ásia e sabendo que Paulo direcionava uma carta à uma igreja, os irmãos da Ásia manifestaram seu amor pelos santos coríntios, mandando saudações. Da mesma forma fizeram Áquila e Priscila, que foram cooperadores no ministério de plantio da própria igreja de Corinto junto com Paulo (Atos 18.1-4), e portanto, eram conhecidos como cofundadores daquela comunidade, os quais inclusive agora estavam plantando outra igreja, que também enviava saudações amáveis à Corinto.
Por fim, numa graciosa hipérbole, Paulo afirma que todos os irmãos saudavam os coríntios. Naturalmente, nem todos estavam cientes de que Paulo estava escrevendo uma epístola à igreja de Corinto, mas ele tece esse comentário para fixar claramente na mente e no coração dos coríntios que, da mesma forma como amavam todas as igrejas, todas as igrejas também os amavam.
Em sua conclusão, o próprio Paulo se inclui nas demonstrações afetuosas, assinando a carta (cf. v. 21 "A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de próprio punho"). Tendo em vista que estava se valendo de Sóstenes (cf. 1.1) como amanuense, o apóstolo faz questão de grafar sua saudação, juntando-se ao coro afetuoso de irmãos que declaram seu amor pela igreja de Corinto.
Finalmente, ele conclui sua carta com exortações pontuais, que, porém, sintetizam o credo e expressão de fé de toda a igreja: "Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata!" (v.22). Toda a carta contém exortações e admoestações que direcionam os crentes à um fim específico: amarem a Cristo. Afastando-se das impurezas, amando uns aos outros e permanecendo firmes na convicção evangélica a eles expostas pelo apóstolo Paulo, os coríntios estariam vivendo em amor ao Senhor, e o corolário disso, expresso inclusive no último capítulo 15 é a certeza inabalável na vinda de Cristo.
Os votos finais centralizam o sentimento de todo o capítulo: A graça e a paz foram transformadas por Paulo em mais do que meras saudações formais usadas pelos gregos no fim de suas correspondências; agora expressam os benefícios assegurados aos crentes em sua jornada nesse mundo: a graça do Senhor que os conserva na caminhada, e a paz, que os faz gozar de tranquilidade e firmeza, mesmo vivendo em um mundo hostil e convivendo com as temporárias inclinações pecaminosas de suas próprias naturezas. Conectado a isso, o amor do apóstolo é novamente citado, enraizado no vínculo que une todos os crentes: "O meu amor seja com todos vós, em Cristo Jesus" (v.24).
Transição
O amor fraterno, expresso pela caridade para com outros santos em necessidade, e o respeito para com os líderes que se afadigam no cuidado das igrejas, unido ao atestado de amor que recebem de outros crentes que em toda parte invocam o nome do Senhor, ratifica aos coríntios a graça de seu chamamento à santificação. Aqueles irmãos agora foram chamados à vida; à uma mentalidade redimida, e por meio das orientações recebidas mediante a presente carta, expressariam a vontade do Senhor de que o evangelho seja difundido por meio da cada crente.
A filosofia mundana não lhes podia conquistar a graça de conhecerem aquilo que somente o Espírito pode revelar. O pecado somente corrompia o homem, nivelando-os aqueles que julgam impiamente, baseado em suas próprias mentes obscurecidas, não sendo árbitros adequados para julgar os santos. O culto público e as dádivas do Espírito, deveriam ser direcionadas para o crescimento e amadurecimento da igreja, e não para vanglória. Por fim, a fé na ressurreição nutria a esperança na obtenção da herança que carne e sangue não podiam fornecer. Todos esses tópicos, bem como outros tratados por Paulo visam confirmar aquilo que introdutoriamente mencionou: que os crentes em Cristo Jesus foram chamados para ser santos, fazendo parte de uma igreja, que tem um mesmo Senhor: Jesus Cristo.
Essa irmandade é referenciada pelo autor, direciona à igreja contemporânea o mesmo sentimento: universalidade em santificação. Diante disso, o texto de 1Coríntios 16.1-24, relaciona as seguintes considerações:
Aplicações
1. Parte da compreensão que devemos ter com relação à catolicidade da igreja, perpassa pela presteza nossa em nos doar em favor de nossos irmãos, e pela alta consideração para com os que se afadigam na obra do Senhor.
É bem verdade que fazemos parte de uma igreja local, mas é evidente que essa igreja é somente uma pequena fração da grande multidão que Cristo conquistou para o Pai. Essa noção de catolicidade, isto é, de que fazemos parte do povo de Deus que está espalhado pela face da terra, deve alimentar em nós um compromisso muito mais profundo com a parcela do corpo de Cristo da qual localmente fazemos parte.
No contexto da igreja de Corinto essa preocupação deveria ser demonstrada através da doação de valores que seriam convertidos na assistência dos santos em Jerusalém. Conosco, hoje, a situação pode ser a inversa. É muito possível que em nosso meio, possa haver irmãos que, numa situação ou noutra, vejam-se necessitados de algum socorro material, e devemos estar prontos para atendê-los e ampará-los quando isso ocorrer. Mas, o maior recurso que temos e o qual precisamos investir, não é o recurso financeiro, mas o recurso humano.
Fazer parte de uma igreja significa doar a si mesmo em favor do corpo. Conquanto estejamos juntos e comprometidos com a igreja, todas as demais coisas das quais necessitamos serão acrescentadas, se nutrirmos em nosso coração um profundo sentimento de fraternidade.
Por outro lado, a outra face dessa comunhão é a percepção de que o Espírito tem provido o sustento e cuidado de sua igreja, através de homens que destacou especialmente para essa obra. A estes, cada crente deve mostrar o devido apreço e sujeição.
Homens capazes tem se deixado gastar na obra do Senhor, se afadigando nesse trabalho. Se a igreja não tiver por esses homens o devido respeito, também pouco respeitarão Aquele que os direciona ao cuidado dos santos, isto é, o próprio Cristo; e todo o amor que une e vincula o povo de Deus se transformará em mera convenção social. A igreja, ao invés de ser uma comunidade amorosa, funcionando sob a orientação do Espírito através de seus servos obreiros, será uma simples reunião de pessoas que não têm nada melhor para fazer no domingo.
Esse cuidado manifesta-se pela ação ativa da igreja em zelar para que não seja uma comunidade que gere receio no coração dos obreiros (cf. v.10), e que submete-se à voz do Espírito agindo por meio deles (cf. vs. 16, 18).
2. É pertinente que lembremos que todo esforço nosso em prol da igreja é recíproco. Há inúmeros irmãos (muitos dos quais nem sequer conhecemos) que estão preocupados com nosso bem-estar.
Por fazermos parte de um corpo muito maior, somos alvos de um amor que rompe as fronteiras do espaço. Todos os domingos nós apresentamos a igreja universal em oração a Cristo, e todos os domingos somos apresentados ao Senhor nas preces e orações de irmãos que ainda nem vimos.
Os irmãos da Ásia, da igreja na casa de Áquila e Priscila, e todos os irmãos em todas as igrejas, enviaram saudações à Corinto. O fenômeno continua a se repetir: hoje, nesse momento, nós estamos presentes no coração e na mente de diversos irmãos espalhados pela face da terra, que nos amam profundamente em Cristo Jesus. Irmãos de perto e de longe, de todas as idades, "enviam saudações a igreja de Cristo que está em Paragominas", e juntamente com esses irmãos, declaramos por sua vez nosso amor pelo SENHOR, orando profundamente: MARANATA!
Conclusão
Corinto era uma igreja problemática: tendia à arrogância e vaidade; sofria com diversos pecados; tinha uma compreensão volátil quanto a pontos básicos da doutrina apostólica. Mas, embora tivesse todas essas marcas, o Espírito por meio do apóstolo Paulo a chama de santa.
É possível que como igreja tenhamos também diversas falhas. Todavia, se no submetermos ao nosso Senhor Jesus Cristo, em obediência à operação do Espírito, caminharemos em amor até Cristo, o qual acolherá a igreja que chamou à santificação.